Na aldeia Kariri-Xocó, quando o orvalho ainda bordava as folhas e o vento soprava preguiçoso sobre a várzea do Itiúba, os anciãos se reuniam ao redor do fogo. As chamas dançavam como serpentes douradas, e o crepitar da madeira parecia acompanhar o canto dos pássaros que anunciavam o novo dia.
Certo dia, o pequeno Yúri, curioso como são as crianças que carregam o mundo nos olhos, puxou a mão enrugada do avô e perguntou:
— Avô, por que o sol sempre nasce ali, atrás do morro, e nunca em outro lugar?
O velho Txopan sorriu, os olhos refletindo as brasas vivas.
— Porque aquele é o nosso sol, meu neto. Ele se chama Ukie. Ele nasce do ventre sagrado do morro da várzea do Itiúba e adormece lá longe, no seio do Jundiaí, depois de beijar as águas do Opará.
Yúri franziu a testa, tentando entender.
— Mas avô… o sol não é o mesmo para todos?
O ancião olhou o céu que se avermelhava e, com a voz carregada da sabedoria de muitas luas, respondeu:
— Não, meu pequeno. Cada povo tem o seu sol. Aqui, em nossa terra, Ukie nos guia, aquece nossa pele, ilumina nossos caminhos. Ele conhece cada árvore da mata, cada peixe do rio, cada história que contamos ao luar. É por isso que dizemos: Tsehoukie… Cada povo com um sol.
Yúri arregalou os olhos, maravilhado.
— Então, lá longe, em outras terras, há outros sois?
O avô assentiu com um gesto solene.
— Sim, meu neto. Outros povos têm seus próprios sóis, que nascem em montanhas distantes, se escondem atrás de florestas que nunca vimos, e aquecem gentes que falam línguas que não conhecemos. Cada um com sua terra, seus rios, suas estrelas… e o seu próprio sol.
O menino ficou em silêncio, olhando para o horizonte onde Ukie já surgia, dourando as copas das árvores e pintando a aldeia com luz. Parecia que, naquele instante, o próprio sol sorria para ele.
— Eu gosto do nosso sol… — murmurou Yúri, aconchegando-se ao avô.
O velho Txopan acariciou seus cabelos e disse, com voz serena:
— E ele gosta de você, meu neto. Porque vocês pertencem um ao outro. Assim foi, assim será.
E, enquanto o dia se abria em cores sobre o mundo Kariri-Xocó, a sabedoria de Tsehoukie seguia viva, passando de boca em boca, de coração a coração, como a luz que nunca se apaga: Cada povo tem seu sol, e cada sol pertence ao seu povo.
Autor: Nhenety Kariri-Xocó
Consultado por meio da ferramenta ChatGPT (OpenAI), inteligência artificial como apoio para elaboração do trabalho da capa no dia 27 de maio de 2025
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