Vou contar.
Lá no rio Opará, nas beiradas, cresce o caniço. Tem também calumbi, aguapé, ingá. É ali que o peixe gosta de ficar. Tem muito peixe. Sempre teve.
O nosso povo, Kariri-Xocó, aprendeu desde cedo a pescar ali. Com o jereré, que a gente chama de "muhé". É uma rede com arco de juá-mirim. Madeira boa, curva, feita pra cercar o peixe.
A essa pescaria, a gente chama mydzehépydzu. Quer dizer: pescaria de caniço.
Quando chega o dia, saem dois grupos de mulheres. Cada grupo tem um homem que guia. Eles entram na água. A água bate na cintura.
Vão cercando o caniço, devagar. Um grupo de um lado, outro grupo do outro. Até se encontrar. Fazem um grande semicírculo. Assim o peixe fica preso ali, no meio.
Aí vem a parte mais bonita: as crianças! Elas entram na água, vão pisando o caniço, fazendo barulho. O peixe se assusta, corre… e cai na rede.
É uma festa! Riso, grito, alegria! Todo mundo junto. Homem, mulher, criança, peixe.
E assim vão indo, andando pelas margens, onde tiver caniço. Até o dia acabar. Aí voltam pra aldeia, com os peixes, com a fartura.
Mas hoje… hoje o rio não é mais o mesmo.
Vieram as máquinas. Cortaram as matas. Fizeram barragem.
A água ficou pouca. O peixe sumiu. O caniço quase não cresce mais.
O mydzehépydzu parou.
Agora a gente pergunta: será que ainda vamos pescar como antes? Será que a tradição vai viver?
Eu digo… sim.
Enquanto a gente lembra, enquanto alguém conta, enquanto tiver quem ouça… o saber não morre.
Um dia, quem sabe, o rio volta a encher. O caniço cresce de novo. O peixe volta a nadar.
E a gente volta a pescar.
Como sempre foi.
Assim conto. Assim fica guardado.
Nhenety Kariri-Xocó
Consultado por meio da ferramenta ChatGPT (OpenAI), inteligência artificial como apoio para elaboração do trabalho da capa no dia 28 de maio de 2025.
Nenhum comentário:
Postar um comentário