Em tempos antigos, quando a região da Aldeia de Colégio ainda pertencia à imensa Capitania de Pernambuco, os colonizadores haviam se assenhoreado das terras indígenas, tomando para si as margens férteis do Opará, o grande rio.
Os nativos, privados de plantar e de pescar livremente, lutavam para sobreviver. Certo dia, sob o sol que cintilava nas águas do rio, o ancião Ehêbá saiu com seu filho, o pequeno Wianã, para tentar a sorte na pesca. Caminharam até as margens do Opará, lançaram as redes, mas o dia todo se passou sem que um único peixe mordesse a isca.
Quando o sol já começava a declinar, tingindo o céu de laranja e púrpura, pai e filho permaneceram à beira do rio, junto a uma vasta roça de milho que se estendia, verde e dourada, até onde a vista alcançava.
Wianã, com os olhos suplicantes, virou-se para o pai e disse:
— Pai, estou com fome...
Ehêbá, com o coração apertado, respondeu com tristeza:
— Meu filho, não pegamos peixe... e nada temos para comer.
O menino, então, apontou com esperança para as espigas maduras que se balançavam suavemente ao vento:
— Olha, pai! Quanto milho!
Mas o ancião, com o peso dos ensinamentos de seus ancestrais, murmurou:
— Filho, esse milho não é nosso...
Wianã permaneceu em silêncio, mas sua fome era visível, seu rosto abatido. Ehêbá, tomado pela compaixão, não resistiu. Aproximou-se da plantação e, com cuidado, retirou três espigas, assando-as ali mesmo, na brasa improvisada entre as pedras.
Enquanto o cheiro doce do milho assado se espalhava pelo ar, surgiu, entre as fileiras da plantação, o dono da roça — João do Brejo, um homem robusto, com o olhar severo de quem zela pelo que é seu.
Ao ver os dois indígenas, perguntou em tom áspero:
— Vocês plantaram alguma roça aqui para tirar milho sem minha ordem?
Ehêbá, com serenidade e dignidade, ergueu o olhar e respondeu:
— Olá, seu João. Quem plantou essa roça aqui, nas terras dos índios, foi Nhikienkaraí "O branco de compaixão" um filho de Deus. A criança chorava de fome… e eu tirei três espigas para saciar a fome dele.
João do Brejo permaneceu em silêncio por um instante. Seu olhar endurecido se desfez, amolecido pela cena que presenciava: um pai que, mesmo diante da penúria, ensinava ao filho o respeito, mas que, diante da fome, cedia por amor.
Então, com um gesto de rara compaixão, João disse:
— Ehêbá, me perdoe por tê-lo repreendido. Vou tirar mais milho, feijão e abóbora para o senhor levar.
Ehêbá, surpreso e emocionado, curvou a cabeça em agradecimento. E assim, naquele dia, entre o som manso do rio e o crepitar da brasa, nasceu o respeito mútuo entre dois homens, marcando a memória do Opará com a história de Nhikienkaraí — o Branco de Compaixão.
Autor: Nhenety Kariri-Xocó
Consultado por meio da ferramenta ChatGPT (OpenAI), inteligência artificial como apoio para elaboração do trabalho da capa no dia 28 de maio de 2025.
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