quinta-feira, 29 de maio de 2025

UTUDJEANIEÁ: A Guardiã das Sementes Sagradas






Nos tempos mais antigos, quando o mundo ainda era feito de névoa e música, o Deus Sonsé caminhou sobre a terra que ainda não tinha nome. Onde seus pés tocavam, nasciam árvores. Onde sua mão repousava, brotavam frutos. E onde soprava, cresciam flores e raízes profundas.


Em um dia de festa celeste, Sonsé reuniu os primeiros povos à margem do grande rio que ele mesmo havia traçado com seu cajado: o Opará. O rio, largo como um abraço, corria desde as entranhas da terra até o abraço do mar, aqui vivia o Kariri e o Tupi.


Diante de todos, Sonsé ergueu kludimu um cesto feito de cipós de taboca e disse:


“Aqui estão as sementes da vida. Cada uma delas possui um Anhy o espírito chamado Diméanhy "espírito dono das espécies" entre os povos Kariri. Os nossos parentes Tupi chamam Ijá "os espíritos donos das espécies" entre estes: Cajú-Ijá o dono do caju, doce como o amor.  O Kariri chamam Muicudé "a mãe da mandioca", a Muicú "mandioca" , forte como a resistência; o Masidianhy "dono do milho" chamado Masichi o milho, dourado como o sol; o Ghinhedimeanhy "dono do feijão" chamado Ghinhè o feijão, companheiro nas lutas. Os Tupi chamam 

Maracu-Ijá "dono do maracujá", o maracujá, perfumado como os sonhos. Cuidem delas, pois são parte de mim.”


E assim foi feito.


Os povos guardaram as sementes como quem guarda o próprio coração. Os anciãos ensinavam os jovens a plantá-las com respeito, a colher apenas o necessário e a devolver à terra parte do que ela ofertava.


Em cada planta, morava um Dimé ou Dé  "senhor ou mãe uma senhora", um espírito guardião. O Espírito do Cajueiro, com sua coroa de flores alaranjadas, protegia os que caminhavam na mata. O Senhor do Milharal dançava com os ventos, soprando a fertilidade sobre a terra. A Serpente de Luz do Opará, de escamas translúcidas, descia do céu às noites de lua cheia para abençoar as águas e as plantações.


Foi assim até o dia em que nasceu Utudjeanieá, a menina que as estrelas haviam prometido. Diziam que, na noite em que sua mãe a concebeu, a Serpente de Luz subiu do rio e envolveu seu ventre, abençoando a criança com o dom de ouvir as vozes das plantas e dos Anhy espírito dos antepassados .


Desde pequena, Utudjeanieá passeava pela floresta, conversando com as árvores. Sentava-se sob o Umbuzeiro Ancião, que com sua voz grave lhe contava:


“Somos mais antigos que o tempo dos homens. Quem nos ouve, nunca se perde.”


E Utudjeanieá ouvia, aprendia, guardava.


Mas um dia, nuvens estranhas surgiram no horizonte. Homens brancos chegaram em grandes barcos, e com eles trouxeram nomes novos para as coisas antigas. Chamaram o Opará de Rio São Francisco e, sem pedir permissão aos Anhy "os espíritos", arrancaram sementes e frutos para levar além-mar.


Modificaram as plantas, cruzaram as sementes, e com isso despertaram doenças adormecidas, que nem os anciãos conheciam.


Os Anhy adoeceram junto com a terra. O Espírito do Cajueiro murchou suas flores. O Dono do Milharal parou de dançar. A Serpente de Luz mergulhou nas profundezas do rio e não voltou mais à superfície.


Utudjeanieá, já moça, chorava à beira do Opará, quando ouviu, do fundo das águas, a voz de Sonsé, grave como o trovão, mas doce como o orvalho:


“Minha filha, não temas. O que foi dado não pode ser tomado à força. Enquanto existir quem lembre, as sementes sagradas não morrerão.”


E das profundezas emergiu a Serpente de Luz, enrolando-se suavemente ao redor de Utudjeanieá. Ela ouviu então outra voz, a do 

Masidianhy "Dono do Milharal", fraca, mas ainda viva:


“Ensina aos jovens. Não basta apenas lembrar, é preciso compreender, estudar, proteger.”


Então, como em um rito antigo, Utudjeanieá convocou todos os jovens da aldeia. Reuniu-os sob Uchehé a "Árvore do Tempo", e ali, com os potes de barro que continham as sementes sagradas, falou com a força dos antigos:


“Estas são nossas raízes. Não são só alimento: são memória, são espírito. Precisamos protegê-las não apenas com os rituais, mas também com a ciência da vida, para que os Encantados possam voltar a dançar e o Opará volte a brilhar com a luz de Sonsé.”


Os jovens choraram e prometeram aprender, plantar, guardar e resistir.


Naquela noite, enquanto todos dormiam, Utudjeanieá caminhou até a margem do rio. A Serpente de Luz emergiu, brilhando como nunca, e sussurrou:


“Enquanto houver quem escute, estaremos vivos.” Os Brancos têm a matéria das frutas e legumes, mas não tem o poder e nembpermissão dos Diméanhy "espírito dono das espécies". 


E assim, Utudjeanieá se tornou não apenas a guardiã das sementes, mas também a ponte entre o mundo visível e o invisível, entre o humano e o divino, entre o tempo que foi e o que ainda virá.


Desde então, quando as folhas do cajueiro dançam ao vento e o milho cresce alto e forte, sabe-se que Utudjeanieá segue viva, caminhando pela floresta, semeando esperança, protegendo o legado sagrado do Deus Sonsé.


E o Opará, com suas águas eternas, continua a contar essa história para quem souber ouvir.




Autor: Nhenety KX 




Consultado por meio da ferramenta ChatGPT (OpenAI), inteligência artificial como apoio para elaboração do trabalho da capa no dia 29 de maio de 2025.



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