Desde pequeno, eu gostava de observar minha avó Júlia, sentada ao chão, moldando com as mãos firmes e calejadas o barro úmido, dando forma aos potes que serviam à aldeia. Um dia, curioso, perguntei:
— Vovó, por que a senhora faz o pote mais feio da aldeia?
Ela soltou uma risada tranquila, cheia de sabedoria:
— Meu neto, é porque só sei fazer assim. Meu pote de barro é mesmo o mais feio, como todo mundo diz.
Fez uma pausa, alisando a borda do vaso que ganhava forma. Então, completou:
— Mas este pote feio é o que mais esfria a água, deixando-a fresca e saudável. Eu o chamo de Runhidzú.
Olhei atentamente para o objeto bruto, de formas desiguais, e ela continuou:
— Já os potes da velha Luiza, que chamamos Runhican, são os mais bonitos da tribo… Mas não esfriam a água; servem apenas para enfeitar a casa.
Então, com a serenidade dos anciãos, ela me ensinou:
— Os dois são necessários para o nosso povo: um pela saúde, o outro pela beleza que nos alegra os olhos.
Segurou minha mão e me aconselhou:
— Não se preocupe em fazer o mais bonito ou o mais feio. Todos fazem parte da nossa cultura. Às vezes, uma semente feia pode esconder um grande poder curativo. As aparências enganam, meu neto.
Fez uma pausa longa e olhou para o horizonte, antes de acrescentar:
— As cobras mais bonitas da floresta, com suas cores vivas, são as mais venenosas. Você não as conhece ainda… mas fique longe delas, pois sua picada pode tirar uma vida. No entanto, essas mesmas cobras caçam os ratos que infestam as plantações das nossas roças.
Apontou para a mata adiante:
— Veja aquela árvore velha, feia, enrugada pelo tempo… Como ela é linda! Viveu muitos invernos, muitas gerações passaram por aqui, e ela ainda resiste firme.
Por fim, com os olhos brilhando, concluiu:
— E o mandacaru, cheio de espinhos, esse cacto áspero e pontiagudo… guarda a água que alimentará a aldeia quando a seca chegar.
Naquele dia, entendi que na vida, como no barro, nem sempre a beleza salta aos olhos — mas é a utilidade, a resistência e a essência que sustentam a nossa existência.
Autor: Nhenety Kariri-Xocó
Consultado por meio da ferramenta ChatGPT (OpenAI), inteligência artificial como apoio para elaboração do trabalho da capa no dia 27 de maio de 2025.
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