Nas margens serenas do Opará, entre árvores frondosas e os caminhos de areia branca, viviam Aruã, Jaci e Giriçá . As estações marcavam o tempo, e cada mudança na natureza era uma nova oportunidade de brincar, aprender e honrar as tradições dos Kariri-Xocó.
O Tempo da Tanajura
Certa manhã, quando o chão da aldeia começou a se encher com as grandes formigas aladas, as crianças souberam: havia chegado o tempo da tanajura. Com ramos de mato nas mãos, Aruã correu em direção ao formigueiro, puxando Giriçá e Jaci.
— Vamos! Temos que ser rápidos antes que elas entrem todas no buraco! — gritava, animado.
Enquanto sacudiam os galhos e entoavam a cantiga tradicional:
— "Cai, cai tanajura, na panela da cordura!"
as formigas rainhas, gordas e brilhantes, caíam na peneira trançada que Jaci segurava com cuidado.
O velho Txopó, sentado sob a sombra do cajueiro, assistia às risadas e à correria.
— Lembrem-se — alertou —, peguem só o que for necessário. A natureza sempre dá, mas também precisa descansar.
As crianças assentiram respeitosamente. Ao final da coleta, levaram as tanajuras para a avó Cauaí, que as prepararia para a culinária tradicional. E, enquanto o cheiro das formigas assadas se espalhava pela aldeia, Jaci sussurrou:
— Como é bom o Uchenhekié… cada tempo tem sua alegria.
O Tempo do Milho
Dias depois, o calor trouxe o tempo do milho maduro. Os milharais se tingiram de dourado, e os cabelos louros das espigas balançavam suavemente ao vento. Jaci, com olhos brilhantes, correu entre as plantas, procurando as menores espigas.
— Olha, Aruã! Esta tem os cabelos mais lindos! — disse, arrancando uma espiga e começando a trançar as folhas, transformando-a numa bonequinha.
Enquanto isso, Giriçá e Aruã recolhiam palhas secas para fazer petecas. Com a ajuda do pai de Aruã, aprenderam a enfeitar as bolas com penas de pato, deixadas na margem pelo caçador da aldeia.
— Vamos ver quem consegue manter a peteca no ar por mais tempo! — desafiou Giriçá.
— Eu aceito! — respondeu Aruã, já se posicionando.
As palmas batiam, as petecas voavam e as risadas ecoavam pelos campos de milho. O velho Txopó, passando devagar, parou para assistir.
— Vocês sabem por que batemos a peteca com as mãos? — perguntou.
As crianças ficaram em silêncio, curiosas.
— Porque é o jeito do nosso corpo se unir ao vento. Cada batida é como um sopro, mantendo a vida do brinquedo… e nos lembrando que, como o milho, também temos que crescer fortes e flexíveis.
As crianças sorriram, guardando mais aquela lição.
O Tempo das Canoas
Quando os ventos começaram a soprar do sertão, eles sabiam: era o momento de soltar as ubairim nas águas quietas da lagoa dzurioá.
O velho Txopó chamou-os antes de partirem:
— Venham cá. Quero lembrar-lhes que, ao lançarem as canoas, lancem também seus desejos.
Aruã, Jaci e Giriçá se aproximaram e ouviram atentos, como sempre.
Na lagoa, cada um soltou sua ubairim com um pedido silencioso. Aruã desejou ser um grande canoeiro, Giriçá quis ser o melhor caçador, e Jaci, com ternura, pediu:
— Que eu aprenda a fazer as panelas de barro mais bonitas da aldeia…
As canoas dançaram sobre as águas, empurradas pela brisa suave.
O Tempo do Barro
Pouco depois, quando o sol ficou mais quente, marcando o tempo da cerâmica, Jaci e outras meninas começaram a moldar o barro molhado à beira do Opará.
— Veja, Aruã! Minha runhuhupi está quase pronta! — exclamou, mostrando a pequena panela modelada com capricho.
— Vai ser a melhor da aldeia! — elogiou o irmão, orgulhoso.
Enquanto isso, Giriçá tentava, desajeitadamente, fazer uma panela também, arrancando risadas de todos.
O velho Txopó se aproximou mais uma vez:
— No tempo do Uchenhekié, tudo se transforma… O barro vira panela, o milho vira boneca, o vento vira canoa… e vocês, crianças, viram adultos, carregando nossas tradições.
As crianças ficaram em silêncio, olhando para o ancião com respeito e carinho.
E assim, entre brincadeiras, risadas e ensinamentos, o Uchenhekié se renovava a cada estação, como sempre foi e como sempre será, nas margens do sagrado Opará.
A Benção de Txopó
Naquela tarde, quando o sol se despedia tingindo o céu de vermelho e dourado, as crianças se reuniram ao redor do velho Txopó, sentadas sobre a areia morna, com os pés ainda úmidos da lagoa.
O ancião ergueu o cajado e, com a voz grave e terna, disse:
— Uchenhekié… o tempo das brincadeiras… é também o tempo de aprender a ouvir a voz da natureza. O Opará fala com sua correnteza, o vento com seu sopro, o barro com seu silêncio… e cada brincadeira que vocês fazem é um modo de lembrar quem somos.
Fez uma pausa, olhando para cada um, como se enxergasse não apenas as crianças, mas os adultos que elas um dia seriam.
— Nunca deixem de brincar… porque quem brinca com a natureza, respeita e protege a vida. E quem respeita, permanece… assim como os nossos ancestrais permanecem em nós.
As crianças se entreolharam em silêncio, com um sorriso calmo, sentindo o peso doce das palavras.
Então, Txopó estendeu as mãos abertas, como quem oferece um presente invisível:
— Que o Uchenhekié nunca falte em seus corações. Que o tempo da brincadeira seja sempre também o tempo do saber, da alegria e do amor pela terra.
As cigarras começaram a cantar entre as árvores, como se respondessem à bênção. As crianças, então, se levantaram, correram de volta para a aldeia, levando consigo não apenas seus brinquedos, mas a certeza de que, enquanto houvesse o ciclo das estações, sempre haveria o tempo de brincar… e de viver plenamente junto ao Opará.
E, assim, o Uchenhekié seguia, como o rio: eterno, renovado a cada curva, a cada estação, a cada geração.
Autor: Nhenety Kariri-Xocó
Consultado por meio da ferramenta ChatGPT (OpenAI), inteligência artificial como apoio para elaboração do trabalho da capa no dia 28 de maio de 2025.
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