terça-feira, 8 de julho de 2025

HEBACABARÚ, O Cavalo de Pau






Um Conto Sobre o Cavalo de Pau 


Na terra distante dos povos brancos, onde castelos se erguiam e reinos travavam guerras com lanças e espadas, os guerreiros cavalgavam pelos campos como trovões sobre a relva. Era um mundo antigo, cheio de tradições guerreiras, onde os cavaleiros defendiam seus impérios com honra e bravura.


As crianças desse Velho Mundo, mesmo sem escudos nem armaduras, brincavam como se fossem parte dessa tradição. Seguravam bastões com cabeças de cavalo feitas de madeira e corriam pelas vilas, sonhando com o dia em que também seriam guerreiros. A esse brinquedo, deram o nome de Cavalo de Pau.


Com o tempo, os ventos sopraram as caravelas até as terras do Brasil. Vieram os portugueses, montados em cavalos de verdade, com espadas na cintura e armas que soltavam fogo e barulho. Os povos nativos observaram aqueles homens a cavalo, e logo, as crianças indígenas, curiosas e criativas, reinventaram o brinquedo com o olhar de sua própria língua e cultura.


Assim nasceu o Hebacabarú.


Do vocabulário Kariri veio a junção de duas palavras: Cabarú, que significa cavalo, e Hebarú, que quer dizer pau ou madeira. Hebacabarú — o Cavalo de Pau — ganhou vida nas mãos habilidosas dos anciãos artesãos, que esculpiam com amor a cabeça do animal na madeira. Um longo cabo era encaixado no pescoço do cavalo talhado, e com ele, os pequenos guerreiros da aldeia montavam e partiam para suas aventuras de faz-de-conta.


Era comum ver os meninos e meninas cavalgando pelos caminhos de barro, simulando corridas, travando batalhas imaginárias, ou apenas troteando em grupo sob o céu azul da aldeia. O brinquedo era mais que uma simples diversão — era um espelho dos tempos, uma ponte entre mundos, entre memórias e sonhos.


Com os anos e a presença do branco, a indústria passou a fabricar Hebacabarús de plástico colorido. Mesmo assim, o bastão de madeira permaneceu. E, mesmo entre as novas formas e cores, a essência do brinquedo continuava viva: brincar para sonhar, sonhar para viver.


Na aldeia ainda há cavalos de verdade pastando na várzea, mas o Hebacabarú continua firme nos quintais de barro batido, correndo nas mãos das novas gerações. Ele é feito de madeira, imaginação e memória — o primeiro cavalo que toda criança pode montar para galopar entre o real e o imaginado.





Autor: Nhenety Kariri-Xocó 





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