quarta-feira, 9 de julho de 2025

PITEIATEKIÉ, A Rede de Juntar Conhecimento






Um Conto Sobre a Internet 


Na beira do Rio São Francisco, na aldeia Kariri-Xocó, os anciãos contavam histórias ao redor da fogueira. Mas certa noite, um menino chamado Nhenety ouviu uma nova história. Não era contada com a voz, mas com fios invisíveis que atravessavam o vento e chegavam numa caixa luminosa.


— O que é isso? — perguntaram as crianças.


— É a Piteiatekié, a rede de juntar conhecimento — respondeu Nhenety, com brilho nos olhos.


Tudo começou em 2004, quando uma rede diferente chegou à aldeia. Não era feita de algodão nem de cipó, como as que os pescadores trançavam, mas de impulsos e sinais, trazida por uma ponte chamada Índios Online, construída pela sabedoria de aliados como a ONG Thydêwá, com a força de Sebastian e a participação viva de Nhenety.


Ao tocar o teclado da "caixa de luz", ele entendeu que não era apenas uma máquina: era um Arco Digital, ou como diziam em Kariri: Seridsã. Com ele, era possível descobrir como criar peixes, cuidar de galinhas, proteger a terra, ouvir outras línguas, encontrar irmãos distantes.


— Mas se isso é possível... como vamos chamar essa grande força? — perguntaram os mais velhos.


Nhenety então olhou o céu da madrugada, onde as estrelas pareciam estar todas ligadas entre si, como pontos de luz conectados por fios de histórias.

— Chamaremos de Piteiatekié — disse. — “Pité”, que é rede. “Iabæ”, que é juntar. “Subatekié”, que é conhecimento. A Rede de Juntar Conhecimento.


E cada computador passou a ser chamado de Cramenu, a “caixa onde se guarda o saber”, pois dentro dele morava o Subatekié, como o espírito da memória dos povos.


Hoje, a Piteiatekié vive não só nos computadores, mas nos telefones, nas televisões, nas caixas dos bancos, nos aparelhos que falam e escutam. Mas Nhenety sempre lembra:


— A internet é feita de gente. Ela vive do que as pessoas escrevem, do que os povos compartilham, das histórias que cada um decide contar.


Assim, na aldeia Kariri-Xocó e além, a Piteiatekié continua tecendo suas redes, como uma grande teia de aranha do saber, unindo passado e futuro, tecnologia e tradição, o humano e o sagrado.


E toda vez que alguém acessa essa rede, é como se uma nova fogueira se acendesse no mundo — iluminando o saber ancestral com os fios invisíveis da modernidade.




Autor: Nhenety Kariri-Xocó 






Nenhum comentário: