sexta-feira, 18 de julho de 2025

TSEHO TÇOHÓ BYTÉ, Muitos Povos, Um Somente






Um Conto da Formação Étnica


No alto da colina, onde o Rio Opará murmura suas memórias, vivia o povo Kariri na aldeia sagrada Natiá Ebadzú. Era ali que Woroy, o Guardião das Memórias, ensinava às crianças os caminhos antigos, os cantos do tempo e os nomes sagrados das coisas.


— Aqui é onde tudo começou, meus pequenos — dizia ele, cercado de olhos atentos —. O som do nosso povo ecoava forte, como o tambor da terra.


Um dia, chegaram homens de roupas compridas e cruzes ao pescoço. Vinham de longe e chamavam-se Wareá, os padres. Trouxeram palavras novas e planos de barro e pedra.


— Venham, Kariri, vamos construir uma nova aldeia! — disseram.

Chamaram-na Natiacró, a aldeia civilizada de alvenaria.


Ymakaré, o ancião Kariri, hesitou.


— Mas e a alma da colina? E o vento do Opará?


— Levaremos conosco! — respondeu Tamin, o mais jovem dos guerreiros. — Somos raiz, não pedra. Onde pisarmos, floresce a memória.


Na nova aldeia, não estavam sozinhos. Chegaram os Karapotó, Aconã e Tupinambá. O povo Kariri os acolheu com respeito e os chamou de Popó, os Irmãos Mais Velhos.


— Vieram antes de muitos. São troncos da mesma árvore — disse Woroy.


Anos se passaram. Outros vieram do Maní — terras distantes, além dos rios. Os Natu, Xocó e Fulni-ô se aproximaram, com seus cantos e sementes.


— São nossos Etçamyá, Parentes de Sangue — disse Ymakaré com um sorriso. — Chamaremos de Iwobohó, Irmãos Menores, pois chegaram depois, mas são parte de nós.


A aldeia-mãe, Natiadé, cresceu com todas essas chegadas. Crianças nasciam com nomes de diferentes línguas, corações misturados como frutas na mesma cuia. Havia casamentos entre os povos, alianças seladas com dança, farinha e canto.


— Estamos nos tornando Byté Bihé, Um Somente — cantava Tamú, a guardiã da língua. — Cada povo, uma nota. Juntos, somos canção.


E assim foi. A terra se tornou Cuná, de todos, para sempre. A língua se fez ponte. A cultura, semente que floresce em muitas cores.


Tseho Tçohó Byté — muitos povos, um só coração batendo forte sob o céu do Opará, Somos Kariri-Xocó originário pluriétnico, muticulral e plurilinguístico.





Autor: Nhenety Kariri-Xocó 





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