quinta-feira, 21 de agosto de 2025

GUARAUNA AMA PURAHÉI, O Canto da Chuva






A Fábula da Ave Carão no Canto da Chuva


Nos tempos antigos, quando a chuva era sagrada e a água fazia brotar a vida da terra, surgiu no coração do brejo uma ave de penas negras: o Guaraúna, guardião das águas, conhecida por Carão.


Todos os anos, quando as nuvens se acumulavam no céu e os ventos anunciavam a estação das chuvas, o Guaraúna erguia sua voz. Seu canto ecoava longe, profundo como gargalhada, triste como lamento, forte como chamado.


Os animais da mata se confundiam:

— “É zombaria!”, dizia o Veado.

— “É choro!”, dizia a Garça.

— “É apenas barulho!”, murmurava o Sapo.


Mas o Guaraúna não se importava. Sua canção não era para agradar ou convencer. Era para falar com a chuva, para abrir caminho às águas que descem do céu.


Enquanto cantava, caminhava pelo brejo encharcado, quebrando com paciência a dura casca dos caramujos. Assim mostrava que a vida se revela dentro do que parece fechado e impossível.


Foi então que uma fêmea Guaraúna, ouvindo o canto sagrado, se aproximou. Não escutou gargalhada nem lamento, mas o chamado verdadeiro da chuva. Uniram-se, fizeram ninho entre as plantas molhadas, e dali nasceram novos Guaraúnas, guardiões da vida do brejo.


Desde esse dia, os animais compreenderam: o canto do Guaraúna não é zombaria nem tristeza, mas um Purahéi, um cântico de louvor. É o anúncio da chuva, a prece de agradecimento pela fartura e a lembrança de que a natureza fala com muitas vozes.


🌱 Moral da fábula:


"Quem escuta com o coração descobre que até o canto mais estranho é mensagem da vida e anúncio da fartura."


👉 Essa versão reforça o sentido espiritual do “Purahéi”, não apenas como canto de acasalamento, mas como voz da água, oração e bênção para a comunidade.



GUARAUNA AMA PURAHÉI

(Guaraúna, o Canto da Chuva)

Versão em Cordel 



No brejo a vida desperta,

Com a nuvem no coração,

E o Guaraúna levanta

Seu canto como oração.

É voz que chama a fartura,

É canto de criação.


Os bichos ficam confusos,

Não entendem o clamor:

— É riso! — diz a Raposa.

— É pranto! — fala o Beija-flor.

Mas o canto era sagrado,

Era louvor ao Criador.


Com calma busca alimento,

No caramujo fechado,

Mostra que a vida nasce

Do que parece selado.

Assim ensina ao brejo

O segredo revelado.


Quando a fêmea se aproxima,

Vem guiada pela canção,

Não ouve riso nem pranto,

Mas um chamado do chão.

É a chuva que responde,

Trazendo renovação.


Nos ninhos a vida brota,

No brejo molhado e vivo,

E o Guaraúna agradece

À água o sustento altivo.

Seu canto é voz da fartura,

Do tempo sempre festivo.


🌱 Moral em cordel:


"Quem ouve só com o ouvido

Pode o sentido perder.

Mas quem escuta com alma

Sabe o que a chuva quer dizer:

A vida fala em cantigas,

Basta aprender a entender."




Autor: Nhenety Kariri-Xocó 



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