quinta-feira, 21 de agosto de 2025

TAKUARA YBYTYRÛ TYRYVU, Festa na Floresta do Chefe das Aves







A Fábula Festa de Acasalamento do Uirapuru 


Na imensidão verde da Amazônia, morava o Uirapuru, o “músico da floresta”, pequeno no corpo, mas imenso no coração. Seu canto era tão belo que até o vento parava para escutá-lo.


Chegava o tempo do Jasyporundy, a Lua da Florada, quando as árvores se enfeitavam de flores. Logo viria o Jasypa, a Lua da Renovação, em que a vida se transformava em novos começos. Era neste período sagrado que o Uirapuru se preparava para o acasalamento e, como todo ano, anunciava a grande festa na floresta.


De todos os cantos das três Américas, aves migratórias viajavam milhares de léguas para testemunhar o canto divino. Nenhuma criatura ousava interromper, pois todos sabiam: quando o Uirapuru canta, a floresta silencia para ouvir os deuses.


Do Nordeste do Brasil vieram muitos convidados:


Jamacaí, o Corrupião, com sua plumagem dourada e apetite por lagartas;


Caburé, o pequeno corujão da mata, que guardava os segredos da noite;


Guyrá Pepyryká, o Limpa-folhas, que vasculhava o chão da mata em busca de insetos;


Guiratirica, o Galo-de-campina, trazendo no alto da cabeça um topete vermelho como brasa;


e Arara’i yobi, a Ararinha-azul, que brilhava como um pedacinho de céu.


Todos se reuniram na clareira onde o Takuara Ybytyrû Tyryvu, o Chefe das Aves, havia convocado o encontro.


— Hoje celebramos o canto que une a floresta — disse o Uirapuru, humilde, mas firme. — Nosso som é vida, e nossa vida é semear a floresta.


E assim começou o espetáculo. O Uirapuru entoou sua melodia, tão pura que parecia abrir caminhos entre as árvores. As aves se encantaram, os rios suspiraram, e até os frutos amadureceram mais rápido ao som daquela voz.


Na tradição, dizia-se que quem ouvisse o Uirapuru teria sorte e poderia realizar desejos. E, naquela noite, cada ave desejou não para si, mas para a floresta: sementes férteis, chuvas suaves, árvores altas e frutos abundantes.


Quando o último acorde ecoou, o silêncio sagrado pairou. Então o Takuara Ybytyrû Tyryvu proclamou:


— Que nunca nos esqueçamos: somos semeadores. Onde pousamos, deixamos vida. A floresta depende de nós, e nós dependemos dela.


E todas as aves, grandes e pequenas, bateram asas em concordância.


Desde então, conta-se que o canto do Uirapuru não é apenas um som, mas uma prece da floresta, lembrando que cada ser, por menor que seja, tem uma missão grandiosa no equilíbrio da vida.


📖 Moral da fábula:

Assim como o Uirapuru, cada um tem um dom que, quando partilhado, fortalece toda a comunidade. A verdadeira festa é aquela em que todos semeiam a vida.




Autor: Nhenety Kariri-Xocó 



📖  TAKUARA YBYTYRÛ TYRYVU

( A Festa do Chefe das Aves ) 


Em versos de cordel por Nhenety Kariri-Xocó


🌿 Ao Leitor


Leitor amigo, atenção,

Trago em verso a tradição,

Na toada nordestina,

Com beleza e inspiração.

É a voz do Uirapuru,

Chefe da ave e da canção.


🌿 Dedicatória


Dedico esta cantoria

À floresta, mãe sagrada,

Aos cantores da esperança,

E à memória preservada.

Que o saber dos ancestrais

Siga sempre na jornada.


🌿 A História


Na Amazônia encantada

Canta o mestre Uirapuru,

Sua voz é tão divina,

É presente de Tupy.

Toda ave se reúne

Para a festa ouvir o tu.


Chega a Lua da Florada,

Logo a da Renovação,

O cantor da mata avisa:

“Vai haver celebração!”

E do Norte e do Nordeste

Vêm as aves em procissão.


Vem Jamacaí dourado,

Com Caburé do luar,

Guyrá Pepyryká,

Que só vive a revirar,

E o Galo-de-campina

Com seu topete a brilhar.


A Ararinha tão azul

Veio do céu se mostrar,

O Takuara convocou

Toda ave pra cantar.

“Somos filhos da floresta,

Nossa missão: semear.”


Quando o Uirapuru canta

Tudo para pra escutar,

O rio fica mais manso,

A fruta vem a brotar,

E quem ouve essa cantiga

Pode um desejo alcançar.


Mas as aves desejaram

Proteção e mais fartura,

Que a mata fosse sagrada,

Terra forte e sempre pura.

Pois quem cuida da floresta

Tem da vida a essência e cura.


🌿 Moral


No cordel fica a lição,

Pequeno também tem valor:

Quem defende a natureza

É guardião semeador.

Pois a vida só floresce

Com respeito e muito amor.



Autor: Nhenety Kariri-Xocó 





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