A Fábula das Aves do Amanhecer
No coração da floresta e dos campos do sertão, quando o sol ainda dormia atrás das serras, surgia o coro mágico das Guyrá Koẽ, as aves cantoras da aurora. Cada uma tinha um canto, uma cor, uma história, e todas se reuniam para celebrar a manhã.
O primeiro a acordar era o Bem-te-vi, chamado pelos antigos de pituã. Seu canto alegre, repetido como um eco pelo ar, lembrava os espinhos vermelhos do caroá que brotava na Caatinga. O pituã ensinava aos outros que, mesmo nas adversidades, a resistência e a beleza poderiam florescer.
Logo depois, dançando com a brisa, vinha o Papa-capim, ou Guyrá Kapîra, que cantava nas pontas do capim. Ele mostrava que a alegria também está nas coisas pequenas e simples: no balanço das folhas, na luz do sol que toca o campo e no sussurrar da natureza ao amanhecer.
O Coleirinho, ou Tuí-tuí, repetia seu canto com delicadeza, lembrando que a paciência e a atenção aos detalhes trazem harmonia à vida. Cada nota que saía de sua garganta era um lembrete de que todos os seres, grandes ou pequenos, têm um papel no mundo.
Saltitando entre galhos, aparecia o Tiziu, ou Ti’ýu, com seu canto curto e ritmado, que parecia brincar com o vento. Ele ensinava a leveza e a coragem de quem se lança ao mundo sem medo, confiando no próprio voo.
E, por fim, o Canário-da-terra, o Guirá-’ybyty, com sua plumagem dourada e olhar atento, lembrava a todos da luz do sol e da esperança. Seu canto anunciava o dia que nascia, convidando cada criatura a celebrar a vida.
Juntas, as Guyrá Koẽ formavam uma sinfonia, mostrando que o amanhecer não é apenas o nascer do sol, mas também a música, a união e a sabedoria da floresta. Cada canto guardava ensinamentos, cada cor contava histórias, e cada ave era um guardião da aurora.
E assim, cada manhã, o sertão acordava com alegria, aprendizado e respeito, pois quem ouve atentamente os cantos das Guyrá Koẽ aprende a ver o mundo com olhos de gratidão e coração aberto.
Autor: Nhenety Kariri-Xocó

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