quinta-feira, 14 de agosto de 2025

INHAMBU-AÇU, A Rainha de Todos os Inhambus






A Fábula da Maior das Inhambus 


Era uma vez, entre as matas densas, as capoeiras, os campos, o cerrado e a caatinga, um reino alado chamado Pindorama dos Inhambus. Ali viviam aves de muitas cores e cantos: o Inhambu-chintã, o Inhambu-chororó, o Inhambu-pixuna, o Inhambu-guaçu e o Inhambu-galinha. Cada uma tinha sua beleza e seu papel, mas todas reconheciam uma soberana: Inhambu-açu, a Azulona, de plumagem brilhante e porte majestoso, conhecida como a Rainha de Todos os Inhambus.


Diziam os mais velhos que Inhambu-açu não voava para longe sem antes conversar com o vento e a terra. Era ela quem guardava o equilíbrio entre o céu e o chão, pois suas patas conheciam as trilhas secretas das florestas e suas asas tocavam o sopro dos espíritos que moravam no ar.


Entre os povos nativos, acreditava-se que os inhambus eram presentes das divindades, sinais de fartura e saúde. Antigamente, na vida de caça e pesca, as aves ocupavam lugar sagrado nas refeições. Caçar um inhambu não era simples ato de fome — era parte de um ritual, pedindo licença aos espíritos para que o corpo e a alma fossem purificados.


Mas os tempos mudaram. A mata ficou mais silenciosa, e Inhambu-açu percebeu que precisava proteger seu povo. Reuniu todos os inhambus e disse:


— Meus irmãos e irmãs, nosso canto precisa viver para sempre. As caçadas sem medida podem silenciar nossas vozes. Vamos nos esconder mais fundo na floresta, e assim preservaremos nossa história.


E assim fizeram. Desde então, o canto do Inhambu-açu ecoa menos nos ouvidos dos homens, mas permanece vivo na memória e no coração dos que respeitam a terra. Hoje, para muitos, os inhambus são símbolo de tradição e lembrança da fartura de outros tempos. E a Rainha de Todos os Inhambus ainda reina, invisível para os caçadores, mas presente nos sonhos dos que conhecem a verdadeira riqueza da natureza.


Moral da fábula: A verdadeira fartura não está em tirar tudo da terra, mas em aprender a preservar o que ela nos dá.




Autor: Nhenety Kariri-Xocó 





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