A Fábula do Teiú e o Camaleão
Introdução etimológica
Teiuaçu → do tupi tei’yu (“lagarto que corre”) + açu (“grande”).
Significa “lagarto grande”, conhecido pela força e destreza.
Sinimbu → do tupi sy (“espinho”) + nimbu (“nariz, ponta”).
Significa “focinho com espinho”, referência às escamas e protuberâncias de sua cabeça.
Na cultura nativa, o Teiuaçu simboliza força, adaptabilidade e fartura, enquanto o Sinimbu representa sabedoria, fertilidade e equilíbrio.
A fábula
Em tempos antigos, quando os rios ainda cantavam mais alto que os homens, viviam na mesma terra Teiuaçu, o grande lagarto de pele firme, e Sinimbu, a iguana de olhar calmo e pele verde como folha nova.
Ambos eram conhecidos pelos povos da mata.
O Teiuaçu, com seu andar decidido, recolhia frutos caídos, caçava insetos e às vezes se aventurava perto das roças.
O Sinimbu, mais lento, preferia as copas das árvores, onde encontrava folhas macias e calor do sol.
Havia um pacto silencioso entre eles e os humanos: alimentar e curar, mas sempre dentro da medida do respeito.
A carne, os ovos e a gordura desses lagartos eram fonte de força; seu couro e ossos, matéria para ferramentas e ornamentos.
Mas acima de tudo, eles eram personagens de histórias contadas nas noites de lua, junto ao fogo.
Um dia, a mata ficou inquieta.
Alguns homens, esquecendo as palavras dos mais velhos, passaram a caçar em excesso, tirando mais do que precisavam.
Os ninhos eram destruídos antes do tempo, e a terra, antes farta, começou a empobrecer.
Numa noite de silêncio pesado, os anciãos reuniram todos e contaram:
— Teiuaçu e Sinimbu não são apenas alimento. São guardiões do equilíbrio. Se eles sumirem, a mata perderá seu ritmo e nós perderemos nossa história.
O Teiuaçu ergueu a cabeça e falou:
— Quem tira mais do que precisa, acaba tirando de si mesmo.
Sinimbu, pousado em um galho, completou:
— Respeitar o ciclo é garantir que o futuro tenha sabor.
Desde então, a aldeia voltou ao caminho antigo:
Caçar apenas quando a fome aperta, proteger os ninhos, plantar árvores, cuidar dos rios.
Teiuaçu e Sinimbu continuam vivendo na mata, alimentando corpos e lembranças, e agora também inspirando a proteção da vida.
Moral
“Quem preserva a vida preserva o alimento; quem protege o alimento protege a memória.”
Sentido ecológico
Esta fábula ensina que sustentabilidade não é invenção recente — já fazia parte da sabedoria ancestral dos povos nativos.
O respeito ao tempo da natureza e o uso moderado dos recursos garantem não só a sobrevivência de espécies como o Teiuaçu e o Sinimbu, mas também a continuidade cultural e alimentar de toda a comunidade.
Autor: Nhenety Kariri-Xocó
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