sexta-feira, 15 de agosto de 2025

TEIUAÇU E SINIMBU, Guardiões do Sabor da Floresta






A Fábula do Teiú e o Camaleão 


Introdução etimológica


Teiuaçu → do tupi tei’yu (“lagarto que corre”) + açu (“grande”).

Significa “lagarto grande”, conhecido pela força e destreza.


Sinimbu → do tupi sy (“espinho”) + nimbu (“nariz, ponta”).

Significa “focinho com espinho”, referência às escamas e protuberâncias de sua cabeça.


Na cultura nativa, o Teiuaçu simboliza força, adaptabilidade e fartura, enquanto o Sinimbu representa sabedoria, fertilidade e equilíbrio.


A fábula


Em tempos antigos, quando os rios ainda cantavam mais alto que os homens, viviam na mesma terra Teiuaçu, o grande lagarto de pele firme, e Sinimbu, a iguana de olhar calmo e pele verde como folha nova.


Ambos eram conhecidos pelos povos da mata.

O Teiuaçu, com seu andar decidido, recolhia frutos caídos, caçava insetos e às vezes se aventurava perto das roças.

O Sinimbu, mais lento, preferia as copas das árvores, onde encontrava folhas macias e calor do sol.


Havia um pacto silencioso entre eles e os humanos: alimentar e curar, mas sempre dentro da medida do respeito.

A carne, os ovos e a gordura desses lagartos eram fonte de força; seu couro e ossos, matéria para ferramentas e ornamentos.

Mas acima de tudo, eles eram personagens de histórias contadas nas noites de lua, junto ao fogo.


Um dia, a mata ficou inquieta.

Alguns homens, esquecendo as palavras dos mais velhos, passaram a caçar em excesso, tirando mais do que precisavam.

Os ninhos eram destruídos antes do tempo, e a terra, antes farta, começou a empobrecer.


Numa noite de silêncio pesado, os anciãos reuniram todos e contaram:

— Teiuaçu e Sinimbu não são apenas alimento. São guardiões do equilíbrio. Se eles sumirem, a mata perderá seu ritmo e nós perderemos nossa história.


O Teiuaçu ergueu a cabeça e falou:

— Quem tira mais do que precisa, acaba tirando de si mesmo.


Sinimbu, pousado em um galho, completou:

— Respeitar o ciclo é garantir que o futuro tenha sabor.


Desde então, a aldeia voltou ao caminho antigo:

Caçar apenas quando a fome aperta, proteger os ninhos, plantar árvores, cuidar dos rios.

Teiuaçu e Sinimbu continuam vivendo na mata, alimentando corpos e lembranças, e agora também inspirando a proteção da vida.


Moral


“Quem preserva a vida preserva o alimento; quem protege o alimento protege a memória.”


Sentido ecológico


Esta fábula ensina que sustentabilidade não é invenção recente — já fazia parte da sabedoria ancestral dos povos nativos.

O respeito ao tempo da natureza e o uso moderado dos recursos garantem não só a sobrevivência de espécies como o Teiuaçu e o Sinimbu, mas também a continuidade cultural e alimentar de toda a comunidade.



Autor: Nhenety Kariri-Xocó 




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