Na terra seca, onde o sol abraça forte e o vento conta segredos, viviam duas aves com dons diferentes.
Pukûa-tinga, chamada de Rolinha-cinzenta, voava como quem carrega mensagens dos céus.
Inhambu-pý-piranga, conhecida como o Inhambu-pé-vermelho como o fogo do entardecer, corria no chão como quem conhece todos os caminhos da mata.
Certo dia, no canto escondido de um olho-d’água, encontraram-se para beber.
O céu estava parado, e as lembranças vieram como brisa antiga.
— Irmã Pukûa-tinga — disse o inhambu, com voz baixa —, nossos avós contavam que éramos caçados. Muitos nos viam só como carne macia, sabor de festa.
— É verdade, irmão — respondeu a rolinha —, mas também carregávamos sinais do sagrado. Quando eu cantava, diziam que era esperança chegando.
De repente, o mato estremeceu. Passos de homem.
O caçador apareceu, com olhar atento… mas não levantou a arma.
Ficou parado, lembrando-se de histórias que ouvira dos mais velhos: que agora aquelas aves eram protegidas, que eram guardiãs de um pedaço da alma do Nordeste.
O homem se foi.
O silêncio voltou.
Pukûa-tinga cantou alto, fazendo o vento dançar nas folhas secas.
Inhambu-pý-piranga correu leve, sumindo na sombra das árvores.
E naquele instante, souberam: o tempo havia mudado. Não seriam apenas lembrança de sabor, mas símbolo de vida, memória e respeito.
Moral: Quem aprende a respeitar a vida, colhe histórias que nem o tempo pode apagar.
Autor: Nhenety Kariri-Xocó
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