quinta-feira, 14 de agosto de 2025

PUKÛA-TINGA E INHAMBÚ-PÝ-PIRANGA, Fábula na Voz dos Ventos da Caatinga






Na terra seca, onde o sol abraça forte e o vento conta segredos, viviam duas aves com dons diferentes.

Pukûa-tinga, chamada de Rolinha-cinzenta, voava como quem carrega mensagens dos céus.

Inhambu-pý-piranga, conhecida como o Inhambu-pé-vermelho como o fogo do entardecer, corria no chão como quem conhece todos os caminhos da mata.


Certo dia, no canto escondido de um olho-d’água, encontraram-se para beber.

O céu estava parado, e as lembranças vieram como brisa antiga.


— Irmã Pukûa-tinga — disse o inhambu, com voz baixa —, nossos avós contavam que éramos caçados. Muitos nos viam só como carne macia, sabor de festa.

— É verdade, irmão — respondeu a rolinha —, mas também carregávamos sinais do sagrado. Quando eu cantava, diziam que era esperança chegando.


De repente, o mato estremeceu. Passos de homem.

O caçador apareceu, com olhar atento… mas não levantou a arma.

Ficou parado, lembrando-se de histórias que ouvira dos mais velhos: que agora aquelas aves eram protegidas, que eram guardiãs de um pedaço da alma do Nordeste.


O homem se foi.

O silêncio voltou.


Pukûa-tinga cantou alto, fazendo o vento dançar nas folhas secas.

Inhambu-pý-piranga correu leve, sumindo na sombra das árvores.

E naquele instante, souberam: o tempo havia mudado. Não seriam apenas lembrança de sabor, mas símbolo de vida, memória e respeito.


Moral: Quem aprende a respeitar a vida, colhe histórias que nem o tempo pode apagar.




Autor: Nhenety Kariri-Xocó 




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