quinta-feira, 14 de agosto de 2025

JACAÇU E PARARI, A Pomba-asa-branca e a Pomba-do-Sertão






A Fábula das Pombas Asa-branca e Arribaçã 



No coração do sertão, onde o chão racha sob o sol e o vento canta canções de poeira, viviam duas aves amigas: Jacaçu, a altiva Pomba-asa-branca, e Parari, a ligeira Pomba-do-sertão, que os mais antigos chamavam de Arribaçã.


Certa vez, quando a seca apertou, o céu permaneceu fechado por muitos meses. O sertanejo plantava, mas nada vingava, e a fome rondava cada casebre.

Foi então que Parari, ouvindo o lamento do povo, reuniu seu bando e partiu em longas viagens, retornando com sementes, grãos e pequenos frutos. Ao pousarem nos campos, deixavam cair um banquete para as famílias necessitadas. Era o presente da Arribaçã, que trazia fartura mesmo no tempo mais cruel.


Já Jacaçu, silenciosa e firme, observava o horizonte. Ela sabia que seu voo anunciava outra esperança. Um dia, numa tarde de março, seu canto ecoou pelas veredas: era sinal de que a chuva viria. E assim foi. No dia de São José, o povo voltou a plantar a roça, e quando chegaram os dias de Santo Antônio, São João e São Pedro, as fogueiras acenderam-se, o milho verde virou pamonha, canjica e mugunzá, e o riso se espalhou como chuva no chão seco.


As duas aves compreenderam que cada uma tinha seu tempo e seu dom: Parari, a generosa que socorria no momento da fome; Jacaçu, a mensageira da água e da esperança.


Moral da história:

No sertão, como na vida, há quem traga o pão e há quem traga a chuva — ambos sustentam o coração de um povo.




Autor: Nhenety Kariri-Xocó 




JACAÇU E PARARI

A Pomba-asa-branca e a Pomba-do-Sertão

Cordel de Nhenety Kariri-Xocó



No sertão quente e sem vento

Racha o chão sem piedade,

Mas a fé do povo é grande,

Guarda força e lealdade,

Pois espera a boa chuva

Pra plantar com liberdade.


Jacaçu, asa-branquinha,

Pomba firme e altaneira,

Quando canta no terreiro

Traz notícia verdadeira:

Que São José vem chegando

Com a chuva tão faceira.


Parari, ligeira e viva,

Também dita Arribaçã,

Voa em bando pelo céu

Sobre as roças do sertão,

Trazendo grão e fartura

Pra quem sofre na precisão.


Quando a seca é mais severa

E a fome se faz presente,

Parari vem com seus pares,

O banquete é de repente;

Mostra ao homem do sertão

Que o dividir é o mais crente.


Quando a chuva enfim desponta

No mês santo de março,

Jacaçu canta contente,

O sertão solta seu laço:

Pamonha, milho e canjica

No festejo e no abraço.


Santo Antônio abre o mês,

São João acende a chama,

São Pedro encerra a festa

Com o milho que se ama,

Tudo nasce do trabalho

E da chuva que derrama.


No sertão, cada uma ave

Cumpre o dom que Deus lhe deu:

Uma traz o pão na hora,

Outra avisa o que vem do céu,

Mostrando que a união

É a força que venceu.


Moral:

Seja chuva ou seja pão,

Todo bem tem seu momento;

No sertão e no coração

Voa livre o sentimento:

Quem reparte a sua parte

Traz a vida em todo tempo.




Autor: Nhenety Kariri-Xocó 




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