A Fábula do Mandi e o Capadinho
Conta-se que, num tempo em que os rios falavam com o mar, surgiu uma contenda entre dois peixes famosos.
De um lado vinha o Mandi-amarelo, peixe de carne clara e macia, orgulho dos rios do interior.
Do outro, o Bagre-capadinho, guardião dos manguezais, companheiro fiel do povo litorâneo.
O Mandi falou primeiro, cheio de vaidade:
— Nos rios caudalosos, sou festejado!
Minha carne branca entra em caldeiradas,
nas mesas de fé sou sempre lembrado.
Sou o peixe da Semana Santa,
quem me prova nunca me esquece.
Mas o Bagre não se calou e respondeu firme:
— Eu venho das águas salobras do mangue,
sou sustento diário de pescador humilde.
Na fritada com farinha, sou rei;
no ensopado com coco, ninguém me vence!
Não vivo apenas em festa —
sou pão de cada dia para quem precisa.
Os dois discutiram tanto que o povo se reuniu.
Uns defendiam o Mandi, peixe de fé e tradição.
Outros exaltavam o Bagre, peixe do povo e do chão.
Então, uma anciã se levantou com voz serena:
— Não briguem, filhos das águas.
O rio corre para o mar, e o mar devolve vida ao rio.
O povo precisa de ambos:
o Mandi, para as celebrações da alma,
e o Bagre, para a força do dia a dia.
Assim os dois entenderam.
A disputa virou respeito,
e de lá para cá aprenderam
que cada um tem seu lugar no coração popular.
Moral da história:
Na mesa da vida, há espaço para todos os sabores.
A grandeza não está em ser o mais querido,
mas em saber reconhecer o valor do outro.
Autor: Nhenety Kariri-Xocó

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