quarta-feira, 20 de agosto de 2025

MANDI-AMARELO E BAGRE-CAPADINHO, A Disputa das Águas






A Fábula do Mandi e o Capadinho


Conta-se que, num tempo em que os rios falavam com o mar, surgiu uma contenda entre dois peixes famosos.

De um lado vinha o Mandi-amarelo, peixe de carne clara e macia, orgulho dos rios do interior.

Do outro, o Bagre-capadinho, guardião dos manguezais, companheiro fiel do povo litorâneo.


O Mandi falou primeiro, cheio de vaidade:

— Nos rios caudalosos, sou festejado!

Minha carne branca entra em caldeiradas,

nas mesas de fé sou sempre lembrado.

Sou o peixe da Semana Santa,

quem me prova nunca me esquece.


Mas o Bagre não se calou e respondeu firme:

— Eu venho das águas salobras do mangue,

sou sustento diário de pescador humilde.

Na fritada com farinha, sou rei;

no ensopado com coco, ninguém me vence!

Não vivo apenas em festa —

sou pão de cada dia para quem precisa.


Os dois discutiram tanto que o povo se reuniu.

Uns defendiam o Mandi, peixe de fé e tradição.

Outros exaltavam o Bagre, peixe do povo e do chão.


Então, uma anciã se levantou com voz serena:

— Não briguem, filhos das águas.

O rio corre para o mar, e o mar devolve vida ao rio.

O povo precisa de ambos:

o Mandi, para as celebrações da alma,

e o Bagre, para a força do dia a dia.


Assim os dois entenderam.

A disputa virou respeito,

e de lá para cá aprenderam

que cada um tem seu lugar no coração popular.


Moral da história:

Na mesa da vida, há espaço para todos os sabores.

A grandeza não está em ser o mais querido,

mas em saber reconhecer o valor do outro.




Autor: Nhenety Kariri-Xocó 





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