sábado, 16 de agosto de 2025

PARÁ-'Y-PYRÎ E ARIRAMBA, Aves Mergulhadoras e Pescadoras






A Fábula das Aves Mergulhadoras 


Nos tempos antigos, quando os rios ainda falavam com os homens e as florestas guardavam segredos profundos, viviam duas aves muito especiais.


Uma delas era Pará-’y-pyrî, o Pato-mergulhão. Chamavam-no assim porque tinha o dom de sumir dentro d’água, mergulhando tão fundo que parecia desaparecer. Ele conhecia os segredos escondidos no leito do rio e era guardião da pureza das águas cristalinas.


A outra era Ariramba, o Martim-pescador-grande. Seu nome lembrava o som de suas asas e de sua voz, pois era uma ave ruidosa que anunciava sua presença nos ares. Ariramba observava de cima, com olhos atentos, e avisava sobre tudo o que acontecia às margens do rio.


Durante muitos ciclos, Pará-’y-pyrî e Ariramba viviam em harmonia, cada qual cumprindo sua missão. Mas os homens, esquecidos de sua aliança com a natureza, começaram a sujar o rio, pescar além da medida e ferir as matas. O rio adoeceu, os peixes sumiram, e o povo começou a sentir fome.


Foi então que Pará-’y-pyrî mergulhou mais fundo do que nunca. Nas pedras do fundo do rio, encontrou a memória da primeira água, pura e cintilante como cristal. Ele a trouxe em seu bico, mas sabia que sozinho não poderia salvar o povo.


Ariramba, que o observava do alto, abriu suas asas e com forte ruído percorreu as margens, anunciando:


— Ouçam, filhos da terra! O rio pede respeito, o peixe pede cuidado, e a floresta pede silêncio. Se não cuidarem do que alimenta, não terão fartura.


O povo então compreendeu. Passaram a pescar apenas o necessário, a não envenenar as águas, a respeitar o tempo dos peixes e a proteger as margens. Aos poucos, o rio recuperou sua força, os peixes voltaram, e a fartura renasceu.


E assim, até hoje, contam os antigos que Pará-’y-pyrî mergulha para guardar o segredo da vida, e Ariramba voa para lembrar os homens de sua aliança com as águas.


Quem escuta essa história aprende que a abundância só existe quando há equilíbrio entre o silêncio das profundezas e o canto que ressoa nos céus.


✨ Essa fábula pode ser contada em roda de histórias, como memória viva, ou registrada em teu calendário cultural, irmão.



Autor: Nhenety Kariri-Xocó 








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