quarta-feira, 27 de agosto de 2025

SOCÓ-YOBI E GUARATINGAÇU, Aves Azuis e Branca das Águas






A Fábula dos Socós Azuis e Garça Branca


Às margens de um grande rio da floresta, viviam três aves muito diferentes entre si.

O Socó-Yobi, tímido e azul, preferia esconder-se nos cipós e nas sombras da mata, onde pescava em silêncio, quase invisível.

A Garça-Azul-Grande, imponente e ousada, vivia caçando em águas abertas, roubando peixes de outras aves e orgulhando-se de sua força.

Já a Guaratingaçú, a garça-branca-grande, brilhava ao sol como um raio de luz. Alta e elegante, todos a viam de longe, e até os homens a desenharam em uma moeda de valor.


Certo dia, ao entardecer, as três aves se encontraram em uma lagoa de águas rasas.

— Eu sou a melhor caçadora! — disse a Garça-Azul-Grande. — Posso pegar desde pequenos peixes até grandes animais. Nada me escapa!

— Mas eu, com minha beleza branca, represento a pureza das águas — respondeu Guaratingaçú. — Os homens me admiram, me respeitam e até me colocaram em seus tesouros.

O tímido Socó-Yobi apenas observava, silencioso, escondido entre os galhos baixos da margem. Não queria disputar, apenas viver em paz.


Enquanto as duas aves discutiam, a lagoa foi ficando agitada. Barcos de pescadores chegaram, lançando redes e espantando os peixes.

A Garça-Azul-Grande tentou mergulhar, mas as águas se turvaram. Guaratingaçú, com seu porte alto, logo foi avistada e espantada pelos homens. Nenhuma conseguiu alimento.


Foi então que, em silêncio, Socó-Yobi entrou entre as raízes e cipós, onde as redes não alcançavam. Paciente, esperou. Logo um cardume se aproximou, escondido da confusão. Com um movimento rápido, ele pescou e se alimentou sem ser notado.


Quando saiu do breu da mata com o bico ainda úmido, as outras aves o olharam com espanto.

— Como pode ter pescado, se nada havia nas águas abertas? — perguntou Guaratingaçú.

— A força e a beleza chamam atenção, mas é no silêncio e na paciência que a vida se renova — respondeu Socó-Yobi.


As duas aves, envergonhadas, compreenderam que cada uma tinha seu valor, mas que a floresta também recompensa a humildade e o equilíbrio.


Moral da fábula:


Nem sempre a força ou a beleza garantem a vitória. Muitas vezes, é o silêncio e a paciência que trazem o verdadeiro alimento da vida.



Autor: Nhenety Kariri-Xocó 



SOCÓ-YOBI E GUARATINGAÇU


(Cordel em sextilhas)


Na beira da mata densa,

Num rio de águas serenas,

Viviam três belas aves,

Guardando suas antenas.

Cada qual tinha um segredo,

Na vida, glórias pequenas.


O Socó-Yobi discreto,

Azul, calado e singelo,

Caçava entre os cipós,

Tinha um viver paralelo.

Com paciência e silêncio,

Fazia o seu próprio elo.


A Garça-Azul orgulhosa,

Se achava a mais valente,

Caçava peixe e até rã,

Forte, esperta, imponente.

Roubava de quem podia,

Era ave persistente.


Guaratingaçu brilhava,

Toda branca ao sol do dia,

Elegante, majestosa,

De beleza que irradia.

Até nas notas humanas

Seu retrato reluzia.


Certo dia se encontraram

Na lagoa reluzente.

A Azul falou primeiro,

"Sou caçadora eficiente!"

E a Branca respondeu firme,

"Sou beleza em toda gente."


Socó-Yobi se calava,

Nada tinha pra dizer.

Não queria competição,

Apenas sobreviver.

Mas as águas agitadas

Fizeram tudo sofrer.


Os homens jogaram redes,

A lagoa se turvou.

A Garça-Azul sem sucesso

No mergulho fracassou.

E a Branca, alta e visível,

Dos humanos se assustou.


Foi então que o Socó-Yobi,

Entre raízes ficou.

Esperou com paciência,

E o cardume lhe chegou.

Com um gesto silencioso,

Seu alimento encontrou.


As outras aves olharam

E perguntaram então:

"Como caças no silêncio

E ainda tens refeição?"

Ele disse: "É na calma

Que se encontra a solução."


Moral do Cordel


Nem força nem só beleza

Nos trazem sempre vitória.

Quem espera com prudência

Constrói mais bela memória.

A paciência e o silêncio

São chaves de toda história.




Autor: Nhenety Kariri-Xocó 






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