A Fábula do Beija-flor e o Macaco Gritador
Na mata vasta e cheia de segredos, viviam dois campeões da natureza.
Um era o Guariba-preta, dono de um rugido tão poderoso que ecoava por quilômetros, fazendo até os ventos se curvarem. O outro era o Guainumbi, o beija-flor-tesoura, pequeno e veloz, que bebia o néctar das flores como se fosse a própria centelha da vida.
Certo dia, encontraram-se à beira de um rio.
O Guariba, orgulhoso de sua voz, ergueu a cabeça e bradou:
— Eu sou o mais forte desta floresta! Meu grito atravessa as árvores e ninguém ousa me desafiar.
O Guainumbi, com asas rápidas como o relâmpago, pousou diante dele e respondeu:
— És poderoso, irmão, mas não vivemos só de gritos. Eu, com minha leveza, sustento minha vida consumindo o dobro do meu peso em néctar. Sou pequeno, mas resisto ao tempo com minha velocidade e constância.
O Guariba riu alto, fazendo os galhos tremerem.
— Que importância tem um gole aqui e outro ali? A floresta me escuta, e isso basta!
Mas eis que veio a seca. As árvores perderam folhas, os rios baixaram, e a mata ficou silenciosa. O rugido do Guariba já não encontrava eco, pois a floresta sofria em silêncio.
Foi então que o Guainumbi, com seu voo incansável, levou o pólen de flor em flor, ajudando-as a renascer.
O Guariba, triste e faminto, percebeu que a força de sua voz nada podia contra a fome da terra. Foi o pequeno Guainumbi quem devolveu o verde à mata, trazendo de volta a vida que sustentaria a todos.
Envergonhado, o Guariba abaixou a cabeça e disse:
— Perdoa-me, pequeno irmão. Hoje aprendo que não basta fazer barulho: é na constância silenciosa que a vida floresce.
O Guainumbi sorriu com humildade:
— Cada um tem seu dom, grande amigo. O teu grito protege a floresta dos perigos, o meu voo a renova. Juntos, somos parte do mesmo equilíbrio.
E desde então, conta-se que, quando o Guariba grita, o Guainumbi dança em volta das flores, lembrando à floresta que a força e a delicadeza precisam caminhar lado a lado.
📖 Moral da Fábula:
A natureza ensina que a grandeza não está apenas na força que se ouve, mas também na constância dos gestos pequenos que sustentam a vida.
Autor: Nhenety Kariri-Xocó
GUARIBA E GUAINUMBI, O Maior Gritador e o Melhor Consumidor
( Versão Cordel Sextilhas )
Na floresta encantada
Mora o Guariba a rugir,
Seu grito ecoa tão forte
Que faz o chão sacudir.
Mas vem o Guainumbi leve,
Nas flores a se nutrir.
O Guariba se orgulhava
De ser o rei do barulho,
“Meu rugido é poderoso,
Não preciso de outro orgulho!”
Mas o beija-flor dizia:
“Vivo em paz, sem barulho.”
Certo dia a seca veio,
A mata quase morreu,
O rugido não salvava
Do silêncio que cresceu.
Foi o voo do Guainumbi
Que a floresta protegeu.
De flor em flor trabalhou,
Levando vida e calor,
Espalhando o doce pólen
Com constância e com amor.
Assim renasceu a mata,
Recobrou todo o vigor.
O Guariba envergonhado
Reconheceu seu engano:
“A força não é só grito,
É ser constante e humano.”
E abraçou o Guainumbi,
Seu pequeno soberano.
📖 Moral do Cordel:
Não é só quem fala alto
Que no mundo tem valor,
Também o gesto pequeno
É força que traz vigor.
Na união da natureza
Se revela o Criador.
Autor: Nhenety Kariri-Xocó
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