quarta-feira, 26 de novembro de 2025

WOROY HISTÓRIA, KARIRI-XOCÓ, SONORIDADES ENTRELAÇADAS, Contos – Volume 8 – Coletânea, Nhenety Kariri-Xocó






🌐 FALSA FOLHA DE ROSTO



WOROY HISTÓRIA, KARIRI-XOCÓ,

SONORIDADES ENTRELAÇADAS

Contos – Volume 8 – Coletânea

Nhenety Kariri-Xocó





🌐 VERSO DA FALSA FOLHA DE ROSTO



Direitos autorais reservados ao autor.

Nenhuma parte deste livro poderá ser reproduzida sem permissão expressa de Nhenety Kariri-Xocó.

Blog do autor: kxnhenety.blogspot.com





🌐 FOLHA DE ROSTO (FRONTISPÍCIO)



WOROY HISTÓRIA, KARIRI-XOCÓ,

SONORIDADES ENTRELAÇADAS

Contos – Volume 8 – Coletânea

de

Nhenety Kariri-Xocó


Cidade — Ano de publicação

Edição Independente





🌐 FICHA CATALOGRÁFICA (MODELO)



Kariri-Xocó, Nhenety.

Woroy História, Kariri-Xocó, Sonoridades Entrelaçadas: Contos – Volume 8 – Coletânea / Nhenety Kariri-Xocó. — Edição Independente, 2025.

xx f.; il.; 21 cm.


Literatura indígena brasileira.


Contos Kariri-Xocó.


Tradições orais.


Cultura ancestral.

I. Título.


CDU: 821.134.3(=1)





🌐 DEDICATÓRIA



A todos os guardiões da palavra viva,

aos que mantêm acesa a chama da memória,

e aos que caminham entre o visível e o invisível

com o coração sintonizado na ancestralidade.

Dedico este livro às crianças do meu povo —

porque são elas que carregam o amanhã

na palma luminosa das mãos.





🌐 AGRADECIMENTOS



Agradeço aos meus ancestrais,

que firmam o chão onde piso

e sopram as histórias que narro.


Agradeço ao meu povo Kariri-Xocó,

pela força que vem da aldeia,

pelas vozes que me ensinam,

pelas memórias que me guiam.


Agradeço às águas do Opará,

que guardam segredos, caminhos

e bênçãos de quem aprende a escutá-las.


E agradeço a você, leitor,

que abre este livro com respeito,

permitindo que nossas histórias

atravessem o tempo mais uma vez.





🌐 EPÍGRAFE



"A palavra não morre:

ela dorme na memória

e desperta no canto

de quem tem coragem de lembrar."

— Tradição Kariri-Xocó





🌐 SUMÁRIO (ÍNDICE)



APRESENTAÇÃO

PREFÁCIO

INTRODUÇÃO


CONTOS


01. Areantoá Tipuády – Os Santos de Festas


02. Hebarusá – O Pau de Sebo


03. Uché Iworó – A Roda do Tempo


04. Ibápohdu – O Carro Olho de Fogo


05. Wonhéworo – Cantigas de Roda


06. Sadá Uaplu – A Espingarda de Caçar


07. Amara Caraí – Cantigas de Branco


08. Bewocró Katokli – Tronco de Pedra Canta e Fala


09. Tupan – Na Onda da Tradição Divina das Águas


10. Toré Wanhercá – O Toré de Roupa


APÊNDICES

GLOSSÁRIO KARIRI-XOCÓ (opcional, se desejar)

DADOS BIOGRÁFICOS DO AUTOR

ORELHA DO LIVRO





🌐 PREFÁCIO



(Escrito especialmente em tom literário e cultural)


As histórias reunidas neste volume nascem da encruzilhada sagrada onde memória, espiritualidade e experiência se encontram. Nhenety Kariri-Xocó, contador de histórias, guardião da palavra e caminhante entre mundos, tece aqui narrativas que atravessam o tempo ancestral e o cotidiano da aldeia, costurando passado e presente com a delicadeza de quem conhece a profundidade de suas raízes.





🌐 APRESENTAÇÃO


Este livro celebra a potência da oralidade Kariri-Xocó. Cada conto é uma janela aberta para os ritmos antigos, as brincadeiras de roda, a chegada do relógio, as festas de santos, os primeiros carros que assustaram a mata, e os cantos que resistem ao vento da modernidade.





🌿 INTRODUÇÃO 



Este livro nasce do território sagrado onde o tempo não passa: ele circula.

Entre a memória viva dos antigos e o passo firme dos que caminham hoje,

WOROY HISTÓRIA, KARIRI-XOCÓ, SONORIDADES ENTRELAÇADAS, – Volume 8 – Coletânea, é mais que uma coletânea de contos; é um retorno às fogueiras que acendiam

as palavras antigamente, às margens do Opará, onde os mais velhos sopravam

sabedorias como quem sopra vida para dentro da noite.


Aqui, cada história é um tronco, cada tronco é uma raiz, e cada raiz é um

caminho que permanece aberto para quem deseja entendê-lo. Na tradição

Kariri-Xocó, as narrativas não são apenas relatos: são seres vivos,

portadoras de espírito, ensinamento, riso, dor, encantamento, coragem

e resistência. Elas sustentam o mundo que vemos e o mundo que sonhamos.


Reunir estas histórias é um gesto de ancestralidade, mas também de

futuro — porque um povo que guarda sua memória escreve o amanhã com

firmeza. Este volume, o oitavo de uma travessia literária, celebra

o que não se perdeu, o que se mantém firme como o tronco do Jenipapo

e o que renasce, assim como renasce o Kêru ao amanhecer.


Cada conto aqui presente abre uma porta. Cada porta guarda uma lição.

E cada lição ecoa a força do povo Kariri-Xocó, que apesar das tempestades

históricas segue plantando cultura, resistência e espiritualidade no chão

do Brasil.


Ao leitor — indígena, não indígena, curioso, estudioso ou buscador —

este livro oferece passagem para uma travessia feita de vozes, sons,

cheiros, caminhos e lembranças. Uma travessia onde passado e presente

caminham juntos como parentes — porque, para nós, o tempo não separa:

ele aproxima.


Que este WOROY — esta palavra, esta história, este mundo —

lhe abra portas profundas.

E que cada página seja uma pequena fogueira acesa dentro do peito.





📜 CONTOS 




01. AREANTOÁ TIPUÁDY, OS SANTOS DE FESTAS 





Na aldeia do Opará Baixo São Francisco, os tempos se dividiam entre o correr das águas e o pulsar das rezas. Dizem os mais antigos que foi em 1661 que os jesuítas chegaram trazendo cruzes, hinos e imagens. Ao redor de uma pequena capela de Nossa Senhora da Conceição, fundaram a Missão do Colégio, e com ela semearam novas datas no coração do povo.


Desde então, o calendário da aldeia passou a dançar entre o sagrado ancestral e o sagrado trazido. Cada data se entrelaçou com a vida e o toré, com os cantos e a fé, fazendo das festas não só devoção, mas também resistência.


Todo 8 de dezembro, a comunidade se enfeita em azul e branco para celebrar Nossa Senhora da Conceição. As novenas começam dia 29 de novembro, e o povo caminha em procissão, com velas acesas, promessas feitas e o coração aberto ao sagrado. O Parque de Diversões de Jorginho chega e a praça se ilumina, virando tradição que mistura brinquedo e oração.


Em fevereiro, o último domingo é do Bom Jesus dos Navegantes. As águas do Velho Chico brilham com barcos enfeitados e rezas que ecoam entre margens e memórias. É festa de pedir proteção nas travessias da vida.


No dia 19 de março, o fogo de São José é aceso. Os mais velhos dizem que o milho cresce melhor depois da fumaça. É dia de plantar fé na terra: milho, feijão e esperança. A fogueira crepita como batida de tambor que conversa com o céu.


E chega junho, mês de santos e fogueiras. Dia 13 é de Santo Antônio. O povo se reúne no terreiro com toré, arroz doce e danças de roda. As cantigas ecoam como bênçãos passadas de geração em geração.


Depois, vem São João, dias 23 e 24. A aldeia se cobre de luz, bandeirinhas e cheiro de milho assado. O forró embala os passos dos mais jovens, enquanto os mais velhos contam histórias ao redor da fogueira. No meio da festa, o toré continua, firme como raiz antiga.


Por fim, São Pedro, no dia 29 de junho, fecha o ciclo das festas juninas com mais fogueira, cantos e alegria. É o tempo de agradecer pelos frutos que começam a brotar, e pelo tempo que não se esquece de voltar.


Em agosto, no dia 16, São Roque chega como padroeiro de Porto Real do Colégio. O povoado inteiro se junta em romaria e missa, misturando cidade e aldeia, fé e lembrança.


E quando dezembro vai terminando, o Natal chega com luzes, ceia e orações. É tempo de refletir e acolher, não só na aldeia, mas no mundo inteiro.


Assim seguem os dias no Opará Baixo São Francisco. Entre um santo e outro, entre uma fogueira e uma dança, o povo Kariri-Xocó segue firme, guardando com alegria e reverência a história que é sua – feita de fé, de festa e de memória.



02. HEBARUSÁ, O PAU DE SEBO 






(Um conto das margens do Velho Chico)



Dizem que há memórias que moram nas águas — e quem nasce à beira do Rio São Francisco sabe disso. Cada canoa que desliza, cada remada que corta a corrente traz também histórias antigas, contadas de avô para neto, de mãe para filha.


Assim era em Porto Real do Colégio. Quando o último domingo de fevereiro se anunciava no calendário do povo, a cidade se vestia de festa: era dia de Bom Jesus dos Navegantes.


Mas entre os meninos da Rua dos Índios e os velhos pescadores de mãos calejadas, havia um outro encantamento que fazia os olhos brilhar: o Hebarusá, o Pau de Sebo.


Quem orquestrava a alegria era Joaquim Miguel, homem branco de fala mansa e sorriso aberto, casado com a índia Anorina Muirá, do povo Kariri-Xocó. Na casa deles, ao pé de uma velha algaroba de sombra generosa, começava cedo a movimentação.


Os músicos afinavam os pífanos, a zabumba ganhava vida, e a rua inteira acordava dançando. Era como se o rio lá embaixo chamasse as almas para a celebração. Bandeirolas coloridas cruzavam o céu, e o cheiro de bolo de macaxeira e café coado se espalhava como incenso profano.


E lá estava ele: o Hebarusá, um tronco alto, liso de gordura, erguido como um desafio aos rapazes da cidade. No topo, uma arca de madeira escondia doces, moedas reluzentes e um lenço bordado por Anorina — um prêmio que era mais honra do que riqueza.


As equipes se formavam. Eram grupos de irmãos, primos, amigos de rua. Os corpos suavam, os pés firmavam no chão de barro. O mais forte agarrava o tronco, e logo sobre seus ombros subiam os companheiros, uns sobre os outros, formando uma torre viva. Cada avanço era saudado com palmas, assobios e o som cortante dos pífanos.


Homens e mulheres de todas as cores assistiam. Brancos, negros, índios — ali, naquele momento, todos eram filhos do mesmo chão, irmãos sob o mesmo céu bordado de bandeirinhas.


Havia quedas, gargalhadas, novas tentativas. Até que um jovem ágil, de olhos brilhantes como o rio, alcançava o topo e puxava o prêmio, arrancando um grito coletivo da multidão.


E o velho Joaquim, com o chapéu na mão, ria como menino, abraçado a Anorina.


Mas o tempo é como o rio: nunca cessa.


Quando Joaquim Miguel partiu para os caminhos que só os espíritos conhecem, a Rua dos Índios silenciou. O Hebarusá não subiu mais. Sem ele, o reisado calou seu canto, o guerreiro baixou seus estandartes.


Ainda assim, a fé seguiu seu curso. Ano após ano, as embarcações ainda cruzam o Velho Chico na procissão do Bom Jesus dos Navegantes. E lá, diante da Igreja de Nossa Senhora da Conceição, a banda de pífanos continua a tocar, suas notas subindo aos céus como preces.


E às vezes, quando a tarde cai e o vento sopra leve pelas ruas vazias, dizem que é possível ouvir, ao longe, os ecos de um tempo em que o Hebarusá fazia vibrar os corações. Porque as verdadeiras tradições não morrem: dormem, à espera de quem as desperte.




03. UCHÉ IWORÓ, A RODA DO TEMPO 





Um Conto Sobre o Relógio 



O menino Ayanã se sentou perto da sombra do grande juazeiro, onde o ancião Kamurê costumava contar histórias aos mais jovens. Era um fim de tarde morno, quando o céu parecia acender suas cores de despedida, e as cigarras ensaiavam seus cantos derradeiros.


— Vovô Kamurê, — disse Ayanã com olhos brilhantes — como era que os antigos sabiam as horas, antes de existir o relógio?


Kamurê olhou o menino com um sorriso calmo, aquele que só os que sabem escutar o tempo sabem oferecer. Alisou sua bengala feita de angico e respondeu:


— Ah, netinho... antes do relógio dos brancos, o nosso povo já conhecia o Uché, o Tempo. A gente ouvia o que a Natureza — que chamamos de Antse — nos contava.


— E como ela falava com a gente? — perguntou Ayanã, curioso.


— O Tempo se dividia nos passos da própria vida. O Kaie, o Dia, começava na Kayadé, a Meia-Noite, quando o silêncio era tão grande que dava pra ouvir o coração do mundo batendo. Depois vinha a Ycaye, a Madrugada, de onde brotavam os primeiros cantos dos passarinhos, até que o céu clareava e nascia a Caye, a Manhã. Era tempo de preparar o mingau, lavar o rosto no rio e escutar o sol.


— E depois?


— Depois, chegava o Karaí, o Meio-Dia, quando o sol ficava lá no alto feito um olho de fogo. Aí vinha a Kaiapli, a Tarde, quando as sombras começavam a crescer. Por fim, a Kayá, a Noite, trazia o descanso e os sonhos. Assim a gente media o tempo, com o que víamos, ouvíamos e sentíamos.


Ayanã pensava maravilhado. Então Kamurê continuou, com a voz mais baixa, como quem contava segredo:


— Mas um dia, os portugueses chegaram com um objeto estranho... um aparelho que fazia “tic-tac”. Diziam que era para medir o tempo. Chamavam de relógio. Nosso povo passou a chamá-lo de Uché Iworó, que quer dizer "Roda do Tempo", porque ele tinha ponteiros que rodavam feito a dança das estrelas.


— E quem foi o primeiro a ter um? — perguntou o menino.


— Ah, essa história minha mãe contava... Lá na Rua dos Índios, a primeira mulher da aldeia a pendurar um relógio de parede foi Maria Matildes, isso no ano de 1932. Dizem que ela era muito respeitada, rica para o nosso modo de viver, e o relógio dela brilhava na parede como se fosse um olho de jaguar.


Kamurê fez uma pausa, depois riu:


— E em 1969, quando eu era menino como você, lá na Escola Kariri, já tinha um relógio de parede. Era o José Tononé, indígena da FUNAI, que todo dia dava corda nele com uma chave. Era bonito de ver... o tempo girando ali dentro, feito encantamento.


— E os relógios de pulso? — perguntou Ayanã, apontando para o próprio braço vazio.


— Ah, esses vieram depois. Nos anos 70, quando nossos parentes começaram a trabalhar em obras da cidade, compravam relógios Orient e Seiko, de pulso ou de bolso. Chamamos de Uchéwo Mysã, relógio de pulso. Eram caros, mas eram tesouros de quem suava com dignidade. Cada relógio era um pedaço da luta estampado no pulso.


Kamurê apontou então para o celular de Ayanã, que ele carregava no bolso da camisa.


— Hoje, o tempo vive ali dentro. No celular, na TV, no relógio digital. Mas nunca se esqueça, meu netinho: o verdadeiro Uché ainda vive no voo do beija-flor, no calor do sol, no orvalho da madrugada. O relógio só marca o tempo. Quem sente ele passando é a gente.


Ayanã ficou quieto, olhando as nuvens rosadas no céu.


Kamurê fechou os olhos e sussurrou:


— O tempo é como o vento. Você não vê, mas sente. E quando escuta com o coração, ele ensina mais do que qualquer relógio.




04. IBÁPOHDU, O CARRO OLHO DE FOGO 





Na borda leste da floresta sagrada do Ouricuri, viviam algumas famílias indígenas de Porto Real do Colégio, em Alagoas. Tinham deixado a Rua dos Índios, onde o espaço estreito sufocava o plantar da mandioca e o criar seus animais domésticos como: galinhas, patos e porcos. Ali, próximos da antiga estrada real — caminho pisado desde os tempos do Brasil Império — buscavam paz, terra e sombra.


Era um tempo de silêncio entre os troncos, de cheiro de fumaça branda no entardecer, e de histórias contadas ao redor da fogueira. Mas certo dia, em 1935, a mata tremeu. Um barulho estranho cortou o sossego da manhã. Um bicho de ferro, cuspindo fumaça e com olhos de fogo, surgiu da curva da estrada.


Era um automóvel — o primeiro que se via por aquelas bandas. Conduzido por um homem branco chamado Carlos Estevão, vindo do Museu Goeldi, o carro deslizava sobre a estrada vermelha feito coisa de outro mundo.


Na mata, a velha anciã Aninha de Cristina colhia lenha. Quando viu a criatura, arregalou os olhos, o feixe de gravetos caiu de suas mãos. O pavor tomou-lhe as pernas, e ela correu mata adentro, sumindo como um pássaro assustado.


Horas depois, Luiz Teipó, caçador e também indígena, a encontrou agachada entre as folhas.


— Dona Ana, o que a senhora faz aqui, sozinha? — perguntou, surpreso.


— Eu vi chegar um bicho feio… o Ibápohdu, o Carro Olho de Fogo que o homem branco trouxe! — respondeu, com os olhos ainda arregalados.


Luiz sorriu com doçura.


— Não tenha medo, Dona Ana. Já ouvi falar desse bicho… Lá pras bandas de Propriá, em Sergipe, dizem que já tem. Mas não é bicho não… É um aparelho de transporte. Leva gente dentro dele, como uma canoa sobre terra firme.


Com paciência, Luiz conduziu a velha de volta até a casa de sua filha, Cristina. Quando chegaram, o Ibápohdu já havia sumido na poeira da estrada. O estudioso tirara algumas fotos e seguira caminho em direção à cidade, passando pela Rua dos Índios, de onde muitos haviam partido.


Foi João Baca quem disse o nome do homem: Carlos Estevão, pesquisador dos costumes e saberes dos povos originários. Ele passou, viu, e registrou.


Essa história chegou até mim pela boca de minha mãe, Indaiá, que ouvira de quem viveu: a própria Aninha de Cristina, a anciã que viu o bicho de olhos de fogo, e Luiz Antigo, o conhecido Luiz Teipó, que a trouxe de volta com coragem e palavra calma.


E assim, entre o medo e a curiosidade, o Ibápohdu virou história, contada à sombra do Ouricuri, onde o tempo escuta e a memória vive.




05. WONHÉWORO, CANTIGAS DE RODA 





Um Conto Sobre Cantigas de Roda 



Na aldeia Kariri-Xocó, sob o céu amplo e estrelado, onde o vento sussurra histórias aos ouvidos atentos dos anciões e das crianças, o canto tem morada sagrada. Há cantos para o Toré, para o mutirão, para a cura na mesa da jurema. Cantos que não são apenas sons — são caminhos que ligam os vivos aos antepassados, o presente aos tempos de antes.


Ali, cantar em círculo não é brincadeira qualquer — é cerimônia, é dança, é tradição viva. O Toré, em sua sabedoria, junta homens, mulheres e crianças, sob o sol ou à luz da lua, com seus maracás ressoando o ritmo do coração da terra.


Mas o tempo, esse que carrega novidades nos ombros, um dia trouxe algo novo. Com os colonizadores vieram palavras diferentes, gestos outros, e também cantigas de roda, trazidas de além-mar. Brincadeiras cantadas, giradas, rimadas. Aos poucos, essas cantigas se misturaram às vidas da aldeia. E logo, as crianças Kariri-Xocó passaram a chamar essas brincadeiras cantadas de Wonhéworo: Wonhé, que é cantar, e Iworó, que é roda.


Entre as árvores do pátio da escola e as sombras projetadas pelas ocas, ouvia-se ao entardecer as vozes delicadas cantando:


— Ciranda, cirandinha... vamos todos cirandar...


Ou então:


— Atirei o pau no gato-to...


Cantavam também as antigas canções do povo:


— Maruanda! Maruanda!


— Jurumbá! Jurumbá!


Essas não vieram de fora. Vieram dos antigos, dos antepassados, dos que andam nas folhas, nas águas, nos ventos.


As noites de lua cheia se tornaram momentos especiais. As crianças, de mãos dadas, formavam um grande círculo no terreiro. Cantavam, riam, rodopiavam sob a luz branca da lua que parecia sorrir lá do alto. E quando uma estrela cadente cruzava o céu, os mais velhos diziam:


— É o espírito da música trazendo alegria ao povo.


Com o passar dos anos, chegaram as telas. No celular, na TV, no mundo da internet, novos personagens cantavam cantigas: Mundo Bita, Galinha Pintadinha, A Fazenda do Zenon, Bento e Totó. Era tudo bonito, colorido, animado em três dimensões. As crianças gostavam, riam, assistiam juntas. Mas os mais velhos, observando com olhos de saudade e sabedoria, diziam:


— Ver e ouvir é bom… mas cantar com as mãos dadas é o que aquece o espírito.


Porque o Wonhéworo, para o povo Kariri-Xocó, é mais do que uma brincadeira. É memória viva. É um laço que une as vozes das crianças com os ecos antigos da floresta. É um abraço em roda, onde se canta para não esquecer quem se é.


Na aldeia, sempre que a lua se mostra inteira e redonda no céu, o Wonhéworo acontece. E mesmo que o mundo digital chegue com força, ali, o canto coletivo ainda reina — firme, sagrado, ancestral.




06. SADÁ UAPLU, A ESPINGARDA DE CAÇAR 





No tempo antigo, quando a floresta ainda era vasta e o silêncio das matas era respeitado, surgiu um som estranho nas bandas do sertão. Era um estouro seco, como um trovão engaiolado num tubo de ferro. Os mais velhos logo disseram: "Chegou o Sadá Uaplu, aquele que fala grosso e cospe fogo."


O povo Kariri já conhecia de ouvir falar. Desde que os brancos chegaram pelo litoral, um século antes de ocuparem o sertão, as histórias desse artefato de poder ecoavam entre as aldeias. Mas ali, nas margens do São Francisco, entre matas e tabuleiros, a espingarda era ainda coisa rara, usada somente pelos chefes coloniais – Capitães-Mores, sargentos, ou homens que tinham permissão da coroa.


No idioma do povo, sadá era qualquer coisa que estalasse com fúria repentina. E uaplu, era o nome dado à espingarda que trazia susto ao bicho, ao mato e até ao próprio caçador. Quando o barulho da pólvora rasgava o ar, os seres da mata se escondiam. A Caipora se zangava, a Yara se recolhia, e o Curupira virava o pé para confundir o caminho de quem desrespeitava as regras do mato.


Mas os tempos mudaram. Com a República proclamada, os caminhos da floresta viram mais espingardas que arcos. Os Kariri começaram a usar Sadá Uaplu para caçar veado, tatu, mocó. Era pela sobrevivência. Era para alimentar os filhos, manter a tradição da caça sem desobedecer aos anciãos.


Mesmo assim, a permissão para usar a espingarda não era coisa simples. Tinha que haver um motivo maior. Caçar só por caçar era afronta. O dono espiritual de cada bicho precisava ouvir o pedido, aceitar a oferenda do respeito. E se não aceitasse, o caçador se perdia na mata, adoecia ou via seu tiro errar o alvo dia após dia.


Com o passar das luas, as matas se tornaram pequenas, cercadas por cerca de arame, invadidas por motores e fumaças. A Sadá Uaplu foi pendurada na parede, guardada como lembrança de outro tempo.


Hoje, os Kariri-Xocó não usam mais espingardas para caçar. Quando há necessidade, chamam o cão companheiro ou montam armadilhas simples, como faziam os antigos. Porque a floresta pede cuidado. E os seres da mata continuam lá, esperando que os homens lembrem do antigo pacto: caçar com respeito, viver em harmonia.


Assim ensinamos aos mais novos. Porque Sadá Uaplu pode ser forte, mas é o coração do caçador que decide se a caça é justa.




07. AMARA CARAÍ, CANTIGAS DE BRANCO 





Um Conto Sobre a Música 



No tempo antigo, quando o Opará ainda era rio de silêncio e encantamento, os pés dos padres jesuítas e capuchinhos pisaram nas margens sagradas onde viviam os Kariri. Eles vieram com cruzes, batinas e cantigas que o vento não conhecia. Trouxeram consigo outra língua, outro tempo, outro ritmo.


Os Kariri cantavam o Marãbohó — música nascida do chão, do vento, do fogo e da água. Composição ancestral, passada de boca em ouvido, de coração em coração, como reza do mundo antes da invasão. Mas os padres não compreendiam os sons da mata e proibiram os cantos. Queriam silêncio para suas rezas. E onde havia tambor, colocaram sinos. Onde havia dança, puseram joelhos. Onde havia Marãbohó, entoaram Amara Caraí — as cantigas dos brancos.


Vieram mudanças. A língua entortou-se, os corpos se ajustaram a novos modos, e o espírito, esse, ficou em luta. Séculos depois, quando os jesuítas já eram lembrança, ainda se ouvia, pelas vielas da vila de Porto Real do Colégio, um eco do que foi apagado. A aldeia, agora vila, agora cidade, recebia com solenidade as festas dos brancos: Chegança, Reisado, Cavalo Marinho... tudo com cantos que vinham das vozes de outros mundos.


No tempo do Brasil República, o som voou pelas ondas invisíveis do rádio. Chegou às aldeias, entrou nos ouvidos como semente e ali germinou. O velho Manoel de Queiroz, com dedos ágeis, encantava com o violão nas décadas de 1930 e 1940. Não havia partitura, só ouvido e alma. Era natural, era o canto do branco refeito no corpo do indígena.


E então veio a década de 1950. Nas noites de lua cheia, a Rua dos Índios, em Porto Real do Colégio, se iluminava de vozes e cordas. As serenatas tomavam conta das calçadas, e a música, agora mestiça, era o fio que unia o passado ao presente.


Cícero Ireçê dedilhava a saudade. André Ibá cantava os amores de antigamente. E Ademir Suré, com olhos que já viram muita história, ainda hoje conta tudo com a mesma firmeza de quem viveu para preservar.


Entre serestas, chorinhos, MPB, bossa nova, forró, sertanejo, pop e rock, o povo Kariri-Xocó aprendeu que a música pode ser de todos — mas cada nota tocada por um filho da terra ganha um novo som, um novo sentido.


Porque o canto do branco, quando atravessa o peito indígena, se torna outra coisa. Vira resistência, memória, vida.




08. BEWOCRÓ KATOKLI, TRONCO DE PEDRA CANTA E FALA 





Um Conto Sobre o Serviço de Auto-falante 



Era uma manhã clara de 1952 quando a cidade de Porto Real do Colégio acordou com um som diferente. Não era o cantar dos pássaros nem o murmúrio do rio São Francisco — era a voz do tronco de pedra que canta e fala "Bewocró katokli". Assim chamaram os mais velhos da aldeia Kariri-Xocó o novo serviço de auto-falante inaugurado na praça central, um verdadeiro marco que uniu tempo, voz e memória num só corpo sonoro.


No coração da praça Rosita de Góis Monteiro, erguia-se um coreto que guardava a alma da transmissão: ali ficava a sala de controle. No obelisco ao lado, quatro grandes auto-falantes apontavam para os quatro cantos da cidade, espalhando mensagens, melodias e memórias. Era como se a pedra ganhasse voz — e sua canção atravessava ruas, casas e corações.


Da Rua dos Índios, onde viviam os Kariri-Xocó, ouvia-se tudo com nitidez. Era dali que partiam os ouvidos atentos ao chamado das missas na matriz, às músicas das paradas de sucesso dos fins de semana, e às palavras de Cicinho e Zé Luiz — os apresentadores de vozes familiares, contratados pela prefeitura, que anunciavam com alegria e respeito o cotidiano do povo.


Nas manhãs de Semana Santa, a Paixão de Cristo ecoava como se fosse vivida ali, nas ruas e calçadas de cada casa. No tempo das eleições, os resultados vinham firmes como tambores que batem na aldeia. Mas era em dezembro que o som se tornava mais mágico: de 29 de novembro a 8 de dezembro, durante as novenas de Nossa Senhora da Conceição, as marchas e dobrados da Academia das Agulhas Negras preenchiam o ar às 6 da manhã, ao meio-dia e às 18 horas — como um sino invisível que marcava a fé de um povo.


Era mais que som. Era cultura. Era comunicação. Era religiosidade. Era arte. Era pertencimento. Era a cidade e seus povos falando juntos.


O tronco de pedra cantou por 32 anos. Até que um dia, em 1984, silenciou. O coreto permaneceu, o obelisco também. Mas o som... esse virou lembrança. Uma lembrança viva que mora nas histórias contadas, nos corações saudosos e na esperança de que, um dia, o tronco de pedra cante e fale novamente.


E aqui deixo este conto, memória de um tempo que pulsa dentro de mim, para que as novas gerações saibam que a nossa história é viva — e se confunde com os caminhos, vozes e sons de Porto Real do Colégio.




09. TUPAN, NA ONDA DA TRADIÇÃO DIVINA DAS ÁGUAS 






O rio Opará sempre correu dentro de mim, como correu dentro de minha mãe, Indaiá — conhecida pelos brancos como Maria de Lourdes Ferreira Poité. Era ela quem me contava, com olhos cheios de lembrança, das grandes canoas que rasgavam as águas do São Francisco: Canindé, Marialva, Cordilheira… Eram como extensões do próprio rio, moldadas pelas mãos de nossos ancestrais, deslizando com a força de quem conhece e respeita a correnteza.


Depois vieram os vapores, os navios que cruzavam o baixo São Francisco levando carga e gente, vida e fé. Minha mãe falava muito do Encomendador Peixoto e do Penedinho — e eu, ainda menino, vi o Encomendador uma vez, numa procissão fluvial de Bom Jesus dos Navegantes em Propriá. As águas brilhavam com fogos e artifícios, e o rio parecia celebrar sua própria força.


Mas, no meu tempo de menino e depois adolescente, o que ficou tatuado na memória foi a passagem das grandes lanchas: Tupan, Tupy e Tupigy.


Quando a Tupan passava, primeiro ouvíamos a sua buzina, forte e grave, como o chamado de um deus antigo. Corríamos todos nós, os jovens indígenas da Rua dos Índios, à beira do Opará, tábuas grandes nas mãos, prontos para montar as ondas que ela deixava. Era mais que brincadeira: era um rito, uma celebração da vida e da tradição, uma dança com as águas que sempre nos alimentaram e protegeram.


O nome da lancha não era acaso. Tupan, o deus criador na mitologia Tupi, sempre habitou estas margens do Baixo São Francisco, onde antes de nós vieram e viveram Tupinambá, Caetés, Kariri, Dzubukuá, Xocó… Povos que, como nós, tinham o rio como caminho e casa.


Segundo os mais velhos, aquelas três lanchas eram de uma empresa da família Barreto, lá de Neópolis, Sergipe, fundada na década de 1950, com a Tupan como pioneira. Elas cruzavam as águas como novas canoas, motores substituindo remos, mas mantendo a mesma função ancestral: aproximar as pessoas, conectar margens, manter viva a tradição da navegação.


Na nossa aldeia, o índio Tononé também fazia parte dessa história, com suas duas embarcações: a Nordeste e a Nova Iraci Tononé. Resistência flutuando, como as histórias que se recusam a afundar.


Mas o tempo é rio que nunca volta. Em 1972, a construção da ponte sobre o São Francisco ligou margens, mas separou o homem do seu barco. A navegação foi se apagando, e o que restou foram memórias. A última viagem da Tupan foi em 1979, levada pela grande enchente — como um encantado que volta às águas profundas de onde veio.


Ainda hoje, quando as festas de Bom Jesus dos Navegantes enchem o Opará de barcos e fé, sinto que, de algum modo, a tradição resiste. O rio segue, sempre seguirá. E nós, que um dia surfamos nas ondas deixadas pela Tupan, sabemos: quem brincou com a onda do deus das águas carrega para sempre o balanço do rio no corpo e a tradição da navegação no coração.




10. TORÉ WANHERCÁ, O TORÉ DE ROUPA 





Havia um tempo, não tão distante nas lembranças do vento que passa sobre o rio São Francisco, em que as noites de fogueira traziam muito mais que calor. Elas traziam história. Histórias que dançavam no compasso dos maracás, no giro das crianças, na firmeza dos passos dos mais velhos. Ali, sob o céu estrelado da aldeia Kariri-Xocó, vivia-se o Toré Wanhercá, o Toré de Roupa.


Mas nem sempre foi assim.


Na memória dos mais antigos, ainda ecoava o tempo em que os cocares, as tangas, os colares e a pintura corporal — símbolos vivos da alma nativa — eram vistos como pecado pelos homens de batina. Os jesuítas diziam que os cantos em língua ancestral eram feitiço, que os passos de dança eram heresia, que a beleza indígena era gentílica e, por isso, deveria ser escondida.


Assim, para sobreviver, muitos esconderam suas cores e seus cantos, suas penas e seus sonhos. O Toré não morreu, apenas trocou de veste. Veio o pano, vieram as roupas dos brancos, e com elas uma nova forma de resistir. Os anciãos passaram a chamar esse novo modo de vestir de Wanhercá — a roupa trazida pelos colonizadores. E com ela, o Toré Wanhercá nasceu.


Nas noites de Santo Antônio, São João e São Pedro, as fogueiras se acendiam e a escola da aldeia se tornava o terreiro sagrado. Os mais velhos chamavam:


— Venham, filhos da memória! Hoje é noite de toré!


Vinham todos — crianças, jovens, anciãos — com suas roupas simples, vestidos e camisas, chinelos ou pés descalços. Dançavam ao redor da fogueira, com olhos brilhando e corações acesos. A noite inteira era de dança, canto, abraço e saudade. Quando o dia amanhecia, o Toré não parava. Saía da escola em fila, como um rio de alegria que passava por todas as casas da aldeia, levando benção e lembrança.


O Toré Wanhercá se fez tradição. Porque mesmo vestido com pano alheio, ele trazia por dentro o que nenhum sistema colonial conseguiu apagar: a alma de um povo. A dança era o corpo contando o que os livros da escola esqueciam. O canto era a língua ressoando a dor e a beleza dos antigos. O maracá era o coração pulsando no tempo.


Ainda hoje, quando o fogo acende e o toré começa, é possível sentir que ali não há só dança. Há presença. Há resistência. Há história. E cada passo dado com roupa é um grito silencioso:


— Estamos aqui. E sempre estaremos.





Autor dos Contos: Nhenety Kariri-Xocó 






📘 APÊNDICES



APÊNDICE A – Notas Sobre a Tradição Oral Kariri-Xocó



A tradição oral é a espinha dorsal da memória viva do povo Kariri-Xocó. Por meio de cantos, rezas, mitos, narrativas de ensinamento e histórias do cotidiano, os anciãos transmitem saberes que atravessam gerações.

A oralidade não é apenas técnica — é território espiritual. Cada história carrega uma função: instruir, preservar, orientar, fortalecer e conduzir.

Os contos aqui reunidos são frutos desse solo ancestral, reafirmando a resistência cultural do povo que vive às margens do Opará e que carrega na palavra o sopro primordial do sagrado.



APÊNDICE B – Sobre o Uso da Língua Kariri-Xocó



A língua Kariri-Xocó, ainda que fragmentada por séculos de agressões coloniais, ressurge em expressões guardadas na memória coletiva. Palavras e termos presentes neste livro são testemunhos da resistência linguística e do esforço de preservação identitária.

Utilizá-las é reafirmar o pertencimento, fortalecer a cultura e revelar ao leitor um mundo onde o som das palavras ecoa o espírito dos ancestrais.



APÊNDICE C – Contextos Culturais Referenciados



As festas, jogos, cantigas, crenças, movimentos rituais e práticas do cotidiano citados neste livro refletem uma vivência real da aldeia e da Rua dos Índios entre as décadas de 1950 e 1980.

Esses elementos aparecem nos contos não como cenários, mas como extensões do modo de existir indígena — uma existência comunitária, espiritual e profundamente conectada à terra e às águas.





📘 GLOSSÁRIO KARIRI-XOCÓ




Amara — a cantiga, o canto utilizado pelos indígenas, não é o toré, pode ser um canto específico para a luta, dando coragem aos guerreiros nativos.


Areantoá — os santos de devoção que os colonizadores trouxeram, chamados pelos Kariri e assim ficou.


Bewocró — o tronco de pedra, palavra do neologismo Kariri, vem de Bewo "tronco" e Cró "pedra", portanto Bewocró significa "Tronco de pedra".


Caraí – a pessoa que veio de fora, os colonizadores portugueses, gente de pele clara, com saberes diferentes dos nativos.


Cariri / Kariri – Termo de origem ancestral, relacionado ao tronco linguístico e identitário do povo.


Hebarusá — o pau, mastro gorduroso, que era utilizado nas festas de Bom Jesus dos Navegantes, no Baixo São Francisco, onde havia um prêmio no topo para quem conseguir-se pegar. 


Ibápohdu —  o automóvel com faróis acessos os indígenas Kariri-Xocó o chamavam carro olho de fogo, pela primeira vez quando chegaram na cidade de Porto Real do Colégio, Alagoas em 1935.


Iworó – Tempo, ciclo ou movimento temporal simbólico.


Katokli –o neologismo Kariri Dzubukuá, vem de Ka "cantar" e Toklikli "falar", assim Katokli significa "canta e fala", os Kariri-Xocó são desse grupo étnico dos Kariri Dzubukuá. 


Sadá — o instrumento metálico de caçar, objeto que estala, faz barulho, quando disparado, foi trazido pelo colonizador e o indígena adotou.


Tipuády — as festas comemorativas designadas pelos Kariri-Xocó, seja no religioso ou nos eventos sociais. 


Toré – Ritual indígena que envolve dança, canto, espiritualidade e identidade comunitária.


Tupan — o Deus das águas, senhor das trovoadas, reconhecidos tanto pelos Tupi e os Kariri. 


Uaplu – A atividade de caçar, seja no arco e flecha ou utilizando qualquer artifício, vem da língua Kariri. 


Wanhercá – as pessoas que veste fazenda de pano, roupa, assim entendida pelos Kariri-Xocó, dos costumes dos colonizadores. 


Wonhéworo — a palavra é um neologismo Kariri-Xocó, tem origem Kariri, vem de Wonhé "cantar" e Iworó "roda", portanto wonhéworo "cantiga de roda".


Woroy – História, narrativa, conto ancestral.




📘 DADOS BIOGRÁFICOS DO AUTOR



Nhenety Kariri-Xocó

Escritor, contador de histórias e guardião da palavra ancestral, Nhenety é indígena do povo Kariri-Xocó de Porto Real do Colégio (AL). Desde a infância, cresceu entre as vozes dos mais velhos, aprendendo a ouvir as histórias que atravessam gerações, histórias que não morrem — apenas dormem à espera de serem contadas.


Autor de livros, cordéis, contos, textos de memória e estudos culturais, dedica-se à preservação da tradição oral e à valorização da identidade indígena. Seu trabalho une espiritualidade, ancestralidade e literatura, conduzindo o leitor às paisagens vividas da Rua dos Índios, da aldeia, do Opará e do tempo sagrado.


Nhenety Kariri-Xocó também mantém um espaço de saber compartilhado em seu blog, onde registra pesquisas, reflexões e narrativas que celebram a cultura de seu povo.





📘 ORELHA DO LIVRO



(Texto destinado à aba direita da capa, com tom literário e convidativo)



Woroy História, Kariri-Xocó, Sonoridades Entrelaçadas é mais do que um livro: é uma travessia.

Aqui, cada conto abre uma porta para o universo ancestral do povo Kariri-Xocó, revelando festas, brincadeiras, medos, alegrias e espiritualidades que moldaram a infância e a vida comunitária na Rua dos Índios.


Com linguagem sensível e profunda, Nhenety Kariri-Xocó conduz o leitor por caminhos que unem o sagrado ao cotidiano, o passado ao presente, a memória à imaginação. Suas narrativas preservam fragmentos de uma cultura que resiste e se reinventa, registrando com beleza o que antes vivia apenas na voz dos mais velhos.


Este livro é um convite ao escutar.

Ao abrir estas páginas, o leitor se aproxima de um mundo onde cada palavra carrega a força dos antepassados — e onde o tempo, como Uché Iworó, gira em movimento eterno.





🌙 ORELHAS DA CONTRA-CAPA (Duplas)


Orelha 1 — Sobre a Obra


Este volume, “WOROY HISTÓRIA, KARIRI-XOCÓ, SONORIDADES ENTRELAÇADAS  — Contos – Volume 8”, é uma construção literária ancestral e contemporânea.

Aqui, o leitor encontra a riqueza de narrativas moldadas na tradição oral do povo Kariri-Xocó, que transformam experiências, sonhos e ensinamentos em palavras vivas.


Os contos reunidos nesta obra percorrem caminhos que unem memória espiritual,

sabedoria dos mais velhos, força da natureza e a percepção dos mundos visível

e invisível. São histórias que guardam o calor de fogueiras antigas, mas que

continuam pulsando no caminhar do povo Kariri-Xocó hoje.


Este livro celebra a resistência da palavra indígena escrita, sem perder o

ritmo, o sabor e a musicalidade da tradição oral. É uma obra que dialoga com

o passado sem abandonar o presente, e que projeta um futuro onde a cultura

originária segue iluminando caminhos.


Orelha 2 — Sobre o Autor


Nhenety Kariri-Xocó

Escritor, contador de histórias, poeta, pesquisador e guardião da memória de seu povo.

Descendente ancestral da Rua dos Índios, nas margens do rio Opará, Nhenety

transforma sua experiência comunitária e espiritual em literatura viva,

respeitosa e profundamente conectada com a força do território Kariri-Xocó.


Sua escrita combina tradição e renovação, preservando a essência das narrativas

ancestrais enquanto abre novas janelas para que leitores de todos os cantos

possam compreender a beleza da visão de mundo indígena.


Nhenety é autor de cordéis, contos, estudos culturais e obras poéticas que

dialogam com educação, espiritualidade, filosofia indígena e memória histórica.

Sua missão literária é clara: registrar, honrar e fortalecer as histórias

de seu povo, para que elas jamais se apaguem.






Autor: Nhenety Kariri-Xocó 



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