quarta-feira, 30 de outubro de 2013

MEMÓRIA DA TERRA



Sabemos como é nosso território porque nossos antepassados nos disseram, onde construímos nossas aldeias são lugares escolhidos por oferecer melhores condições de moradia. A terra que conhecemos não tinha divisão com cercas de arame farpado, nosso direito não estava limitado léguas de terras em sesmarias medida pelo colonizador, depois oficializado pelos governos posteriores do império e da república. Nossos antepassados diziam que a Terra estar ligada a toda a natureza, sol, lua, chuvas, rios, mar, floresta, dia, noite, verão, inverno.  Retiramos a argila boa para a cerâmica nas margens das lagoas, tem uma cor marrom escura, dela confeccionamos potes, moringas, pratos de barro. Na parte alta de nossa terra retiramos a argila vermelha muito resistente para fazer panelas de barro, frigideiras, cuscuzeiros. Para a pintura corporal retiramos nas fontes da terra o “ Tawá “ argila branca, onde fazemos nossos traços com desenhos na pele dos guerreiros e cantadores de Toré, as mulheres indígenas também utilizam esta substancia para pintar a cerâmica . No subsolo estar guardado muitos antepassados  em “ igaçabas “ grandes potes de barro onde enterravam os nossos mortos, tem machados de pedras, panelas, pontas de flechas de ossos, tudo isso é uma grande Memória. Cada camada de terra tem uma história registrada pelo tempo desde nossa origem primeira, preservar nosso território corresponde assegurar a Memória da Mãe Terra, defendemos nossos territórios porque nele estar os registros de nossa cultura, ao longo dos séculos construímos uma relação com o torrão natal. Ficamos muitos tristes porque a maior parte de nosso território estar nas mãos de pessoas estranhas que não respeitam os valores nativos , destroem a terra, tirando minérios, poluindo os rios, construindo cidades, acabando com nossos vestígios sagrados . O relevo terrestre  tem nomes indígenas Serra da Maraba, Serra da Apreaca, Várzea do Itiúba, Lagoa do Coité, Baixa do Paturi, Grota do Cambotá, Rio Tibirí, Margem da Maricota . Quando veio o colonizador veio mudando os nomes dos lugares do Território Indígena  língua portuguesa : Morro do São Caetano , Rio São Francisco, Morro da Viúva, Pedra do Castro. Mas nossa força cultural é tão viva que muitos das povoações criadas por eles receberam nomes nativos :  Aldeia Urubu-Mirim , Povoados Tapera, Tibirí, Tucuns, Angico, Sucupira, Girau do Itiúba e Povoado Kariri. Pela Memória da Mãe Terra sabemos os lugares para cada coisa, local de plantar as roças, caçar os tipos de animais pelos hábitos alimentares dos bichos, onde tem os tipos de peixes de acordo com o tipo de ambiente das espécies dos rios , bando de aves aquáticas das lagoas. Cada povo tem sua Memória da Mãe Terra, em cada ecossistema um acervo da sabedoria nativa sobre a relação com a natureza, na sua cultura e vivencia local atravessando os tempos históricos.  Por causa da terra muitos povos indígenas foram exterminados, os colonizadores retiraram  as riquezas de nosso território, cortaram o pau-brasil, escravizaram muitas tribos, evangelizaram os sobreviventes que eles poderiam capturar , outros indígenas fugiram para o interior das florestas distantes. Os índios que ficaram na Missão Religiosa do Colégio dos Jesuítas  miscigenaram com outras etnias europeias e africanas, dando origem ao povo brasileiro, neste país só queremos exercer nossas tradições, com nossa cultura, ser respeitado como povo indígena, exigimos nossos direitos garantidos pela Constituição Federal, Direitos Humanos por uma Terra de Paz.

Nhenety Kariri-Xocó


 

PRAGAS DO PASSADO

Infestação de Grilos
  Com a derrubada da floresta na região litorânea de Alagoas, em 1600,insetos nocivos aos seres humanos foram viver nas áreas hurbanas. Na Aldeia Kariri-Xocó, os índios que viveram entre os séculos XIX, XX e XXI,nos deram informações dessas pragas que infestavama a tribo:” Pulgas, persevejos, mucuranas, piolhos, pixilingas, baratas, barbeiro, mosquitos e barbeiro”. Considerando que essas pragas tiveram sua época, de maior ocorrência na vida dos índios. Nas casas dos índios as pulgas dos ratos,saltavam na cama, ficava nos lençóis e colchões de capim mordiam pra valer. Os persevejos sulgavam o sangue das pessoas que dormiam, deixando calombos na pele. As mucuranas piolhos listrados, ficavam na roupa da gente mordendo toda hora. Nas cabeças dos índios estavam repletos de piolhos, causando feridas pelas coceiras, um incômodo constante. Nas portas das casas viam mulheres catando piolhos nos filhos no colo, estalando léndeias na unha. Nos quintais cercados com estacas de madeira, os índios criavam galinhas caipira,as aves eram hospedeiras das pixilingas, pequeninos insetos que furvilhava os rostos, invadiam os quartos das casas. Nos esconderijos escuros das chopanas de palha, as baratas, causavam espanto na sala. Em 1980 conhecemos o perigo do barbeiro, causador do mal de chagas, os besouros ficavam nas paredes das casas sem rebouco. O Barbeiro pelo mal de chagas causou a morte dos índios : José Firlimino e José Pires em 1992. Além das pragas da agricultura lagartas, gafanhotos, ratos, gorgulhos, pulgão e bicudo, que atacavam milho, feijão e algodão. Esses fatos aconteceram em nossa aldeia entre 1890 a 2004. Atualmente o mosquito aumentou sua população no meio ambiente, á vários anos, não nos deixam sossegados. Este ano de 2013 teve grande praga de grilos na aldeia e principalmente na cidade de Porto Real do Colégio, infestando casas, ruas ficavam repletas de insetos causando mal cheiro.  
  http://www.indiosonline.net/pragas_do_passado/   .

Nhenety Kariri-Xocó.