sexta-feira, 17 de maio de 2024

A LÍNGUA DOS JUCÁS


 Nos últimos dias, venho observando os topônimos cearenses em busca de compreender as línguas locais, descobri um documento chamado "Sesmarias Cearenses: Sesmarias Cearenses: Distribuição Geografia", descobri vocábulos da língua Juká, que diferem-se completamente das línguas ao seu redor, aqui segue a análise que fiz sobre os vocábulos:


Palavras Jucá: 


  

Faroibo (Faroybo) = Riacho Favelas (árvore) (?) < PJS *pyrək-bõ 'parecer-capim' (?) 


  

Feloibou (Feloybow) = Riacho Favelas (árvore) (?) < PJS *pyrək-bõ 'parecer-capim' (?) 


  

Loucuneele (Lowkuneele) = Riacho Tabuleiros < Lowku-nee-le é a estrutura nativa dos Jukás equivalente ao -ri-ré que vemos entre os outros Tarairiú, equivale ao locativo Tupi -pe/-be 'em, no, na', como em Îagûar-y-be 'no rio das onças' > Jaguaribe.


Lowku é a pronúncia local da palavra Tupi ro-kub-a 'coisa que está deitada', traduzindo 'mesa, tábula', isso explicaria o por que de ser chamado de Riacho dos Tabuleiros, a tradução literal é:


Lowku-nee-le 'mesa-LOC-DIM' > 'no pequeno (rio) das tábulas'



Nanraniou (Nanran-yow) = Riacho Pitombeira < PJS *jarῖ-j-u ‘saltar-REL-água 


  

Lucecoró (Lusekoró) = olho d'água' 


  

Vacezoem (Vasezõẽ) = Riacho dos Bois < Cognato do PJS *aĵə-ti 'veado mateiro' com um prefixo w- relacional (cf.: W-akonã, N-akonã, J-akonã e Mebengokre w- em w-a-bê), zoem pode ser zõẽ, derivado de um antigo dzõj̃ e antes disso do PJS *ñõ 'comida', portanto w-aĵə-ñõ 'REL-veado-comida' > w-ace-dzõj̃ > w-ase-zõẽ 'boi, vaca' 



Puiú (Puyú) = Riacho Puiú < PJS *pucu 'mutuca' 


  

Vaiariré (Vayariré) = Riacho Vaiariré < PJS *mbaj 'caranguejo' + ri 'locativo' + -ré 'diminutivo', literalmente mbaj-ri-ré 'no riacho dos caranguejos' 


  

Guinancooú (Ginankooú) = nome de uma serra 


  

Fuériró (Fwériró) = Riacho Pitombeira < Nota: Aqui afirma-se que os próprios indígenas chamavam o Pitombeira de Fuériró, portanto talvez essa seja a palavra para pitomba e Nanraniou ou é um fruto diferente ou é um nome de outro corpo d'água com outra palavra não relacionada, possivelmente fué é cognato ou descendente do Proto-Jê Setentrional *pôj ‘sair.PL’, sendo no plural por conta dos cachos que as pitombas formam. 


  

Sque-o-a (Skwe'o'a) = Riacho Imbuzeiro < Parece ser um cognato do Makasará zigöh-ku 'umbu', ambos vindos de um antigo *ci-k(w)ə 'umbu'. -o-a talvez seja equivalente ao Xukurú -gu-go, portanto sque-'o-'a 'umbu-AGT-RLS' = ‘umbu-z-eiro' 


  

Cundadú (Kundadú) = Riacho Cundadú) 


  

Raram = Riacho das Rosas < PJS *rə̃-rə̃ 'flor-flor' 



Quinancuiú (Kinankuyú) = nome de uma serra < Possivelmente a palavra nativa do Jucá para serra, compare kinan e ginan com o Tarairiú kehn 'pedra' 


  

Jucaaiore (Jukaayore) = Riacho Jucáaiore 


  

Tauhaha (Taw'a'a) = Riacho Tauhaha 


  

Anabuio = Riacho do Saco 


  

Cundaú (Kundaú) = Riacho Cundaú) 



 O Tarairiú de Inhamuns é comprovado pela palavra skwe’o’a, a palavra que define a divergência dessa variante de Tarairiú. A palavra skwe significa ‘umbu, imbu’, e só possui um cognato conhecido no Nordeste, que é do Masakará do norte da Bahia ‘zigöh’ (tsigöh), indicando que a palavra passou por um processo de redução silábica (*sikwe > skwe), tal processo foi influenciado por uma sílaba tônica oxítona, provavelmente devido à proximidade do Sertão de Inhamuns ao território dos Kariri do Ceará e convivência direta com eles.  


 Essa primeira evidência põe essa língua aproximada ao Macro-Jê, o que a define como Tarairiú é que skwe’o’a é a estrutura ‘o-’a, cognata às que possuem –gu-go no Xukurú mais ao sudeste, que é a forma agentiva dessas línguas, sabemos que –go equivale ao –ka do Tarairiú do Noroeste (Areriú): ara-ka ‘briga, conflito’, portanto o Tarairiú de Inhamuns tem uma afinidade fonética com seus parentes mais ao norte na Ibiapaba, a diferença sendo que, o fonema equivalente ao /k/ do Noroeste e o /g/ do Xukurú, aqui equivale ao som de /ʔ/ (representando pela apóstrofe ‘), indicando que tal fonema era distinto nessa variante em comparação ao /k/ e /kʷ/ (esse último visto claramente em skwe). 


 A palavra fué também indica uma proximidade com as línguas de Ibiapaba, visto que passa pelo processo de lenição de /p/. No caso de Ibiapaba, tal fonema torna-se numa aproximante sonora /β/, em Inhamuns ele torna-se numa fricativa labiodental surda /f/, possivelmente através de um estágio intermediário onde também foi uma aproximante, só que surda /ɸ/. 


 Por último, talvez a palavra tau-ha-ha também seja fruto do agentivo –o-a, sendo tau possível cognato/descendente do PJS *tak ‘bater’, portanto tau-ha-ha ‘riacho batedor’.


 Para concluir, eu suspeito que algumas palavras aqui sejam na verdade de seus vizinhos, possivelmente os Candodús ou outro povo que não conhecemos o nome.





Autor da matéria: Suã Ari Llusan 



domingo, 5 de maio de 2024

FONOLOGIZAÇÃO DAS VOGAIS ECO DO JÊ CENTRAL


Andrey Nikulin argumenta em sua tese que uma das características relevante da separação das línguas Akuwẽ (que este autor usa intercambiavelmente com Proto-Jê Central, mas que o autor desse texto irá mencioná-los como estágios distintos, visto a inclusão do Terejê nesse agrupamento) como uma família própria é a fonologização das vogais eco, vemos isso por exemplo com algumas palavras do Proto-Cerratense:


PCerr: *tak 'bater' -> PJC (Proto-Jê Central): *taka (-k > -kV) ou ta (-k > X)

PCerr: *wəd 'pau, chifre' > PJC: *wêdê (-d > -dV)

PCerr: *ty(r) ~ *tyk 'morrer' > PJC: *dərə; *dəkə ~ *də (-r > -rV e -k > -kV)


Obs.: V maiúsculo é um substituto para qualquer vogal, o que está sendo dito aqui é que a consoante que estava sozinha ganha uma vogal extra que copia a vogal anterior, portanto se há a sílaba pak, ela vira pak-a, repetindo a primeira vogal.


 Vê-se que o Terejê compartilha desse aspecto também, o Wakonã e o Kipeá com seu substrato Natú demonstram que as codas preservadas através dessa extensão silábica ainda indicavam na fala comum os conceitos de finitude e não-finitude, por exemplo:


Wakonã: ka-li-cê bêlê-tsiê ba-s-kíô 'fale comigo'


bêlê está em sua forma extensa, sendo sua forma curta *bê, bêlê está a assim possivelmente por que a gramática do Wakonã só permitia palavras com codas que são o primeiro elemento de uma composição em suas formas extensas, portanto não podia se dizer bê-tsiê, pois seria incorreto gramaticalmente, a forma extensa representa a não-finitude, que é normalmente nas línguas Macro-Jê o conceito que representa o gerúndio, o particípio e o infinitivo (através destes também representa uma forma de nominalização), portanto bêlê-tsiê significa 'falar (verbo tsiê) de diálogo/conversa (substantivo bêlê)'.


 Portanto o que temos no Natú, diferente do Masakará que mencionei recentemente, é que as formas extensas sufixadas com as codas desse idioma normalmente indicam nominalização de alguma forma, enquanto as formas curtas indicam qualquer tipo de flexão verbal:


Ex.: tê 'ir, viajar.SG'


tó we tê mra nó Sobral t-mó

"ele(a) viajou ontem para Sobral"


têrê 'viajando, viajado, viagem'


wa dì têrê to hê-ma

"minha viagem foi ótima"


A presença dessas formas extensas com a fonologização das vogais ecos das codas surgem em vários dos vocábulos identificados como Terejê (*têrê* 'ir.SG', *bêlê* 'falar, dizer' e *wa-nherè* 'fazenda' (nhere 'meter, colocar') por exemplo).






Autor da matéria: Suã Ari Llusan 



sábado, 4 de maio de 2024

SÉRIES DE PRONOMES DO MASAKARÁ, REALIS-IRREALIS E FINITUDE E NÃO-FINITUDE


 Se os conceitos de realis e irrealis eram marcados pelas codas, como especulei na publicação anterior, então este mecanismo talvez não tivesse sido herdado com as funções de finitude e não-finitude do Proto-Macro-Jê, nesse caso, parece que este conceito evoluiu conjuntamente ao Maxakalí para os conceito de realis-irrealis, assim onde se tem a forma finita, tem a forma irrealis (hipotética ou futura, que não é real), enquanto as formas que possuem as codas sufixadas são descendentes das formas não-finitas (infinitivo, gerúndio e particípio).


 O Natú da família Terejê herda suas codas com o propósito de marcar o finito e o não-finito, assim como Proto-Jê Central fazia, por isso se vê a forma têrê composta com -je no nome têrê-je (em Natú: têrê-ze), pois a forma não-finita é a forma não conjugada no verbo tê 'ir.SG'. Aqui temos a mesma situação, onde as formas não finitas também são as formas nominais, ou seja, também são substantivos.


1) yah 'mijar' também é o conceito de 'mijo, urina', enquanto ya serve como irrealis, como o imperativo a-ya! 'urine!' ou o futuro a-ya 'tu urinarás' 


 Isso também nos dá a chance de propositalmente atribuir codas a palavras que não tinham elas antes, tornando-as infinitivas, portanto, verbos:


go 'buraco' > go-ñ 'esburacar, cavar' (go 'buraco' = Proto-Transanfranciscano *kuñ 'buraco' (NIKULIN, 2020, p.  411))

txüh 'nariz' > txüh-t(-ö) 'farejar, cheirar' (txüh-go 'nariz' = PTSF *ñĩji-kô 'nariz' (NIKULIN, 2020, p. 411))

txüng 'mão' > txü-ng 'tomar, pegar' (txüng 'mão' = PTSF *ñĩm° 'mão' (NIKULIN, 2020, p. 406))


 A palavra 'tomar' é uma exceção da regra, visto que a coda -ng não corresponde fielmente ao -m do PTSF, portanto isso é um introdução de uma coda nova para essa palavra para garantir-lhe a sua derivação, como ela é visualmente idêntica à sua forma escrita normalmente, nada se altera ortograficamente, mas gramaticalmente e foneticamente: txüng (nasal) > txü > txü-ng (-ng pronunciado).





Autor da matéria: Suã Ari Llusan 



SÉRIES DE PRONOMES DO MASAKARÁ, REALIS-IRREALIS E FINITUDE E NÃO-FINITUDE PARTE 2


 As línguas Kamakã não deixaram pistas óbvias de conjugação de TAM (Tempo-Aspecto-Modo), isso é parcialmente culpa das anotações pobres de análises mais aprofundadas, mas também é parcialmente culpa de nossa percepção aportuguesada das gramáticas indígenas. Argumento assim pois nós temos a ideia de que as línguas devam seguir certos padrões similarmente visto nas línguas indo-europeias, tanto que criou-se na percepção ocidental dessa padronização dos aspectos gramaticais compartilhados entre as línguas da Europa, que são relativamente incomum em comparação ao resto do mundo.


 Veja por exemplo o Maxakalí, essa língua não marca TAM da mesma forma que o português, nela existem dois modo, o realis e o irrealis, onde o realis marca tudo aqui que é real (presente, pretérito simples, gerúndio, ou seja, tudo que for uma ação completa ou em andamento), enquanto o irrealis marca o contrário, o hipotético (futuro, imperativo, optativo, subjuntivo, habitual e imperfeito, ou seja, tudo que não se concretizou ainda, que não é real). Essa língua marca seus modos a partir de suas codas, que são preservadas na fala deste povo.


 Eu não posso afirmar que tal ocorre no Kamakã, pois a maioria das codas desapareceram (vejam minhas postagens aqui no blog sobre o Sprachbund Nordestino), as que se preservam no Masakará são as seguintes:


in-ñung < ĩj-ñũ-k 'meu, minha' (*-k > -ng)

küm-ghüang 'braço dele(a)' < ki-mã-k 'braço dele(a)' (*-k > -ng)

krüng 'comer' < krẽ-k 'comer, fazer sexo' (*-k > -ng)

muy-ni 'cozinhar' < cognato do Maxakalí mu-k 'cozinhar' (*-k > -j)

a-yahh 'tu mijas' < a-jy-c 'tu mijas' (*-c > -x)

huntung, muntung 'dormir' < hũ-t 'dormir' (*-t > -tV)

thi-atta 'boca' < j-o-r 'boca' (*-r > -tV, fundiu-se com a coda acima)

puñ 'flecha' < pu-ñ 'flecha' (*-ñ > -ñ)

mni-mang 'peixe' < pã-m 'peixe' (*-m > *-Ṽ (vogal nasal))

a-mu 'tu vais' < a-mũ-ŋ (*-ng > *-Ṽ (vogal nasal), cf. Masakará: ajach cumung 'mijar ele(a) vai')

aming cuing 'comidar não existir' < significa 'fome', vem do Kariri/Natú a-mi 'comida, mantimento, fome' + PTSF ŋgwiŋ 'não existir' (*-ng > -ng)


 Eu seletivamente escolhi as poucas palavras que tiveram suas codas preservadas de uma forma ou de outra, enquanto em outros casos elas desaparecem e novas são criadas devido ao sotaque dos Kamakã, que de acordo com a fala da última falante nativa da língua Jacinta Grayirá, 'comia' suas sílabas, de forma similar ao que vemos na palavra telefone no dialeto de Lisboa: tylfon. A teoria que formo aqui é que ao menos o Masakará, devido a sua divergência prévia ao Kamakã Comum, teria uma distinção entre realis e irrealis similar ao Maxakalí, através de suas codas, note que os verbos acima estão todos em sua forma extensa, ou seja, com suas codas demonstradas, o que indica que os falantes que falaram com os anotadores estavam indicando o modo realis para eles, sendo esta a forma base dos verbos na língua destes povos. Portanto veríamos algo como:


1) in-mui 'eu cozinho' vs a-mu! 'cozinhe!'


2) in-muntung tsoikñi thia pa 'eu durmo nesse horário' vs a-mun!, a-hun! 'durma!'


3) mü krüng kahhü  'eu como mandioca' vs a-krü 'coma!'


 O esforço de revitalizar tais codas e o sistema realis-irrealis terá de ser feito a partir da comparação das palavras Kamakã com as da família Maxakalí e Krenák.





Autor da matéria: Suã Ari Llusan 



ADIÇÃO E CORREÇÃO DAS SÉRIES DE PRONOMES DO MASAKARÁ, REALIS-IRREALIS E FINITUDE E NÃO-FINITUDE PARTE 1


Adiciono mais uma coisa, Guérios discute sobre um pronome possessivo que tinha função similar ao nosso U- da quinta declinação de Mamiani e o ñung Masakará, ele só surge nas línguas do Kamakã Comum, ou seja, exclui o Masakará, provavelmente sendo uma inovação desse ramo. O pronome surge com várias pronúncias, como guae, guaeng, kook, köah.


 Eu suspeito que Kook seja descendente do mesmo ñ-ung do Masakará, vindo do Proto-Transanfranciscano *ñũk 'genitivo', sendo a conjugação com o pronome ko-, equivalente do ku-/kü-/ki-/txi- que mostrei do Masakará anteriormente, o que demonstra que devo corrigir o pronome de terceira pessoa para kuung/küung/kiung/txiung no Masakará, retirando o prefixo relacional ñ- da frente.


 Corrigo também o pronome de segunda pessoa, já que extraí a pronúncia diretamente da variante Kamakã anotada por Guérios em seu documento, se levarmos em consideração que o Masakará, assim como o Dzubukuá, não tinha o fonema /s/ nativo, xö também poderia ter sido txö ou tsö, portanto recomendo as três pronúncias como reconstrução para que não haja erro.


guang, guan, guaen, guae, guaeng e todas outras possíveis variantes são todos descendentes da mesma formação que ko-ok, a escrita esconde a pronúncia, mas visto que todos vem do Kamakã 1, que é o de Martius, há a tendência de escrever g para k não-aspirado, portanto temos ku-an, ku-ang, ku-aen, ku-aeng e etc. A segunda sílaba é descendente do mesmo genitivo que descrevi acima, ele passou pelo processo de abaixamento vocálico que é bastante visto no Kamakã Comum, mas não no Masakará, compare os verbos mu 'ir' do Masakará com o Kakamã mã 'ir'.


Todos esses achados da família Kamakã podem se encontrados no documento de Guérios, que após uma pesquisa superficial no google, vejo que ele é difícil de encontrar ao se pesquisar, ele está disponível na biblioteca online da FUNAI de graça, a partir desse link:


http://biblioteca.funai.gov.br/media/pdf/Folheto31/FO-CX-31-1920-1996.PDF




Autor da matéria: Suã Ari Llusan 



SÉRIES DE PRONOMES DO MASAKARÁ, REALIS-IRREALIS E FINITUDE E NÃO-FINITUDE PARTE 1


O Masakará apresenta traços tipicamente vistos nas línguas Macro-Jê, que é seu ancestral, onde se há uma divisão pronominal que define os termos da oração, normalmente havendo a distinção binária entre o agente da frase e o objeto direto e indireto.


 Ao que vejo no vocabulário compilado por Martius (1867, p. 144), a maioria dos verbos e verbos adjetivais estão conjugandos da forma que Martius pediu para que os indígenas falassem, normalmente conjugados em uma série análoga àquela que chamo de acusativa na gramática do Peagaxinã que estou concluíndo. Note as seguintes palavras conjugadas na primeira pessoa:


ing-thug krüng (ing-thuk krüng) 'minha barriga come' (cf. Ma.: txiuk-grüng 'ventre, barriga')


in-tang ni-amu 'matar eu vou' (i-tam ñi-a-mu, a-mu fossilizado)



Na segunda pessoa:



ag-gre a-mu 'cantar tu vais' (a-mu é um verbo auxiliar, comum na gramática  Kamakã)


a-hhar n-amu 'lavar tu vais' (n-a-mu 'tu vais')



Na terceira pessoa:



niameng mung quamu 'beber ele(a) vai' (ñamengmung ku-a-mu, com a-mu fossilizado com o prefixo a-)


aggungtschiamu 'te chamar ele(a) vai' (ag-gung txi-a-mu)


oequiamu 'dançar ele(a) vai' (we ki-a-mu)


hnamai aü küamu 'caçar ele(a) vai' (nhamiaü kü-a-mu)



 O que noto aqui é que parecem existir classes dentro dessa série acusativa, note a distinção entre in- e ni-; a- e n-a-; ku-, ki, tschi- e kü-, é como se houvessem vários tipos de conjugações, sendo o mais interessante é que tal distinção era marcada pelo verbo auxiliar mu 'ir, andar' ao invés de ser marcada no verbo em si. No caso da terceira pessoa eu creio ser um caso de alofonia do que de real distinção, mas a diferença entre os pronomes de primeira pessoa e segunda pessoa são o suficiente para especular uma possível existência de classes pronominais.


 E nesse caso, mais uma vez, argumento que a proximidade do povo Masakará com os povos Kariri tenha influenciado tal decisão de distinção de classes pronominais, visto que tal não é um fator notável nas outras variantes Kamakã, creio que seja possível distinguir tais classes da seguinte forma:


Classe I


in- 'eu, meu, minha'

a- 'tu, teu, tua'

ku-/kü-/ki-/txi- 'ele, ela, dele, dela'


Classe II


n-i- 'eu, meu, minha'

n-a- 'tu, teu, tua'

ku-/kü-/ki-/txi- 'ele, ela, dele, dela'


Os pronomes plurais, similarmente ao Natú, provavelmente tinha pouca distinção, salvo pelo pronome kigne/kigna (kiñe/kiña) 'nós, nosso, nossa', que se distingue do pronome de primeira pessoa singular. Os pronomes possessivos já foram discutidos antes, existiam dois tipos, os pronomes posposicionais independentes (mü 'meu, minha', xö 'teu, tua') e os dependentes (in-ñung 'meu' e o hipotético *a-ñung 'teu, tua'), o Masakará parecia favorecer o uso dos dependentes, derivados do genitivo Macro-Jê *-ñũk. Argumento também que os posposicionais talvez nem existissem nessa forma, sendo na verdade prefixos, já que vemos tal com o prefixo kü- 'ele, ela, dele, dela' e nunca o vemos sendo usado como posposição, esse aspecto talvez sendo uma evolução específica do Kamakã Comum.



Série de pronomes possessivos da classe I



in-ñung 'meu, minha'

a-ñung 'teu, tua'

ku-ñung/kü-ñung/ki-ñung/txi-ñung 'dele, dela'



Pronomes possessivos da classe II



mü- 'meu, minha'

xö- 'teu, tua'

ku-/kü-/ki-/txi- 'dele, dela'



 Os pronomes da série agentiva provavelmente eram os mesmos que os possesivos da classe II, visto que o pronome de segunda pessoa (xö) corresponde ao agentivo Maxakalí xa 'tu', não fui capaz de encontrar a origem do pronome mü, porém Guérios aponta algumas similaridades com pronomes de outras línguas indígenas do Brasil (1945, p. 19). O pronome ku- tem a mesma origem que o pronome ki- de terceira pessoa do Krenák.



Série agentiva



mü 'eu'

xö 'tu'

ku/kü/ki/txi 'ele, ela'


 Com isso, concluo a análise dos pronomes Masakará, sendo a possível distinção de classes um desenvolvimento paralelo e/ou influenciado pelo desenvolvimento das declinações das línguas Kariri, visto que este povo era vizinho tanto dos Dzubukuá quanto dos Kipeá de Mirandela.




Autor da matéria: Suã Ari Llusan 



PROPOSTA ORTOGRÁFICA ATUALIZADA MASAKARÁ


a = á

aa = aa (vogal longa)

e = ê do português

ee = ee (vogal longa)

é = é do português

éé = éé (vogal longa)

i = i

ii = ii (vogal longa)

o = ô

oo = oo (vogal longa)

ó = ó

óó = óó (vogal longa)

oe = â

ooe = ââ (vogal longa)

u = u

uu = uu (vogal longa)

y = y (i grosso do Tupi) 

yy = yy (vogal longa)

b = b

ch = x de xícara

d = d

f = f (empréstimos)

g = g (g de guerra, jamais g de gente)

gh = r de rato do dialeto baiano, só que sonoro /ɣ/

h = h (sempre aspirado)

hh = exatamente como o r de rato do dialeto baiano /x/

k = k

kh = kh (k aspirado)

l = l

m = m, também é usado no final das palavras para indicar nasalização, equivale ao til

mh = m aspirado

n = n

ñ = nh do português

ng = ng

nh = n aspirado

p = p

ph = ph (p aspirado)

r = r (r de Pará, jamais r de rato)

t = t

tch = tch (como em tchau)

th = th (t aspirado)

w = w (de what do inglês ou w de Wakonã)

y = y (y de yes do inglês ou bu-yẽ ‘grande’ do Kipeá)

ts = ts (como na fala rápida do português parts de partes).




Autor da matéria: Suã Ari Llusan 



PROPOSTA ORTOGRÁFICA ATUALIZADA KAMURÚ


a, à (em posição tônica) = a

ä = a de ash do inglês

â = aa (vogal longa)

e (sempre sem acento) = ê

è (sempre com acento) = é

ê = ee (vogal longa)

i = i, ì (em posição tônica)

î = ii (vogal longa)

o (sempre sem acento) = ô

ò (sempre com acento) = ó (vogal aberta)

ö = â (vogal átona do português, igual ao a final de ca-sa

ô = oo (vogal longa)

u, ù (em posição tônica) = u

û = uu (vogal longa)

ü = y (i grosso do Tupi)

b = b

ch = ch alemão ou r de rato do dialeto baiano /x/

d = d

f = f

g = g (g de guerra, jamais g de gente)

h = h (sempre aspirado)

k = k

kh = kh (k aspirado)

l = l

m = m, também é usado no final das palavras para indicar nasalização, equivale ao til

n = n, surge como nasalização perante as letras t, th, d, k, kh, g

ñ = nh do português

p = p

ph = ph (p aspirado)

r = r (r de Pará, jamais r de rato)

s = s

sch = x de xícara

t = t

tch = tch (como em tchau)

th = th (t aspirado)

w = w (de what do inglês ou w de Wakonã)

y = y (y de yes do inglês ou bu-yẽ ‘grande’ do Kipeá)

tz = ts (como na fala rápida do português parts de partes).




Autor da matéria: Suã Ari Llusan 



PROPOSTA ORTOGRÁFICA ATUALIZADA SAPUYA


a, á (em posição tônica) = a

ä = a de ash do inglês

â = aa (vogal longa)

e (sempre sem acento) = ê

é (sempre com acento) = é

ê = ee (vogal longa)

i, í (em posição tônica) = i

î = ii (vogal longa)

o (sempre sem acento) = ô

ó (sempre com acento) = ó (vogal aberta)

ö = â (vogal átona do português, igual ao a final de ca-sa

ô = oo (vogal longa)

u, ú (em posição tônica) = u

û = uu (vogal longa)

ü = y (i grosso do Tupi)

b = b

ch = ch alemão ou r de rato do dialeto baiano /x/

d = d

f = f

g = g (g de guerra, jamais g de gente)

h = h (sempre aspirado)

k = k

kh = kh (k aspirado)

l = l

m = m

n = n

ng = nasalização, sempre no final da palavra, equivale ao til do português

ñ = nh do português

p = p

ph = ph (p aspirado)

r = r (r de Pará, jamais r de rato)

s = s

sch = x de xícara

t = t

tch = tch (como em tchau)

th = th (t aspirado)

w = w (de what do inglês ou w de Wakonã)

y = y (y de yes do inglês ou bu-yẽ ‘grande’ do Kipeá)

tz = ts (como na fala rápida do português parts de partes)



Autor da matéria: Suã Ari Llusan