terça-feira, 29 de agosto de 2023

REVITALIZANDO O MUNDO EM KATUANDI (RAMO XOKÓ-NATÚ)



A língua é uma visão de mundo do povo nativo no sistema comunicativo. Para o indígena esse mundo tem tudo que eles precisam para viver, terra, sol, lua, estrelas, plantas, animais, pessoas, rios, nuvens, chuva, inverno, serras, mar, não falta nada. 
     Um certo dia chegou o colonizador e perguntou assim: " índio qual o tamanho de sua terra e o indígena respondeu, o sol nasce e se põe nossas terras, onde o céu se encontra com a terra, com a floresta e naquelas serras, no final na linha do horizonte onde faz esse circulo completo".
    Portanto o colonizador dividiu esse mundo, colocou num pedaço de terra incompleta, destituíndo todos os valores culturais, a língua, as crenças, organização social e tudo mais.
      Revitalizar uma língua é como curar as cicatrizes deixadas pelo colonizador, regenerar o que ficou, tomando um tônico eficaz falando novamente a linguagem dos antepassados, mas atualizando no mundo de hoje. Seria como reconstruir o mundo novamente a partir das ruínas, assim numa evolução.


Xokó
 Llandi sisiba sire tullundi kamasendi ahikónefa tuasendi ni tuandi kalla ny. Ahikónefa ky masendi nami sisiba sire kaeyobandina are ky siky, atsihi, shutó, uavi, irona, zindina, ballana, asena, krana, tiabarina, sehoidzé'a, sakullishundi, amatsina, amakra, sisiba sireyo ayo karemanu.
 Kakaratsa shutó sisibatu tare salondi sisibatuba maertiaka nany: "ahikónefa, ba tivêndi sâtsihi ?" sisibatuba karatiaka ahikónefa: "shutó sisiba uase sisibaba sere uâtsihi, dzé'ga sisiba tullure âtsihi nyba, tupoba amatsiba nasiny, anutullundi u serendi ny kakasere tusôndi nami kara nyba".
 Sitinami salondi sisibatu kiapoka masendi nami, sisibatu krâma kinefa kakasereyo âtsihi kiandi, siballu yoma sosollu kândiseh méndina, llandi, patiandi, katuaseh gamakandi sosollu gama.
 Rõare llandi reba jiama gokiandi kaêyo salondi ti, rõuase kaêyona, siballu llaua amasõ jiamataka siballu rõlla kanatú llandi, sitini siballu nefama kashuna masendi ny. Sisiba na sire rõgakara masendi nefalla gaserendina ni, lluamandi nany ny.


Natú
 Llanda tulla kamesenda tiseme tuasi ni tuanda kalla na ari. Tiseme ya mesenda nam ari kaeyabandan arar ya yasa, shula, uava, iran, risemen, ballan, asen, kran, tiabarin, barisehoi, sallishunda, amseren, amkra, ariê aê kareman.
 Kakarasha shula tarit sala tiaerâkit nana: "tiseme, ba tivênda atisêri ?" maertitba tiseme: "shula nari seriba tisêru, sehoiga tulluri atisêr naba, tupba amsereba nasina, amaratunda tilla seranda na kakraser tusônda nam kar naba".
 Tinami sala kapukit mesenda nam, krâmit kinefa kakraseryo atisêr kanda, yomall sosoll kândiseh meranda, llanda, patianda, katuaseh, gamakanda sosoll gam.
 Roar llandi reba kêama gopunda kaêy sala ti, ronar kaêyon, llaull amaso kêamataka rollall kanatú llanda, tini nefamall kashun mesendi na. Ari na rogakra mesendi nefall gaserandan ni, lluamanda nana na.




Autores: Nhenety KX e tradutor Ari Loussant 








segunda-feira, 28 de agosto de 2023

TEXTO SOBRE CONSCIÊNCIA EM KATUANDI (RAMO XOKÓ-NATÚ)


Português

"Na consciência a sabedoria é reconhecer o seu conhecimento, em cada pessoa há um horizonte círcular de influência considerando o tempo disponível, aí podemos andar no rítimo harmônico conectando mundos numa vivência melhor".


Xokó

tianusõ ny tiakandi sisiba sire rotillu sitillundi, ãsena gati ny sisiba sire anutullundi katusô siky komasindi siuballu matiny tóndi yoafo, naminy siubafo vêre êkandi kândi ny andillu masendina amaka arendi ny.


Natú

piamaraso na asokanda tillundi rotill ari, loaba aseh tan na ari amaratunda katull ammani, akaerill londa kaméra, nam tan oloru vêr kananda kâlla andar masendan amaki arinda na.



Autores da matéria: Ari Loussant e Nhenety KX 


domingo, 27 de agosto de 2023

CONJUGAÇÃO VERBAL DO NATÚ


Junto com Nhenety, decidimos que, para dar uma identidade única para o Natú em comparação à sua língua irmã, o Xokó, essa língua conjugará seus verbos de forma diferente.


 No caso, o Natú tem uma tendência maior para codas (consoantes finais) que o Xokó (cujo a único coda registrada é o -r), portanto decidimos imitar esse processo para diferenciar essas duas línguas, resultando em:


Xokó: are 'existir, viver' vs Natú ar 'existir, ser'

Xokó: vêlla 'falar, dizer' vs Natú vêll 'falar, dizer'


 Com isso, além da adoção da reconstrução dos afixos pessoais *a 'eu' e *u 'nós', foi decidido que a conjugação verbal seria assim, usando como exemplo o verbo ar 'existir, ser'


ar-a 'ser-eu' > 'eu existo, eu sou'

ar-i-m 'ser-partícula-tu > 'tu existes, tu és'

ar-i 'ser-ele' > 'ele/ela existe, ele/ela é'

ar-u 'ser-nós' > 'nós existimos, nós somos'

ar-i-m 'ser-partícula-tu' > 'vós existis, vós sois'

ar-i 'ser-ele' > 'eles/elas existem, eles/elas são'..



Autores da matéria: Ari Loussant e Nhenety KX 


sábado, 26 de agosto de 2023

VERDADE DOS MITOS NA LÍNGUA PORTUGUESA TRADUZIDA EM KASÕ TSALLANA NI XOKÓ-NATÚ


VERDADE DOS MITOS 



    Na mitologia Tupi-guarani o Deus  Nhanderu imaginou em seu entendimento fumando seu cachimbo sagrado soprando sua fumaça criando a terra com montanhas, vales, mares, florestas e tudo mais.

    Na teoria científica o planeta terra foi originada de uma nebulosa ( nuvem de  gás), onde as partículas se condensaram formando uma esfera incandescente. Os vapores de gases fez a terra esfrar criando o firme chovendo incessantemente até formar os oceanos.

       Existe alguma semelhança entre a fumaça de Deus e a nebulosa da teoria científica da criação da terra?

     Quando um indígena diz na sua mitologia que a planta ou peixe é seu avô, será que o nativo estar errado. Considerando também que a teoria científica a vida surgiu no Mar a partir da evolução das planta, daí em peixes , anfíbios e mamíferos até chegar no homem.


KASÕ TSALLANA NI


 Tsallandi Tupi-Kuarani ny Sõseh Nianderu sisibatu amaêndî mauanendi ny sisiballu bari kasõ kiat'oka sisiballu amanu barindi sisiballu arasõ âtsihi amatsina kyny, tullana kyny, amakrana kyny, tupona kyny, lla gama.


 Llumandi kâkindi ny masendi Âhi sisiba nârasõ kahoi ni (sendi ba ni), bany kinendina sisiba nagapona sisiballu arasõ kâtsa tundi. Amabarina bana ni sisiba ara Âhi amasi, sisiballu arasõ kândi, sisiballu sehoidzé'a sollusollu manuky arasõ amakrana.


 Sisiba sire kâ amakandi Sõseh bari shi kahoi llumandi kâkindi arasõndi Âhi shi ? 

 Bashu a ahikónefa sisiba lla sitsallandi ba zindi nalla tinatu, sisiba akara siyo ? Sipabaseh tiama kyny llumandi kâkindi ny, sirendi sisibatu arevêma amakra ny komandi zindi llu, lluky nallana, tusirendina, bana, tare ãjikêô ny nu.



Autor da matéria: Ari Loussant 


PRONOMES DEMONSTRATIVOS KATUANDI DO RAMO XOKÓ-NATÚ


PRONOMES PARA OBJETOS


Xk.: nalli / Nt.: nall < *n-a-ll-i = REL.1-CL.2-REL.2-PROX. 'essa coisa perto de mim'

Xk.: nami / Nt.: nam < *n-a-mi = REL.1-CL.2-MED. 'essa coisa perto de ti'

Xk.: nasi / Nt.: nas < *n-a-s(i) = REL.1-CL.2-DIST. 'essa coisa distante de mim e de ti'


PRONOMES PARA PESSOAS E OUTROS SERES VIVOS


Xk.: talli / Nt.: tall < *t-a-ll-i = REL.3-CL.1-PROX. 'essa pessoa/ser vivo perto de mim

Xk.: tami / Nt.: tam < *t-a-mi = REL.3-CL.1-MED. 'essa pessoa/ser vivo perto de ti'

Xk.: tasi / Nt.: tas < *t-a-si = REL.3-CL.1-DIST. 'essa pessoa/ser vivo distante de mim e de ti'.



Autor da matéria: Ari Loussant 


sexta-feira, 25 de agosto de 2023

CONJUGAÇÃO VERBIAL KATUANDI (RAMO XOKÓ-NATÚ) / GONA KATUANDI (POZI SHOKÓ-NATÚ) / GON KATUAND (POZ SHOKÓ-NATÚ)


CONJUGAÇÃO VERBAL


PRESENTE

si-i-ba > sîba 'sou eu quem (verbo)'

si-mi-ba > simiba 'és tu quem (verbo)'

si-si-ba > sisiba 'é ele/ela/este quem/que (verbo)'

si-pa-ba > sipaba 'somos nós quem (verbo)'

si-mi-ba > simiba 'sois vós quem (verbo)'

si-si-ba > sisiba 'são eles/elas/estes quem (verbo)'


PRETÉRITO IMPERFEITO

si-i-ba naky> sîba naky 'era eu quem (verbo)'

si-mi-ba naky > simiba naky 'eras tu quem (verbo)'

si-si-ba naky > sisiba naky 'era ele/ela/este quem (verbo)'

si-pa-ba naky > sipaba naky 'éramos nós quem (verbo)'

si-mi-ba naky > simiba naky 'éreis vós quem (verbo)'

si-si-ba naky> sisiba naky 'eram eles/elas/estes quem (verbo)'


PRETÉRITO PERFEITO

si-i-ba-tu > sîbatu 'fui eu quem (verbo)'

si-mi-ba-tu > simibatu 'foste tu quem (verbo)'

si-si-ba-tu > sisibatu 'foi ele/ela/este quem (verbo)'

si-pa-ba-tu > sipabatu 'fomos nós quem (verbo)'

si-mi-ba-tu > simibatu 'fostes vós quem (verbo)'

si-si-ba-tu > sisibatu 'foram eles/elas/estes quem (verbo)


FUTURO DO PRESENTE

si-i-ba-seh-ki > sîbaseki 'serei eu quem (verbo)'

si-mi-ba-seh-ki > simibaseki 'serás tu quem (verbo)'

si-si-ba-seh-ki > sisibaseki 'será ele/ela/este quem (verbo)'

si-pa-ba-seh-ki > sipabaseki 'seremos nós quem (verbo)'

si-mi-ba-seh-ki > simibaseki 'sereis vós quem (verbo)'

si-si-ba-seh-ki > sisibaseki 'serão eles/elas/estes quem (verbo)'


FUTURO DO PRETÉRITO

si-i-ba na > sîba na 'seria eu quem (verbo)

si-mi-ba na > simiba na 'serias tu quem (verbo)'

si-si-ba na > sisiba na 'seria ele/ela/este quem (verbo)'

si-pa-ba na > sipaba na 'seríamos nós quem (verbo)'

si-mi-ba na > simiba na 'seríeis vós quem (verbo)'

si-si-ba na > sisiba na 'seriam eles/elas/estes quem (verbo)'


Esta tabela conjuga o composto pré-verbal, cujo serve para conjugar o verbo, todo raiz verbal deve vir depois do composto e seus modificadores:


ex.: sîba na vêlla 'eu diria'

simibatu aballa 'tu comeu'.




Autor da matéria: Ari Loussant 



CONCEITO FILOSÓFICO DEFINIDO POR UMA PALAVRA


Enquanto testando o novo aspecto da língua que é seu gênero gramatical, dividido entre a classe 1 e a classe 2 ou comum e neutro, Nhenety providenciou uma maravilhosa definição


A palavra em questão é um composto das raízes publicadas anteriormente


a-r(e) = a 'pegar, interagir' + re 'andar, viver, ser'


com os novos sufixos dos gêneros comum e neutro, que apesar da nomenclatura, são definidos de forma melhor como divino e essencial, onde o primeiro é marcado por -i (da terceira pessoa i-) e -a (de *a* cabeça), formando:


Xokó: are-i 'coisa de interagir e viver espiritual'

Natú: ar-i 'coisa de interagir e viver espiritual'


junto com


Xokó: are-a 'coisa de interagir e viver essencial'

Natú: ar-a 'coisa de interagir e viver essencial'


A definição que Nhenety providenciou foi para a primeira palavra *arei* e *ari*:


'arei, ari, conceito de conexão com a espiritualidade através da consciência na mente, mas essa conexão somente se realiza quando fazemos boas ações de amor aos seres da natureza obra de Deus.'


"A conexão com a espiritualidade é na mente, mas as realizações na terra é através dos cinco  sentidos ( visão, paladar, olfato, audição e o tato ). Os quatro sentidos fica na cabeça e um na mão o tato.'



Autores da matéria: Ari Loussant e Nhenety KX 


RAIZES NA 'BARULHO' E MA 'GRANDE' NO XOKÓ E EM NATÚ NA-M


Eu lembrei que Nhenety me disse ontem e pensei no seguinte, que tal separarmos os gêneros neutro e comum entre o que é divino e espiritual e o que não é necessariamente espiritual, porém essencial para a existência.


por exemplo, temos as raízes *na* 'barulho' e *ma* 'grande', juntando as duas fica *na-ma* no Xokó e *na-m* no Natú, por enquanto isso só significa 'barulho grande', mas ao adicionar um dos sufixos, o sentido do composto pode mudar, vou dar um exemplo:


Xokó: *na-ma-(s)-i* > namasi, namai 'barulho grande divino, trovão'

Natú: *na-m-i* > nami 'barulho grande divino, trovão'


Xokó: *na-ma-(s)-a* > namasa, namâ 'barulho grande essencial, grito, chamado, gritar, chamar, clamar'

Natú: *na-m-a* > nama 'barulho grande essencial, grito, chamado, gritar, chamar, clamar'.



Autor da matéria: Ari Loussant 


quinta-feira, 24 de agosto de 2023

RAÍZES KATUANDI (RAMO XOKÓ-NATÚ) / GONA KATUANDI (POZI SHOKÓ-NATÚ) / GON KATUAND (POZ SHOKÓ-NATÚ)


Pt.: Raízes Katuandi / Xk.: Gona Katuandi / Nt.: Gon Katuand


A

a - cabeça, um, primeiro, topo, alto, duro, mão, pegar, coletar, juntar, fogo, paixão, fúria, raiva, calor, quente, língua, falar, dizer, proferir, declarar, gritar, som, barulho, grande, enorme, maior, mais, incluir, adicionar, colocar, botar, pôr

â - terra, unir, país, nação, coletivo, região, estado, província

ã - homem, macho, másculo, masculino, cheirar, farejar, rosa, porco, javali, cateto


B

ba - cachorro, animal, ser vivo, mamífero, quem, que, qual, e (sufixo), fumaça, nuvem, névoa, branco, claro, preto, escuro, cinza, turvo, cego, surdo, planar, pairar, fumar, sugar, chupar, consumir

bue - arco, curvado, curva, curvar, torcer, entortar, virar, girar, tornar, transformar, atirar, lançar, jogar


E

ê - não, negar, rejeitar, denunciar, abandonar, soltar, largar, exilar, lutar, brigar, guerrear, resistir, bater


F

fa - pequeno, miúdo, minúsculo, curto, novo, novidade, notícia, inovar, criar, inventar, ideia, pensar, lógica, raciocínio, inteligência

fo - soldado, jovem, adulto, guerreiro, forte, lutar, batalhar, guerrear, resistir, defender, proteger, ajudar, auxiliar, conquistar, dominar, égide, escudo


G

ga - casa, lar, família, clã, perto, junto, com, aliado

go - mandioca, branco, claro, raiz, planta, comida, sustento, base, firme, sobreviver, planta, marrom, madeira, árvore, pilar, casca, lenha, jacaré, réptil, lagarto, escama, morder, girar

gry/gro - mandioca, branco, claro, raiz, planta, comida, sustento, base, firme, sobreviver, planta, marrom, madeira, árvore, pilar, casca, lenha


H

hi - terra, unir, país, nação, coletivo, região, estado, província


I

i - estrela, astro, ponto, luz, celeste, espaço, universo, planeta, mundo, vida, eu, me, meu, minha


J

ji - homem, macho, másculo, masculino


K

ka - água, líquido, fluir, fluidez, navegar, nadar, mergulhar, adentrar, entrar, estar dentro, dentro, interno, cachimbo, tubo, vara, cano, pilar, longo, reto, taquara, fumar, chupar, sugar, ingerir, consumir, jabuti, tartaruga, cágado, casca, escudo, fogo, incêndio, luz, brilho, brilhar, aparência, cor, ka- (forma adjetivos), agir, fazer, ação, ato

kê - homem, macho, másculo, masculino, pênis, marido, esposo

ki - pequeno, miúdo, minúsculo, curto, novo, novidade, notícia, inovar, criar, inventar, ideia, pensar, lógica, raciocínio, inteligência

kia - cachimbo, tubo, vara, cano, pilar, longo, reto, taquara, fumar, chupar, sugar, ingerir, consumir, dinheiro, valor, moeda, comprar, vender, trocar, negociar

kra - água, líquido, fluir, fluidez, navegar, nadar, mergulhar, adentrar, entrar, estar dentro, dentro, interno, rio, mar, oceano, grande, vasto, enorme, além, longe, distante, remoto, isolado, vaca, boi, anta, gado, mamífero

kó - filho, filha, descendente, estrela, astro, ponto, luz, celeste, espaço, universo, planeta, mundo, vida

ku - cachimbo, tubo, vara, cano, pilar, longo, reto, taquara, fumar, chupar, sugar, ingerir, consumir, fumaça, tabaco, erva, inserir

kwa - mulher, fêmea, feminino, pessoa, humano


L

lo - soldado, jovem, adulto, guerreiro, forte, lutar, batalhar, guerrear, resistir, defender, proteger, ajudar, auxiliar, conquistar, dominar, égide, escudo, sol, calor, dia, quente, tarde, claro, luz, brilho, brilhar

lla - casa, lar, família, clã, perto, junto, com, aliado

llu - olho, buraco, poço, cuia, côncavo, redondo, bola, círculo, esfera, planeta, dente, -llu (gerúndio), muitos, morder, afiado, cortar, corte, faca, lâmina, espada, machado


M

ma - feijão, comida, marrom, grande, enorme, maior, mais, incluir, adicionar, colocar, botar, pôr

mé - dinheiro, moeda, valor, recompensa, julgamento, juízo, comprar, vender, negociar, trocar


N

na - água, líquido, fluir, fluidez, navegar, nadar, mergulhar, adentrar, entrar, estar dentro, dentro, interno, barulho, som, este, ele, ela, isto, coisa, objeto, conceito, abstração, velho, avô, ancestral, antigo, passado, antes

ndi - casa, lar, família, clã, -ndi (cria substantivos), conceito 

ne - pequeno, miúdo, minúsculo, curto, novo, novidade, notícia, inovar, criar, inventar, ideia, pensar, lógica, raciocínio, inteligência 


O

o - soldado, jovem, adulto, guerreiro, forte, lutar, batalhar, guerrear, resistir, defender, proteger, ajudar, auxiliar, conquistar, dominar, égide, escudo

ô - rio, grande, banhar, lavar, limpar, viver, casa, lar, ancestral


P

pa - rio, grande, banhar, lavar, limpar, viver, casa, lar, ancestral

po - madeira, marrom, árvore, tronco, crescer, verde, vida

pe - cachimbo, tubo, canudo, cilindro

pi - marido, homem, esposo, pessoa, humano, cabeça, acima, principal, chefe, pensar, cogitar, cuidar


R

re - andar, correr, ir, movimento, pé, base, terra, unir, país, nação, coletivo, região, estado, província, delimitar, limitar, limite, borda, fronteira

ri - fumaça, nuvem, névoa, branco, claro, preto, escuro, cinza, turvo, cego, surdo, planar, pairar, fumar, sugar, chupar, consumir

ro -  estrela, astro, ponto, luz, celeste, espaço, universo, planeta, mundo, vida

S

sa - arco, curvo, curvado, curvar, entortar, girar, virar, arma, matar, caçar, perseguir, correr, saltar, voar

se - terra, unir, país, nação, coletivo, região, estado, província, arar, plantar, cultivar,

seh - Deus, espírito, mãe, amor, amar, querer, desejar, mulher, feminino, subir, sobre, acima, cima, arriba, céu, celeste

so - dente, morder, comer, mastigar, rasgar, triturar, serrar

sô - olho, buraco, poço, cuia, côncavo, redondo, bola, círculo, esfera, planeta

sõ / so - Deus, espírito, supremo, origem, começo, fonte, raiz, feto

si - osso, apêndice, membro, ser

shi - cheirar, farejar, nariz, meio, centro, igual

shó - filho, filha, descendente

shu - sol, luz, vida, raio, brilhante, ofuscar, esquentar, assar, cozir, fritar


T

tu - olho, buraco, poço, cuia, côncavo, redondo, bola, círculo, esfera, planeta, dente, muitos, morder, afiado, cortar, corte, faca, lâmina, espada, machado, avô, ancestral, passado, antigo, arcaico, origem

ti - fogo, lenha, luz, fogueira, conversa, conversar, contar, conto, lenda, estória, passar, guardar, proteger, saber

to - sol, calor, dia, quente, tarde, claro, luz, brilho, brilhar


u - água, líquido, fluir, fluidez, navegar, nadar, mergulhar, adentrar, entrar, estar dentro, dentro, interno, lago, lagoa, córrego, atravessar, superar


V

vé - lua, branco, luz, brilho, raio

vê - boca, falar, dizer, contar, declarar, nomear, nome, família, pé, andar, estar de pé, estar, parar, estar parado

vi - lua, branco, claro, pálido, aurora, noite, escuro


W

wa - lua, branco, reflexo, espelho, refletir, imagem, aparência, feitio, figura, forma


Y

yo - não, negar, rejeitar, denunciar, abandonar, soltar, largar, exilar, lutar, brigar, guerrear, resistir, bater


Z

zé - fumaça, nuvem, névoa, branco, claro, preto, escuro, cinza, turvo, cego, surdo, planar, pairar, fumar, sugar, chupar, consumir

zi - cachimbo, madeira, graveto, planta, folha.



Autor da matéria: Ari Loussant 


CONEXÃO DA ETIMOLOGIA DE WAKO E WAKONÃ


Descobri após pesquisar que Wako de Wakonã seria uma palavra referente à parentesco, de começo me parece muito com a palavra wako 'velha' que surge no Xukurú, no entanto, após checar em um documento que mostra a divergência na nomenclatura desse povo (Wakonã, Akonã e Nakonã), decidi reavaliar o termo.


 Descobri após revisá-lo que na verdade essa palavra está ligada ao Proto-Caribe *ako 'irmão', enquanto N- e W- são prefixos relacionais da antiga língua Atumuk, o que indica que os nomes Wakonã, Nakonã e Akonã significam na verdade 'os irmãos', mostrando a continuidade na nomenclatura do povo Katuandi a partir do parentesco como em Xokó 'filho' e Natú 'ancestral'.


Autor da matéria: Ari Loussant 


TRONCO ATUMUK DA FAMÍLIA KATUANDI NO RAMO XOKÓ-NATÚ


Então a divisão é Tronco Atumuk, Família Katuandi, Ramo Xokó-Natú.


Por conta da colonização, só temos ciência de três povos do grupo Katuandi: Xokó, Natú e talvez os Wakonã (caso o sufixo -nã conecte eles com os Peagaxinã que são os Natú), mas é extremamente possível que houvessem outros povos desse grupo espalhados pelo Opára e até mesmo aqui no Ceará.


ou seja, era um grupo grande, sendo o ramo Xokó-Natú um deles e o que mais conhecemos.



Autor da matéria: Ari Loussant 




KATUANDI OU KATUA DO RAMO XOKÓ-NATÚ


Boa tarde para todos e todas, eu e Nhenety decidimos mudar o nome do ramo Xokó-Natú para Katuandi ou Katua, que significado 'unido, conectado', os próximos textos irão se referir a este ramo com este nome.


*Etimologia*

ka- 'prefixo que forma adjetivos'

tua 'juntar, unir, atar'

-ndi 'nominalizador, coisa'.

Os termos Katuandi ou Katua seguirá com a identificação do Ramo Xokó-Natú para facilitar a compreensão dos leitores da procedência linguística. 



Autores: Ari Loussant e Nhenety KX. 


NOVO SISTEMA PARA AS LÍNGUAS XOKÓ-NATÚ OS COMPOSTOS PRÉVERBIAIS


Akató na ny, Nhenety illa-ba sipabatu karatsa a nefa andirendi llandi Shokó llandi Natú-ba ky. Andirendi na sinabafa sire arandi nakallana garavêndina ni, nakallana garavêndina sinaba sire nallandi kallana ni, sinabafa amaka ratsa sikandi tullana.


 Andirendi sinabafa ramara nany:


Tsindi ny nalla a nahina llu ni:  i-arareka 'eu construo'

sipabafa nalla nashu kallana ni: sîba arareka 'eu construo'


Kallandi: sîba = si-i-ba,  i + i = î > ama i (em pt.: i grande, i longo)


 Na a randi ratsa tillaseh llandina Shokó-Natú ky, amakallandina gama sipabafa kara llandi Shokó llandi Natú-ba ny.



Essa manhã, eu e Nhenety decidimos um novo sistema para as línguas Xokó e Natú. Esse sistema será a utilização de compostos préverbais, os compostos préverbais são a conjugação do verbo, são eles quem ajudarão a determinar o agente da frase.


O sistema funcionará assim:


No lugar de conjugar através de um prefixo: i-arareka 'eu construo'

conjugaremos antes do verbo: sîba arareka 'eu construo'


Nota: sîba = si-i-ba,  i + i = î > ama i (em pt.: i grande, i longo)


Esse é um esforço para determinar a identidade das línguas Xokó-Natú, mais publicações serão feitas na língua Xokó e na língua Natú.



Autores: Ari Loussant e Nhenety KX. 



quarta-feira, 23 de agosto de 2023

APARÊNCIA DE DEUS NA MITOLOGIA XOKÓ-NATÚ


       O Deus Nhinhó criou o homem e chamou Ninhó um indígena parecido com ele na sua aparência. Portanto o Deus Nhinhó Kariri é um indígena primordial, usa cocal de penas, utiliza pintura corporal, porta arco e flecha, fala na língua nativa e ensinou os costumes para o indígena Ninhó sobre os seres da natureza são sua 

família com quatro avôres clânicos que representam os elementos básicos: Fogo; Ar; Água e Terra. 

     O Sol ( filho do Fogo e Ar ) aquece Água, a Água se evapora e essa fumaça ( filha da Água e Ar ), ganha forma condensada. A nuvem é neta, a chuva é bisneta, os rios são tataranetos do Fogo com a Água. 


        Sõseh Nhinhó arasõtu ãjikêô, llanatu Ninhó, a ahikónefa kataka sikyny. Sitina Sõseh Nhinhó Kariri sire ahikónefa kâtua, arasire atandi ikrôna, arasire serekrândi kakrâ, apure shabue ikrô kyny, llana silla kâhikónefa tiagatu andisena ahikónefa Ninhó sirena siresõ ny sisirena sikasendi natu kakasendi siapukana â tsindina: Atsa; Manusi; Taka Âtsihi kyny.

       Shutó (sikó Atsá Manusi kyny) aputsa Taka, Taka rõmbari kyna bari na (sikóseh Taka Manusi kyny) siati llandi kazéri. Amaba kónefaseh sire, sehoidzé'a tukónefaseh, krana shikónefana Atsa ni Taka ni kyny.



Autores: Ari Loussant e Nhenety KX 



A CONEXÃO ENTRE ÇOÇÉ DO TUPI COM SÕSEH DA LÍNGUA XOKÓ-NATÚ


Nhenety notou semelhanças entre a palavra para 'Deus' que é Sõseh no Xokó e, reconstruída seguindo o processo fonético dessa língua, Soseh no Natú, com a palavra superessiva çoçé 'acima, sobre' do Tupi.


 Ao buscar mais informações sobre, descobri que no Proto-Jabutí, uma língua ancestral de um ramo da família Macro-Jê possuia uma palavra idêntica às duas comparadas no começo:


Proto-Jabutí: *ǰuce 'sobre, em cima'

Proto-Tupi: *coce 'sobre, acima' > Tupi Antigo: sossé, çoçé

Xokó-Natú: sõseh 'Deus'


 Com essa comparação feita, devo dizer que ainda não fui capaz de encontrar uma etimologia convincente para essa palavra, talvez ju/co/sõ estejam conectados à um antigo locativo *co que pode ser encontrado no Hup como cóʔ, também existe o instrumental -ja do Proto-Pano e o alativo -ja do Moseten (alativo indica movimento de dentro para fora), esse significado de movimento para o externo talvez tenha evoluido nessas línguas com o significado de 'para cima', ou talvez, -ce/-ce/-seh seja a palavra que carrega o significado de 'acima' enquanto co/ju/sõ seria o locativo portanto 'em-cima', e como locativos também podem funcionar como dativos 'a-cima' 'para-cima'.



Autores: Ari Loussant e Nhenety KX.




A PALAVRA CULTURA NAS LINGUAS XOKÓ-NATÚ


" O conhecimento é a fonte de conexão dos elementos para criação das coisas que os seres humanos necessitam na sua vivência ". 

      Nhenety Kariri-Xocó.


 Baseado nessa frase de meu amigo e parente, Nhenety Kariri-Xocó, decidimos juntos traduzir para o Xokó-Natú o conceito de cultura de duas formas:


andi-seh e andi-sõ


 Existe uma diferença sutil entre as duas, como Nhenety explica:


ANDISEH dá a idéia de cultura humana mesmo, é originária das experiências humana na terra vivendo em sociedade com o aval divino.

ANDISÕ dá a idéia de cultura na origem divina, é uma cultura originada da conexão humana com o Ser Divino.


 Portanto essas são as duas palavras que serão adotadas para definir esse conceito nas línguas Xokó-Natú:


Xokó: andiseh, andisõ

Natú: andiseh, andiso



Autor da matéria: Ari Loussant 



terça-feira, 22 de agosto de 2023

UMA CONEXÃO ENTRE AS LÍNGUAS KARIRI E AS XOKÓ-NATÚ


Encontrei mais uma conexão entre as línguas Kariri e as línguas Xokó-Natú


 Uma palavra que foi registrada no vocabulário da língua Xokó foi *olofo* 'soldado', essa palavra me pareceu familiar, foi aí que eu decidi voltar para o catecismo de Mamiani e notei, *olo* coincide com *oro* de *orotçã* 'adulto'.


 É extremamente possível que *olo/oro* seja uma palavra Xokó-Natú, pois as palavras nativas das línguas Kariri para guerra ou batalha (maridzá e kropobó) não batem com essa raiz, além de não haver outra construção similar dentro da família Kariri, o que pode indicar que essa palavra veio através da interação entre esses dois povos.



Autor da matéria: Ari Loussant 



TRADUÇÃO NAS LINGUAS XOKÓ-NATÚ NOSSA AVÓ TERRA


A Natureza é uma grande Família, cada povo chama a *Terra de Mãe ou Mãe Terra*, mas gosto de chamá-la de *Avó Terra* porque ela foi quem nos criou em seu *Berçário da Vida*. A natureza tem seus Clãs ( Avós e Avôs ) . As *Avós:* Terra e Água. Os *Avôs:* Fogo e Ar . O *Sol* é nosso *Pai* porque ele é filho dos clãs masculino Fogo e Ar, assim como as estrelas, regendo os animais. A *Lua* é nossa *Mãe* porque é filha dos clãs femininos: Terra e Água, ela rege as plantas e as marés dos oceanos. Texto na língua portuguesa: Nhenety Kariri-Xocó. 


Xokó


Siresõ akoma kasendi, akrâ kóna llana *Atsihi Seh ni Seh Atsihi tamâ*, itaseh llana *Wa Atsihi* andi tinamy sõsehtu paky ti *Takundi Sire ni*. Sire kasendina (Natú Wakó kyny) Siresõ ky. *Wakónã:* Atsihi Taka kyny. *Natúna:* Atsá Manusi kyny. Shutó panakó sire tinamy kó kasendina kamãjikêô Atsá Manusi kyny, nyna Irona, setiallu ikrâlla. Wavi paseh tinamy kóseh kasendina kaseh: Atsihi Taka kyny, setia vinena akanandi amakrana.


Natú


Sirso akom kasend, akrâ kón llan *Tiser Seh ni Seh Tiser tamâ, itaseh llan *Wa Tiser* andi tinam sosetu paky ti *Takund Sir ni* Sir kansendin (Natú Wakó kyn) Sirso ky. *Wakóna:* Tiser Kranan kyn. *Natún:* Shakisha Manus kyn. Shulo panak sir tinam kó kasendin kamaskêô Shakisha Manus kyn, nyn Iroinkon, setiallu ikrâll. Wavé paseh tinam kóseh kasendin kaseh: Tiser Kranan kyn, setia vénen akannd amkran.



Tradução na língua Xokó-Natú: Ari Loussant 




NUMERAIS NA LÍNGUA XOKÓ-NATÚ


Numerais Natú


1 - a < Proto-Xokó-Natú *a 'cabeça'

2 - tu < Proto-Xokó-Natú *tuʎusoː 'olho'

3 - shi < shi 'nariz, cheirar, farejar, entre, meio, igual'

4 - ro < ro 'contra, contrário'

5 - kar < car 'mão'

6 - ar < a ra 'botar um'

7 - tur < tu ra 'botar dois'

8 - shir < shi ra 'botar três'

9 - ap < a pu 'sem um, faltando um'

10 - kan < ca-na 'mãos' 



Numerais Xokó:


1 - a < Proto-Xokó-Natú *a 'cabeça'

2 - tu < Proto-Xokó-Natú *tuʎusoː 'olho'

3 - shi < shi 'nariz, cheirar, farejar, entre, meio, igual'

4 - ro < ro 'contra, contrário'

5 - kara < cara 'mão'

6 - ara < a ra 'botar um'

7 - tura < tu ra 'botar dois'

8 - shira < shi ra 'botar três'

9 - apu < a pu 'sem um, faltando um'

10 - kana < ca-na 'mãos'.



Autor da matéria: Ari Loussant 



TRADUÇÃO NAS LÍNGUAS XOKÓ-NATÚ DO ARTIGO 1 NA DECLARAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS


Declaração Universal dos Direitos Humanos, Artigo 1


Xokó

Sehnuna kóna sirena krâ kamasituna kashina siandi ny amasirekana. Sirena kaka tika ni sõpi ni, sire tó kara shi akrâ seh yandi ni.


Natú

Sehnun kón sirna krâ kamasitna kashna siand ny amsirkan. Sirna kaka tik ni sop ni, sir lo kar shi akrâ seh yand ni.


Português

Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade.



Autor da matéria: Ari Loussant 


PREPOSIÇÕES DAS LÍNGUAS XOKÓ-NATÚ


A reconstrução das preposições das línguas Xokó-Natú, começando com a partícula que denota 'em, no, na', eu pensei no que poderia denotar esse conceito. 

eu reconstruí *ny* 'em, no, na', mas também posso sugerir:


as raízes de água: na, ta ou ka com o desenvolvimento semântico para "mergulhar, adentrar" > "estar dentro, dentro" > "em, no, na"


Exemplo:

gandilla na / gandilla ta / gandilla ka



Para *ky* 'para, a' eu posso sugerir:


a raiz llua 'passar, entregar', composto de llu 'olho, frente, adiante, pro-' + a 'pegar' ou seja 'pegar pra frente' > 'passar, entregar'


o composto entre y-a ou s-a, que é o prefixo de terceira pessoa y-/s- + -a 'para', reconstruído a partir do Kariri.


O *ny* será o locativo "em, no, na". Para o dativo "para, a", como em para mim, para ti, preferemos ky . 


Para "com" eu usei kyny, uma junção entre essas duas partículas, pois alguém está com algo, essa coisa está para ela ou na direção dela e nas mãos dela, portanto nela.


A partícula por como em por mim, por ti. Podemos derivar ela de ti "cabeça" com o sentido de "razão, motivo, por causa", portanto "por". 


Assim criamos as preposições nas línguas Xokó-Natú: 


a, para = ky

ante, perante = tu < (tullusô "olho")

após = kó < (kó "filho")

até = nu < (manusi "vento")

com = kyny

contra = rõ < (rõ "virar, tornar")

de = ni < demonstrativo proximal

desde = naí < demonstrativo distal

em = ny

entre = shi < (shi "nariz")

per = llu < (tullusô "olho")

por = ti < (ti "cabeça")

sem = pu < (pu "cuia, vazio")

sob = vê < (vêsire "pé")

sobre = ma < (manusi = vento)

trás = ba < (bara "costas").



Autor da matéria: Ari Loussant 





AS PALAVRAS PARA FAMÍLIA NAS LINGUAS XOKÓ-NATÚ


No estudo do Xokó-Natú faltava definir as palavras para a família.

Vamos começar com o simples que é "parente".

Parente é grau de consanguinidade de um determinado grupo étnico.

Mas vamos pegar o que estiver em nossa alcance disponível nas palavras Xokó-Natú. 

Tenho duas sugestões: por consanguinidade, posso sugerir primeiro a palavra pra sangue = ta 'água' (de taka do Xokó) + lla 'carne' (reconstruído) = *talla*, 

se preferir podemos usar outras raízes para água, como ka, na e kra. formando kalla, nalla e kralla.

Creio que sinônimos sempre são bons, lla tem o sentido de carne, mas também de corpo. Água do corpo pode significar 'suor' também.

Vou juntar com um afixo, tua- 'com' de tu-a 'pegar junto, coletar, juntar' e juntar com uma dessas palavras:


tua-kralla ou tua-kalla "consanguíneo" "com-sangue".


ou se preferir


kaseh kralla ou kaseh kalla 'sangue amado', 'sangue querido', sangue nesse caso se referindo aos laços de consanguinidade.


A segunda sugestão é apenas kaseh 'amado, querido', adjetivo derivado de seh 'amar'.


Agora para os pais e avós, sabemos que avô e avó são ambos natú. Faltando apenas pai e mãe. ah, a distinção de gênero no significado da palavra natú. Mãe que dizer a que gera a nova vida. Usando a palavra Sõseh 'Deus' podemos derivar a palavra 'criar, inventar'. A sílaba que soa mais agradável para mãe é Seh. Por se tratar que Seh é Deus se manifestando , Sõ é a origem. vamos anotar isso, seria ótimo fazer a distinção para a criação de novas palavras:

Então seria:

Seh 'Deus, manifestar, mãe'

e Sõ 'Deus, origem, começo' desse jeito. O Deus na criação. 

Parente: kaseh 

Mãe: seh

Parente: kaseh (lit.: amado, querido)

Mãe: seh (lit.: criadora da vida).

      Sobre avó, eu notei uma coisa. o sufixo plural -na ou -nã eu encontrei ao comparar o nome Natú Peagaxinan com o nome Wakonã. assim como Natú é 'avô, ancestral' eu creio que Wako é o feminino 'avó, ancestral'. várias línguas no documento de Jolkesky mostram que *wa* significa 'velha'. e o Xukurú preserva essa raiz como wako 'velha' também. A palavra para avó seria *wa* ou *wako*. Então optamos por Wako. 

       Também podemos criar uma palavra nova se preferir. por exemplo: ama-seh 'grande mãe' ou seh-na 'mãe anterior' usando o na de natu para denotar 'anterior, antes'. Ama-seh 'grande mãe' seria a mãe presente e Seh-na a mãe mítica antepassada originária.

    Vamos ver a palavra 'pai', como podemos traduzir ? Pai filho do avô Na-kó.            


    Tio ou Tia seria irmão ou irmã do pai ou mãe. nakóya 'tio irmão do pai'     sehya 'tio irmão da mãe'

nakóya 'tia irmã do pai'        sehya 'tia irmã da mãe'.

     O sufixo de gênero para diferenciar podemos usar -seh de seh 'mãe' assim como foi feito no Kariri-Xocó. eu percebi que eu teria que fazer o termo para cada tio e tia, para não escolher o gênero eu criei o termo ama-ya 'irmão do grande', grande com o sentido de uma geração acima.


   Ficou assim as palavras para a família em Xokó-Natú:


Mãe mítica: sehna 'mãe anterior'

Pai mítico: nakóna 'pai anterior'

Avô: natú

Avó: wa, wako

Mãe: seh (lit.: criadora da vida) ou amaseh 'grande mãe'

Pai: nakó (lit.: filho do avô)

Tio, irmão do pai: nakóya

Tio, irmão da mãe: sehya

Tia, irmã do pai: nakóyaseh

Tia, irmã da mãe: sehyaseh

Irmão: ya, yaya

Irmã: yaseh, yayaseh

Primo, filho do irmão do pai: amayakó

Prima, filha do irmão do pai: amayakóseh



Autor da matéria: Ari Loussant 










NOVO APRENDIZADO SOBRE UMA LÍNGUA VIVA OS XOKÓ-NATÚ


Continuarei a pesquisar!


Sire-a kasire lla! "viva língua viva!"


sire derivado de 'pé', portanto 'andar, viver, existir, ser'

-a derivado de si-a, denotando o imperativo

ka-sire sendo o adjetivo de sire 'viver', portanto 'vivo', usando ka 'luz' para criar adjetivos

lla deriva da raiz lla 'boca, idioma' de avêlla 'língua (orgão)'.


shulo akrâ rõ tiandi. Sire namy ny pamandi

shulo a-krâ rõ ti-a-ndi. Sire n-a-my ny p-ama-ndi

"cada dia é um novo aprendizado. É assim que a gente cresce"


Nádson Emanuel


shulo = sol, dia

a-krâ = a 'cabeça, um' + krâ 'carne, corpo, todo', portanto 'todo corpo, cada um'

rõ tiandi = novo aprendizado, rõ = novo e ti-a-ndi 'cabeça-pegar-ação'

sire = verbo ser

namy ny = assim

pamandi = p- 'nós, nosso' + ama 'grande, crescer' + -ndi '-mento, -ação' derivado de gandilla 'casa', portanto 'nosso crescimento'.



Autor da matéria: Ari Loussant 


A PALAVRA ANIMAL DAS LÍNGUAS XOKÓ-NATÚ


Bom dia! Descobri ontem a noite uma coisa nova, a palavra para animal das línguas Xokó-Natú.


 No vocabulário Natú, quatro animais foram registrados: 

boi 'krazó' 

ovelha 'sêprun'

jacaré 'gozê'

jabuti 'kati'


 de todos esses, notei uma coisa interessante, no vocabulário do Xokó disponível na Wikipédia tem uma série de vocabulários cujo estão misturados com palavras Xokó e Fulniô, mas duas se destacam nela:


porco: šíə̃̀ntì

tatu: rṍmpˈə̀tì


 Notem a semelhança com kati do Natú, os três compartilham da raiz -ti, mesmo sendo animais distintos, o que indica que essa palavra não se referia a uma espécie específica e sim um ser vivo em geral, portanto reconstruo a palavra Xokó-Natú como *ti 'animal, ser vivo'


Xk.: ti

Nt.: ti


 Sua etimologia ainda me é um mistério, caso sua reconstrução seja na verdade *ci, é possível que esteja distantemente relacionada à raiz ki de aki/enki 'criação' das línguas Kariri.


Aproveitando, também gostaria de providenciar uma ortografia para os nomes 'porco' e 'tatu':


Xokó: rõmpati

Natú: ropati


Xokó: shiãnti

Natú: shianti


 Além disso, adoraria a ajuda de ambos para derivar novos sentidos dessas duas palavras através de associação, eu derivei duas de rõmpati:


rõ 'rolar, girar, tornar, transformar, inovar, novo, de novo'

rõ- 're-', como em rõ-kra 're-fazer'


creio que posso derivar duas de shiãnti:


shiãn 'nariz, cheirar, farejar'.




Autor da matéria: Ari Loussant 



segunda-feira, 21 de agosto de 2023

KRA COGNATO XUKURÚ KOREKE SURGE EM KEERAKE E KEREKE


Descobri que kra é cognato do Xukurú koreke, que também surge como keerake e kereke, também encontrei estes cognatos:


Família Boróro: *kera ‘mão/braço’

Família Chibcha: DMN ɡula, ATK ɡuna, DRK kula ‘mão’; KBK klʊ, BRK kra ‘pé’ 

Sape: ikora ‘pé'


 O Boróro e o Xukurú preservam melhor as raízes, facilitando a reconstrução da palavra Xokó-Natú como *k(ə)ɾə ou *k(ə)ɾa, isso também talvez indique que a família Xokó-Natú tinha uma tendência similar ao Kariri de colocar a sílaba tônica no final da palavra, sabemos que esses dois povos interagiram e viviam nas proximidades de povos Kariri (os Natú são mencionados diretamente no Catecismo de Mamiani dos Kipeá), portanto é possível que ambos tenha influenciado o sotaque um do outro.


 Outra coisa, é possível notar que a raiz *ka ou *kɨ é o morfema principal para o significado de 'mão', aqui estão exemplos dele em outras palavras:


Katukina-Katawaxi (provavelmente): ba(-kɯ) 

Arawak: Proto-Nu-Arawak *kaapi

Pukina: kupi

Chibcha: NGB kuse, DRK kul, IKA ɡunːɯ

Paez: kuse 


*rə talvez seja um sinônimo de si 'osso' que surge em sire e sia de vêsire e krasia, o único possível cognato que fui capaz de encontrar foi o Proto-Boróro *ra(ka)

 

 Com isso, para auxiliar na reconstrução dessas duas línguas, trago de volta as duas raízes *kə 'mão' e *rə 'osso, membro'


Xk.: ka, kia

Nt.: ka.



Autor da matéria: Ari Loussant 


VAMOS FAZER ALGUNS EXERCÍCIOS PARA TREINAR


verbos básicos:

comer, beber, ingerir = Xk e Nt.: ku (reconstruído)

fazer = Xk e Nt.: kra (< derivado de kra 'mão')

dizer = Xk.: llana e Nt.: llan (lla 'boca' + na 'água, barulho')

ouvir = Xk e Nt.: allar (a 'pegar' + lla 'dizer' + -r 'nominalizador)

ser, existir, ter base, ter fundamento = Xk.: sire e Nt.: sir (< si re 'osso de andar)


pósposições:

para, a = ky (reconstruído)

em, no, na = ny (reconstruído)

com, junto = kyny (ky 'para' + ny 'em')

por = ti (< ti 'cabeça')


advérbios

também = takyny 

assim = nany

como = kany


adjetivos

bom = akoma, ako, koma, ama

mal = êmayo, êma, mayo

feliz = makalla (ma 'bom' + ka 'luz' + lla 'boca')

triste = êmakalla (êma 'mal' + ka 'luz' + lla 'boca')


Substantivos

casa = Xk.: gandilla e Nt.: grandlla

fogueira = Xk.: sõtsa e Nt.: sosha (sõ/so 'espírito' + tsa/sha 'fogo')

escola = Xk.: gan amatika (casa de educação)


Instrução de como fazer posse:


tsi-sire X Y ky

tsi-sire é o verbo ser na terceira pessoa "ele/ela é"

X é o objeto possuído

Y é o possuidor

ky é o dativo "para, na direção de"


Exemplos

Xokó: tsisire gandilla illa ky = existe casa para mim/na minha direção

Natú: shisir gandill salli ky = existe casa para mim/na minha direção.


Autor da matéria: Ari Loussant 


PRONOMES INDEPENDENTES DO XOKÓ


eu = i-lla (i- 'eu' + lla 'carne, corpo')

tu = mi-lla (mi- 'tu, vós' + lla 'carne, corpo')

ele/ela = tsi-lla (tsi- 'ele, ela' + lla 'carne, corpo)

nós (exclusivo) = u-lla (u 'nós (excl)' + lla 'carne, corpo)

nós (inclusivo) = pa-lla (pa 'nós (incl)' + lla 'carne, corpo)

vós = mi-lla-na (mi- 'tu, vós' + lla 'carne, corpo + -na 'plural')

eles/elas = tsi-lla-na (tsi- 'ele, ela' + lla 'carne, corpo' + -na 'plural')


Pronomes independentes do Natú:


eu = *s-a-ll-i* (s- 'base para demonstrativos (exclusivo para seres humanos)' + -a- 'base para demonstrativos, partícula dativa' + -ll- 'afixo relacional' + -i 'eu')

tu = *s-a-my* (s- 'base para demonstrativos (exclusivo para seres humanos)' + -a- 'base para demonstrativos, partícula dativa' + -my 'tu')

ele/ela = *s-a* (s- 'base para demonstrativos (exclusivo para seres humanos)' + -a- 'base para demonstrativos, partícula dativa')

nós (excl) = *s-u-n* (s- 'base para demonstrativos (exclusivo para seres humanos)' + u 'nós (exclusivo)' + -n 'plural')

nós (incl) = *s-a-pa* (s- 'base para demonstrativos (exclusivo para seres humanos)' + -a- 'base para demonstrativos' + -pa 'nós (inclusivo)'

vós = *s-a-my-n* (s- 'base para demonstrativos (exclusivo para seres humanos)' + -a- 'base para demonstrativos, partícula dativa' + -my 'tu' + -n 'plural')

eles/elas = *s-a-n* (s- 'base para demonstrativos (exclusivo para seres humanos)' + -a- 'base para demonstrativos, partícula dativa' + -n 'plural').

eu fiz dois grupos de pronomes diferentes para ambos por que estou estudando a possibilidade de classes de pronome com funções diferentes.

coisas simples como pronomes de sujeito e pronomes de objeto

como na frase "eu te dei" onde eu é o pronome de sujeito e te é o pronome de objeto, que é variante de tu, o pronome de segunda pessoa do sujeito

as bases para os demonstrativos do Natú vem do s- da terceira pessoa, que deriva do Proto-Atumuk *c- e o -a deriva da mesma raíz que o aí 'para' do Kariri, como em s-aí 'para ele'. 



Autor da matéria: Ari Loussant 


domingo, 20 de agosto de 2023

TRADUÇÃO CONTO DA CIGARRA EM XOKÓ-NATÚ ( KASHUTÓYE TSALLANA )


Xokó: tóshusiar ky manána kar kaná tullara kapó ny, nãvêlla kaná, féllana prasire sirepasiar tamar. Kóna sollu tika Shutóye mallana tóshu ti, kytillu tine Tupi ny = Ciara ipahi llana namy "Shutóye". Sõ ny, kokoma kamanushu amapahi Kashutóye, kratsa nallana tsató pa llinã kwa ky katair. Tahi ky, tikar kakamanditu pakra, kany timallana: "PALLUMA TÓSHU, KWALLUMA LLINÃ, TU...TU...TU..". Lluma ki shu ki tó tamar, sehoidze'a zikwa atsihi ny, sônapa tsar kashutó. sehoidze'a my mékoma sollu pamandir, lletse tullara tanaka kyny, kinekrana siremanu Ôpara ky, kyrikyna sôllusôllu nãllaka, tamama lluma llinã ky, pamasella mama ky. Zitók yotisõmykra tikasire katiseremykó, sõkra ky, llana ky, llarana krarana taikyny ky, pavêkyny Ye Tisere kyny shu sõti tamy tamarny, pakamy tuna sôllu sereseh ky, patamarakandi tsillanarana. towallir towalli ndi ky kasõkra, lletse tsisemendina tai ky: manusi, féllana, banina, atisõ tsinallanana tai ky taikyny, kaka taminy shutóye, turuturu, tarafélla manushu kagannallana. Tisõmy tiseremykó ky sõkrallana kyny, tiseremykó vêkyny komanatu lluky lletse tsikrana kyny, sõtanã kyny, amatika amatisõmy taikyny. Nhenety Kariri-Xocó


No período de estiagem os campos fica com a vegetação seca de cor marrom, os poços secam , pássaros buscam outras paragens. Muita gente pensa que a Cigarra canta porque é verão, inclusive seu nome em Tupi = Ciara que dizer " Mãe do Dia ". Na verdade a Cigarra tem uma missão climática  muito importante, ela tem o poder de anunciar o fim do Verão para a chegada do Inverno .  Em seu canto fazemos uma interpretação cultural, é como ela diz cantanto :  " ESTAR, TERMINANDO, O VERÃO, ESTAR CHEGANDO O INVERNO, BIS...BIS...BIS." Demora pouco horas ou dias  as chuvas começa a cair na terra, aliviando o calor do sol quente .As chuvas traz muita fartura para nossa agricultura, a floresta com folhas verdes, richos correm para o Rio São Francisco, lagoas cheias de peixes, tudo isso acontece no inverno, ficamos todos felizes. Alguém de fora pode ignorar o pensamento nativo, sobre a natureza, os animais, as plantas e os seus fenomenos, mas convivemos com a Mãe Terra todo esse tempo, aprendemos muita coisa sobre o meio ambiente, temos respeito as suas leis. A natureza tem termometros biológico de marcar a temperatura, tem os semeadores da floresta: o vento, os pássaros, roedores e tem os seres anunciadores das estações, nesse caso a Cigarra , o sapo e o pássaro joão de barro, são como mensageiros ecológicos do clima. Para aprender com os seres da natureza, o índio convive desde os tempos antigos com estes agentes do meio ambiente, com harmonia, educação e aprendizado .Nhenety Kariri-Xocó.


Tradução: Ari Loussant 


sábado, 19 de agosto de 2023

A ETIMOLOGIA DE TIPIA 'CABEÇA' DO XOKÓ-NATÚ


 Essa palavra é um composto de três raízes TI-PI-A, cada uma com o tema de rosto e cabeça:


TI é cognato de:

Jirajara, cabeça: AYO tek, JRJ teɡi ‘cabeça’ 

Timote-Kuika, rosto: TMT te ‘rosto’ 

Tukano, cabeça: PTUK **tʲˀɯpo ‘cabeça’

Paez, rosto: dʲiʔp ‘rosto’


PI é cognato de:

Karibe, cabeça: *ipupɨ ‘cabeça’; KRÑ epata, MKX uyenpata, EÑP eeɸata-rɨ ‘rosto’ 

Kariri, cabeça: Kamurú: croi-PUH

Pukina, cabeça: KLW pˀeke

Jaqi, cabeça: AYM pˀiqi


A é cognato do

Proto-Tupi *a 'cabeça'

Talvez Kariri (dz-)e 'face, rosto' < (Kp.: eicu 'saliva' ei 'face' + cu 'líquido')


portanto fazendo com que TI-PI-A seja 'cabeça-cabeça-cabeça', talvez uma delas tivesse a função de 'rosto' ao lado da função de 'cabeça', mas sem exemplos desta palavra, só é possível especular e adotar uma dessas três raízes como a nova palavra para 'rosto'.



Autor da matéria: Ari Loussant 



sexta-feira, 18 de agosto de 2023

TEXTO SOBRE AMIZADE EM XOKÓ E NATÚ


Nhenety compartilhou comigo uma frase maravilhosa e decidi aproveitar e usá-la como exemplo para a revitalização das línguas Xokó e Natú.


Português

Amigo está no união social e energia sagrada do amor, espiritualidade, porque ser amigo é conquistar a bonança celestial na Aldeia sagrada com os antepassados.


Xokó

Ganseh tsivê ndil'ar kapikwa s'u kasõ gans'ulo, akasõ, aganseh s'ati lokra tsamara kasõtira simido kasõ ky natuna gan


Com afixos marcados: Ganseh ts-i-vê ndil'a-r ka-pikwa s'u kasõ gans'ulo, akasõ, a-ganseh s'ati lokra ts-ama-r-a kasõti-r-a simido kasõ ky natu-na gan


Natú

Granseh s'ivês ganl'ar kapikwa s'uk kasõ gans'ul, akasõ, ganser kapia krapakra s'akor kasõtir s'imid kasõ ky natunan kyn


Com afixos marcados: Granseh s'i-vês ganl'a-r ka-pikwa s'uk kasõ gans'ul, a-kasõ, ganse-r kapia krapakra s'ako-r kasõti-r simid ka-sõ ky natu-nan kyn


Note que, exceto pelos afixos aqui usados para o propósito de conjugar os verbos, o prefixo a- e os sufixos -r e -a para criar substantivos, ambos pegos de línguas da família Atumuk próximas (Tupi e Macro-Jê), todas as outras palavras são da família Xokó-Natú, derivando o máximo possível de seus significados e combinações possíveis entre cada um.



Autor da matéria: Ari Loussant 



A PALAVRA UTONNA ' FARINHA' DO DZUBUKUÁ PODE SER UMA PALAVRA XOKÓ


 Ainda seguindo nos estudos do documento encontrei:


Arawak, pilão: WPX akʰu, BWN haku, LKN hako ‘pilao’

Quechua, farinha: PKC *(h)aku ‘farinha’, PKC *hakuj ‘pilar/comer algo moido’

Jaqi (família do Aymara), farinha: PJQI *aku ‘farinha’


junto com


Jabutí, farinha: RKP nũ ‘farinha’

Kwaza, farinha: -nũ ‘CLS.pó’

Nambikwara, cinza/pó/farinha: PNBK *Cɤnõn > MMD ʔanũn ‘cinza’; MMD -nu, SBN inun ‘pó’

Aikana, farinha: -nun ‘pó’; nu ‘farinha’ 

Kwaza, pó: -nũ ‘pó’ 


Incluindo


Arawak, farinha: WPX pʰuruum

Yaruro, farinha: pʰonõ


 Se você notar, todas essas palavras que denotei batem diretamente com CUNUBÒ 'pó de farinha' do Kipeá, cujo como demonstrado, é um composto de três raízes quase sinônimas, presumo que para os Kariri a separação fosse CUNU-BO 'farinha-pó' seguindo a ordem inversa dos modificadores.


Com isso trago três novas palavras para o Kariri:


Proto-Kariri *ku 'pilão, pilar, moer'

Dz.: ku

Kp.: cù

Sp.: kú

Km.: kù

Kt.: ku

KX.: kú

Pp.: kú

Dz-Tx.: ku

Kb.: kú


Proto-Kariri *nu 'farinha'

Dz.: nu

Kp.: nù

Sp.: nú

Km.: nù

Kt.: nu

KX.: nú

Pp.: nú

Dz-Tx.: nu

Kb.: nú


Proto-Kariri *bo 'pó, poeira'

Dz.: bo

Kp.: bò

Sp.: pó

Km.: pò

Kt.: bo

KX.: bó

Pp.: bó

Dz-Tx.: bo

Kb.: bó


 Com essas novas palavras encontradas e reconstruídas, gostaria de passar para o tópico principal, a palavra farinha do Kipeá era CUNÙ, então é de se esperar que essa seja a mesma palavra no Dzubukuá, porém, o que vemos é a palavra vtonna (utonna) para farinha, só que sabemos agora que a palavra nativa para farinha é *ku-nu ou só *nu, de onde teria vindo essa palavra então ?


 Eu suspeito que ela é de fora do léxico nativo do Kariri por um motivo, na gramática de Mamiani, vemos que a maioria dos vocábulos emprestados de outras línguas indígenas estão no que este autor denomina quinta declinação, normalmente marcada pelo prefixo u- no começo da palavra, essa palavra foi marcada com tal prefixo pelos Dzubukuá, cujo a gramática pouco se diferenciava dos Kipeá. Creio firmemente que esse vocábulo veio do Xokó e pode ser analisada como uma construção similar à do Kariri:


Harakmbet, pilar: HKB tɯɡˀ ‘pilao’ WCP tɯɡ ‘pilar’ 

Nadahup, pilar: tokˀ

Saliba-Hodi, pilão: HDI ʰtoda

Tukano, pilão: KRG totamu ‘pilar’, KUB totaibɯ ‘pilão’

Tikuna, pilão: tauta

Piaora, pilão: tˀawatˀa

Mako, pilão: dowoɗa


Todas essas palavras compartilham a raiz *to(k) 'pilão, pilar, moer', cujo surge em TO de TO-na, enquanto NA surge em:


Jabutí, farinha: RKP nũ ‘farinha’

Kwaza, farinha: -nũ ‘CLS.pó’

Nambikwara, cinza/pó/farinha: PNBK *Cɤnõn > MMD ʔanũn ‘cinza’; MMD -nu, SBN inun ‘pó’

Aikana, farinha: -nun ‘pó’; nu ‘farinha’ 

Kwaza, pó: -nũ ‘pó’ 


Como pode notar, usei os mesmos exemplos que usei lá em cima, pois NA do Xokó e NÚ do Kariri são cognatos distantes, apenas com pronúncias diferentes, as construções KUNU e TONA são sinônimas diretas, KU e TO significam 'pilão, pilar' e NU e NA 'farinha'. Com isso concluo que a raiz TONA é nativa da família Xokó-Natú e foi emprestada para as línguas Kariri.



Autor da matéria: Ari Loussant 


ETIMOLOGIA DA PALAVRA KAPOER 'LUZ' DO XOKÓ


 Encontrei na publicação que talvez explique o significado de suas raízes:


KA significaria *luz*, e muito provavelmente estaria conectado a estas raízes:

Arawak, Lua: AXN kaʃi, WPX kʰaɨʐ, MWY kɨʂɨ, WRA keʒɨ

Arawak, Luz: WPX kʰanɗa-ʔu, PRS θaokanatiakalati; CMK ukaʔnale ‘iluminar’; PNWK

*kandaa-li ‘carvão’; MWY ekaɗare ‘dia’

Talvez também

Tupi, Sol: Proto-Tupi *ŋwatˀ ‘Sol’


 PO e ER provavelmente são retenções compartilhadas entre o ramo Xokó-Natú e o ramo Boróro, visto que no Boróro existem:


Boróro, madeira: Proto-Boróro: ipo

Boróro, fogo: Proto-Boróro: r-eru


portanto KA-POER seria luz da madeira de fogo (POER = lenha, pois PO = madeira e ER = fogo).



Autor da matéria: Ari Loussant 


quinta-feira, 17 de agosto de 2023

PROJETO DE REVITALIZAÇÃO DAS LÍNGUAS DO NORDESTE BRASILEIRO


 Como diz no título, estou planejando iniciar um projeto de revitalização das línguas do Nordeste, especificamente aquelas que tiveram pouca representação/poucos registros deixados. Esse projeto tem duas finalidades, a primeira sendo a total revitalização dos idiomas que foram falados no passado dessa região e o segundo que auxiliará o primeiro é o estudo das línguas indígenas do Brasil e algumas de fora.


 Sei que deve parecer estranho o segundo objetivo, mas prometo que ele é extremamente importante para esse processo de revitalização e é exatamente o que o diferencia, meu objetivo, como podem notar pelas minhas últimas publicações, é reconstruir uma língua ancestral de múltiplas famílias da América do Sul, cujo há pouco rebatizei de Atumuk (etimologia na publicação anterior: http://kxnhenety.blogspot.com/2023/08/a-palavra-pessoa-gente-nas-linguas.html?m=0). 


 Com essa reconstrução, creio que é possível e fácil trazer de volta os vocábulos das línguas indígenas do Nordeste, cujo tenho total confiança de que participam da família Atumuk, já produzi junto com Nhenety há poucos momentos atrás uma primeira tentativa de revitalizar as línguas da família Xokó-Natú, aqui estão os pronomes, reconstruídos a partir das duas classes de pronomes que registramos:


Xk e Nt.: i- 'eu, meu, minha' < *i-j-

Xk e Nt.: mi- 'tu, teu, tua' < *my-

Xokó: ts-i- e Natú: shi- 'ele, ela, dele, dela' < *c-i

Xk e Nt.: pa- 'nós'

Xk e Nt.: mi- 'vós, vosso, vossa' < *my-

Xokó: ts-i- e Natú: shi- 'ele, ela, dele, dela' < *c-i



 Com essa reconstrução dos pronomes, a conjugação verbal e de posse agora são possíveis, tana tsikineva l'a l'â Shókó na (assim facilita falar palavras em Xokó), Natu na tamikó (em Natú também)


 Todas essas palavras que eu usei foram reconstruídas a partir das palavras de outras línguas indígenas que correspondem à família Atumuk, apenas aquelas que temos certeza que se repetiriam nessa língua, como va de kineva, que seria o resultado do Proto-Atumuk **pa 'matar, morrer' através do Proto-Xokó-Natú *βa 'matar' e kine derivando o significado de 'ruim, mal, mau' através do seu significado original de 'pequeno', portanto kine-va 'matar o mal, matar a dificuldade' > 'facilitar'. Com esses exemplos, gostaria de nos próximos dias começar a produzir mais textos nessas duas línguas para demonstrar a possibilidade que esse método trás.


 Para aqueles que tem interesse neste projeto, entrem em contato comigo pelo e-mail: aloussant@gmail.com


Xokó: l'ara tsivêsire!

Natú: l'ar shivêsir!


*A língua vive!*



Autor da matéria: Ari Loussant 


A PALAVRA ' PESSOA, GENTE' NAS LÍNGUAS BRASÍLICAS E MUDANÇA DE NOMENCLATURA DESSA LÍNGUA


 Notei entre duas línguas distintas uma palavra que talvez ser compartilhada entre ambas e possivelmente ser a palavra arcaica da família que venho chamando de Brasílica nas últimas publicações:


Proto-Macro-Jê: *mẽk ~ *mẽŋ 'plural, partícula associativa, artícula comitativa'

Yaruro: -mẽ 'classificador de pessoas'


 Talvez essas duas palavras estejam relacionadas à:


Boróro: ime 'homem'

Proto-Tupi: *i-men 'marido'

Chocó, Eperara: me 'marido' e Waurana: me 'pênis'

Paez: me 'marido'

Proto-Tukano: *ɨmɨ 'homem'

Aruaque, Ashaninka e Matsiguenga: hime-tsi, Mawayana: r-ime-sɨ, Ignaciano: -ima e Terena: -i:ma


 Com isso, posso reconstruir para o Proto-Brasílico *mɨ̃k ~ *mẽk 'marido, pessoa, gente'. Aproveitando essa reconstrução, assim como nas línguas Bantu, que são chamadas assim devido a reconstrução da própria palavra *bàntʊ̀ que significa 'gente', plural de *mʊ̀ntʊ̀ 'pessoa', decidi adotar essa palavra reconstruída como o nome para a família Brasílica, pois nota-se que muitas das famílias que participam dela não estão localizadas diretamente no Brasil. Para dar um sentido de ancestralidade e não deixar monossilábico, eu decidi juntar com a raiz reconstruída *(n-)ətɨ 'velho, avô, grande', para formar *ətɨ-mɨ̃k 'povo velho, povo antigo', devido à limitação do teclado brasileiro e a necessidade de compreensão por todos os leitores, decidi reestruturar um pouco a escrita e a pronúncia para que fique mais legível, portanto resultando em Atumuk, chamarei a partir de agora essa tronco das várias línguas dos povos da América do Sul de Atumuk e sua língua ancestral de Proto-Atumuk.



Autor da matéria: Ari Loussant 


quarta-feira, 16 de agosto de 2023

A ETIMOLOGIA DA PALAVRA NATÚ E XOKÓ, DIVISÃO DA NAÇÃO E O SUFIXO PLURAL DESSAS LÍNGUAS


Descobri ao pesquisar no documento de Jolkesky uma coisa interessante e que tenho evidências para comprovar, a palavra Natú, que vemos também representado pelo nome Peagaxinan (cujo discutirei mais sobre ainda nessa publicação), parece ter tido relação com alguma divisão clânica dos povos Xokó-Natú:


Proto-Karibe *notɨ ‘avó'

Karajá nadɪ 'mãe'

Tikuna dãtɯ 'avô'

Yuri atu / hato 'pai'

Saliba dade / dado 'avô'

Waura atu 'avô'

Proto-Tupi *atu 'grande'


 Vemos que essa raiz tem a temática de 'velho, avô, pai', eu creio que elas estão conectadas e possam se reconstruídas de volta para um Proto-Brasílico *(n-)ətɨ₂ 'grande. velho'. Esta palavra indica que havia uma divisão clânica similarmente à divisão dos Tuxás, cujo a palavra Tuxá significa 'velho', enquanto Truká seria 'filho, descendente', isso faria dos Xokós os 'filhos, descendentes' e posso provar esse argumento baseado na preservação da raiz *kə 'descendente', cujo pode ser vista em:


Tru-KÁ '?-descendente' das línguas da família Tuxá

Xo-KÓ '?-filho' das línguas Xokó-Natú

a-KÓ 'filho' e KO-matyn 'príncipe, filho do rei' das línguas Tarairiú


 Indo agora para o tópico que mencionei lá em cima, temos a palavra Peagaxinan, cujo parece ser o etnônimo de uma das subdivisões da divisão Natú, eu notei que esse morfema -nan se parece bastante com o morfema que surge em Wako-NÃ (povo que também poderia ser chamado de Inaka-NÁ), o que me faz pensar que esse morfema seria o sufixo plural dessas línguas, o que coincide diretamente com esses sufixos plurais:


Proto-Bora-Muinane *-nɤ

Proto-Mamoré-Guaporé (Aruaque) *-no

Pukina *-ano


 Caso as famílias Bora-Muinane e Pukina estejam relacionadas ao Proto-Brasílico, talvez seja possível reconstruir esse sufixo no Proto-Brasílico como *-nə 'sufixo plural'




Autor da matéria: Ari Loussant 


A ETIMOLOGIA DA PALAVRA PRI/PLI 'SANGUE' DAS LÍNGUAS KARIRI

 

 Essa palavra parece preservar um tema bastante comum nas línguas da família brasílica, note a semelhança dessa raiz com:


Proto-Jabutí *pyry 'vermelho'

Choko: puru e Waunana: pʰur (ambos significam vermelho)

Umbrá: mõr 'vermelho'

Tupi: pirang 'vermelho'

Proto-Arawak: *pʰɨːli 'urucum'

Taruma: *ɸure 'urucum'


 A forma como essa palavra toma, sendo que a primeira e a segunda vogal são quase sempre distintas, salvo pelo caso da família Chocó e Jabutí, provavelmente demonstra que haviam duas vogais com qualidades similares, mas distintas o suficiente para não serem herdadas de forma igual em todas as línguas. Até que tal vogal seja descoberta, irei marcar as vogais com o símbolo da vogal central fechada não-arredondada /ɨ/, com o número 1 e o número 2 subscritos, resultando em:


Proto-Brasílico: *pɨ₁rɨ₂ 'vermelho'


 Esta palavra teria sido herdada pelo Proto-Macro-Caribe, talvez como *pɨrɨ, ainda estou trabalhando com uma teoria de que o Taruma talvez participe da família Macro-Caribe, caso eu descubra que esse seja o caso, talvez o Proto-Macro-Caribe possa ter preservado a distinção dessas duas vogais e portanto deva ser reconstruído como pɨ₁rɨ₂, até lá manterei as duas reconstruções que criei até que eu descubra a relação genética do Taruma.


 Prosseguindo, a família Kariri teria herdado essa palavra de sua língua ancestral, durante sua migração para o Nordeste, os falantes da nação Kariri talvez por conta própria ou por influência das línguas locais começaram a fazer o processo de síncope, onde um fonema do meio da palavra é eliminado, isso foi causado pela mudança na pronúncia das palavras do Kariri para a última sílaba de cada palavra, como foi bem registrado por Mamiani:


Proto-Macro-Caribe: *pɨrɨ

Pré-Proto-Kariri: *p(ɨ)rɨ

Proto-Kariri: *prɨ



Autor da matéria: Ari Loussant 



ETIMOLOGIA DA PALAVRA IKRŌ 'FLECHA' DA FAMÍLIA XOKÓ-NATÚ


 Seguindo a publicação anterior sobre a família Xokó-Natú, creio ter encontrado outro cognato para uma de suas palavras, nesse caso, encontrei o que creio ser o significado original para a palavra ikrō 'flecha'.


 Caso, como dito nos outros casos, o morfema i- no início de i-krō não seja um marcador da terceira pessoa, é possível que seja uma raiz cognata do -i de dz-i 'madeira' da família Kariri, isso bate diretamente com o tema das raízes que irei mencionar agora:


Família Chibcha, língua Teribe: kor 'madeira'

Família Tarairiú, língua Tarairiú: COR-pamba, COR-raveara (ambos são nomes de árvores)


e possivelmente


Família Aruaque, Língua Paresí: kore 'flecha'


 Como podemos ver, existe uma raiz comum entre essas línguas, todas com temas relacionados à madeira ou materiais feitos desta (árvore e flecha), é totalmente possível que a família Xokó-Natú também tenha herdado essa mesma raiz e feito um processo de metátese da coda -r:


Proto-Brasílico **kor 'madeira' > Proto-Xokó-Natú *kro: (adquiriu significado especializado de flecha) > Xokó ikrō (ganhou a raiz i- 'madeira' para diferenciá-la de outras raízes similares)



Autor da matéria: Ari Loussant 


quinta-feira, 10 de agosto de 2023

A POSSÍVEL ETIMOLOGIA DE WODICO 'BRIGAR'


 Na busca por cognatos entres as línguas da família Brasílica, creio ter me deparado com um que explica uma palavra Kariri: wodicò 'brigar'. As palavras que encontrei estão em famílias do Noroeste do Brasil e do Peru, além do Proto-Macro-Jê e do Proto-Tupi:


Proto-Arawá: *daka

Harakmbet: tɨka

Katukina: duK 'lutar'

Proto-Pano: *tʂaka 'bater' (< talvez não esteja relacionado, necessário checar se *t > *tʂ)

Proto-Macro-Jê: *tak 'bater'

Proto-Tupi: *təK 'socar'

Kariri: wo-dico


 Outro possível candidato Kariri para esses cognatos seria teu-DIOKIE, mas a diferença entre DICO e DIOKIE ainda precisa ser explicada, CO e KIE podem ser a mesma sílaba já que o Proto-Macro-Caribe compensava consoantes codas com schwas, portanto -k(ʲ)ə para o Proto-Kariri talvez seja possível, mas a diferença entre DIO e DI ainda não é explicável, o Kariri não demonstra (até onde vi) uma tendência a esse tipo de redução da sílaba, portanto continua um mistério saber qual dos dois pode ser o verdadeiro cognato das raízes demonstradas anteriormente, com as informações dadas, posso tentar reconstruir com base nessas raízes a palavra do Proto-Brasílico:


Proto-Brasílico: *tak(a) ~ tɨk(a)




Autor da matéria: Ari Loussant 


REVISADA DA PARTÍCULA/AFIXO DU


Esta publicação é curta e serve para revisar a partícula DU de ações, eu estou retraindo a mudança feita no fonema inicial para que a palavra melhor se assemelhe à raiz da qual eu a derivei que é TU 'praticar', portanto aqui está a forma revisada:


Dz.: tu-

Kp.: tu-

Sp.: tú

Km.: tù

Kt.: tu-

KX.: tu-

Pp.: -tú

Dz-Tx.: tu-

Kb.: -tú


 A função deste morfema continua a mesma, ele denota a ação de um verbo ou substantivo, portanto:


Kipeá: tudò 'ação de comer', portanto 'comilança'

Dzubukuá: tudze 'ação de nome', portanto 'nomeação'.



Autor da matéria: Ari Loussant 



segunda-feira, 7 de agosto de 2023

POSSÍVEL ETIMOLOGIA DO CLASSIFICADOR KRU DO KIPEÁ


 Essa palavra parece ser uma Wanderwort (palavra vagante, que é emprestada entre várias línguas de famílias diferentes), ela surge na família Xokó-Natú como kra (kraunã e krananan) e no Dzubukuá, língua irmã do Kipeá, como o classificador crô-.


 Essa raiz ainda não surgiu em nenhuma reconstrução de nenhuma família linguística associada ao que eu denomino de Brasílico (Tupi, Macro-Jê, Macro-Caribe, Nadahup, Guaicuru e possivelmente outras famílias menores da América do Sul). No entanto, eu tenho uma evidência de onde esse termo possa surgido.


 No documento chamado "Topônimos indígenas dos séculos 16 e 17 na costa cearense" de Thomas Pompeu Sobrinho, publicado na Revista do Instituto do Ceará em 1945 discute sobre nomes de lugares nativo-americanos deste Estado específico, nele existem três classificações de língua: Tupi, Tarairiú, e o mais importante para o tópico dessa publicação, o Tremembé.


 Esse documento infelizmente está lotado de um processo histórico entre os tupinólogos, que é o do apagamento de vocábulos "tapuias", palavras que derivam de ramos linguísticos não-tupis, Sobrinho, apesar de cometer esses erros característicos dessa época, ainda é um dos melhores estudiosos nesse quesito, por no mínimo, ter posto a possibilidade de certos vocábulos que ele encontrou, serem de origens diversas.


E é por essa tendência mais aberta de Sobrinho que temos vocábulos que, de acordo com ele, são os resquícios da antiga língua Tremembé. Curubu, Curunibo, Curu, Curubon, Curubum, Curujune são hidrônimos, ou seja, nomes de corpos d'água, especificamente rios, cujo Sobrinho afirma serem palavras Tremembé por conta de sua proximidade ao antigo território deste povo.


 Infelizmente não tenho tantas informações entre meus documentos sobre os Tremembé, mas é possível inferir algumas coisas sobre seus antigos territórios e talvez sua presença extremamente antiga no Nordeste comparada aos povos de família Macro-Jê (Tuxá, Pankararú, Atikum, Xokó-Natú) e povos Macro-Caribe (família Kariri e Caribe como os Pimenteiras). Existia um povo chamado Cataguá, cujo possuíam um vasto território no atual Estado de Minas Gerais, tanto que antes desse nome, o local se chamada ou de "Campos Gerais dos Cataguases" ou "País dos Cataguás", estes teriam migrado do Nordeste e seriam descendentes dos Tremembés (TURCHETTI, 2018, p. 88), a citação do tamanho de seu país, e a distância entre o território que conhecemos dos Tremembé do Piauí e do Ceará talvez mostrem para nós que a população da cultura Tremembé fosse muito mais vasta do que a história colonial nos mostra. É claro, não vou inferir em tamanho, é necessário um estudo mais detalhado para traçar melhor a migração desse povo e sua presença em outros cantos do Nordeste, mas talvez este vocábulo que mostrei anteriormente demonstre que a influência do Tremembé se estendesse entre os povos que migraram para o Nordeste.


 Além da versão Curu, também há a versão Coro, que talvez tenha sido a mais amplamente emprestada entre os povos indígenas do Nordeste, talvez tenha vindo para o Kariri e o Xokó-Natú através de uma língua que transformou o som /o/ em /ə/, portanto resultando em *kɾə 'rio, água'.


 Com isso concluo que a língua Tremembé talvez seja a fonte desse vocábulo que surge no Xokó-Natú e no Kariri, sua etimologia ainda me é um mistério, ainda preciso pesquisar o vocabulário Tremembé para ver se é possível relacionar essa raiz a qualquer uma da família Brasílica e se o Tremembé faz parte dessa família.



Autor da matéria: Ari Loussant 


sexta-feira, 4 de agosto de 2023

A POSSÍVEL ETIMOLOGIA DA PALAVRA 'OVELHA' NAS LÍNGUAS DO NORDESTE


Muitas línguas do Nordeste compartilham uma sílaba com um significado neológico de 'ovelha':


Pankararú: PU-sharé

Xukurú: BU-rudo

Natú: sê-PRUN < (PRUN < provavelmente *PURUN)


Essas sílabas provavelmente são descendentes do Proto-Macro-Jê *mbo 'veado campeiro, galheiro', com extensão semântica para 'ovelha' posteriormente. É possível que, para que tal extensão ocorresse, as sílabas precisavam de seus respectivos modificadores, talvez isso justifique -sharé, -rudo e sê-, que talvez estejam dizendo que é um 'veado' com função/origem diferente. Se PRUN for *PURUN, é possível que seja cognato direto do Xukurú BURU. Irei procurar a raiz de cada uma dessas sílabas modificadoras e a publicarei aqui para todos verem, até lá, reconstruo as palavras sozinhas para cada língua como:


Pankararú: pu 'veado'

Xukurú: bu, buru 'veado'

Natú: prun, purun 'veado'

Xokó: prun, purun 'veado'

Pipipan: pó 'veado'

Kambiwá: pó 'veado'

Tuxá: mô 'veado'



Autor da matéria: Ari Loussant 


quinta-feira, 3 de agosto de 2023

ETIMOLOGIAS DAS PALAVRAS XOCÓ-NATÚ


1) tul'uso: (tul'usô) 'dente': possivelmente a sílaba tu seja cognata distante do Proto-Tupi *tuꝁu 'morder'. A sílaba l'u pode ser a continuação de um som que ancestral dele e de *-ꝁu do Proto-Tupi, caso não, pode ser uma evolução de uma raiz ou cognata ou descendente do Proto-Macro-Jê *juñ° 'dente'. soo talvez continue ou seja cognato do Proto-Macro-Jê *nĵa ‘morder’.


Reconstrução para o Proto-Xokó-Natú: *tu-ʎu-cə:

*tu 'morder, dente' > Xokó tú, Natú tú

*ʎu 'dente' > Xokó l'u, Natú l'u

*cə: > Xokó sô, Natú sô


2) pikua (pikwá) 'homem, mulher, humano': essa palavra surge tanto com o significado de homem como o de mulher, acredito ser um composto que signifique ambas as palavras, pi sendo descendente ou cognato de *mbi₂n 'esposo' ou *mby 'pênis, macho', ambos do Proto-Macro-Jê e kwá continuando ou sendo cognato do Proto-Jê Setentrional *kwə̂j 'mulher'.


Reconstrução para o Proto-Xokó-Natú: *pi-kʷa

*pi 'homem, esposo' > Xokó pí, Natú pí

*kwa 'mulher, esposa(?)' > Xokó kwá, Natú kwá


3) kra-shulo: (krashulô) 'sol': como expliquei em uma publicação passada, o prefixo e palavra kra, kro, kla, klo é usado para denotar objetos redondos e principalmente astros, enquanto shulo pode ser um composto entre o Proto-Macro-Jê *cuñ° 'sol' e uma raiz cognata de la de lakutmen 'tarde' do Xukurú e la de šařóla, caso é claro, šařó e shulo não sejam cognatos ao invés disso. No entanto existe a variante krashuto do Xokó que põem dúvidas sobre a etimologia de -lo do Natú, talvez na verdade esteja relacionado ao *ndôm° 'olho' do Proto-Macro-Jê


Reconstrução para o Proto-Xocó-Natú: *kɾa-ʃu-lə ~ *kɾa-ʃu-tə

*kɾa- 'prefixo de objetos redondos' > Xokó kra-, Natú kra-

*ʃu 'sol' > Xokó shú, Natú shú

*lə ~ tə 'sol, tarde (?)' > Xokó tó, Natú ló


4) kra-uavé (krawavé) 'lua': o prefixo kra nessa palavra é o mesmo que na anterior, talvez a primeira sílaba seja cognata distante da primeira sílaba do Proto-Tupi *waty, vé é mais complicado de se relacionado a outra raiz já que ainda não fui capaz de encontrar a consoante que leva para o /v/, talvez seja cognato distante ou do wæd 'astro, sol, lua' do Hup ou do papɨ̃:j da língua Nadêb, mas ainda é necessário um estudo mais elaborado para determinar a evolução de cada fonema e achar o cognato mais próximo. Baseado na variante kriũavi do Xokó, é possível que essa língua fosse mais divergente na pronúncia e tivesse evoluído o som é para í, no entanto manterei a pronúncia desse som como ê na reconstrução para caso isso seja resultado de uma vogal diferente o PXN (Proto-Xokó-Natú)


Reconstrução para o Proto-Xokó-Natú: *kɾa-wa-ve


5) atise:re: (atisêrê) e atsihi 'terra': ambas as palavras significam terra, a primeira sílaba talvez carregue um cognato ou descendente do Proto-Macro-Jê *a(p) 'terra', *ti talvez seja cognato distante do Hup *titíʔ 'sujo'. *se: ou *se:re: não tem um cognato óbvio, alguns candidatos prováveis são *je 'colocar deitado' (isso talvez implique em uma forma *je-r, caso -r tenha se transformado em um nominalizador e caso -r seja preservado como -rV nas línguas da família XN), *jarit 'raiz' (isso implica que a pode ser herdado tanto quanto *a como *e, mais estudos são necessários para ter certeza se isso está correto) e por último *jarê 'desenterrar' (mesmo problema que *jarit).


Reconstrução para o Proto-Xokó-Natú *a-ci-se(-re)

*a 'terra' > Xokó a, Natú a

*ci 'sujo, terra' > Xokó tsi, Natú ti

*se:(-re:) '?' > Xokó hi, Natú se're'


6) mə̀núsˈi (maenús'i) 'vento': essa palavra vai necessitar de estudos mais elaborados sobre a família Nadahup para poder ser verdade, estou me baseado meramente em uma única palavra e sua correspondência no Macro-Jê para argumentar meu ponto, portanto creio que essa teoria seja fraca e espero no futuro poder voltar para provar ou desprová-la. Enfim, meu argumento para a primeira sílaba é o que estou falando ser fraco, a palavra *mə̀ 'vento' só tem um possível cognato que fui capaz de encontrar, Hup bohot, Yuhupdeh wöhöt e Nadêb bahod, todos esses começam com a consoante b, espero por estudos sobre essa família, pois creio que se esse bo/wö/ba descender de um *mb anterior, pois fica claro que a famíli Hup assimilou suas oclusivas prenasalizadas (pelo menos mb, nd) às oclusivas sonoras (b e d), como em d'oj' 'chuva' do Hup é cognato direto do Proto-Macro-Jê *ndaj 'chuva', então eu poderei argumentar que *mə̀ 'vento' descenda de uma raiz do Proto-Brasílico *mbə(t) 'vento', cujo talvez tenha seu reflexo no PMJ *mbyt 'pegar, carregar'. Não sei ainda a qual raiz pertence *nu, talvez seja descendente de *ndoc 'saltar', que assim como o *sperǵʰ- do Proto-Indo-Europeu, talvez tivesse o significado de 'mover-se rapidamente'. *si provavelmente é descendente ou cognato de *nĵi ~ ji 'frio'.


Reconstrução para o Proto-Xokó-Natú: *mə̃-nũ-ci

*mə 'vento' > Xokó mə (mae), Natú mə (mae)

*nu 'saltar, mover-se rapidamente' > Xokó nú, Natú nú

*ci 'frio, esfriar' > Xokó si, Natú si ~ ti


7) kraunã (Natú) e taká (Xokó): ambas as línguas possuem palavras diferentes para água, além de uma terceira que é usada para o Rio São Francisco (Opára), a palavra Natú parece carregar uma sílaba idêntica ao classificador de rios do Kariri (kru- no Kipeá e krô- no Dzubukuá), além de ter u-nã, u pode estar relacionado ao u de teú do Xukurú e do j-ɯ 'água' do Proto-Tupi, enquanto nã talvez venha de *ndaj 'chuva' do Proto-Macro-Jê ou seja cognato desse, a variante krananã (kra-na-nã) provavelmente indica que a nasalização não era obrigatória e sim dialetal. Sobre taká do Xocó, creio que ambas as sílabas sejam cognatas de raízes encontradas pelo Nordeste que tem o tema aquático, como tó e tú de tórê e túrê do Tarairiú (usado em nome de rios pequenos), tú de túra do Atikum (significa água nessa língua) e por último, kái/kêi 'rio' do Tarairiú e Xukurú.


Reconstrução para o Proto-Xokó-Natú *kɾə-u-nã e *tə-kə

*krə 'rio' > Xokó krá, Natú krá

*u 'água' Xokó ú, Natú ú

*na 'água, chuva' > Xokó nã/na, Natú nã/na

*tə 'água, riacho' > Xokó tá, Natú tá

*kə 'água, rio' > Xokó ká, Natú ká


8) gandil'á 'casa': Essa palavra pode comprovar a transição fonética de l'u de tul'uso, *ga ou *gã provavelmente deriva da mesma raíz que *ŋgy 'casa dos homens' do Proto-Cerratense, no entanto a variante Gra em grandl'a existe, o que pode indicar que essa raiz derive na verdade de *ŋgrə 'espalhar'. Admito que *di ou *ndi ainda me é difícil de relacionar a qualquer raiz, talvez seja cognato de *ndŷ do Jê Setentrional, mas creio que isso seja difícil, pois há o problema das consonantes prenasalizadas até agora resultado em nasais (m, n), portanto o esperado seria *ni e não *di ou *ndi, caso essa sílaba seja *di, é possível que seja uma versão vozeada de *ti 'botar', cognato do Kariri ti 'botar', mais estudos são necessários para ter certeza de que não há qualquer ambiente em que essas consoantes são preservadas. A palavra *l'a pode derivar de *ja 'ficar de pé, colocar de pé', essa etimologia talvez apoie a ideia de que di seja *di e portanto seja um verbo dessa família linguística dil'a 'botar de pé, erguer'


Reconstrução para o Proto-Xokó-Natú *gã-diʎa

gã 'casa' > Xokó gã, Natú gã

*diʎa 'erguer' > Xokó dil'á, Natú dil'á

*di 'botar' > Xokó dí, Natú dí

*ʎa 'colocar de pé' > Xokó l'á, Natú l'á



9) avêl'a 'língua': Essa palavra talvez seja um composto com raízes do Proto-Macro-Jê *a-wẽ-jar (a(p)- 'prefixo de argumento genérico' + wẽ 'falar, dizer' + jar 'boca').


Reconstrução para o Proto-Xokó-Natú *ave:-ʎa

*ave: 'falar, dizer, língua' Xokó avê, Natú avê

*ʎa 'boca' > Xokó l'á, Natú l'á


10) ikrâ 'machado': descedente direto do Proto-Macro-Jê *kryt 'pederneira, metal', a vogal i- no começo é provavelmente o marcador de terceira pessoa *i-.


Reconstrução para o Proto-Xokó-Natú: *i-kɾa:

*i- 'prefixo da terceira, ele, ela' > Xokó i-, Natú i-

*kɾa: 'machado, faca (?)' > Xokó krâ, Natú krâ


11) krasiá 'mão': kra talvez continue o uso do prefixo kra- para objetos considerados redondos. Talvez si continue *ñim, mas vogal -á no final é misteriosa pra mim, é possível que seja algum sufixo nominalizador antigo, o que talvez indique que -si- derive de outra fonte, novamente deixarei para estudos futuros e voltarei para este tópico quando eu for capaz de responder melhor.


Reconstrução para o Proto-Xokó-Natú: *kɾa-ci-a

*kɾa- 'prefixo de objetos redondos' > Xokó kra-, Natú kra-

*ci 'mão (?)' > Xokó sí, Natú sí

*-a 'sufixo nominalizador (?)' > Xokó -á, Natú -á


12) kôbê e zitôk 'estrangeiro': a primeira palavra ou é empréstimo ou é derivado da mesma raiz que *kubẽ 'estrangeiro' do Jê Setentrional, isso traz uma demonstração de desnasalização na história do Proto-Xokó-Natú, auxiliando na reconstrução de palavras para essa língua. A palavra *zitók possui duas sílabas, *zi e *tok, no entanto eu argumento que, baseado na similaridade fonética das línguas do Nordeste, houve aqui um sprachbund onde as línguas começavam e se parecer umas com as outras na fonotática, parece-me que esse padrão era CCV (consoante-consoante-vogal), cujo foi quebrado posteriormente pelos descendentes das protolínguas nordestinas, com isso dito, eu creio que tók era *tó-kV, é difícil dizer com precisão a etimologia dessa sílaba agora escondida, pode ser um descendente da mesma raiz que o krĩ 'aldeia' do Jê Setentrional, enquanto to seria descendente de *tə̂₂m 'novo', enquanto zi- seria pessoa, comparável com a raiz ji de mãjikêô, portanto zi-to-krV 'pessoa de aldeia nova'


Reconstrução para o Proto-Xokó-Natú: *ɟi-to-k((r)V)

*ɟi 'pessoa' > Xokó zí, jí, Natú zí, jí

*to-k((r)V) 'estrangeiro(a)' > Xokó tók, Natú tók


13) shakishá e atsá 'fogo': a primeira palavra parece ser descendente direto do *kVcəm° 'fogo' do Proto-Macro-Jê, talvez na época ou algum tempo depois do período PMJ os elementos desse compostos ainda fossem analisáveis como palavras separadas, portanto *cəm° 'fogo' foi colocado no começo da palavra para reafirmar o sentido, formando *cəm°kVcəm° e posteriormente *cakica 'fogo'. A palavra atsá é a forma Xokó de *ca com o prefixo de argumento genérico atrelado à raiz.


Reconstrução para o Proto-Xokó-Natú: *cakica e *a-ca

*ca 'fogo' > Xokó tsá, Natú shá

*ki 'madeira, lenha' > Xokó kí, Natú kí

*kica 'fogo' > Xokó kitsá, Natú kishá



Autor da matéria: Ari Loussant 


quarta-feira, 2 de agosto de 2023

A PALAVRA ECUWÕBUYẼ 'CÉU SUPERIOR'


 Essa palavra é estranha devido a alguns motivos, o primeiro sendo que, exceto pela palavra BUYẼ, que é facilmente analisada como bu-yẽ 'CL-grande', ECUWÕ não tem tradução direta em nenhuma língua Kariri, não existem uma raiz sequer que seja cognato dessas sílabas, bom, pelos menos para ECU, discutirei um pouco mais sobre WÕ no final do texto.


 Descobri no entanto uma semelhança suspeitosa entre ECU e *mbêñ°-kuñ° 'céu' reconstruído por Andrey Nikulin em seu artigo de 2020 sobre o Proto-Macro-Jê. Essa semelhança não me parece coincidente, me parece mais um caso de empréstimo das línguas Jê, é claro tem o problema que irei discutir agora:


1) É possível que no Proto-Macro-Caribe tenha havido o som *mb, pois vemos o resultado disso nas palavra ME 'jenipapo' do Kariri vs BE 'jenipapo' do Boróro, mostrando que havia uma consoante que poderia transitar entre os dois, também existe a possibilidade de ser um processo independente do Boróro de desnasalização, mas caso não seja, é possível que esse *mb hipotético, nativo da família Kariri, tenha evoluído para *m.


2) (Provavalmente) todos os sons que tinham *mb que vieram depois do período do Proto-Kariri foram herdados como b, vide o Tupi Antigo mboé 'ensinar' > BOHÉ 'ser ensinado'


 Com esses dois problemas apresentados, meu argumento é de que, se essa palavra tivesse surgido no período Pré-Proto-Kariri ou do Proto-Kariri, ela provavelmente teria surgido como MEKU, e se tivesse surgido no período pós-Proto-Kariri, seria BEKU, o resultado ECU portanto é estranho, mas eu creio que uma explicação possa ser dada sobre isso.


 A família linguística Kamakã é descendente do Proto-Transanfranciscano, língua avó do Kamakã, Maxakalí e Krenák, dentro dessa língua, o som *mb do Proto-Macro-Jê tendia a se tornar *p, portanto, onde havia *mbêñ°-kuñ° para o PMJ, o PTSF herdou como *pêñ-kuñ. Agora, falemos sobre o Kamakã, cujo sabemos que interagiu com o povo Kariri devido ao empréstimo YACÁ 'cachorro' que existe no Kipeá, não existe registro da palavra para céu (pelo menos derivado deste composto) para as línguas da família Kamakã, mas creio que graças ao Kipeá, essa palavra tenha sido parcialmente preservada na forma que o povo Kamakã a pronunciava.


 A evolução do som *p do PTSF normalmente levava para o som hʷ (pronunciado como se fosse Ju de Juan (Rwã) do espanhol) na família Kamakã, portanto podemos criar a forma hipotética para *pêñ° 'céu' como *hʷe, já kuñ° que significa buraco e foi registrado, varia entre kô, kó e wó, portanto temos geralmente a forma *hʷe-ko 'céu' no Kamakã.


 Infelizmente, existem poucos registros da família Kamakã e provavelmente perdemos o dialeto que formou a palavra ECU, portanto temos que justificar algumas:


*Primeira teoria*: O dialeto/língua Kamakã que emprestou seu termo para o Kariri transformou a forma que, para facilitar a compreensão, chamarei de Kamakã Geral  *hʷe-ko em *e-ku, assim emprestando sua forma diretamente para o Kipeá


*Segunda teoria*: O dialeto/língua Kamakã que emprestou seu termo para o Kariri transformou a forma que, para facilitar a compreensão, chamarei de Kamakã Geral *hʷe-ko em *we-ku, quando essa forma foi emprestada para o Kipeá, a fonotática dessa língua Kariri transformou o *we-ku em e-ku, isso pode ser justificado pela quase ausência da sílaba we- dentro das línguas Kariri, salvo pelos casos em que o prefixo da quinta declinação se fundiu à palavra (Dz.: wecole 'avareza' e wecote 'proibir') e por uma palavra cujo a procedência ainda não foi descoberta (Kp.: weretè 'prato')


 Por último, como prometido, irei discutir um pouco sobre WÕ, que surge no meio de ECU e BUYẼ, infelizmente não fui capaz de associar essa palavra a nenhuma que eu conheço, se for Jê, é de alguma palavra dialetal desconhecida das famílias mais próximas do território Kariri (Transanfranciscano, Tarairiú e Cerratense) ou pode ser uma palavra nativa cujo também desconheço. A palavra mais próxima fonéticamente é WÕ 'perna', mas não vejo o sentido de sua inclusão, a não ser que houvesse alguma interpretação metafórica hoje perdida, a palavra que mais bate seria o WOI de WOICRAE 'subir, ascender', para que seja a mesma palavra, necessitaria de nasalização, o que não é necessariamente proibido e pode ocorrer em qualquer ambiente (Dz.: ye 'grande' vs Kp.: yẽ 'grande'), mas ainda tenho dúvidas se este é o caso. Valdivino sugeriu que a palavra WÕ derivasse de WO 'caminho', concordo com ele que essa é uma das palavras que mais faz sentido nesse composto, outra coisa que corrobora essa derivação é a nasalização perante oclusivas (p, t, k, b, d e g) descrito no artigo de 1965 de Azevedo na página 12 no ponto 1.6.1.


 O que posso concluir portanto é a palavra ECU 'céu' deriva da família Kamakã, a partir de um empréstimo de um dialeto que evoluiu uma pronúncia divergente do Kamakã Geral, A sílaba WÕ provavelmente é uma palavra nativa nasalizada por conta do fonema B que o sucede, sendo possivelmente algo relacionado a subir ou a caminho e BUYẼ é completamente nativo, analisado como uma junção do classificador com o adjetivo 'grande', portanto:


ECU-WÕ BU-YẼ literalmente 'céu-subir/caminho CL-grande' > 'céu superior, céu grande'



Autor da matéria: Ari Loussant