segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

AS PALAVRAS TAIPRI E SÃICRO


Palavras extraídas dos compostos TAIPRI 'arrebentar o fio' e SÃICRO 'arrebentar as plantas'


 As duas palavras tem um significado em comum que é 'arrebentar', ou utilizando palavras mais modernas, 'romper, partir', essas duas palavras seriam TA(I) e SÃ(I), se elas são sinônimos diretos ou se elas tem significados especializados para certas ocasiões é difícil de se dizer, por enquanto irei reconstruir ambos como sinônimos.


 Os dois últimos elementos significam 'fio' e 'planta' respectivamente, PRI é comprovadamente 'fio', pois surge no composto BŶSAPRI 'açoite', que seria BŶSA 'destruir, quebrar' + PRI 'fio' = 'fio que quebra, fio que destrói', já KRO não tem outros cognatos, a palavra monossilábica parece ter sido substituída por BUMANA da quinta declinação, cujo pode ser o mesmo que ocorreu com a palavra nativa para milho PŶ, que foi substituída pelo empréstimo aruaque MASICHI, no entanto é difícil dizer se BUMANA é um empréstimo ou não, mais pesquisas terão de ser feitas para chegar a uma conclusão.


 Com tudo isso dito, algumas dificuldades na reconstrução devem ser ditas, por exemplo com SÃI, que possui nasalização e uma semivogal final /j/, enquanto a semivogal é algo que parece surgir posteriormente nas línguas Kariris, nasalização é mais difícil de prever quando é obrigatória e quando é dialetal, portanto irei reconstruir variantes desnasalizadas e nasalizadas para compensar, outra coisa que também terei que fazer é reconstruir com /c/ ou /s/, pois não sei se esse /s/ de SÃI é verdadeiro ou deriva de uma consoante palatal. Outro problema é na palavra TA, cujo Mamiani, novamente, não faz distinção entre palavras aspiradas e não-aspiradas, forçando-me a reconstruir com duas variantes.


Mamiani tinha um costume de anotar vogais como ele ouvia e não baseados na sua verdadeira qualidade, portanto se ele ouvir um /o/ mesmo que seja um schwa, ele anotará como um /o/, isso causa confusão na hora de reconstruir palavras. KRO parece bastante com o verbo *kre 'plantar' do Proto-Cerrado, uma das fontes de empréstimos mais produtivas dentro do Kariri, no entanto não sou capaz de dar uma boa explicação do por que a palavra surgiu como um substantivo (talvez também tivesse a qualidade de verbo) e por que o /e/ virou /o/, portanto irei reconstruir duas variantes para esse possível empréstimo e também deixar a possibilidade dele ser também um verbo anotada. Concluindo, aqui estão as reconstruções:


1) Arrebentar ¹

Proto-Kariri *ta(j) ~ *tʰa(j)


Dz.: ta, tha, tay, thay

Kp.: tà, tài

Sp.: tá, thá, táy, tháy

Km.: tà, ttà, tày, ttày

Kt.: ta, tha, tay, thay

KX.: tá, thá, táy, tháy

Pp.: ta, tai


2) Arrebentar ²

Proto-Kariri *sa(j) ~ *ca(j) ~ *sã(j) ~ *cã(j)


Dz.: ha, hay, dha, dhay, ham, ham'y, dham, dham'y

Kp.: sãi

Sp.: sá, sáy, sáng, sáng'y

Km.: sà, sày, sàng, sàng'y

Kt.: sa, say, san, san'y

KX.: sá, sáy, sã, sãy

Pp.: sãi


3) Fio 

Proto-Kariri *pri 


Dz.: pri

Kp.: prì

Sp.: prí, plí

Km.: prì, plì

Kt.: pri

KX.: prí

Pp.: pri


4) Planta

Impossível dizer quando a palavra entrou no léxico Kariri e se ela não é apenas uma palavras dialetal do Kipeá, portanto não irei reconstruir para o Proto-Kariri, porém irei dizer que, caso seja um empréstimo de línguas Jês, houve uma mudança da vogal /e/ > /ə/, portanto estas são as variantes:


Dz.: kro, krâ

Kp.: crò

Sp.: kró, kréi

Km.: krò, krà

Kt.: kro, kró

KX.: kró, krâ

Pp.: kro, krae



Autor da matéria: Ari Loussant


VERBO 'REMOVER, TIRAR'


 Este verbo se encontra na página 49 do catecismo de Mamiani, nesta parte:


Imesú Adam: Mó sunúté Adam sipeicrí imesú nó Tupã ibó, bó sinió ibuyẽwohó Eva


"De hũa costela de Adam: estando dormindo Adam, Deos tirou delle hũa costela, para formar o corpo de Eva"


 Seguindo a lógica de Mamiani, a vogal desse verbo seria um schwa, já que esta não foi acentuada, outro problema é que Mamiani não anota aspiração, portanto sou forçado a reconstruir quatro variantes dessa mesma palavra. Este verbo é da quarta declinação, reconstruo-o para todos os dialetos como:


Proto-Kariri *pe ~ *pə ou *pʰe ~ *pʰə


Dz.: pe, pâ, phe, phâ

Kp.: pe, pei

Sp.: pé, péi, phé, phéi

Km.: pè, pà, ppè, ppà

Kt.: pe, pó, phe, phó

KX.: pé, pâ, phé, phâ

PP.: pê, pêi, pae, paei



Autor da matéria: Ari Loussant 


sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

SUGESTÕES PARA ESPÉCIES DE PÁSSAROS


 Mandei recentemente os prefixos que serviriam como classificadores para animais de certas espécies, porém eu generalizei as aves e os peixes, portanto hoje gostaria de dar inicio ao processo de especificação de cada uma dessas espécies usando palavras nativas das línguas Kariris.



Aves tinamiformes (baseada em uma das sílabas de bududu 'guirajaó' do Kipeá)


Dz.: du-

Kp.: du-

Sp.: tu-

Km.: tu-

Kt.: du-

KX.: du-

Pp.: du-



Aves galináceas (galinhas, perus, perdizes e faisões, encurtamento do empréstimo Tupi sa-(puca)ia)


Dz.: puka-

Kp.: buca-

Sp.: puka-

Km.: puka-

Kt.: puka-

KX.: puka-, buka-

Pp.: buka-


Aves psitacídeas (araras, periquitos, maracanãs, jandaias e apuins, baseado na palavra anotada por Martius para Arara-piranga)


Dz.: ñe-

Kp.: nhe-

Sp.: nye-

Km.: nye-

Kt.: ñe-

KX.: nhe-

Pp.: nhe-


Aves cuculídeas (anus, chincoãs, alma-de-gato, cucos e etc. Retirado da segunda sílaba de anu-preto anotado por Martius)


Dz.: lû-

Kp.: rŷ-

Sp.: lúi-

Km.: lùi-

Kt.: ri-

KX.: lû-, rû-

Pp.: rý-


Aves de rapina ou Falconídeos (águias, falcões, gaviões, carcarás, acauãs e etc. Retirado da segunda sílaba de carcará anotado por Martius)


Dz.: bâ-

Kp.: bae-

Sp.: bei-

Km.: ba-

Kt.: bó-

KX.: bâ-

Pp.: bae-


Aves craciformes (jacus, mutuns, aracuãs e etc. Retirado da segunda sílaba de jacu anotado por Martius)


Dz.: ka-

Kp.: ca-

Sp.: ka-

Km.: ka-

Kt.: ka-

KX.: ka-

Pp.: ka-


Aves ranfastídeas (tucanos, araçaris, saripocas e tucaninhos, retirado da segunda sílaba da palavra Kamurú para Tucano anotada por Martius)


Dz.: ñâ-

Kp.: nhae-

Sp.: nyei-

Km.: nya-

Kt.: ñó-

KX.: nhâ-

Pp.: nhae-


Aves catartídeas (urubus e condores, retirado da segunda sílaba de urubu do Katembri anotado por Bandeira)


Dz.: kô-

Kp.: co-

Sp.: koi-

Km.: koi-

Kt.: kó-

KX.: kô-

Pp.: kó-


Aves reídeas (nandus/emas, retirado da segunda sílaba de ema do Katembri anotado por Bandeira)


Dz.: am-

Kp.: ã-

Sp.: ang-

Km.: ang-

Kt.: an-

KX.: ã-

Pp.: ã-



Autor da matéria: Ari Loussant


BIRIDUDU EM LOUVOR A MÃE DE DEUS


O significado de biridudu na cantiga "Em louvor da Virgem Santissima Mãe de Deus"


 Um dos principais problemas de cada uma das cantigas é sua tradução, são praticamente incompreensíveis em alguns casos caso não passe antes por um processo de pura especulação, não fosse pelos registros de Nantes, não teria descoberto o significado dessa palavra que até agora presumi significar 'honrar'.


 Na verdade esta palavra parece estar carregando o significado de 'calçar', cujo anteriormente eu (hesitantemente) pensei ser a palavra dibŷ, aqui está o trecho do qual estou falando:


Mó batí tçambúsebé                   Las Estrellas el docel,

Sinióché                                        El laurel

Bó inampré, bó siné                    Hazen todas en el Ciel.

Dó isinhã biridúdú                       Y la Luna a su Señora

Mo dibŷ                                         Para honrar,

Radámŷ                                         Y calçar

Pí Cayacú.                                    Debaxo adora


 Nesse caso, biridúdú está carregando o significado de 'calçar', a palavra honrar (caso não seja nampre) provavelmente não foi traduzida para o Kipeá. Como eu descobri o significado de 'calçar', como mencionei lá em cima, foi graças ao Dzubukuá de Nantes, que registrou o verbo *bududu* 'cobrir', e levando em consideração que a palavra *bŷ* 'pé' em vários casos preserva sua consoante coda -r como -ri, como vemos em bŷribayá 'unha do pé' e também o fato de o i grosso varia na pronúncia entre seu próprio som e o i normal, posso afirmar com certeza de que *biri* é uma variante de *bŷri*, sendo portanto um composto com o significado de biri-dudu 'pé-cobrir', portanto 'calçar'.


Aproveito para reconstruir o verbo 'cobrir' e o verbo 'calçar' para todos os dialetos como


1º) Cobrir


Dz.: bududu, dudu, du

Kp.: bududù, dudù, dù

Sp.: pututú, tutú, tú

Km.: pututù, tutù, tù

Kt.: bududu, dudu, du

KX.: bududú, dudú, dú

Pp.: bududu, dudu, du




2º) Calçar


Dz.: bûridudu, bûdudu, bûdu

Kp.: bŷridudù, bŷdudù, bŷdù

Sp.: puytutú, puytú

Km.: poytutù, poytù

Kt.: biridudu, bidudu, bidu

KX.: bûridudú, bûdudú, bûdú

Pp.: býridudu, býdudu, býdu



Autor da matéria: Ari Loussant


NEOLOGISMO *MƏ 'ATRAVÉS'


  Devido a falta de registro nos documentos de Mamiani e Nantes, não tivemos chance de ver qual seria a palavra para 'através' original das línguas Kariri, portanto um neologismo tem que ser sugerido para substituí-lo. Essa palavra deriva da raíz *mə 'mais' do composto *məɣə 'mais, lit.: mais-mais', no catecismo de Nantes essa palavra é usada também como o verbo 'passar', usei esse sentido para estender a palavra de 'passar' > 'passar através' > 'através'.


Ex.: Ele entregou a carta através da janela


Dz.: Idi kli tomrara *mâ* ipo âra iñâ.

Kp.: Idìcrì torarã *mae* ipò erà inhà.

Sp.: Tí lí eiramó *méi* póéirá í nyéi.

Km.: Tì lùi aramò *mà* pòàrà ì nyà.

Kt.: Idi kri toranran *mó* ipo óra iñó

KX.: Idikrí torarã *mâ* ipó ârá inhá

Pp.: Idikri torarã *mae* ipo aera inhae




Autor da matéria: Ari Loussant


PALAVRAS CLASSIFICADORAS PARA ANIMAIS


Recentemente discuti com todos os membros do grupo de estudos das línguas Kariri e decidimos em algumas palavras que serviriam de classificadores para animais. Essas palavras surgirão antes de uma descrição do animal em questão, por exemplo, vamos traduzir bisonte americano como 'bovino peludo' ou 'bovino do campo', usaríamos o novo classificador KRA-/KLA- (derivado da palavra para 'anta') junto com sua descrição, que seria nos dialetos assim:


'bovino peludo'


Dz.: krahedi

Kp.: krasedŷ

Sp.: klasetí

Km.: klasitùi

Kt.: krasedi

KX.: krasedû, krahedû

Pp.: krasedý


'bovino do campo'


Dz.: kramera

Kp.: kramerà

Sp.: klamerá

Km.: klamirà

Kt.: kramera

KX.: kramerá

Pp.: kramera


Como você pode perceber, a regra é bem simples, apenas se coloca o prefixo  na palavra que descreve o animal, isso permite utilizarmos a mesma descrição para dois animais diferentes, por exemplo, graças à sugestão de Valdivino do povo Kariú, temos o prefixo KE-/KA-/KÓ- para caprídeos, derivado da segunda raiz de 'veado', digamos que queremos dizer 'ovelha', essa portanto usaria a mesma descrição do bisonte, só que com um prefixo novo:


'caprídeo peludo'


Dz.: kâhedi

Kp.: kesedŷ

Sp.: keisetí

Km.: kasitùi

Kt.: kósedi

KX.: kâsedû, kâhedû

Pp.: kaesedý



Alguns outros que irei sugerir são os de peixes, suídeos, taiaçuídeos, pássaros, equídeos, moluscos como gastrópodes e cefalópodes e crustáceos. Por enquanto os peixes e pássaros cairão todos em uma classificação genérica, logo irei trabalhar com a expansão destes termos para palavras mais específicas de cada espécie. Com estes exemplos dados, aqui estão os prefixos que irei sugerir para cada espécie e sua etimologia:


Para bovinos (gado, bisontes, bufalos, derivado de *kra ~ kla 'anta'):

Dz.: kra-

Kp.: kra-

Sp.: kla-

Km.: kla-

Kt.: kra-

KX.: kra-

Pp.: kra-


Para caprídeos (bodes, ovelhas, cabras, íbexes, derivado de *kə 'esp. de veado'):

Dz.: kâ-

Kp.: ke-

Sp.: kei-

Km.: ka-

Kt.: kó-

KX.: kâ-

Pp.: kae-


Para suídeos (porcos, javalis, derivado de *wo 'esp. de porco selvagem):

Dz: wo-

Kp.: wo-

Sp.: wo-

Km.: wo-

Kt.: wo-

KX.: wo-

Pp.: wo-


Para taiaçuídeos (catetos e queixadas, derivado de *mɨla ~ məla 'esp. de porco selvagem)

Dz: mâ-, mâlam-

Kp.: mu-, mura-

Sp.: mei-, meila-

Km.: mu-, mula-

Kt.: mi-, mira-

KX.: mâ-, mu-, mâla-, mula-, mâra-, mura-, 

Pp.: mu-, mura-


Para peixes (qualquer espécie, temporário, derivado de *po 'nadar')

Dz.: pho-

Kp.: po-

Sp.: pho-

Km.: ppo-

Kt.: pho-

KX.: pho-

Pp.: po-


Para pássaros (qualquer espécie, temporário, derivado do neologismo sə 'voar' de *sə 'saltar')

Dz.: hâ-

Kp.: sa-

Sp.: sei-

Km.: sa-

Kt.: só-

KX.: sâ-, hâ-

Pp.: sa-


Para equídeos (cavalos, pôneis, asnos e zebras, derivado de *e 'carga'):

Dz: e-

Kp.: e-

Sp.: e-

Km.: i-

Kt.: e-

KX.: e-

Pp.: e-


Para gastrópodes (caracóis, lesmas, lapas, abalones, búzios, nudibrânquios, borboletas-do-mar, derivado de *bu 'pele, casca' e *sa 'catarro, gordura'):

Dz.: buha-

Kp.: busa-

Sp.: pusa-

Km.: pusa-

Kt.: boa-, bosa-

KX.: busa-, buha-

Pp.: busa-


Para cefalópodes (lula, polvo, sépias, náutilos, derivado de *pu 'cabeça' e *bɨ 'pé'):

Dz: phubû-

Kp.: pubŷ-

Sp.: phupuy-

Km.: ppupoy-

Kt.: phubi-

KX.: phubû-

Pp.: pubý-


Para crustáceos (siris, caranguejos, tatuzinhos-de-jardim, lagostas, cracas e camarões, derivado de *bu 'pele, casca' + *tsə 'duro, rijo')

Dz.: bucâ-

Kp.: butsã-

Sp.: putsei-

Km.: putsa-

Kt.: busó-

KX.: butsâ-

Pp.: butsã-



Autor da matéria: Ari Loussant


quinta-feira, 19 de janeiro de 2023

COMO FAZER A NOMENCLATURA DOS ANIMAIS?


Bom dia pessoal! Eu vou organizar o que eu vou dizer agora melhor daqui há pouco para que seja publicado no blog, mas eu realmente gostaria da ajuda de vocês com a nomenclatura, pois isso parte da percepção cultural de cada um de seus povos.


 Basicamente decidi dar uma outra checada no vocabulário de Martius e encontrei naquele vocabulário dos animais a palavra *glasaizang* para 'anta', eu desconstrui ela como *glasa* 'anta' + *izang* 'verdadeiro(a)', o gla seria klá/klà na ortografia nova do Sapuyá e do Kamurú e é consistente com o *kra* de *kradzo*, portanto descobri que essa palavra é a palavra principal que significa 'anta'.


Com isso, eu decidi usar ela para um neologismo, já que ela já ganhou o significado para animais bovinos, decidi sugerir que ela seja usada com uma espécie de palavra classificadora


basicamente, todas vez que você for falar de um animal de espécie bovina, você usa KRA/KLA para isso


Um exemplo, temos o yak, um bovino que vive na região tibetana


Digamos que nomeemos ele de 'bovino do tibete'


em todos os dialetos ficaria:


Dz: kratibê

Kp.: kratibè

Sp.: klatibái

Km.: klatibài

Kt.: kratibé

KX.: kratibê

Pp.: kratibé


E assim sucessivamente para todos os bovinos


digamos o bisonte dos Estados Unidos, ele seria algo como 'bovino peludo', portanto:


Dz: krahedi

Kp.: krasedŷ

Sp.: klasetí

Km.: klasitùi

Kt.: krasedi

KX.: krasedû, krahedû

Pp.: krasedý


Suinamy ( Elizabeth) comenta o texto de Ari Loussant sobre a nomenclatura dos animais: Que joia preciosa para o vocabulário! Lembrando desse sentido cultural, já que boi não faz parte da fauna da nossa região,mas trazido pelos colonizadores (a anta seria um dos maiores animais da mata e forma generalizada da carne da cultura original,é isto?)


Ari Loussant responde: Exatamente!!

Também estou pensando em um termo para caprídeos (bodes, ovelhas, cabras e etc) E para os suídeos (porcos, javalis, catetos)


Suinamy continua, Bom dia para todos! Estou em aula, mas acompanhando, na medida do possível. Grata,Ari, por tantas contribuições! Nhenety já publicou uma lista da fauna que foi tmb reunidos nomes de peixes para constar na dissertação. *Kradzó já usamos nas aulas com Nhenety e agora tmb com Idiane.* Seria bom ter a distinção de fêmea e macho,não acham?


Ari Loussant proseguindo o tema continua:

Gostaria das ideias de todos para formar alguns vocábulos, quando puderem dar

Como vocês gostariam de traduzir 'vaca' e 'boi' ?

Como vocês gostariam de traduzir 'vaca' e 'boi' ?

Gostaria de usar a percepção de todos para traduzir estes termos

Se não me engano, Seprun seria do Natú, ótima ideia, vou anotar para as palavras que serão usadas para estes animais


Valdivino Kariú também dar sua opinião:é buscar veado nas língua que é o caprino nativo. os outros foram trago, é ver uma fusão do nome nativo com o que veio de fora, Veado  - Buké.


Ari Loussant diz: Maravilhosa ideia, para ficar monossilábico vamos usar a sílaba ke/ka/kang de veado e vamos estender seu significado para todos os caprídeos.

Para ovelha, podemos usar a ideia do bisonte, só que com o classificador diferente ao invés de kra/kla seria ke/ka/kang.

Ficaria em cada dialeto assim:


Dz.: kâhedi

Kp.: kesedŷ

Sp.: keisetí

Km.: kasitùi

Kt.: kósedi

KX.: kâsedû, kâhedû

Pp.: kaesedý


Para suídeos eu tenho algumas sugestões, meu propósito é que seja monossilábico, porém creio que vocês devam escolher o que preferirem, aqui estão as possíveis sílabas que podem ser usadas em seus dialetos:


Dz.: mâ-, lam-, mâlam-, wo-

Sp.: mei-, lei-, melei-, wo-

Km.: ma-, lang-, malang-, wo-

KX.: mu-, mâ-, ra-, lã-, mura-, mâlã-, wo-


Fiquem à vontade para escolher



Autores na participação da matéria: Ari Loussant, Suinamy, Valdivino Kariú e Nhenety Kariri-Xocó.







quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

O VERBO 'ESCONDER, RECOLHER'


 Ao estudar o 'Curso Antigo de Tupi' de Lemos Barbosa me deparei com um dos neologismos do período colonial:


îe-kuakub: ocultar-se, recolher-se para o jejum (à moda indígena) = jejuar


 Essa palavra me fez perceber a semelhança da primeira raiz de WANHIDO 'esconder-se atrás de uma moita' e WAWÃDA 'jejuar', as duas palavras caem na 1ª declinação, o que indica que o W inicial é realmente parte da palavra e não um prefixo fossilizado da 5ª declinação. Ainda não consigo traduzir com confiança a palavra WANHIDO, tenho duas teorias:


1ª: WA-NHI-DO 'esconder(-se)-atrás-moita'

2ª WA-NHIDO 'esconder(-se)-moita'


Ainda preciso procurar para ver se encontro algum cognato da palavra 'atrás' ou 'moita' para confirmar as sílabas NHI e DO. Para WAWÃDA também tenho duas teorias:


WA-WÃ-DA 'esconder-esconder-jejuar' ou 'esconder-esconder-comer'


 Nesse caso, creio que WA signifique mais especificamente 'recolher'. Existe uma possibilidade de DA ser na verdade uma variante de DO 'comer', caso exista uma correspondência entre o schwa do Kariri e o *a do Proto-Macro-Jê, existe a possibilidade de *də ser cognato do PMJ *jat ~ *jan° 'comer (intransitivo)'




Autor da matéria: Ari Loussant 

NEOLOGISMO - *SE


Neologismo *SE- 'prefixo que denota manifestação, exalação, exsudação de algo'


Esta palavra deriva do verbo *se 'transbordar', no sentido de que algo transborda X, por exemplo no Dz.: he-buângâ 'pecaminoso, malvado, lit.: que transborda mal'


 Para exemplificar melhor o uso desse novo prefixo, creio que seja melhor explicar com uma língua que usa bastante de um equivalente desse, o inglês. Nessa língua existe o sufixo -ful, que é usado para denotar uma palavra do qual está cheia de ou que possui as características de X, sendo que X é a palavra que ele sufixa, por exemplo:


sinful = pecaminoso, lit.: cheio de pecado

mouthful = bocado, lit.: cheio de boca

doubtful = duvidoso, lit.: cheio de dúvida

watchful = vigilante, lit.: cheio de vigia


 Gostaria de estender bastante o uso de prefixo, para que certos conceitos sejam denotados de forma nativa, sem usar de estruturas estrangeiras, como por exemplo:


Kipeá: sewarì "poliglota, lit.: cheio de boca"

Dzubukuá: hena ou henathe "atarefado, lit.: cheio de trabalho"

Sapuyá: sepeiró "confiante, lit.: cheio de certamente"

Kamurú: sittì "ovelha, lit.: cheio de lã"

Katembri: ere ou sere "raivoso, lit.: cheio de raiva"

Kariri-Xocó: sesé, hesé, sedhé ou hedhé "jubiloso, lit.: cheio de alegria"

Pipipan: sedakru "enfeitado, lit.: cheio de decoração"




Autor da matéria: Ari Loussant



segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

UBO NÃO É DA QUINTA DECLINAÇÃO E A PALAVRA CUROTÉ


 É exatamente o que o título diz, a palavra UBO não é da quinta declinação, em nenhum momento nas páginas da gramática que mostram os vocábulos que caem nesta declinação 'UBO' aparece, o significado total da palavra é 'frutos colhidos verdes para amadurecer em casa', apesar de que a palavra não pode possivelmente carregar todos estes significados com duas sílabas, Mamiani estava apenas contextualizando a palavra, seu significado primitivo é somente 'fruto colhido' ou mais primitivamente 'fruto-colher', o verbo BO surge no Dzubukuá, provando minha hipótese:


Katecismo Indico, página 193:


"Do Coho béba vtthu Eva"


"Então Eva *colheo* o fruto da árvore"


 Voltemos então nossa atenção para U, que eu sempre suspeitei estar anotado de maneira estranha no Kipeá, já que surge como SU em SUTÚ, presumo que Mamiani tenha anotado uma versão fossilizada de UTÚ, quando algum indígena falou 'fruta dele/dela' ao invés de falar apenas 'fruta' como ele provavelmente desejava. Portanto concluo que essa palavra é um composto entre U 'fruta' e BO (BAE) 'colhêr'.


A palavra CUROTÉ


Aproveito que estou falando de 'colhêr' e gostaria de falar de uma palavra com uma estrutura similar no português: colhér. No Kipeá essa palavra surge como CUROTÉ, é suspeitosamente parecida com a palavra portuguesa, além de cair na quinta declinação, onde a maioria dos empréstimos vão parar, o que levanta ainda mais a suspeita de que essa palavra não seja nativa, por isso gostaria de aproveitar para sugerir um neologismo no lugar dela.


 Apesar das semelhanças, as duas palavras não vem da mesma origem, colhêr vem do verbo colligere que significa 'coletar' enquanto o substantivo colhér vem do latim cochlear, que deriva de cochlea 'caramujo, concha de caramujo', provavelmente devido ao seu formato, seguindo essa lógica, decidi criar o substantivo baseado no verbo 'colhêr', já que colhéres coletam coisas e um pseudo-classificador para reforçar a palavra semanticamente, portanto sendo:


Proto-Kariri *bu-bə-y 'objeto (casca, pele, concha) de colhêr'


Dz.: bubây

Kp.: buboì

Sp.: pupéiy

Km.: pupày

Kt.: bobóy

KX.: bubây

Pp.: bubaei


U de fruta é da quinta declinação (Correção do argumento anterior)


 Corrigindo o argumento anterior, encontrei na página 60 o uso de UBO na quinta declinação, o que transforma o argumento no seguinte, Ú de fruta cai na quinta declinação, o que ainda não explica o por quê do S de SUTÚ, temos que presumir que Mamiani realmente anotou uma versão fossilizada ou talvez pronunciada rápida de SU-UTÚ, peço perdão pelo argumento anterior, porém ainda mantenho o argumento de que UBO é um composto entre U 'fruta' + BO 'colher'.




Autor da matéria: Ari Loussant 

TRÊS REFEIÇÕES DO DIA NA LÍNGUA KARIRI

 

 Esta é uma publicação curta, publicarei em seguida os "Utensílios nas línguas Nhihô", baseado nos termos que criei anteriormente para manhã, tarde e noite, decidi criar termos para 'café da manhã, almoço, merenda e janta'.


Café da manhã (lit.: comida do nascer do dia)


Dz.: hami hakye

Kp.: samì sachè

Sp.: samí sanyé

Km.: samì samà

Kt.: sami sashe

KX.: samí sashuló

Pp.: sami karisa


Almoço (lit.: comida do coração do dia)


Dz.: hami dhikye

Kp.: samì sichè

Sp.: samí sinyé

Km.: samì simà

Kt.: sami sishe

KX.: samí sishuló

Pp.: sami karisi


Almoço (termo alternativo, lit.: primeiro grande banquete)


Dz.: khu bu yâ mâcây

Kp.: kù buyẽ motsãì

Sp.: khú pú yéi meitséiy

Km.: kkù pù mà matsày

Kt.: khu boyó mósóy

KX.: khú bu-akomá mâpyáy

Pp.: ku bugati mobigéi


Merenda (lit.: comida do deixar da tarde)


Dz.: hami plikye

Kp.: samì prichè

Sp.: samí pluynyé

Km.: samì plimà

Kt.: sami prishe

KX.: samí plishuló

Pp.: sami karipri


Janta (lit.: comida do começo da noite)


Dz.: hami tukaya

Kp.: samì tucayà

Sp.: samí thukayá

Km.: samì ttuyà

Kt.: sami thukaya

KX.: sami thuvêngi

Pp.: sami tyutu


Janta (termo alternativo, lit.: segundo grande banquete)


Dz.: khu bu yâ mâdêy

Kp.: kù buyẽ modeì

Sp.: khú pú yéi meidáiy

Km.: kkù pù mà madàiy

Kt.: khu boyó módéy

KX.: khú bu-akomá mâdéy

Pp.: ku bugati mowachani



Autor da matéria: Ari Loussant


domingo, 15 de janeiro de 2023

A DIFERENÇA DIALETAL DO KARIRI-XOCÓ


 Vários dos falantes novos da família Kariri adotaram um dos dialetos como base para sua língua materna, muitos desses povos ou são mistos de povos que falavam línguas fora da família Kariri ou são descendentes diretos destes que decidiram adotar o Kariri para defender sua identidade, existem palavras remanescentes das línguas originais destes povos anotadas por vários estudiosos no passado, que são valiosos tesouros para o léxico de cada um dos novos dialetos que surgem.


 No caso do Kariri-Xocó, sua língua utiliza como base ambos o Dzubukuá e Kipeá, formando um koiné dos dialetos do norte, cujo terá como caraterística principal as palavras anotadas Meader e Pompeu, além de utilizar o artigo de 2022 chamado "Ensaios Interdisciplinares em Humanidades: Volume V" como justificativa de conexão linguística e adoção dos termos da língua Peagaxinan, vulgo Natu.


 Uma das diferenças principais do Xocó (a língua original, não o Kariri-Xocó) é que dois de seus pronomes sobreviveram, e mesmo sem a sobrevivência do pronome de terceira pessoa, é possível inferir sobre como ele teria se comportado, aqui estão os exemplos dos pronomes:


Como vai ?                àkàkˈáumà

vou bem, obrigado   íkàkˈə́


 Veja como a pergunta e a resposta são consistentes, a única diferença sendo o prefixo (à- no primeiro, í- no segundo) e no sufixo da pergunta (umà), podemos presumir que kàk'á e kàkˈə́ (que vou adaptar desde já para o Kariri-Xocó como kakyâ) significam 'bom, bem, estar bom, estar bem', portanto akakyâ seria literalmente 'tu (estás) bem-SFX.INTERROGATIVO' e ikakyâ seria "eu (estou) bem". Decidi perguntar para o representa do povo Kariri-Xocó, Nhenety Kariri-Xocó, se ele gostaria de adotar estes prefixos do Xocó para a língua de base Kariri, ele me respondeu que sim, portanto iremos trabalhar neste texto as mudanças que devem ocorrer na língua KX.


 As mudanças não serão radicais, elas meramente vão simplificar o método de declinação que o Padre Mamiani anotou para o Kipeá (cujo estamos usando como base para nossos estudos), reduzindo de cinco para três declinações, fáceis de memorizar.


1ª DECLINAÇÃO: Para verbos que começam com consoantes


 Como você pode ver, a primeira declinação continua idêntica à de Mamiani em sua função, conjuga somente as palavras que começam com alguma consoante (ANHA 'tia' está na primeira declinação, porém Aryon Rodrigues já discutiu em seu texto "Flexão relacional no tronco Macro-Jê" de 2000, por favor leia ele para entender o por que dessa palavra cair lá):


Palavra de exemplo: KOTO 'roubar'


1ª pessoa singular: i-koto 'eu roubo'

2ª pessoa singular: a-koto 'tu roubas'

3ª pessoa singular: si-koto ou koto 'ele/ela rouba'

1ª pessoa plural exclusiva: i-koto-de 'nós, excluindo você, roubamos'

1ª pessoa plural inclusiva: k-u-koto 'nós todos roubamos'

2ª pessoa plural: a-koto-a ou ra-koto ou la-koto 'vós roubais'

3ª pessoa plural: si-koto-a, sa-koto ou koto-a 'eles/elas roubam'


 Algumas diferenças notáveis (além dos pronomes novos, cujo já expliquei em uma publicação passada) é a utilização de SI- no lugar de I-, isso se deve pelo fato de que agora que temos I- na primeira pessoa no lugar de GHI-, o I- torna-se homófono deste e pode causar confusão, por isso ele é substituído pelo seu equivalente da quarta declinação, que se fundiu com a primeira. Lembrando que a primeira declinação e segunda declinações só conjugam verbos agora, o que aconteceu com os substantivos, você deve estar se perguntando, vou mostrar logo logo.



2ª DECLINAÇÃO: Para verbos que começam com vogal


 Todos os verbos que são da nova segunda declinação começam com vogais, sim todos, da segunda e da terceira, caso você não se recorde, a diferença principal entre as duas era que na segunda caiam quaisquer vogais e tinha o infixo relacional -y- (escondido na ortografia por Mamiani) e na terceira a gigantesca maioria das vogais começavam com E e tinha o infixo relacional -dz- (que é cognato do -y-), como não existe diferença entre esses dois prefixos, não existe muita diferença entre as duas declinações, portanto qualquer verbo que começar com vogal cairá aqui, para não haver confusão, sugiro que seja usado o infixo -dz-, como no seguinte exemplo:


Palavra de exemplo: EYKO 'sarar, descansar'


1ª pessoa do singular: i-dz-eyko 'eu descanso'

2ª pessoa do singular: a-dz-eyko 'tu descansas'

3ª pessoa do singular: s-eyko 'ele/ela descansa'

1ª pessoa do plural exclusiva: i-dz-eyko-de 'nós, excluindo você, descansamos'

1ª pessoa do plural inclusiva: k-eyko 'nós todos descansamos'

2ª pessoa do plural: a-dz-eyko-a ou ra-dz-eyko ou la-dz-eyko 'vós descansais'

3ª pessoa do plural s-eyko-a ou sa-dz-eyko 'eles/elas descansam'


 Essas serão as regras da segunda declinação do Kariri-Xocó para todas os *VERBOS* que começam com vogal, você pode que estou constantemente lembrando que apenas verbos caem nessas declinações, isso se deve pelo fato de estaremos uma declinação especial para denotar posse.



3ª DECLINAÇÃO: Para denotar posse


 Esta é a declinação que irá ser usada para denotar posse, ela é baseada na estrutura da quinta declinação de Mamiani, porém ela restaura sua função original de denotar apenas posse, ela não conjuga verbos, existe outro verbo parecido com o EYKO do exemplo anterior que é EYKO 'necessitar', ele cai na quinta declinação de Mamiani, mas seguindo as novas regras, como ele é um verbo, ele cai na segunda, quando eu quiser dizer o substantivo EYKO 'necessidade', aí sim ele volta para esta declinação. Portanto frases como 'meu carro', 'tua casa', 'filha dela', 'nosso cachorro' e etc todas virão para a terceira declinação nova:


Palavra de exemplo: ÂRA 'casa'


1ª pessoa singular: i-dz-u-âra ou dz-u-âra 'minha casa'

2ª pessoa singular: a-âra 'tua casa'

3ª pessoa singular: s-u-âra 'casa dele/dela'

1ª pessoa plural exclusiva: i-dz-u-âra-de ou dz-u-âra-de 'nossa casa, sem incluir você'

1ª pessoa plural inclusiva: k-u-âra

2ª pessoa plural: a-âra-a ou ra-âra ou la-âra

3ª pessoa plural: su-âra-a ou sa-âra


 Portanto tudo que expressar posse cairá nesta declinação, lembre-se quando você for dizer algo que comece *meu/minha*, *teu/tua*, *dele/dela* ou *nosso*, use a terceira declinação.


Aproveitando antes de concluir, creio ter achado algumas palavras que significa 'pessoa', normalmente os pronomes independentes das línguas Kariri utilizam o prefixo + a palavra ətsə 'pessoa', farei o mesmo com o KX e pegarei a raiz kwa de pikwa 'homem, humano'


PRONOMES INDEPENDENTES


1ª pessoa do singular: i, i-kwa

2ª pessoa do singular: a, a-kwa

3ª pessoa do singular: s-i-kwa

1ª pessoa do plural exclusiva: i-kwa-de

1ª pessoa do plural inclusiva: k-u-kwa

2ª pessoa do plural: a-kwa-a ou ra-kwa ou la-kwa

3ª pessoa do plural: s-i-kwa-a ou sa-kwa




Autor da matéria: Ari Loussant


MATERIAL ESCOLAR NA LÍNGUA KARIRI


Material Escolar


Dz.: yethe phedebâ

Kp.: yetè nesèbae

Sp.: séy muneipéi

Km.: sittè munapà

Kt.: sethe phenóbó

KX.: sethé phekhebâ

Pp.: yetê pekebae


Apontador


Dz.: ipheyanethe

Kp.: sipeyanètè

Sp.: sípheyajathé

Km.: sìppeyasattè

Kt.: sipheyanethe

KX.: sipheyanethe

Pp.: sipeyanetê



Borracha


Dz.: dibâhey

Kp.: dibaeheì

Sp.: tibeikléy

Km.: tapakrìy

Kt.: dibóhey

KX.: dibâhey

Pp.: dibaehêi



Caderno


Dz.: imuy nâthohe (lit.: livro de anotar)

Kp.: imuì netohè

Sp.: í múy neithoklé

Km.: ì mùy nattokrì

Kt.: imuy nóthohe

KX.: imúy nâthohé

Pp.: imúi naetohê



Caneta


Dz.: tâhe (lit.: vara de escrever)

Kp.: tohè, tahè

Sp.: teihé

Km.: tahè

Kt.: tóhe

KX.: tâhe

Pp.: hetae



Canetinha


Dz.: tâhe bu pi 

Kp.: tohè/tahè bupì

Sp.: teihé pú púi

Km.: tahè pù mù

Kt.: tóhe bu pi

KX.: tâhé bukinefá

Pp.: hetae bupi


Cola branca


Dz.: badithe bu khu

Kp.: baditè bucù

Sp.: batíthe pú kkú

Km.: batittè pú kkussí

Kt.: badithe bu khu

KX.: badithé bukhu

Pp.: baditê buku



Corretivo


Dz.: kâley (coisa que esconde mal/erro)

Kp.: keireì

Sp.: keiléy 

Km.: kalèy

Kt.: kórey

KX.: kâréy, kâléy

Pp.: kaeirêi



Estojo


Dz.: dutâhe (aió de caneta)

Kp.: dùtohè, dùtahè

Sp.: tuteihé

Km.: tutahè

Kt.: dutóhe

KX.: dutâhé

Pp.: hetaedu



Lápis


Dz.: zihe (madeira de escrever)

Kp.: dzihè

Sp.: tsihé

Km.: tsihè

Kt.: zihe

KX.: dzihé

Pp.: hedzi



Lápis de cor


Dz.: zihe dâ zâ

Kp.: dzihè dò dzò

Sp.: tsihé téi tséi

Km.: tsihè tà tsà

Kt.: zihe dó zó

KX.: dzihé dó dzae

Pp.: hedzi do dzo



Livro Didático


Dz.: muy dâ phede

Kp.: muì dò nesè

Sp.: múy téi munéi

Km.: mùy tà munà

Kt.: muy dó phenó

KX.: múy dae phekhé

Pp.: múi dó pekê



Marca-texto


Dz.: kiheyây (coisa que aponta o que foi muito escrito (texto))

Kp.: kiheyoì

Sp.: kikleyéiy

Km.: kikriyáy

Kt.: kiheyóy

KX.: kiheyây

Pp.: kiheyói



Mochila


Dz.: dumeydhû (aió das costas)

Kp.: dùmesù

Sp.: tumisí

Km.: tumisì

Kt.: dumisu

KX.: dumedhû, dumesû

Pp.: dumesu



Pasta


Dz.: kâbây (coisa de dobrar que guarda, pasta)

Kp.: kobeì

Sp.: keipéiy

Km.: kapày

Kt.: kóbóy

KX.: kâbây

Pp.: kaebaei



Régua


Dz.: phewoy (coisa para ajeitar, regular)

Kp.: pewoì

Sp.: niwóy

Km.: niwòy

Kt.: phewoy

KX.: phewóy, niwóy

Pp.: pewoi, niwoi



Tesoura


Dz.: zakhuy (objeto parecido com dentes)

Kp.: dzakuì

Sp.: wotsáy (objeto que é como dente)

Km.: wotsày

Kt.: zakhuy

KX.: tukhúy, wotuy

Pp.: dzakui, wodzai




Autor da matéria: Ari Loussant


quinta-feira, 12 de janeiro de 2023

ECONOMIA KARIRI-XOCÓ


       A natureza oferecia as condições propícia de sobrevivência para os povos indígenas, com suas florestas, rios e o mar . No entanto no período antes do contato com os portugueses os nativos tinha sua economia baseada na caça, pesca, agricultura de SUBSISTÊNCIA e na coleta de produtos da floresta, frutas, mel e afins.

      Os Kariri-Xocó também segue esse processo histórico de ocupação do território indígena pelos colonizadores, assim alterando o acesso das fontes de subsistência ou seja as fontes naturais base de sua alimentação. Até a chegada dos jesuítas na região de Porto Real do Colégio no século XVII, os Kariri-Xocó tinha sua economia baseada na caça e pesca.

         No século XVIII os Kariri-Xocó já se destacavam na produção cerâmica como fonte de renda da comunidade. As mulheres produzindo potes e panelas de barro para trocar com os civilizados por alimentos, ferramentas, objetos domésticos. Com a interrupção do acesso as florestas para obter a caça, os índios comercializava os objetos cerâmicos por farinha, galinha, e frutas na região do Baixo São Francisco. 

      Na década de 1980 em Kariri-Xocó houve uma grande mudança nos lares brasileiros, foi chegando a geladeira, assim o pote de barro ia perdendo espaço para esse eletro-doméstico, também as ceramistas já estavam a maioria idosas, outras foram morrendo, mas mesmo assim ainda temos algumas que resistente com sua arte nativa com fonte de renda.

       A partir de 1990 os indígenas de Porto Real do Colégio-AL, foram visitando escolas da região para apresentação das comemorações do Dia Do Índio, iniciando um período de venda de artesanato aos alunos e pessoas da cidade. A confecção de arcos, flechas, maracás, brincos de penas, zarabatanas, cocares e outros mais, assim o artesanato é atualmente a fonte de renda principal dos Kariri-Xocó, porque a procura pela produção artesanal é o anos inteiro não apenas no mês de abril no dia do índio .

 

     Autor da matéria: Nhenety Kariri-Xocó 

NEOLOGISMOS PARA 'CELEBRAR', 'FESTA' E 'ANIVERSÁRIO'


  Estes são alguns neologismos que acabei esquecendo de publicar durante o Ano Novo, aproveitei para revisá-lo e decidi criar termos gerais para celebrar, celebração, festa e por extensão aniversário



1) Celebrar: Este verbo deriva do verbo do Proto-Kariri *sə 'saltar, pular', no sentido de pular de alegria, portanto celebrar, caso seja necessário distinguir esse de outros verbos, recomendo colocar a raiz *tʰu 'alegria, júbilo', portanto em cada dialeto será:


Dz.: hâ, thuhâ

Kp.: sái, tusái

Sp.: séi, thuséi

Km.: sà, ttusà

Kt.: só, thusó

KX.: sây, thusây, hây, thuhây

Pp.: saei, tusaei


 Devo lembrar que esse verbo também pode ser um substantivo sem a utilização dos sufixos nominalizadores, mas recomendo usar eles quando for necessário a distinção.



2) Festa: eu sei que é totalmente possível derivar esse termo da palavra anterior utilizando os sufixos nominalizadores, criando 'coisa de celebrar, celebração, festa', mas eu decidi trazer um outro sinônimo para adicionar mais palavras para todas as línguas, aqui está a palavra em cada dialeto:


Dz.: dhey

Kp.: seí

Sp.: séy

Km.: sèy, tsèy

Kt.: sey

KX.: sey, dhey

Pp.: sêi


 O significado literal é 'coisa ou ocasião de alegria', portanto 'festa', pode ser usado como sufixo para denotar tipos diferentes de festa ou ocasiões especiais, por exemplo no Kipeá algo como torá-seí 'festa de cortesia com o pé' e também para o próximo exemplo.



3) Aniversário: este é o primeiro exemplo de utilização do sufixo criado anteriormente, eu ia fazer algo como 'ano-festa', porém isso pode ser confundido com o Ano Novo do calendário gregoriano ou o Ano Novo Kariri ou Batí, portanto decidi refazer a frase como 'tornar-festa', no sentido de ser uma festa onde a pessoa se *torna* mais velha, sendo traduzida para todos os dialetos assim:


Dz.: bâdhey

Kp.: beseí

Sp.: peiséy

Km.: pasèy, patsèy

Kt.: bósey

KX.: bâsey, bâdhey

Pp.: baesêi



Autor da matéria: Ari Loussant



terça-feira, 10 de janeiro de 2023

ELEMENTOS CULTURAIS KARIRI-XOCÓ


Elementos Culturais 



- Cocal de penas

Kx.: kûtsân (lit.: pena da cabeça)


Kx.: badí (lit.: (adorno de penas) coladas)


Kx.: dákanhé (lit.: adorno ritualístico)


- Cocal de fibras de caroá

Kx.: rekúsagú dákanhé (lit.: adorno ritualístico da flor purpúrea da caatinga, rekú = caatinga, composto entre o ré de retsé 'mato' e kú 'branco', enquanto sagú é sa = flor, do verbo sa 'florescer' que deriva do verbo sa 'nascer' + gú 'púrpura', derivado de kú 'vermelho' de kutsú 'vermelho, encarnado')



- Pulseira de osso

Kx.: chomé (composto entre chó 'pulseira', ablaut de ché 'atar' de chetsé + mé 'osso')



- Colar de caramujo 

Kx.: bé bó brún (frase composta de be 'colar' de beba 'colar de osso' + bó 'de, originado de, fora de' + brún 'caracol, caramujo', derivado com ramâtê e penatê de bú 'casca, pele')



- Brinco de pena

Kx.: dábenhé bó kû (lit.: adorno de orelha de pena)



- Zarabatana ( lançador de dardos )

Kx.: sokâmú (composto entre só 'jogar, lançar', ablaut de sa 'saltar' + kâ 'dardo', derivado de kâ 'ponta' + mú 'curto')


- Calça

Kx.: rowân (composto entre ró 'roupa' + wân 'perna')



- Camisa

Kx.: rokrá (composto entre ró 'roupa' + krá 'torso, corpo')



- Saia de pano

Kx.: sadzé (composto entre sá 'saia' + dzé 'pano')



- Óculos

Kx.: ropó (composto entre ró 'roupa' + pó 'olho')



- Cinturão de couro

Kx.: sûyân bó buró (frase composta de sû 'cinto', ablaut de sá 'saia' + yân 'grande' + bó 'de, originado de, fora de' + buró 'pele, couro, casca')




Autor da matéria: Ari Loussant


segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

TRADUÇÕES PARA ALIMENTOS EM KARIRI-XOCÓ


1) Milho

Kx.: pû, masichí, madhikí


2) Feijão

Kx.: ginhé, genhé


Kx.: krú (ramâtê e ablaut de ko 'caroço')


3) Abóbora

Kx.: erumú


Kx.: suyân'hekú (literalmente 'fruta grande laranja')


4) Mandioca/Macaxeira

Kx.: muykhú 


5) Pepino

Kx.: wânbú (composto entre wân 'perna' + bú 'cabaça')


6) Maxixe

Kx.: wânbúmú (composto entre wânbú 'pepino' + mú 'curto')


7) Quiabo

Kx.: bathíârã (composto entre bathí 'estrela' + ârã 'verde')


8) Arroz

Kx.: âgú (composto entre â 'semente, fruto' + gú 'arroz', derivado de kú 'branco')


9) Café (bebida)

Kx.: kruytsó (composto entre kruy 'bebida', nominalização de kru 'beber' + tsó 'preto', da raiz reduplicada kotsó, lit.: 'bebida preta')


10) Café (grãos)

Kx.: krú kruytsó (lit.: 'feijão de café)


11) Cebola

Kx.: mikâ (composto entre mi 'comida' + kâ 'chorar' de ânkâ)


12) Alho

Kx.: mikâ bupí (frase composta de mikâ 'cebola' + bú 'classificador geral' + pí 'pequeno'


13) Cominho (em forma de semente)

Kx.: âindí (composto entre â 'semente, fruto' + indi 'Índia'


14) Cominho (em forma de pó)

Kx.: kíindí (composto entre kí 'farinha, pó' + indi 'Índia')


15) Batata/Inhame

Kx.: mû (derivado de um ablaut da palavra mi 'comida', termo genérico para batatas, batatas-doces e inhames)


16) Mamão

Kx.: makruyân (composto de makru 'mamar', em si um composto entre ma 'seio' e kru 'beber' + yân 'grande', tradução direta da palavra portuguesa)



Autor da matéria: Ari Loussant



A PALAVRA BEIJU WARAERO E BOLO DE MANDIOCA WARUDU


A palavra para beiju (WARAERO) e bolo de mandioca amassada (WARUDU)



 Esta duas palavras caem na 5ª declinação de Mamiani, suas estruturas são similares (Waraero e Warudu), havendo portanto uma possibilidade das mesmas palavras estarem sendo usadas, devo também esclarecer que era totalmente possível que o Kariri mudasse algumas raízes de declinação, como no caso de YA-croro 'anzol' que é da 1ª declinação enquanto YA-wo 'gancho' é da quinta, com isso dito, partirei para o argumento sobre quais palavras formam esses compostos:


1º) Começando com o (w)a-, o W que surge no início é meramente um indicador da quinta da declinação, portanto é negligenciável, voltemos nossa atenção para A-, que provavelmente é um cognato do A de AMI 'comida, mantimento', carregando o significado de comida para essas palavras, se esse não for o caso, estamos lidando com uma raiz diferente, que provavelmente significa algo como 'bolo' ou talvez mais especificamente 'beiju'.


2º) Neste ponto irei lidar com o RAE e o RO da primeira palavra, Mamiani constantemente confundia o som do schwa com outras vogais, até mesmo dentro de uma mesma palavra, existe a possibilidade de -RAERO ser uma reduplicação de uma mesma raiz, portanto -RAERAE, por enquanto trabalhemos com ela como se fossem duas raízes diferentes, se este for o caso existem duas possibilidades: uma das duas é a palavra que significa especificamente 'beiju' ou elas são verbos que denotam uma ação com a comida, no caso seriam cognatas do verbo RO 'rodear', com o sentido estendido para 'enrolar', então a palavra WARAERO pode ser reconstruída das seguintes formas:


a) (w-)a-rae-rae "comida-enrolar-enrolar" ou "comida-bolo-bolo"

b) (w-)a-rae-ro "comida-bolo-enrolar" ou "comida-enrolar-bolo"

c) (w-)a-rae-ro "bolo-enrolar-enrolar" ou "bolo-bolo-enrolar"


3º) Indo para a segunda palavra, temos a estrutura WARUDU, as similaridades entre as duas palavras acaba na primeira sílaba (WA), porém ambas carregam o significado de uma comida derivada da mandioca, portanto é possível que o A dessa palavra realmente seja uma palavra diferente do A de AMI, significando algo como 'comida feita de mandioca, beiju', não entanto não podemos desconsiderar o possível ablaut da raiz RAE que vimos no primeiro exemplo, sabemos que o schwa pode se transformar em vogais diferentes dependendo do seu ambiente, se ele pode virar U é algo que não vimos, porém não podemos simplesmente descartar a possibilidade dessa mudança, portanto ainda é possível que A signifique 'comida' e na verdade é RV (V = vogal não determinada) é quem significa 'bolo de mandioca, beiju', é um pouco mais possível determinar que DU seria quem carrega o significado de amassado, caso RU não seja formado a partir de um ablaut de RAE, também determinarei ele como sinônimo de DU


a) (w-)a-ru-du "comida-beiju-amassar" ou "beiju-amassar-amassar




 Aproveitando, irei reconstruir o verbo DU amassar para todos os dialetos:


Proto-Kariri *du 'amassar'


Dz.: du, dhu

Kp.: dú

Sp.: tú

Km.: tù

Kt.: du

Kx.: dú

Pp.: du




Autor da matéria: Ari Loussant



sexta-feira, 6 de janeiro de 2023

TERMOS DE PARENTESCO DOS DIALETOS DO SUL, DZUBUKUÁ E KATEMBRI PARTE 2


 Nesta parte, irei lidar com neologismos que creio serem necessários para distinguir certos parentes. Comecemos com a distinção por idade dos descendentes, o termo para descendente em todas as línguas é *nu, portanto usaremos ela como base, vou sugerir primeiro a palavra para 'filho mais novo', esta utilizará uma das palavras que falamos da última vez para se referir a um 'jovem, guri, moleque', sabemos que a palavra completa é *muɲəcə ou *mɨɲəcə, como demonstrei na parte 1.5, essa palavra é divisível, portanto as três sílabas podem ser usadas para se referir ao filho mais jovem, sugiro que a estrutura seja assim para cada dialeto:


Dz.: numu, nuñâ, nukyâ

Kp.: numŷ, nunhe, nukiá

Sp.: numú, nunyéi, nucéi, numyú, nukó

Km.: numù, nunyà, nucà, nuparì, nunàng

Kt.: numi, nuñó, nushó

KX.: numû, nuñâ, nukyâ

Pp.: numý, nunhae, nukyae


 Para o filho do meio, primeiro devo sugerir o neologismo que traduza o termo 'meio', usarei a palavra 'coração' e irei estender seu significado para 'cerne, centro, meio', portanto seguindo a lógica do anterior temos:


Dz.: nudhi

Kp.: nusí

Sp.: nusí

Km.: nusùi

Kt.: nusi

KX.: nusí

Pp.: nusi


 Por último, o filho mais velho seguirá a mesma lógica dos anteriores, dessa vez irei derivar o termo velho (em termo de idade) de 'mais' e 'grande', portanto ficará assim:


Dz.: numâyâ

Kp.: numaeyẽ

Sp.: numeiyéi

Km.: numayàng

Kt.: numóyó

KX.: numâyân

Pp.: numaeyãe



Agora indo para a geração dos avós, temos a falta de termos para distinguir os irmãos destes, devo lembrar que existem termos específicos para tios maternos e paternos e também termos que dependem do sexo do Ego, portanto seguindo a lógica dos termos para tios que demonstrei na parte 1, a palavra 'velho' será usada como sufixo para distinguir estes dos irmãos dos pais, sendo portanto:


Dz.: X-râ (ex.: aña, ña 'tia paterna' vs añarâ 'tia-avó paterna')

Kp.: X-re (ex.: cucú 'tio materno' vs cucúre 'tio-avô materno')

Km.: X-rù (ex.: gainyè 'tia materna' vs gainyerù 'tia-avó materna')

Sp.: X-lá (ex.: poynyé 'tio paterno do ego masc.' vs poynyelá 'tio-avô paterno do ego masc.')

Kt.: X-shi, X-bó (ex.: aña, ña 'tia paterna' vs añashi, añabó, ñashi, ñabó 'tia-avó paterna')

KX.: X-râ, X-ré (ex.: khukhú 'tio materno' vs khukhurâ, khukhure 'tio-avô materno')

Pp.: X-rae (ex.: anha, nha 'tia paterna' vs anharae, nharae 'tia-avó paterna')



 Na primeira parte, mencionei que iria trazer um termo neutro para cônjuge, a forma comum dos Nhihô de falar esse conceito é dizer que a pessoa era a figura materna ou paterna de seu filho, caso a pessoa não queira especificar o gênero do cônjuge ou este for não-binário, recomendo que seja utilizado o termo 'pessoa do casar', assim surgindo nos dialetos como:


Dz.: âcâphi

Kp.: etçãpi

Km.: atsappì

Sp.: eitseiphí

Kt.: ósóphi

KX.: âtsânphi

Pp.: aetsãepi



Continuando o assunto de pessoas em relações amorosas, também creio ser necessário um termo para namorado e namorada que não tenha uma conotação negativa como POÑE e WOÑU, portanto sugiro o termo 'desejado(a)' ou 'amado(a)', surgindo em cada dialeto como:


Dz.: dukhali, didhâmlâmli, didhâmli, dilâmli

Kp.: ducarí, disaeraerí, disaerí, diraerí

Km.: tìkkàlùi, tìsaràng'lùi, tìsàlùi, tiràng'lùi

Sp.: tíkhálí, tíseiléilí, tíséilí, tíléilí

Kt.: dukhari, disóróri, disóri, diróri

KX.: dukhari, disâlâri, disâri, dilâri

Pp.: dukari, disaeraeri, disaeri, diraeri


Seguindo ainda nesse tema, irei sugerir um neologismo para 'moça casadoura', versão feminina de PODITÃ, portanto 'garota jovem, adolescente', para manter essas duas palavras conectadas, irei juntar a palavra TÃ que significa 'novo (idade)' com o sufixo que denota o gênero feminino de cada dialeto, formando assim:


Dz.: tamke, tamzi

Kp.: tãké, tãdzi

Km.: tangtsùi

Sp.: tangkúi

Kt.: tanki

KX.: tãké, tãdzi

Pp.: tãkê, tãdzi




Autor da matéria: Ari Loussant


quinta-feira, 5 de janeiro de 2023

O USO DO SUFIXO -MENTE NAS LÍNGUAS KARIRI


 O sufixo -mente tem a função de modificar adjetivos e transformá-los em advérbios, como nas frases:


"ele rapidamente limpou a casa" ou "ela escreve freneticamente"


 Mamiani explica que os advérbios surgem dependendo de sua classe, todos surgem sem qualquer sufixo ou prefixo ou partícula, porém no Katecismo Indico de Nantes vemos que existe uma regra extra que Mamiani não mencionou no Kipeá (provavelmente um densenvolvimento dialetal do Dzubukuá), veja o exemplo da página 35:



tepèlèbwicli do idcebutte han y didhe Virgem Maria aboho uro han y Sãta Maria Magdalena , aboho han y dununhiu Apostoloa.


"Primeiramẽte apereceo a sua Mãy Santissima a Virgẽ Maria, ao depois Santa Maria Magdalena, & finalmẽte aos seus Apostolos, & Discipulos"



 Seguindo a regra das línguas Nhihô temos o verbo no começo da frase (tepèlèbwicli) e logo depois temos duas palavras (do idcebutte) que se traduzem como "à primeira coisa, lit.: à coisa da cabeça (cabeça nas línguas Nhihô também tem o sentido de primeiro, principal)" ou seja "primeiramente", demonstrando que opcionalmente, um falante de uma língua dessa família tinha uma maneira de formar advérbios. Sugiro que a construção seja usada de maneira similar a como foi usada no Dzubukuá, surgindo nas frases de todos os dialetos assim:


Dz.: dâ i-X-the/h-X-the/w-X-the

Kp.: dó i-X-té/s-X-té/si-X-té/su-X-té

Sp.: téi i-X-thé/s-X-thé/si-X-thé

Km.: tà i-X-ttè/s-X-ttè/si-X-ttè

Kt.: dó i-X-the/s-X-the/si-X-the/su-X-the

Kx.: dâ i-X-thé/s-X-thé/si-X-thé/su-X-thé

Pp.: do i-X-tê/s-X-tê/si-X-tê/su-X-tê


Nota: X é qualquer palavra que venha no meio deste circunfixo, a maneira como o circunfixo é construído dependerá da declinação da palavra, por exemplo, digamos que SU 'fogo' seja estendido para 'violento', e queiramos dizer 'violentamente', SU é da 5ª declinação e portanto surgiria no Kipeá como dó susuté 'violentamente', lit.: 'à coisa de fogo'.




Autor da matéria: Ari Loussant



quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

TERMOS DE PARENTESCO DIALETOS DO SUL, DZUBUKUÁ E KATEMBRI


Termos de parentesco para os dialetos do Sul, Dzubukuá e Katembri, Parte 1.5



 Este texto será referente somente às designações não familiares. Tenho uma teoria sobre a primeira sílaba das palavras para menino e menina, caso eles não sejam prefixos da terceira pessoa fossilizados, é possível que i fosse uma palavra sinônima de *ngə 'criança', por isso Mamiani teria anotado INGHE, pois o I na frente era um sinônimo de NGHE, outra coisa que pode indicar que não se trata de um prefixo fossilizado e sim uma palavra é o fato de ambos o Dzubukuá e Kipeá terem colocado o prefixo u- da quinta declinação na frente do i-, portanto i-nu e i-ki significariam literalmente 'criança-descendente' e 'criança-garota' respectivamente. Retirei o prefixo da frente do Kamurú e do Sapuyá pois ele faz parte da declinação de posse, ou seja, ele tem uma função mais específica do que a dos dialetos do norte.


 O termo para adulto só surge duas vezes, somente no dialeto Kipeá, tornando sua reconstrução extremamente difícil de ser feita, portanto todos os termos aqui são baseados na fonética do Kipeá e contam como empréstimos dessa língua.


 A palavra para velho do Kipeá é renghe (renge), creio firmemente que esta palavra se separa como RE-NGE, baseio essa hipótese na possível conexão da primeira sílaba (RE), com a segunda sílaba da palavra para velho do Dzubukuá, que é anrodce (amroce), não sei dizer se essa palavra é um schwa ou um i grosso, isso se deve pelo fato de que ela também pode ser o mesmo que RU de rute 'velha', portanto para a palavra poder virar RU, RE e RO, a vogal mais capaz de fazer tais mudanças seria o i grosso (cf.: am(oe)dha vs am(ŷ)sã e m(i)sã vs m(u)ssang vs m(u)ssoeh). A sílaba nge é difícil de traduzir, é possível que seja um sinônimo de RE, portanto formando um composto de sinônimos, velho-velho (RE-NGE).


 A palavra para viúva (tidzocodo) é difícil de traduzir, mais uma vez Mamiani não registrou em lugar algum a tradução dessa palavra, podemos facilmente presumir que tidzo é mulher, portanto codo seria o modificador, porém o significado de codo não foi registrado, um neologismo será sugerido na parte 2.


 A palavra para adolescente é muito provavelmente um composto de 2 ou 3 palavras, ainda não fui capaz de analisar PODI, porém existe a possibilidade de TÃ está relacionado ao *tə̂m ‘novo’ do Proto-Macro-Jê, seja a partir de um empréstimo do Proto-Cerrado ou por talvez sendo um cognato distante deste, herdado a partir do Proto-Macro-Caribe.


 A palavra que significa 'mancebo em má parte', talvez seja uma forma de dizer 'bastardo', a palavra é um composto entre o verbo BŶTÓ 'fornicar', ou seja 'transar' e TE, que provavelmente é o sufixo nominalizador, portanto sendo algo como 'coisa (resultado) do sexo', o que pode implicar que isso era um termo pejorativo.


 A palavra para 'namorado(a) em má parte', isto é, 'amante', deriva da palavra POÑE 'desonesto, fazer desonestidade, andar de amores', o último significado é uma extensão dos dois primeiros, essa palavra é provavelmente mais um exemplo de composto de sinônimos, ou pelo menos, de palavras aproximadas semanticamente, sugiro que sejam reconstruídas como *PO 'desonesto, desleal' e *ÑE 'desonesto, desleal' até os significados específicos de cada um serem esclarecidos.


 O termo comborça também é praticamente falando uma amante, a palavra deriva do verbo WOÑU 'ter ciúmes', é possível que a palavra fosse mais usada para amantes do sexo feminino, porém o termo em si se origina de uma palavra sem gênero específico, portanto também irei traduzir como amante, pois não sabemos a extensão real do significado dessa palavra por conta do contexto cristão em que foi inserida.


 A palavra para varão tem alguns elementos que eu discuti no passado, as línguas dessa família adoram repetir o mesmo tema duas ou três vezes, devido à abundância de homófonos, a palavra pode ser reconstruída como *muɲəcə ou *mɨɲəcə, se a palavra miukoh que surge no Sapuyá for cognato do munhakie do Dzubukuá e do mŷnhekiá do Kipeá, isso implica que o elemento do meio *ɲə (ÑAE) é opcional, o que implica que seu significado não altera o composto, sendo portanto um sinônimo. O mu, mŷ ou miu provavelmente derivam do adjetivo *mu 'curto', ou talvez seja uma palavra por si só que significa 'jovem', compare com o Proto-Caribe *mure que significa 'criança' e 'pequeno'. Caso o fonema ɲ (Ñ) de *ɲə não seja obrigatório, é possível que seja cognato do nang de tschibarinang do Kamurú, sendo algo como 'criança, jovem'. Por último temos *cə , não há muito o que dizer, essa palavra muito provavelmente também significa algo como 'criança, jovem, guri, moleque' e etc.


 A palavra para moça casadoura é extremamente difícil de se traduzir, o único elemento similar entre essa e o moço é a sílaba DI e isso não necessariamente implica relação direta entre as duas palavras, a palavra Dzubukuá também é quase idêntica, então não há muito o que estudar aqui, um neologismo será sugerido na parte 2 para cada dialeto, as formas que surgirão nos dialetos do sul serão empréstimos do norte.


1) Criança (termo genérico)

Dz.: ingâ, i, ngâ

Km.: ingà, ì, ngà

Sp.: ingéi, í, ngéi

Kt.: ingó, i, ngó



2) Menino

Dz.: wiñu

Km.: inù, inyù

Sp.: inú, inyú

Kt.: vinu, viñu


3) Menina

Dz.: ki, iki

Km.: kì, ikì

Sp.: kí, ikí

Kt.: ki, iki


4) Adulto (empréstimo do Kipeá)

Dz.: horocam

Km.: sorotsàng

Sp.: sorotsáng

Kt.: sorosan


5) Velho

Dz.: amrâcâ, rânge

Km.: ang'ratsà, rangè

Sp.: ang'reitséi, reingé

Kt.: anrósó, rónge


6) Velha

Dz.: ruthe

Km.: ruttè

Sp.: ruthé

Kt.: ruthe


7) Solteiro ou Solteira (termo sem gênero)

Dz.: ene, enethe

Km.: enè, enettè

Sp.: ené, enethé

Kt.: ene, enethe


8) Viúva

Dz.: tidzâkodo

Km.: tsuitsùikotò

Sp.: kuitsikotó

Kt.: tizikodo


9) Adolescente, mancebo antes de casar

Dz.: politam

Km.: potitàng

Sp.: potitáng

Kt.: poditan


10) Namorado ou Namorada em má parte, Amante (termo sem gênero)

Dz.: poñe

Km.: ponyè

Sp.: ponyé

Kt.: poñe


11) Comborça, amante (provavelmente sinônimo do de cima, termo sem gênero)

Dz.: woñu

Km.: wonyù

Sp.: wonyú

Kt.: woñu


12) Moço já casadouro, varão

Dz.: munhâkyâ

Km.: parinàng, parì, nàng, munyacà, mù, nyà, cà

Sp.: myukéi, myú, kéi, munyeicéi, mú, nyéi, céi

Kt.: prézénuda, miñóshó, mi, ñó, shó


13) Moça já casadoura

Dz.: tibudinâ

Km.: tiputinà

Sp.: tiputinéi

Kt.: tibudinó



Autor da matéria: Ari Loussant


NEOLOGISMOS: DIRIGIR, A PALAVRA QUASE E O AFIXO SEMI-


 O primeiro neologismo que irei sugerir é a palavra para 'dirigir, pilotar', posso sugerir algumas derivações de verbos e substantivos já existentes, comecemos com o verbo 'levar', este pode ser estendido para 'guiar' e portanto 'dirigir, pilotar', em cada dialeto ele surgiria como:


Dz.: mû

Kp.: mŷ

Sp.: mú, múi

Km.: mù, mùi

Kt.: mi

Kx.: mû

Pp.: mý


 O próximo deriva de um dos substantivos que significa 'chefe, principal', podemos estender o significado para 'governar, comandar (veículo)' e depois para 'dirigir, pilotar', portanto criado em cada dialeto a palavra:


Dz.: ñe

Kp.: nhe

Sp.: nyé

Km.: nyè

Kt.: nhé

Kx.: nhê


 Caso fique difícil distinguir estes verbos de algum verbo já existente, eles podem se juntar para formar um composto de sinônimos, criando em cada dialeto:


Dz.: mûñe ou ñemû

Kp.: mŷnhe ou nhemŷ

Sp.: munyé/muinyé ou nyemú/nyemúi

Km.: munyè/muinyè ou nyemù/nyemùi

Kt.: miñe ou ñemi

Kx.: mûnhé ou nhemû

Pp.: mŷnhê ou nhêmý



Alguns exemplos de como utilizar esse novo verbo


1) PT: "dirigi a noite toda"


Dz.: mûñe kli/ñemû kli ghiâcâ khaya lobâ

Kp.: mŷnhékrí/nhemŷkrí hietçã cayá robae

Sp.: mu(i)nyé lí/nyemú(i) lí gíeitséi khayá lopéi

Km.: mu(i)nyè lùi/nyemú(i) lùi gíatsà khayà lopà

Kt.: miñe kri/ñemi kri ghiósó khaya robó

Kx.: mûnhé kri/nhemû kri ghiâtsã khayá robâ 

Pp.: mýnhekri/nhemýkri ghiaetsãe kaya robae 




2) "Eu sei dirigir" ou literalmente 'é sabido dirigir por mim'


Dz.: nâco bâ mûñe/ñemû ghiña

Kp.: netçó bae mŷnhé/nhemŷ hinhá

Sp.: neitsó péi mu(i)nyé/nyemú(i) gí nyéi

Km.: natsò là mu(i)nyè/nyemù(i) gì nyà

Kt.: nóso bó miñe/ñemi ghiñó

Kx.: nâtsó bâ mûnhé/nhemû ghinhá

Pp.: naetso bae mýnhe/nhemý ginha



Caso ainda seja difícil distinguir, é possível adicionar no final do composto a palavra BA / PA 'carro, veículo' para criar *mɨɲeba ~ ɲemɨba , lit.: 'dirigir-dirigir-carro', portanto:


Dz.: mûñeba ou ñemûba

Kp.: mŷnheba ou nhemŷba

Sp.: mu(i)nyepá ou nyemu(i)pá

Km.: mu(i)nyepà ou nyemu(i)pà

Kt.: miñeba ou ñemiba

Kx.: mûnhebá ou nhemûbá

Pp.: mýnheba ou nhemýba



 Em qualquer forma que o verbo for adotado, ele cairá na primeira declinação de Mamiani ou a primeira declinação dos dialetos do sul (declinação para palavras que começam com consoante).





A palavra para quase e o afixo semi-


 Estes neologismos irão adicionar para os dialetos da família Nhihô palavras que indicam proximidade de completude (quase, Lat.: PAENE) e metade (Lat.: DIMIDIUM e SEMI-), derivarei estes dois conceitos primeiramente do verbo 'estar chegado/próximo', em cada dialeto será assim:


Dz.: de, di

Kp.: dé, dí

Sp.: té, tí

Km.: tè, tì

Kt.: de, di

Kx.: dé, dí

Pp.: dê, di


 A forma como ele será usada é que será colocado logo após o verbo, por exemplo, em Sapuyá:


gí leingpú lí té/tí "eu quase acabei", lit.: "eu acabei perto/quase"


Em Pipipã:


gidopribae dê, di "eu quase comi tudo" lit.: "eu comi totalmente perto/quase"



Em palavras que indicam a proximidade do final de algo, digamos por exemplo, penúltimo, essa palavra se tornará um afixo, se ele será um prefixo ou sufixo dependerá da escolha dos falantes:


Kamurú: tìtètsàlùi ou tìtsàtèlùi "penúltimo", lit.: "aquele que está quase na ponta"


Dzubukuá: dideñali ou diñadeli "moribundo", lit.: "aquele que está quase morto"



Nota: Eu escolhei de/te para este exemplo, porém di/ti também pode ser usado igualmente.



 Para a palavra e afixo semi, eu escolhi duas raízes para derivar, uma significa 'repartir' e a outra 'cortar, quebrar', ambas podem ser estendidas para 'repartir no meio' e 'cortar/quebrar no meio' respectivamente:


Dz.: na, phâ

Kp.: ná, pó

Sp.: ná, phéi

Km.: nà, ppà

Kt.: na, phó

Kx.: na, phâ

Pp.: na, pae


 O substantivo (metade) pode ser derivado imediatamente do verbo, sem alterá-lo, porém caso seja realmente necessário distinguir o verbo do substantivo, deve ser utilizado um dos sufixos nominalizadores -te ou -y/-i, portanto:


Dz.: nay/nathe e phây/phâthe

Kp.: naí/naté e poí/poté

Sp.: náy/nathé e phéiy/pheithé

Km.: này/nattè e ppày/ppattè

Kt.: nay/nathe e phóy/phóthe

Kx.: náy/nathé e phây/phâthe

Pp.: nai/natê e paei/paetê


 A palavra pode ser usada como um prefixo ou sufixo, a escolha dependerá do falante da língua:


Exemplo em Kamurú: kayakù 'lua' > nakayakù/ppakayakù ou kayakunà/kayakuppà 'meia-lua'



Autor da matéria: Ari Loussant


terça-feira, 3 de janeiro de 2023

PARENTESCO DOS DIALETOS DO SUL, DZUBUKUÁ E KATEMBRI


Termos de parentesco para os dialetos do Sul, Dzubukuá e Katembri



 Sabemos graças à Mamiani, e posteriormente, Pompeu Sobrinho e Aryon Rodrigues muitos detalhes sobre a organização familiar do povo Kipeá e os termos utilizados por eles para cada um destes parentes, temos menções vagas sobre uma estrutura similar sobre a família do povo Dzubukuá, no entanto não nos sobrou muitos termos desta língua ou dos dialetos do sul e não sobrou nada para o Katembri, então decidi hoje reconstruir estes termos, tendo como base a organização do povo Kipeá.


 Parte 1


Comecemos com o termos baseados nos parentes da mesma geração que a pessoa ou Ego:


1) Irmãos e Irmãs


a) Irmão mais novo:

Dz.: bûrâm

Km.: buràng, bulàng

Sp.: bulé, buléi

Kt.: biro, biró


b) Irmã mais nova:

Dz.: bûkâ

Km.: bukkà

Sp.: pukhéi

Kt.: biko, bikó


c) Irmão mais velho:

Dz.: phopho

Km.: ppoppò

Sp.: phophó

Kt.: phopho


d) Irmã mais velha:

Dz.: zeze, zêzê

Km.: tsetsè, tsaitsài

Sp.: tsetsé, tsaitsái

Kt.: zeze, zézé


2) Primos e Primas


 O termo para primos em Kipeá são os mesmo utilizados para os irmãos, a única diferença é a utilização da palavra mani 'longe, distante', fiz uma tradução similar para cada um destes dialetos, a palavra deve vir logo depois da palavra para representar o significado de primo, por exemplo, no Sapuyá, prima mais velha seria tsetsé tamá.


Dz.: X mani

Km.: X tamà

Sp.: X tamá

Kt.: X mani


 Indo agora para a primeira geração ascendente, isto é, a geração dos pais, mães, tios e tias, veremos termos diferentes que dependem do sexo do Ego, irei especificar logo ao lado qual gênero deve falar o termo.


3) Pai e Mãe


a) Pai:

Dz.: pazu

Km.: laykò

Sp.: poytsú

Kt.: pazu, pózu


b) Mãe:

Dz.: dê, dhê

Km.: gài

Sp.: gái

Kt.: dé, zhé


4) Tio e Tia


a) Tia, irmã ou prima do pai

Dz.: aña, ña

Km.: anyà, nyà

Sp.: anyá, nyá


b) Tia, irmã ou prima da mãe

Dz.: dêdeñe, dhêdeñe

Km.: gainyè, gaitenyè

Sp.: gainyé, gaitenyé

Kt.: dédeñe, zhédeñe


c) Tio, irmão ou primo do pai (ego feminino)

Dz.: padeñe, paydeñe

Km.: lanyè, latenyè

Sp.: peinye, peitenye

Kt.: pañe, póñe, padeñe, pódeñe


d) Tio, irmão ou primo do pai (ego masculino)

Dz.: paye, payem

Km.: layè, layèng

Sp.: poyé, poyéng

Kt.: paye, payen, póye, póyen



e) Tio, irmão ou primo da mãe

Dz.: khukhu

Km.: kkukkù

Sp.: khukhú

Kt.: khukhu

 

 Agora para segunda geração ascendente, isto é, a dos avôs e avós, note que não existem termos específicos para os irmãos destes parentes, provavelmente por que provavelmente eram chamados pelo mesmo termo segundo Aryon Rodrigues, irei discutir isso melhor na "Parte 2: Neologismos"


5) Avô e Avó


a) Avó:

Dz.: ñikâ, ñike

Km.: nyikà, nyikè

Sp.: nyiká, nyiké

Kt.: ñikó, ñike


b) Avô:

Dz.: tho

Km.: ttò

Sp.: thó

Kt.: tho


 As próximas serão as gerações descendentes, começando pela primeira, que é dos filhos e sobrinhos, os termos para filhos são idênticos para ambos os egos, porém os termos para sobrinhos e sobrinhas são diferentes. Não existe designação que depende de idade, ou seja, filho mais novo, filho do meio e filho mais velho são referidos da mesma maneira, neologismos serão sugeridos na próxima parte.


6) Descendente, Filho e Filha


a) Descendente (palavra sem gênero específico):

Dz.: nu, ñu

Km.: nù, nyù

Sp.: nú, nyú

Kt.: nu, ñu


b) Filho (gênero masculino):

Dz.: nurâ, ñurâ

Km.: nuràng, nyuràng

Sp.: nuléi, nyuléi

Kt.: nuró, ñuró


c) Filha:

Dz.: nutizâ, ñutizâ

Km.: nutsuitsùi, nyutsuitsùi

Sp.: nukuitsí, nyukuitsí

Kt.: nutizi, ñutizi


7) Sobrinhos e Sobrinhas


a) Sobrinho, filho do irmão ou primo ou filho do irmão ou primo de sua cônjuge (ego masculino):

Dz.: nuaña, ñuaña, nuña, ñuña

Km.: nuanyà, nyuanyà, nunyà, nyunyà

Sp.: nuanyá, nyuanyá, nunyá, nyunyá

Kt.: nuaña, ñuaña, nuña, ñuña


b) Sobrinho, filho do irmão ou primo ou filho do irmão ou primo de seu cônjuge (ego feminino):

Dz.: zom, zâm, zo, zâ

Km.: tsòng, tsàng, tsò, tsà

Sp.: tsóng, tséing, tsó, tséi

Kt.: zom, zóm, zo, zó


c) Sobrinho, filho da irmã ou prima ou irmã ou prima de sua cônjuge (ego masculino):

Dz.: the

Km.: ttè, ningbì

Sp.: thé, ningbí

Kt.: the


d) Sobrinha, filha do seu irmão ou primo ou irmão ou primo de seu cônjuge (Ego feminino):

Dz.: yâhe

Km.: yahè

Sp.: yeihé

Kt.: yóhe


e) Sobrinha, filha do seu irmão ou primo ou irmão ou primo de seu cônjuge (Ego masculino):

Dz.: nutizâña, ñutizâña

Km.: nutsuitsuinyà, nutsuinyà

Sp.: nukuitsinyá, nukuinyá

Km.: nutiziña, ñutiziña


f) Sobrinha, filha de sua irmã ou prima ou irmã ou prima de seu cônjuge (ego masculino):

Dz.: bâke, bâkâ

Km.: pakà, pakè

Sp.: peikéi, peiké

Kt.: bókó, bóke


g) Sobrinha, filha de sua irmã ou prima ou irmã ou prima de seu cônjuge (ego feminino):

Dz.: theña

Km.: ttenyà

Sp.: thenyá

Kt.: theña


 Seguindo para a segunda geração descendente, de netos e netas.


8) Neto e Neta


a) Neto:

Dz.: the

Km.: ttè, ningbì

Sp.: thé, ningbí

Kt.: the


b) Neta:

Dz.: thekâ, theke

Km.: ttekà, ttekè

Sp.: thekéi, theké

Kt.: thekó, theke



 Agora iremos para as relações de casamento, comecemos com os parentes daqueles que se casam, já que só existe um termo para sogro e sogra, seguindo logo após para os termos para genro e nora, terminando com os termos para os cônjuges. Devo lembrar que alguns termos aqui são conjugáveis e indicam a posse da pessoa referida, por exemplo, em Dzubukuá um 'padzuinu' seria o 'pai do descendente dele/dela', esse -i- entre padzu e nu serve para indicar de quem ele é o pai, portanto também indica de quem ele é o marido, por exemplo, padzughinu seria 'pai do meu descendente', id est 'meu marido', e por aí vai


9) Sogro e Sogra


a) sogro/sogra (termo sem gênero específico)

Dz.: cakha, zakha

Km.: tsakkà

Sp.: tsakhá

Kt.: zakha


10) Genro e Nora


a) Nora (lit.: senhora dos netos dele, conjugável)

Dz.: ihe ithe

Km.: ì sì ì ttè

Sp.: í sé í tté

Kt.: ye ithe


b) Genro

Dz.: mûthe

Km.: muittè

Sp.: muithé

Kt.: mithe


11) Cônjuges (termo neutro será discutido na Parte 2)


a) Marido (lit.: pai do descendente dele, conjugável)

Dz.: ipadzu inu

Km.: ì laykò ì nù

Sp.: í poytsú í nú

Kt.: ipózu inu


b) Esposa (lit.: mulher do descendente dele, conjugável)

Dz.: idê inu

Km.: ì gài ì nù

Sp.: í gái í nú

Kt.: idé inu


 Agora para os termos de parentes não consanguíneos, ou seja, adotivos, todos utilizam dos termos já discutidos anteriormente, apenas sufixando as palavras com 'yeta/yenta' no Dzubukuá e Kipeá respectivamente, ambas as palavras são consistentes com as duas últimas sílabas do verbo 'neyeta/neyenta' que significa desejar, o que implica que o significado dessas palavras seria algo como 'parente desejado' ou 'parente querido', assim como Rodrigues disse, seria similar ao angab do Tupi.


12) Pai e Mãe adotivo


a) Pai adotivo

Dz.: padzuyetha

Km.: laykò yengttà

Sp.: poytsú yethá

Kt.: pózuyentha


b) Mãe adotiva

Dz.: dêyetha

Km.: gài yengttà

Sp.: gái yethá

Kt.: déyentha


13) Descendentes adotivos


a) Descendente adotivo:

Dz.: nuyetha

Km.: nù yengttà

Sp.: nú yethá

Kt.: nuyentha


b) Filho adotivo:

Dz.: nurayetha

Km.: nuràng yengttà

Sp.: nuléi yethá

Kt.: nuróyentha


c) Filha adotiva:

Dz.: nutizâyetha

Km.: nutsutsùi yengttà

Sp.: nukutsí yethá

Kt.: nutiziyentha


 Os próximos termos serão referentes à relação de famílias e compatriotas, basicamente são termos usados paras famílias de uma nação e às pessoas que são parte da mesma nação ou geração que você. Caso não seja um termo independente, a palavra para parente é provavelmente derivado da palavra para 'muito'. O parente ao longe e o parente próximo utilizam da mesma raíz *ətsə 'pessoa' para formar um composto, os dois elementos finais provavelmente são mɨ 'ao lado' e ho 'outro'


14) Parentes


a) Parente (termo genérico), membro da mesma família:

Dz.: buighâ, buyâ, ghâ, yâ

Km.: puggà, puyà, ggà, yà

Sp.: puchéi, puyéi, chéi, yéi

Kt.: bughó, buyó, ghó, yó


b) Parente chegado, consanguíneo:

Dz.: buighâizâ, buyâizâ, ghâizâ, yâizâ

Km.: puggà tsà, puyà tsà, ggà tsà, yà tsà

Sp.: puchéi tséi, puyéi tséi, chéi tséi, yéi tséi

Kt.: bughózan, buyózan, ghózan, yózan


c) Parente ao longe ou da mesma nação:

Dz.: âcâmû

Km.: atsamù

Sp.: eitseimú

Kt.: ósómi


d) Parente próximo, do mesmo tronco ou da mesma geração:

Dz.: âcâho

Km.: atsahò

Sp.: eitseihó

Kt.: ósóho


15) Antepassados


a) Antepassado (termo genérico, sem gênero específico):

Dz.: thokeñe

Km.: ttokenyè

Sp.: thokenyé

Kt.: thokeñe



Autor da matéria: Ari Loussant


domingo, 1 de janeiro de 2023

AS ORIGENS KARIRI-XOCÓ 8


BIBLIOGRAFIA 




- ALMEIDA, Geraldo Gustavo de. Heróis Indígenas do Brasil. Memórias sinceras de uma raça. Rio de Janeiro: Catedra, 1988 .


- ALMEIDA, Rita Heloisa de. O Diretório dos Índios: um projeto de civilização no Brasil do século XVIII. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1997.


- ATLAS DAS TERRAS Indígenas do Nordeste. Projeto Estudo sobre Terras Indígenas no Brasil (PETI). Rio de Janeiro: Museu Nacional/UFRJ, Dezembro de 1993.


- ANTUNES, Clóvis. Wakona-Kariri-Xukuru : aspectos sócio-antropológicos dos 

remanescentes indígenas de Alagoas. Maceió : UFAL, 1973. 


- ANTUNES, C. Índios de Alagoas: Documentário. Governo do Estado de Alagoas. Maceió, 1984.


- ARRAES, Damião Esdras Araújo. Curral e reses, curral de almas: urbanização do sertão nordestino entre os séculos XVII e XIX. Dissertação (Mestrado de História ) – FAUUSP. São Paulo, 2012.


- ARRUTI, José Maurício P. Andion. “Etnias Federais” : o processo de identificação de “ remanescentes ” indígenas e quilombolas no Baixo São Francisco. Tese (Doutorado) Museu Nacional-UFRJ. Rio de Janeiro, 2002 .


- BAPTISTA, João Gabriel. Etnohistória indígena piauiense. Ed. Universitária – UFPI, APL, Teresina. 1994. 


- BARBOSA, Maria José . Terras, Índios e Mestiços em Pernambuco no Século XIX . Rio de Janeiro,20 de junho de 2011.


- BANTON, Michael. Martins Fontes.

A idéia de raça. 1979, São Paulo.


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AS ORIGENS KARIRI-XOCÓ 7


Fortalecimento Étnico 



         No princípio os estudos sobre os indígenas despertava os interesses da sociedade,estado e a igreja. Mas como introduzir nova fé se o nativo não compreendiam a língua civilizada, nem tão pouco os missionários entendiam o idioma dos indígenas. Portando era hora de aprender em ambas as culturas, foram produzidas gramáticas, catecismo, o índio passou a estudar no colégio da missão e foi assim no início.

          Os aldeamentos foram evoluindo criando várias cidades no interior do nordeste, vieram chegando mais portugueses e a mão-de-obra escrava, junto aos nativos criando os municípios do Baixo São Francisco. Muitos documentos foram produzidos, que estão guardados  nos Arquivos Ultramarinos, curias, bibliotecas da Europa e do Brasil.

          Os estudiosos do Brasil e do exterior produziram muitos materiais que poderemos conectar os fatos do passado para compreender o presente, também uma oportunidade de estudar preservando esta memória como um patrimônio da humanidade.



1 ) - ABACATIARA OU DZUBUCUA-CARIRÍ, Abacatiara, Abacatuara, Obacatiara ou Dzubucua-Carirí. Tapuias cariris, residiam nas ilhas de Pambu ou Gambu, Oacará, Cavalo, em 1702, e em Arapuá (Irapuá ou Iraquiá) e Inhamum ou Unhunhu, em 1746. (J. C. SILVA, 2003: 167).


2 ) - ABACATIARA EM S. PEDRO, Em 1898 estavam assentados entre Belo Monte e Pão de Açúcar, em Alagoas, na ilha de S. Pedro Dias, cujo nome é uma homenagem a um missionário jesuíta nascido na região, conforme referência anterior. (J. C. SILVA, 2003: 167).


3 ) - GRUPO KARIRI DO GERU, Tendo frei Bernardo de Nantes esclarecido que a língua dos Kariris do Rio São Francisco ( Pernambuco ), era a mesma do grupo Kariri do Geru ( Sergipe ), achou por bem não repetir as regras gramaticais já expostas na Arte de Gramática do Jesuíta Luiz Vincencio Mamiani, acima aludidas . ( SIQUEIRA, 1978 : 269 ).


4 ) - DIALETOS KARIRI, É que a língua Cariri, como muito bem diz mestre Rodolfo Garcia, oferece dialetos distintos onde se destacam o Kipéa, do Geru ( Sergipe ), o Dzubucúa das ilhas circunjacentes à Aracapá. ( SIQUEIRA, 1978 : 282 ).


5 ) - OS DZUBUKUÁ-KARIRI, Os documentos históricos sugerem uma possível descendência dos índios de Porto Real do Colégio dos Dzubukuá-Kariri, antiga tribo habitante da metade ocidental do arco formado pelo submédio São Francisco, relatada pelos missionários capuchinhos Martinho e Bernardo de Nantes (respectivamente, 1707 e 1709, apud DANTAS, 1992, 432).


6 ) - DESCENDENTES TUPINAMBÁ, Segundo informa FERRARI, 1956, equivocadamente, alguns tratadistas consignam que os moradores de Colégio eram descendentes dos Tupinambá, como indica Thomaz de Bonfim ESPINDOLA ( 1871, p. 248 ).


7 ) - FAMÍLIA LINGÜÍSTICA, Todavia, levando em conta os estudos clássicos, que remontam a Luís Vicencio Mamiani (1698), Martin de Nantes (1706) passando por Von Martius (1863), Nimuendaju, em trabalho publicado por Lowie (1946), classifica o idioma Kariri em quatro dialetos distintos: DZUBUKUA, KIPEA, PEDRA BRANCA (KAMURU) e SAPUYA; localiza dezesseis grupos pertencentes a esta família lingüística, dentre os quais os grupos do Rio São Francisco e entre estes os remanescentes de Porto Real do Colégio. (MATA, 2014: 40).


8 ) - ÍNDIOS DE COLÉGIO DZUBUKUA, 

os remanescentes de Porto Real do Colégio. Considera que este grupo pertence ao contingente de fala DZUBUKUA e que estaria misturado com outros grupos extintos do Baixo São Francisco, em decorrência do processo de aldeamento jesuítico aplicado na região. (MATA, 2014: 40).


9 ) - COMO LÍNGUA FRANCA, Queiroz afirma que “tal como o Tupi da Costa, a língua dos Kariri foi adotada como língua franca, servindo como um instrumento de comunicação entre os religiosos e uma significativa parcela dos povos nativos que habitavam, na época, as proximidades do São Francisco” ( QUEIROZ, 2008, 35).


10 ) - NOVA IDENTIDADE, Os índios ao mesclar ritos e significados tupis e católicos no seu culto e no seu modo de viver criaram uma nova identidade para aquela coletividade. Essa identidade não surgiu isoladamente, ela se afirmou diante da oposição do “outro” (o branco, colonizador, senhor de terras, católico), oposição à sua religião, ao seu projeto de sociedade, a escravidão indígena. (GEYZA SILVA, 2004: 14).


11 ) - CARIRI DENOMINAÇÕES, Cariri, Cayriris, Caririzes, Kareriz, Kaririz, Kiriri, Kiririzes, Quiriris. Embora ocupassem uma grande extensão territorial que ia do noroeste da Bahia e Sergipe ao Araripe, (...) Aparentemente Cariri e Caruru são um mesmo etnônimo com grafias diferentes e homofonia igual na língua francesa, por exemplo. Cariri, do ponto de vista lingüístico, constitui uma família reduzida. (Urban 1998).  (J. C. SILVA, 2003: 172-176).


12 ) - MISSÕES RELIGIOSAS CARIRI, 

Sua catequese teve início com o Padre João de Barros que os aldeou em 1650. Depois desse catequista, estiveram sob a direção de diferentes ordens religiosas nas missões Canabrava, Natu e Saco dos Morcegos, na Bahia, Geru (Juru, Jeru, atual Lagarto), em Sergipe e no Rio Real, dirigidos por carmelitas. (J. C. SILVA, 2003: 172-176).


13 ) - ENTRE OS COLONOS BRANCOS, 

Os Kiriri do Geru teriam sido, portanto, mais uma das tribos a compor a parentela nativa dos d’Ávila. Nas primeiras décadas do século XVIII, os indígenas dessa missão começaram a fugir e homiziar-se entre os colonos brancos (Góes Dantas 1973). Ainda em Sergipe, chamavam-se corirés e habitavam na aldeia do Rio Real da Praia e Propriá, segundo Góes Dantas (1987) . (J. C. SILVA, 2003: 172-176).


14 ) - CARIRI DA ALDEIA SÃO BRÁS, 

Hohenthal (1960), informa, por sua vez, que a Aldeia São Brás, da Missão de Nossa Senhora do Ó, perto de Penedo, em 1749, tutelada por jesuítas, era habitada por Cariri. Nessa aldeia, os nativos ainda pagãos eram chamados narves, o mesmo que alarves para o Padre Antonio Vieira. (J. C. SILVA, 2003: 172-176).


15 ) - CARIRIS DO LESTE, Os Cariri constituíram o grupo de mais alto nível tecnológico dentre os demais do leste brasileiro. Cultivavam mandioca, milho, feijão e algodão, dormiam em rede de 12 a 14 pés por 6 a 7 pés, capaz de conter quatro homens ou ao ar livre em volta de fogueiras, fabricavam cerâmica roletada, construíam cabanas de pau-a-pique cobertas de palha ou ramagem. J. C. SILVA, 2003: 172-176).


16 ) - DESIGNAM UMA ASCENDÊNCIA, 

quando um Kariri-Xocó se refere a seus ancestrais, não o faz traçando uma genealogia que lhe seja própria. “Nossos avós”, “Nossos tronco” designam uma ascendência comum ao grupo. Parece-nos que se atribui maior importância a uma ancestralidade que o legitime enquanto membro do grupo e por extensão, índio. (MATA, 2014: 118).


17 ) - PARTILHA DE IDENTIDADE, No entanto, não se pode descartar a importância da etnia como fator 

aglutinador, que lhes propicia o desenvolvimento de um sentido de pertinência a um grupo mais amplo que partilha de identidade e interesse comuns (GRILLO, 1974, P. 159). ( MATA, 2014: 119).


18 ) - COMO GRUPO ÉTNICO, Fazendo nossas palavras de Banton (1979, p. 171): “É relativamente fácil para os membros de uma minoria identificarem-se como grupo étnico, se vivem numa sociedade que reconhece a etnicidade e na qual se esperava que as pessoas tenham uma identidade étnica... Porém é mais difícil atingir este objetivo numa sociedade que define as divisões étnicas como ilegítimas ou transitórias”. (MATA, 2014: 160-161).


19 ) - DIREITO ÀS SUAS HERANÇAS, 

Apesar de viverem juntos há quase um século; os índios de Colégio ainda 

acionam, em certos contextos, como identidades que ora se opõem, ora se 

complementam, sua condição de Kariri ou Xocó, ou seu direito às suas heranças. (MATA, 2014: 141-142).


20 ) - RECEBIDOS ENTRE OS KARIRI, o Posto Indígena, ao ser criado, 

identificava o grupo sob sua proteção, como KARIRI. Entretanto, o grupo detém como parte importante de sua história a expulsão dos Xocó da ilha de São Pedro, a forma como foram recebidos entre os Kariri, bem como as tentativas de voltar em diversos momentos do passado. (MATA, 2014: 141-142).


21 ) - UNIÃO ÉTNICA NO RITUAL, 

quando existia a festa religiosa dos Xocós, que era situada em Sergipe, na ilha de São Pedro, os Kariris iam para as festividades. Quando era as festividades dos Kariri, vinha nessa irmandade perfeita. Foi quando os Xocós foram expulsos. O chefe político expulsou meus avós de lá. Então vieram e se alojaram aqui. Então eu já sou neto dos mais velhos dos Xocós. Mas está misturado, existe mistura grande. Quando o Xocó não é casado com a Kariri, o Kariri é casado com o Xocó. Hoje a família está unida”. (MATA, 2014: 142-143).


22 ) - ASCENDÊNCIA GENÉRICA, o termo “avô” também identifica esta 

ascendência genérica: “Sou filha de Porto Real do Colégio. Sou Kariri, Xocó e Pankararu. O meu pai era filho do natural de Pankararu, Pernambuco. Meus “avores” (avós) filhos natural de São Pedro, Sergipe. Então eu posso freqüentar três aldeias. Porque eu sou Kariri, Xocó e Pankararu”. (MATA, 2014: 145-146).


23 ) - A CATEGORIA ÍNDIO, Embora criada pela sociedade colonizadora, a categoria índio foi apropriada pelos diferentes grupos tribais, dando-lhe uma dimensão de unidade nacional. Esta identidade coletiva, em lugar de ser generalizadora e vazia, exerce o papel de aglutinar as populações mais diversas que se articulam politicamente em torno das mesmas reivindicações. (MATA, 2014: 147).


24 ) - INDICADORES DE INDIANIDADE, 

Criou também, pelo menos entre alguns do nordeste, um laço de 

pseudo-perentesco, através da crença de que todos os índios são irmãos de sangue. Paradoxalmente a FUNAI, em 26 de janeiro de 1981, através da Instrução Técnica Executiva nº 12, estabelece o sangue como um dos “Indicadores de Indianidade”. Se os índios usam a expressão dentro dos princípios de uma possível consangüinidade através de grupos sanguíneos. (MATA, 2014: 147).


25 ) - MEU SANGUE É LIMPO, Contudo, como outros setores da sociedade nacional, os Kariri-Xocó acreditam que sua unidade é transmitida do sangue. Em 1981, uma das mais antigas moradoras de Colégio, descendente de Inocêncio Pires, o famoso índio Xocó ao qual já nos referimos anteriormente, dizia: “sou cabloca, meu sangue é limpo, de família. É de raiz. Tire aí! O médico diz: eita cabocla limpa danada”. (MATA, 2014: 147). 


26 ) - NOÇÃO DE ÍNDIO PURO, Na realidade, ao referir ao fato de ter o sangue limpo, embora se 

autodenominando cabocla (que no contexto nos parece equivaler ao termo genérico usado por índios em situações de contacto permanente com a sociedade nacional) a entrevistada está atualizando a noção de “índio puro”, objeto das preocupações teóricas do século XIX (OLIVEIRA, 1978, p. 159). 


27 ) -  PROCESSO DE INDIANIZAÇÃO, No processo de reconstrução de uma identidade étnica, os “caboclos”, embora com os mesmos parâmetros ideológicos, percorrem o caminho inverso ao ideal do branqueamento; difundem um processo de indianização que, por não poder se respaldar em caracteres fenotípicos, evoca o mito do sangue. (MATA, 2014: 148).


28 ) - ESSÊNCIA DA INDIANIDADE, Sua forma de expressar a transmissão das qualidades morais pelo sangue se 

evidencia, pois, no fato de que todos os índios teriam o mesmo sangue, seriam irmãos de sangue. Ao mesmo tempo, o sangue contém a própria essência da indianidade. (MATA, 2014: 149).


29 ) - TRANSMISSORA DE QUALIDADES, O sangue, como se vê, é pensado como substância transmissora de qualidades físicas e morais. As últimas são, assim, naturalmente e se tornam passíveis de serem testadas empiricamente, através de um exame médico. (MATA, 2014: 149).


30 ) - HERDAM IDENTIDADES, Pelo sangue se herdam identidades diferenciadoras. Ao afirmar que todos os índios têm o mesmo sangue, essa propriedade fica evidenciada. Além disso, o indivíduo também se vê como parte de uma totalidade étnica que o envolve e define a partir de qualidades perpetuadas hereditariamente. ( MATA, 2014: 149 - 150).


31 ) - SIMBOLOGIA DO SANGUE, Cabe ressaltar, porém, que o símbolo “sangue está presente em todos os segmentos da sociedade nacional. É até mesmo cientificizado por autores diversos que o manipulam como transmissor de qualidades (ou defeitos, dependendo do contexto em que se aciona a categoria). ( MATA, 2014: 150).


32 ) - CRUZAMENTO DE SANGUE, A “ciência” reduz assim miscigenação e aculturação a uma “lógica biológica”. Os livros falam de uma herança indígena preservada na sociedade nacional através do “cruzamento de sangue”. Por conseguinte, também o campo intelectual idealiza o sangue, pelo menos, semanticamente, como transmissor do caráter dos diferentes segmentos étnicos e até mesmo do famigerado “caráter nacional”. (MATA, 2014: 150).


33 ) - AUTO-IDENTIFICAÇÃO, A comunidade de Porto Real do Colégio se auto-identifica como composta de 

ÍNDIOS. Quase sempre esta categoria tem como modelo o índios “abstrato” (OLIVEIRA, 1979, P. 19), imposto pela sociedade nacional, moldado na aldeia missionária. (MATA, 2014: 151).


34 ) - TERMOS ÍNDIO E CABOCLO, No cotidiano do grupo, os termos “índio” e “caboclo” são intercambiáveis, por 

força da imposição deste último ao longo do tempo. Todavia, atualmente há uma luta pelo emprego da terminologia “índio” em detrimento de “caboclo”, pelo conteúdo político que aquele designativo pode conter...(MATA, 2014: 153).


35 ) - ÍNDIOS DE COLÉGIO, Outros depoimentos colhidos confirmam que o termo “índios” é usado “quando a gente fala com pessoas de fora” “caboclo”, “quando a gente trata uns aos outros”. Ou ainda : “ os índios de Colégio” (coletivo) , “ lá vem que “ índio é coisa de rico”. Uma das mais idosas dentre as pessoas entrevistadas se identifica: “sou cabocla velha, dos troncos daqui”. (MATA, 2014: 154).


36 ) - CABOCLO É ÍNDIO, A distinção índio/caboclo é, até onde conseguimos apurar, algo que parece estar sendo elaborado como reforço da identidade grupal. Seria a reapropriação do conceito de índio genérico em bases mais políticas. Uma prova disto é que para uma das autoridades, tida como índio de antigamente, não existe diferença entre os dois termos: “ No meu conhecimento, caboclo, caboclo é índio”. (MATA, 2014: 154-155).


37 ) - DESCENDENTES DAS TRIBOS, 

Carlos Estevão de Oliveira, do Museu Goeldi, relata em 1935 que “ pelas 

investigações realizadas naquela cidade ( Porto Real do Colégio ) constatei que ali vivem descendentes da tribos NATU, Chocó, KARAPOTÓ e possivelmente Parikó e Nakoã, que segundo me declarou a velha cabocla Natu, Maria Tomásia “ foram também aldeadas em Colégio ” . ( ANTUNES, 1973: 33 ).


38 ) - NEGAR A EXISTÊNCIA, Opondo-se índios de raça primitiva a caboclos, confundindo-se cruzamento e assimilação, passava-se a negar a existência de populações indígenas em áreas onde as disputas de terras se acirravam. ( MATA, 2014: 65).


39 ) - DIREITO A IDENTIDADE, Usando o critério biológico de raça para ultimar a usurpação territorial, subitamente aspectos somáticos se tornam eficientes para negar a habitantes de aldeias a posse secular da terra e o direito a uma identidade diferenciadora. ( MATA, 2014: 65).


40 ) - PROCESSO DE CIVILIZAÇÃO, No que se refere à população indígena, considerada cabocla, a uns e a outros 

interessava a política do desaldeamento para estimular o processo de civilização da sociedade brasileira. ( MATA, 2014: 66).


41 ) - CARÁTER DISCRIMINADOR, O termo caboclo, que desde os tempos mais remotos até estudos antropológicos recentes revelou um caráter discriminador da sociedade colonizadora, passa a possuir uma característica evolucionista-assimilacionista. (MATA, 2014: 67).


42 ) - COLONIZAÇÃO INTERNA, 

Pudemos observar que as relações de subordinação, que remontam ao período colonial, se reproduzem sob a forma contemporânea de colonização interna, marcada pela escassez de terra e a conseqüente proletarização. Resta, então aos Kariri-Xocó a venda da força de trabalho pela inserção no sistema regional da economia nacional. (MATA, 2014: 167).


43 ) - COMUNHÃO  COM SEUS  ANTEPASSADOS, A tradição histórica e a força mágica da terra dos ancestrais e de seus rituais dão ao território a ser conquistado um significado que, provavelmente, desde então, nenhum outro pedaço de terra poderá ter. Só aquela terra conquistada resgata, para o grupo, sua história e põe em comunhão com seus antepassados. 

( MATA, 2014: 270 -

271 ).


44 ) - UMA ESTRUTURA ÉTNICA, Além disso, como demonstra as várias situações vivenciadas pelas sociedades indígenas e pelas minorias étnicas de um modo geral, sob uma estrutura de classe, identificamos uma estrutura étnica (OLIVEIRA, 1972, p. 105). 


45 ) - RELAÇÕES DE CLASSE, 

Entendemos assim, que as relações ditas inter-raciais são um dos aspectos, na sociedade brasileira, das relações de classe (STAVENHAGEN, 1978, p. 87).


46 ) - CONJUNTO DE RELAÇÕES, Nesta sociedade, o índio está situado num conjunto de relações que, ao mesmo tempo em que o colocam como trabalhador, classificam-no como mão-de-obra menos qualificada, em conseqüência de linha étnica. Este componente atua de forma a discriminá-lo dentre aqueles que seriam seus companheiros de trabalho”. (MATA, 2014: 167).


47 ) - ÍNDIO GENÉRICO OU ABSTRATO,

Os dados etnográficos registram uma situação criada e manipulada do modelo do “índio genérico” ou “índio abstrato”. Paradoxalmente, é este modelo que vai ser usado como referência para reforçar o sentido de pertinência a um grupo, gerado pelas “relações entre fronteiras exclusivas e inclusas nas situações de contacto. (BANTON, 1979, p. 166). 


48 ) - IDENTIDADE KARIRI-XOCÓ, Nos critérios de auto-identificação étnica a categoria “caboclo” vai cedendo lugar à identidade grupal Kariri-Xocó ou à identidade “índio”, esta última enquanto aglutinadora dos diferentes povos indígenas do Brasil (OLIVEIRA, 1988, p. 30). 


49 ) - CARÁTER MÍTICO INTANGÍVEL, 

No que se refere aos Kariri-Xocó, constitui fator importantíssimo para a 

manutenção da pertinência grupal, mesmo em períodos de maior repressão, a prática do ritual do Ouricuri. Neste se revivem as crenças numa ascendência comum e se reforça o caráter mítico (e assim, intangível) desta ascendência.(MATA, 2014: 169).


50 ) - MOVIMENTO INDÍGENA, No momento em que a consciência indígena se mobiliza na defesa de seus direitos e em que as condições políticas vigentes na sociedade nacional permitem o surgimento de “movimento indígena”, é também o Ouricuri que orientará os Kariri-Xocó (até esta, uma identidade imposta pela política indigenista) no seu processo de recriação de uma indianidade. Ainda, é do espaço físico do Ouricuri que saem para reconquista da terra que acreditam lhes pertencer. (MATA, 2014: 169).


51 ) - CONSTRUINDO A HISTÓRIA, Os índios Kariri-Xocó passam a se considerar uma minoria política unida nas exigências que fazem à sociedade nacional. São pessoas construindo ou tentando construir sua própria história. Acreditamos ser esta postura que dá sentido à maneira como o grupo se vê e como traduz suas estruturas políticas e sociais. Afinal, as aparentes contradições de sua organização grupal carregam o peso de um longo período de integração à sociedade nacional. (MATA, 2014: 169).


52 ) - PRINCÍPIO ORGANIZADOR, O Ouricuri, pela importância que revela ocupar entre os Kariri-Xocó, nos leva a crer que se caracteriza como princípio 

organizador do cotidiano grupal. Ordena a estrutura da vida perceptível, vez que contém a ordenação do sagrado, do misterioso, do intangível, daquele reduto da vida indígena que a sociedade nacional não conseguiu dominar. (MATA, 2014: 172).


53 ) - FORMAS DE SUBSISTIR, Todavia, somente a apreensão do significado deste complexo terra-sagrada-ritual nos permitirá compreender por que os Kariri-Xocó, expropriados, encontram formas de subsistir, sem se distanciar de seu santuário. (MATA, 2014: 172).


54 ) - REELABORAÇÃO DA IDENTIDADE, É, ainda, este complexo território sagrado-ritual secreto, que nos fornecerá elementos de compreensão do porquê se organizaram para invadir a Sementeira, ao mesmo tempo em que desencadeiam um processo de reelaboração de sua identidade, enquanto forma eficiente de luta pelos seus direitos à terra e à condição de índio. (MATA, 2014: 172).


55 ) - OURICURI DA MATA ORIGINAL,  

Cabe lembrar que, como ficou evidenciado na entrevista feita ao pajé sobre caça em terras do Ouricuri, estes cem hectares se caracterizam como o que restou da mata original dos tabuleiros nas cercanias de Colégio. (MATA, 2014: 176-177) .


56 ) - TABA DOS ANTEPASSADOS, De acordo com entrevistas de membros do próprio grupo, este não seria o local 

da “taba” de seus antepassados. A mesma estaria localizada no Alto do Bode, área hoje pertencente à Sementeira, mas sem que a mata, necessária à manutenção da 

privacidade do rito e de sua relação com a própria vegetação, tenha sido preservada. (MATA, 2014: 177).


57 ) - TABA DOS RITUAIS, A mata é relativamente cerrada e tem-se acesso à taba, isto é, ao local onde se concentra o ritual, por estreitos caminhos, normalmente percorridos a pé ou por carroças. Chega-se, então, a uma clareira a que os índios chamam, muito propriamente, de “limpo”. Aí se desenrolam as cerimônias do complexo ritual do Ouricuri. (MATA, 2014: 178).


58 ) - AFIRMAR SUA INDIANIDADE, 

Atualmente, em Porto Real do Colégio, como o toré tomou uma dimensão muito importante quando o grupo quer afirmar sua indianidade para importantes da sociedade nacional, grande atenção é dada à indumentária. (MATA, 2014: 198).


59 ) - REENCENAÇÃO DA ETNICIDADE, 

O complexo do Ouricuri é, assim, um modelo simbólico para a reencenação 

contínua da etnicidade. O ritual secreto fornece um “programa” para organização dos processo sociais e para a elaboração de símbolos culturais (étnicos), fontes extrínsecas de informação, respostas estratégicas e estilizadas para dar sentido e propósito político às situações de tensão face à sociedade nacional. (MATA, 2014: 199).


60 ) - SPI NO NORDESTE, Em 1944, depois que os Kariri-Xocó lutaram por direitos indígenas há décadas, o SPI reconheceu-os oficialmente enquanto grupo indígena. A 4ª. Divisão Regional do SPI localizada em Recife foi responsável por assistir 8 diferentes grupos indígenas no Nordeste durante a década de 1940 ( PINTO, 1956:20).


61 ) - STATUS DE INDIANIDADE, Com a criação do Posto Indígena (1944), a comunidade Kariri-Xocó readquire seu “status” de indianidade perante a sociedade nacional. Sua carência de terra passa, assim, a preocupar os diferentes agentes do Serviço de Proteção aos Índios. (MATA, 2014: 97).


62 ) - REGISTRO DOS INDÍGENAS, O posto do SPI localizado em Porto Real do Colégio registrou uma população 

estimada em 173 índios entre eles constavam “Natu, Xocó, Carapoto e „Pratio,‟ Naconã, alguns dos quais eram [índios] „Cariri‟” ( PINTO, 1956:22 ).


63 ) - IMPERA A INDIGÊNCIA, Já em 1945, no primeiro Relatório à 4ª Inspetoria Regional, o agente do Posto 

solicita informações referentes a terras devolutas sob o domínio da Fazenda Estadual de Alagoas. Registra que entre os índios “impera a indigência”, sobremodo para aqueles que não pescam, nem trabalham na cerâmica. ( MATA, 2014: 98).


64 ) - SOBRENOMES INDÍGENAS,  

Contrário àquele feito pelo Marquês de Pombal, que, ao laicizar as aldeias 

indígenas atribui nomes e sobrenomes portugueses aos índios, substitui os tradicionais sobrenomes de origem portuguesa por outros que considera indígenas. Assim, aleatoriamente, Suíra, Nindé, Piragibe, Taré (e outros) foram nomes com que registrou no posto os Queirós, os Santiago, os Pires... (MEADER, 1978, p. 20). (MATA, 2014: 132-133).


65 ) - CARGOS LEGITIMADOS, Com o passar do tempo, esses cargos foram sendo legitimados e atualmente o pajé e o cacique são escolhidos no Ouricuri, num ritual mágico-político, em que a futura autoridade “sente” que foi indicada por “entes superiores”, por seus ancestrais. (MATA, 2014: 134).


66 ) - PROCESSO DE CIVILIZAÇÃO, No que se refere à população indígena, considerada cabocla, a uns e a outros 

interessava a política do desaldeamento para estimular o processo de civilização da sociedade brasileira. ( MATA, 2014: 66).


67 ) - OS RITUAIS CONTINUAM, Os Kariri, embora tenham perdido suas roças de subsistência e dispersado no 

começo do século XX para uma rua da vila que cresceu em volta do colégio da missão jesuítica, denominada então de Porto Real do Colégio, conseguiram manter uma pequena parcela de terra de 200 hectares, onde continuavam a celebrar seus rituais, que passaram a ser conhecidos, o território e o ritual,como Ouricuri. ( CUNHA, 2008 : 21-22 ).


68 ) - A COLONIA CORTADA, Nas terras da Colônia a população consegue botar roçado... Há registro, também, de queixas de que as sementes enviadas pelo órgão tutelar nem sempre chegaram à região em período condizente com o ciclo agrícola. Acresce que, em 1950, esta área é cortada pela ferrovia que chega, então, a Porto Real do Colégio. (MATA, 2014: 99).


69 ) - TRABALHANDO NO ARROZ, O plantio de arroz de inundação, apesar de não requisitar exclusivamente a mão-de-obra indígena, é, atividade histórica no Baixo São Francisco, havendo sido praticada sob orientação dos jesuítas nas aldeias de Colégio e São Brás. (MATA, 2014: 90-91).


70 ) - TRABALHANDO ALUGADO, 

Caracterizado por basear-se no trabalho familiar, complementado pela contratação de trabalhador alugado, o ciclo agrícola era iniciado com limpa dos campos, seguido do plantio das sementeiras. (MATA, 2014: 92).


71 ) - PARA AS TERRAS ALTAS, 

Terminando o ciclo agrícola das terras inundáveis, parte da mão-de-obra se 

deslocava para as terras altas, para a colheita do algodão (herbáceo). Embora considerando em alguns momentos da agricultura de Porto Real do Colégio como segundo produto mais importante, havendo mesmo sido criado um Serviço de Algodão entre 1924 e 1941, COSTA, (1932, p. 66).


72 ) - FABRICAÇÃO FIOS DE ALGODÃO, 

considera-o como cultura de pobres e caracteriza o seu plantio como destinado, sobretudo ao alimento de animais e ao fabrico de óleo caseiro. Pierson registrou em sua passagem pelo Baixo São Francisco a fabricação doméstica de fios de algodão (PIERSON, 1972, P. 498).


73 ) - TRABALHADORES ÍNDIOS, Assim, dezembro, o início da entressafra do arroz, é o período de maior mobilização de trabalhadores índios para as terras altas. Vale lembrar, no entanto, que em nosso trabalho de campo registramos a maior parte das informações referentes ao arroz. (MATA, 2014: 95).


74 ) - RESTOLHO DAS CULTURAS, Além de colher algodão, no verão os trabalhadores eram mobilizados para trazer o gado das terras altas para comer o restolho das culturas de inundação, sobretudo a palha do arroz. Segundo Andrade, haveria, pois na prática tradicional da agropecuária do Baixo São Francisco. (MATA, 2014: 95).


75 ) - ROÇAS PLANTADAS DE CAPIM, 

Quando há uma maior concentração de terras e os criadores, por compra de sítios, ou por deixaram de alugar terras para a cultura a trabalhadores agrícolas, exigem que os menos entreguem as antigas roças plantadas de capim, temos notícia da concentração de trabalhadores índios para a tarefa de plantar o pasto para a implementação de uma pecuária mais intensiva. (MATA, 2014: 96).


76 ) - EDIFICAÇÕES DA CODEVASF, (...) em torno de 150 famílias Kariri-Xocó fizeram as áreas Sementeira-Fazenda Modelo local de habitação em 1978, muitos provenientes da Rua dos Caboclos, onde tinham vividos pelo menos desde 1940. Essas famílias Kariri-Xocó ocuparam as edificações da CODEVASF. NASCIMENTO, 2000, 39)


77 ) - CONSTRUÇÃO DE 60 CASAS, Em 1981 a embaixada Canadense financiou a construção de 60 casas (cada uma tendo uma sala, cozinha e 2 quartos) para famílias que estavam vivendo nas piores condições (Mata 1989). ( NASCIMENTO, 2000, 41).


78 ) - SUBSEQÜENTE DESINTRUSÃO, ... o GT de 1980, para fins de constituição de uma Reserva Indígena, parecia bastante viável (...) das terras e benfeitorias implementadas de boa fé pelos referidos posseiros e sua subseqüente desintrusão, e concretizar a transmissão de domínio da ex-Fazenda Modelo da CODEVASF para a União, sendo que o imóvel já estava imitido na posse da FUNAI. ( NASCIMENTO , 2000 : 34-35 ).


79 ) IDENTIFICAÇÃO KARIRI-XOCÓ, A 

portaria nº 1765/E, de 18/09/84, dois anos depois deste parecer, portanto, a Presidência da FUNAI, instituiu novo GT para proceder, desta feita, aos estudos de Identificação da Área Indígena Kariri-Xokó. ( NASCIMENTO, 2000: 36 ).


80 ) - PROCESSO DE SEGREGAÇÃO, 

Todo o começo do séc. XX foi marcado por um processo de segregação e penúria dos índios desta região. Viviam trabalhando nas grandes plantações como meeiros ou recebiam pagamentos de subsistência. Algumas mulheres faziam utensílios de cerâmica. ( MATA, 1989, 7).


81 ) CONFINADOS NA RUA, Por volta de 1940, os índios que não foram embora da região, eram discriminados pelos moradores de Porto Real do Colégio e já estavam todos confinados na Rua dos Caboclos, a 300 metros da praça central, vivendo o cotidiano de atividades urbanas, dentro de um contexto das populações mais pobres do município (MATA, 1989, 7).


82 ) - PROCESSO DE CIVILIZAÇÃO, No que se refere à população indígena, considerada cabocla, a uns e a outros 

interessava a política do desaldeamento para estimular o processo de civilização da sociedade brasileira. ( MATA, 2014: 66).


83 ) - CONTROLE DO ESTADO, As terras das aldeias, porém, passaram para o controle do Estado, que instituiu a administração leiga, assistida por um padre ou um missionário de diferentes ordens religiosas (DUARTE, 1969, p. 91). (MATA, 2014: 52).


84 ) - PROCESSO EVOLUTIVO, Se pensarmos o índio como etapa inicial do processo evolutivo, em seu estado selvagem, o caboclo seria um meio caminho entre índio que já não pode ser e o branco que não quer ou não conseguirá ser. Produto da cultura ocidental é por ela condenado ao desaparecimento por “leis naturais”, já que não está “apto” a sobreviver numa sociedade civilizada. (MATA, 2014: 67).


85 ) - PRODUÇÃO CERÂMICA,  A produção cerâmica consegue permanecer estável, apesar das diferentes formas de acesso à terra, aqui já referidas, ou quando novas estruturas fundiárias são introduzidas no Baixo São Francisco. (MATA, 2014: 101).


86 ) - ÍNDIOS DA PARÓQUIA DE COLÉGIO, As referências escritas à produção de objetos de barro pelas mulheres da “aldeia” de Porto Real do Colégio, remontam ao século XIX. Aires de Casal em sua Coreografia Brasílica, que obteve autorização para ser publicada em 1817, se refere a índios da paróquia de Colégio, cujas mulheres fabricam peças de barro. (MATA, 2014 : 102).


87 ) - AGRICULTURA E LOUÇA, Em relatório de 1852, a respeito das aldeias e “índios domesticados”, ao referir-se a Colégio, o autor registra que seus habitantes vivem da pesca, agricultura e venda de “grosseira louça de barro, manufaturada pelas mulheres”(CALVET, 1852). (MATA, 2014: 102).


88 ) - SOBREVIVER DA CERÂMICA,  

Sem terras para cultivar, os cariri-xocós se valeram para sobreviver da cerâmica 

feita pelas mulheres, vendida nas feiras de Propriá e Penedo, às vezes vendida a preços mais baixos ainda crua, aos homens, alguns indígenas, tinham fornos. ( MATA, 1989: 100-110 ).


89 ) - PESCA DE CANIÇO COM JERERÉ, “Quando era tempo de enchente, antes da criação dessas barragens, ficava aquela água barrenta, uns fazia pesca na beira do rio, aquela pesca de caniço, ou com jereré. Então os proprietários, que vivia tomando conta desta beira de rio, foram cortando aquele capim, então a gente não tinha mais onde pescar”. (MATA, 2014: 111).


90 ) - CONTROLE DAS MARGENS DO RIO, O relato acima, além de registrar a atitude dos proprietários, ampliando seu controle sobre a terra, sobre as margens do rio e, por extensão, sobre o próprio rio, deixa evidente a constante situação de conflito, já caracterizado nas formas como o barro é obtido. (MATA, 2014: 111).


91 ) - TÉCNICA DA PESCA DO CANIÇO, 

Uma fila de mulheres com água até a altura do peito, avança vagarosamente em direção à margem, levando o peixe a zona onde há canas;... O peixe, assim apanhado, é removido por meio de uma abertura na parte superior (HOHENTHAL Jr. 1960, p. 62). (MATA, 2014: 112).


92 ) - CAÇA DE TANJA DO VEADO, A tanja consiste em cerca de vinte homens que entram na mata e, fazendo barulho, vão cercando os animais em direção aos quatro ou cinco caçadores armados de espingarda. “Com aquela zoada, gritando: Ei, ei,ei... e quando a caça passa o caçador está com a espingarda ali na frente. (MATA, 2014: 115).


93 ) - CAÇA KARIRI-XOCÓ, Em relatório do Posto Indígena, ao SPI, em 1965, encontramos o seguinte: “Os índios ainda caçam em regiões longínquas do Posto: aves, preás, coelhos, veados”. (MATA, 2014: 115).


94 ) - ORGANIZAÇÃO SOCIAL, Em seu estudo clássico, Lowie se refere à família linguística Kariri, aí incorporando todos os grupos considerados representantes desta família. Mesmo assim sua menção à organização social e parentesco é muito breve, limitando-se a registrar que, aos homens Kariri eram permitidas muitas mulheres e o divórcio era fácil e freqüente. ( MATA, 2014: 116).


95 ) - SISTEMA DE PARENTESCO, Diz 

 Nantes (1709, p. 21), segundo a qual as mulheres Kariri mandariam nos homens (LOWIE, 1946, p. 558). Este comentário o leva ( e a outros autores) a inferir a existência de uma possível estrutura matriarcal (não se fala em matrilinealidade ou qualquer outra expressão que tenta dar conta de um possível sistema de parentesco ou estrutura familiar traçados pelo lado feminino). ( MATA, 2014: 116).


96 ) - GRAU DE ACULTURAÇÃO, Os antropólogos que visitaram o grupo de Porto Real do Colégio nos anos 1950 e 1960, embora citem as fontes acima referidas, preocupam-se mais com o problema da mudança e o grau de aculturação dos “remanescentes” aos padrões de comportamento da sociedade local. Arrolam também “traços da cultura tradicional” mantidos pelos mesmos. (MATA, 2014:116).


97 ) - INTERCRUZAMENTOS TRIBAIS, 

 a primitiva estrutura social dos Kariri desarticulou-se, ante o fluxo crescente das imposições da sociedade portuguesa, que, mudando os termos de parentesco, teria produzido “efeitos de desorganização”, reforçados pelos intercruzamentos tribais nas aldeias. Os grupos sobreviventes, aculturados por tantas gerações, se tomam, para estes autores, pelo menos na observação do quotidiano, indistintos das populações “neo-brasileiras” locais (FERRARI, 1956b, p. 302 ) ; HOHENTHAL Jr, 1960b, p.59). (MATA,2014: 117).


98 ) - SERVIÇO PRESTADO REPERCUTEM, (...) Na realidade a escassez de terra e a condição de trabalho assalariado ou por serviço prestado repercutem diretamente na estrutura familiar da população indígena de Porto Real do Colégio. (... ) em (MATA, 2104: 117).


99 ) - CERÂMICA EM GRUPO, Como a cerâmica é um trabalho importante para a reprodução do grupo, as mulheres costumam trabalhar juntas, partilhando do mesmo ambiente, que se configura num espaço mais livre do que aquele encontrado na atividade agrícola. É comum que grupos de irmãs e suas filha trabalhem juntas. (MATA, 2014: 118).


100 ) - FESTAS DA PADROEIRA, Os índios participam, ainda das festas da padroeira, Nossa Senhora da Conceição. Quando havia o hábito de durante o mês de maio, dedicado a Nossa Senhora, celebrar um ato solene, todos as noites na igreja local, fato que ocorria no Nordeste, de modo geral, diferentes segmentos da população eram encarregados dos preparativos de uma determinada noite. (MATA, 2014: 165).


101 ) - EDUCANDÁRIOS DE COMUNIDADE, A partir da 5ª série os meninos e meninas Kariri-Xocó passam a estudar no ginásio local, mantido pela Campanha Nacional de Educandários de Comunidade. A FUNAI financia o material escolar e o uniforme. Se o aluno for reprovado, perde o direito à ajuda para o ano de repetência, voltando a obtê-la ao passar para a série seguinte. ( MATA, 2014: 166).


102 ) - APARELHOS DE COMUNICAÇÃO, 

Indistintamente dos demais membros das camadas mais pobres de Porto Real do Colégio, os Kariri-Xocó, também prezam muito possuir rádio, gravador ou televisão. Muitas vezes moram em condições extremamente precárias, mas exibem com orgulho estes aparelhos de comunicação que os põem em constante interação com diferentes segmentos da cultura nacional. (MATA, 2014: 166).


103 ) - TOMARAM AS TERRAS, Em 1935, o antropólogo Carlos Estevão de Oliveira visita Porto Real do Colégio e encontra os remanescentes indígenas em situação econômica que descreve como “ a pior possível”, acrescentando: Sem que lhes valesse o direito de posse já muitas vezes secular, viram pouco a pouco os “civilizados” tomarem-lhes as terras em que faziam lavoura (OLIVEIRA, 1943, p. 173). (MATA, 2014: 120).


104 ) - FALTA DE ALTERNATIVAS, A expropriação levou ao que tudo indica, ao longo dos anos, a população indígena a se fixar em Colégio, numa rua de periferia. Expropriados, foram também segregados. Submeteram-se, entretanto, a esta situação, pela falta de alternativas de trabalho agrícola, senão em terras de proprietários. (MATA, 2014: 120).


105 ) - ÍNDIOS NOS CASEBRES, A expropriação, pois, altera a estrutura da família, como apontamos acima, e força a localização dos trabalhadores índios, sem terra, na área urbana de Colégio. Estes vão constituir parte da população mais pobre da cidade. O local onde os índios se congregam em seus casebres é conhecida como “rua dos índios” ou “rua dos caboclos”. (MATA, 2014: 120).


106 ) - ONDE BOTAR ROÇAS, De acordo com o relatório do primeiro agente do Posto, referente a 1944, a situação era seguinte: “Os caboclos não têm onde botar roças. O domínio territorial deles, outrora,conforme documentos nos Autos dos Processos da Questão entre Fazenda Federam com a Estadual, em 1929, é de duas léguas em quadra. (MATA, 2014: 121-122).


107 ) - LOTEAR E REPARTIR, Em 1924 o senhor Costa Rego, Governador do Estado, mandou lotear e repartir 300 hectares de terra para o Campo Experimentação Agrícola (o que hoje sob a jurisdição do Ministério da Agricultura) e os restantes dos lotes para serem vendidos. (MATA, 2014: 121-122).


108 ) - PESCARIA NO RIO, O agente do Posto acrescenta mais adiante: <<O posto, como não têm, por enquanto, meios de renda, pelo motivo de não ter terras, então poderá ir fazendo exploração de pescaria no Rio São Francisco, até que o SPI possa fazer reivindicação dos terrenos que pertenciam aos índios. (MATA, 2014: 122).


109 ) - NUMA RUA ESTREITA, Viviam na rua dos índios, 166 pessoas que, segundo o mesmo relatório ( 1945 ), tinham na cerâmica a principal ocupação. O documento registra que a população indígena habita em 67 choupanas, numa rua estreita, perpendicular ao rio. (MATA, 2014: 122).


110 ) - CASAS DE PALHA, A rua dos índios é descrita como formada por casas de taipa, com piso de terra batida e portas, janelas e cobertura feitas de palha de arroz trançada. Em 1960 havia 53 casas na referida rua. Em 1967, 85, descritas como “choupanas”, dando-se à sua precariedade. (MATA, 2014: 122).


111 ) - PAUPÉRRIMO ESTADO, Em documento de 1967 a situação não se apresenta de modo diferente: “Vivem estes índios em paupérrimo estado de vida. Há necessidade de consecução de maior área de terra para desenvolverem suas lavouras, cultivarem suas fruteiras, igualmente criações de animais, pois não podem sequer criar cabras para tirar leite para os filhos.” (BRASIL, Ministério do Interior, 1967). (MATA, 2014: 123).


112 ) - NÃO PODIAM CRIAR, O fato de não criar animais domésticos na rua dos índios é uma queixa registrada em várias ocasiões. As mulheres alegavam que não podiam ter qualquer tipo de criação de animais domésticos, pois corriam o risco de eles invadirem o quintal dos brancos, causando conflito> (MATA, 2014: 123).


113 ) - O ALTO DO BODE, Aqueles que se dizem Kariri, se julgam os verdadeiros donos das terras ocupadas. Dizem que nelas está o Alto do Bode, local em que se realizava o antigo ritual dos Kariri. Se, ao tomarem as terras da Sementeira, este argumento será usado para legitimar a invasão do grupo como um todo, como veremos, no conflito de identidades ele é acionado para separar Kariri de Xocó. (MATA, 2014: 143).


114 ) - TORÉ DE ROUPA, O “toré de roupa” é dançado em qualquer feste, inclusive pelas crianças índias na escola, como outras brincariam de roda. Do “toré de roupa” podem participar pessoas não índias, sendo comum que moradores de Colégio que têm maior aproximação com os índios...(MATA, 2014: 195).


115 ) - TORÉ DE APRESENTAÇÃO, Como veremos, ao tratar da invasão da Sementeira, há toda uma reelaboração do significado desta dança hoje transformada em “representação”, como a ela se referem os Kariri-Xocó, quando a realizam com finalidade étnico-políticas. O mesmo se dá com o arco e flecha. (MATA, 2014: 198).


116 ) - NAS PLANTAÇÕES DE CANA, Entre 1975, quando se dão as desapropriações aqui tratadas, e 1978, ano em que invadem a Sementeira, a grande maioria da população masculina jovem e até mesmo algumas mulheres, tiveram nas plantações de cana, em expansão no sul de Alagoas, sua principal fonte de trabalho, além da produção de peças de cerâmica pelas mulheres. (MATA, 2014: 229).


117 ) - FORA DE CASA, Entre os rapazes solteiros, havia muitos que, trabalhando na cana, ficavam a semana toda fora de casa, alojados em galpões da própria fazenda em que trabalhavam, só vindo para casa aos sábados, para fazer “ a feira”. (MATA, 2014: 230).


118 ) - FAZENDA DESATIVADA, Somente quando a fazenda é totalmente desativada pela CODEVASF, a partir de 1975, a população de Colégio, e em particular os índios, se vêem privados do uso dessas terras, pois a companhia proíbe a entrada de estranhos. Ao mesmo tempo, aos olhos da população, a Sementeira parece abandonada. (MATA, 2014: 247).


119 ) - TRANSFERÊNCIA DO GRUPO, O cacique Xocó escreve inicialmente, uma carta ao Coordenador do Projeto de Piscicultura do Baixo São Francisco, em Propriá, em 9 de novembro de 1977. Nesta, solicita a transferência do grupo da rua dos índios para as dependências da Sementeira, enumerando as construções lá existentes e, então, desativadas, que poderiam ser de grande utilidade para a melhoria de condições de vida de seu povo. (MATA, 2014: 247-248).


120 ) - NEGOCIAÇÕES DA SEMENTEIRA, 

Pela carta fica claro, ainda, que o Coordenador do projeto já tivera outros 

contatos com os índios, em negociações sobre a Sementeira. Segundo a mesma carta, ainda, o cacique já teria, em data não citada, enviado um documento memorial ao Ministério do Interior, solicitando as terras da Sementeira. (MATA, 2014: 247-248).


121 ) - INACIANOS, Segundo Vera L. C. Mata, os Inacianos...chegaram a Pernambuco em 1551. E, 1568 fundaram o Colégio do Recife, ao qual se deve a presença da ordem religiosa na região da atual Porto Real do Colégio. (MATA, 2014: 43-44).


122 ) - COLÉGIO DO RECIFE, no que diz Vera L. C. Mata,...Do Colégio dos jesuítas do Recife vieram os missionários que fundaram os aldeamentos correspondentes aos atuais municípios alagoanos de São Brás e Porto Real do Colégio. (MATA, 2014: 46).


123 ) - DUAS LÉGUAS, As terras das duas aldeias foram concedidas, para fins de catequese, pelo Governador de Pernambuco, Sebastião de Castro Caldas, em 1º de janeiro de 1708. (BIBLIOTECA NACIONAL, DOCUMENTOS HISTÓRICOS. V. LXIV, p. 67).


124 ) - FUNDAÇÃO DO ALDEAMENTO, os jesuítas só obtiveram a concessão de terras para a fundação de um aldeamento de índios durante o século XVII e data de sua formação é de 04 de maio de 1661 ( RIBEIRO , Adriano S., 2005:20 ).


125 ) - FAZENDA CIVILIZATÓRIA JESUÍTICA, (...) As fazendas serviam a retórica civilizatória da Companhia, (...) “ocupação das gentes”, o sustento dos colégios e da própria ordem religiosa no Brasil,... eram, sobretudo os índios para, de acordo com o espírito catequético, livrá-los da vida errante e ensinar-lhes a agricultura (...) Segundo Serafim Leite (1945, Tomo IV, p. 170 ).


126 ) - URUBUMIRIM AUTONOMIA ADMINISTRATIVA, (...) na fabricação de objetos de couro, enfermeiros e vários artífices, dentro do elenco das “artes e ofícios”,.. independência eclesiástica. Tanto assim que nesse ano o Padre Antônio Pais ali realizou profissão solene de fé (...) em (DUARTE, 1966, p.178). 


127 ) - ALDEIA CRISTÃ, (...) "A aldeia criada para o índio era uma redução espacial e funcional da antiga oca,..., as famílias indígenas foram separadas e divididas em suas “casas”,... no conceito cristão, restrito às famílias nucleares construídas..., com as novas práticas econômicas que também surgiram". ( Geyza SILVA, 2004: 96).


128 ) - ANIMAIS DOMÉSTICOS TRAZIDOS,  Da Europa foram trazidos, desde a primeira metade do século XVI, os animais domésticos – sobretudo bovinos, caprinos, suínos e eqüinos; (GUEDES, 2006: 40).


129 ) - VEGETAIS DO COLONIZADOR, (...) "da África, vieram vegetais como o sorgo, o inhame, o cará; da Ásia,fruteiras como a bananeira, a mangueira, a jaqueira e o arroz; e da Oceania, a fruta-pão e o coqueiro". (...) em (GUEDES, 2006: 40).


130 ) - JUNTA DAS MISSÕES, a criação da Junta das Missões de Pernambuco à diversidade das ordens religiosas envolvidas com os novos grupos indígenas tapuias e criar mecanismos de controle e internalizarão do 

processo decisório na burocracia imperial, em 1698. (CAVALCANTI, 2009: 75).


131 ) - O SPI , Com a criação do Serviço de Proteção aos Índios e Localização de Trabalhadores Nacionais (SPILTN) em 1910, o governo federal passou a adotar posturas específicas em relação às populações indígenas do Brasil. ( DANTAS, 2010: 131 ).


132 ) - ÍNDIOS RECONHECIDOS, No entanto, os Carnijó foram os primeiros índios do Nordeste a serem reconhecidos pelo Estado através do SPI e da implantação de um Posto Indígena em 1924, por apresentarem traços culturais que os identificariam prontamente como um grupo indígena, de acordo com os parâmetros de “indianidade”. ( DANTAS, 2010: 133 ).


133 ) - PADRE ALFREDO DÂMASO, a partir da intermediação do Padre Alfredo Pinto Dâmaso na relação entre os Carnijó e o SPI (entre 1920 e 1924), de acordo com as reivindicações dos primeiros, incluindo-se como objetivo a instalação do Posto Indígena na área. . ( DANTAS, 2010: 133 ).


134 ) - OCUPAÇÃO DA FAZENDA MODELO, No dia 31 de outubro de 1978, toda a comunidade indígena, num total de cerca de 150 famílias, ou pouco mais de 700 indivíduos, saiu da Mata do Ouricuri em que estivera concentrada nos dias anteriores e tomou posse da Fazenda Modelo. Deu inicio, assim, a um período de retomada de todo o seu território tradicional, luta essa que ainda apresentaria vários percalços, perdurando até o momento presente. (NASCIMENTO, 2000: 32-33 ).


135 ) - LIMITES DA EXTINTA ALDEIA, Em 1914, Porto Real do Colégio é visitado por engenheiro da Secretaria de Agricultura, Indústria, Comércio e Obras Públicas. A finalidade desta visita é levantar os limites da “extinta aldeia” e verificar a situação das pessoas, que se encontram na área a ser demarcada e que dizem proprietárias. (REIS, 1914, p. 139). (MATA, 2014: 81).


136 ) - O SERVIÇO DE ALGODÃO, Em 1923 fora instalado o Serviço de Algodão do Estado de Alagoas, posteriormente chamado Serviço de Plantas. (...) . O restante das terras públicas deveria ser loteado e 

vendido, variando os lotes de um a cinqüenta hectares, dando-se preferência, para compra, aos posseiros já instalados na região. O pagamento seria feito em cinco anos, com acréscimo de 10% às prestações anuais sobre o preço à vista. (MATA, 2014: 81-82)


137 ) - CRIAÇÃO DO CENTRO AGRÍCOLA, o Centro Agrícola é criado (DECRETO nº . 1079 de 22 de outubro de 1924). Considerando possuir o estado de Alagoas cerca de seis mil hectares de terras para a agricultura nos município de Porto Real do Colégio e S. Brás, antigas aldeias indígenas, o governo estadual, em comum acordo com o federal, resolve implementar a cultura do algodão nessas terras, tendo em vista a demanda da indústria têxtil. (COSTA, 1932, p. 81). ( MATA, 2014: 81).


138 ) - REGULARIZAR VENDA DE LOTES, 

Esta constatação, em nível governamental, leva o estado de Alagoas a tentar regularizar, mediante a venda de “lotes”, a invasão a terras consideradas patrimônio do estado. Na tentativa de preservar uma parte do que resta, instala-se a sede do Centro Agrícola, que deveria orientar os agricultores da região. (MATA, 2014: 87-88). 


139 ) - PAGAMENTOS DOS LOTES, Os pagamentos dos lotes são feitos de forma bastante irregular, tendo o governo de promulgar leis complementares para cobrança dos devedores e criado também a possibilidade de aluguel de terras para cultivo, mediante pagamento ao Estado (decreto nº. 1181 de 14 de agosto de 1926 e nº. 1861 de 29 de dezembro de 1933). (MATA, 2014: 82).


140 ) - A SEMENTEIRA, Esta área, denominada a partir de 1941 “Campo Experimental das Sementes”, passa a ser conhecida pela população local como Sementeira. (MATA, 2014: 87-88).


141 ) - QUOTIDIANO DOMÉSTICO, A rua dos índios se configurava, durante o dia, como um espaço, eminentemente feminino. Se as mulheres não estivessem envolvidas em quaisquer atividades ligadas à cultura do arroz, era na rua onde moravam que produziam a cerâmica, cuidavam do quotidiano doméstico, acompanhavam as atividades, algumas mulheres bordavam costuras características da região são-franciscana. (MATA, 2014: 124).


142 ) - DENTRO DE PORTO REAL, Morar na rua dos índios definia, indubitavelmente, uma posição dentro da sociedade local. Situada na parte oeste da cidade, a cerca de trezentos metros da praça principal, onde estão a Igreja, a Prefeitura, o Ginásio, as residências mais ricas apesar de geograficamente “dentro” de Porto Real do Colégio, esta rua apresentou, através dos anos, um marco de segregação a que as populações indígenas são submetidas pela sociedade local e nacional. (MATA, 2014: 125-126).


143 ) - CONDIÇÃO DE ÍNDIO, Sair da rua dos índios, conseqüentemente, foi traduzido, durante muito tempo, como sinal de progresso material e tentativa de aceitação por parte da sociedade local. Significava também, por outro lado, certo esquecimento da própria condição de índio, por parte de quem saía, e a esperança de que o mesmo esquecimento se verificasse em relação aos moradores das outras ruas de Porto Real do Colégio. (MATA, 2014: 125-126). 


144 ) - MARCO DIFERENCIADOR, A rua dos índios, assim, se evidenciou, durante longo período, como marco 

diferenciador entre índios e não índios. Ficar na rua dos índios, de certo modo, era reforçar os estereótipos de preguiçoso e cachaceiro, como os quais a população não índia e até alguns índios que moravam em outros pontos da cidade, identificavam caboclos. (MATA, 2014: 128).


145 ) - QUASE UM TERRITÓRIO, A descrição da rua dos índios nos permite evidenciar ainda que, apesar de se caracterizar como um espaço diferenciador, quase um “território” separado por uma “fronteira” (o Posto Indígena), essa rua não se constituía realmente numa aldeia, vez que não dispunha de uma área própria, nem relativo distanciamento geográfico. (MATA, 2014: 128-129).


146 ) - SOCIALMENTE DISTANCIADOS, Os índios poderiam estar socialmente distanciados do resto da população. Estavam, porém efetivamente, dentro da cidade de Colégio, embora em suas franjas. (MATA, 2014: 129).


147 ) - MANUTENÇÃO DA COESÃO GRUPAL, Na realidade, morando na rua dos índios, o grupo participava embora de forma desprestigiada, às vezes marginalizada, do quotidiano de Porto Real do Colégio. A rua era um marco diferenciador, a cerâmica, uma atividade identificadora da condição de índio, o Ouricuri , seu grande segredo e fator de manutenção da coesão grupal. (MATA, 2014: 129).


148 ) - AS DUAS IDENTIDADES, No mais, a população indígena participava das atividades econômicas, sociais e religiosas da cidade, como representante do segmento mais pobre da sociedade local. Ser índio, já foi dito, é também ser pobre. Em muitos contextos as duas identidades são acionadas juntamente. (MATA, 2014: 129).


149 ) - ESTADO DE ESPÍRITO, Os antropólogos que visitaram o grupo os consideram “deculturados”  (NIMUENDAJU em 1934), “abrasileirados” FERRARI nos anos de 1950), ou como declarou Hohenthal Jr. (1952), ser índio, em Porto Real do Colégio é um estado de espírito. (MATA, 2014: 129-130).


150 ) - CONSIDERADOS DESCENDENTES, O discurso que apresenta o Brasil como uma sociedade “racialmente democrática” na realidade mascara nossa incapacidade de aceitar as populações indígenas como realidades contemporâneas. (MATA, 2014: 160).



BIBLIOGRÁFIA:




Obs: Vide postagem posterior " AS ORIGENS KARIRI-XOCÓ 8".