domingo, 31 de dezembro de 2023

A ETIMOLOGIA DE TEREJÊ


 Um nome que foi mencionado pelo pajé Suira entre os Kariri-Xocó foi 'mõteregê', um nome que imediatamente se conecta com o nome que os Wakonã de Antunes chamam os indígenas que é ateregin, e por último parece também estar conectado com o Natú zi de zitók 'estrangeiro (não-indígena)', ao que parece, estas três divisões dessa nação se consideravam o que venho chamando de Terejê, mas o que exatamente significa essa palavra ?


 Primeiro de tudo, darei alguns exemplos de nomenclatura dos povos nativos do Brasil, vejam por exemplo o nome do povo Mebengokré, que são o 'povo do buraco d'água', ou os Krenák que se dividiam de forma topográfica com nomes como:


Nak-pie             Terra de trabalho

Nak-tuŋ             Terra do formigueiro

Nak-rehé            Terra bonita

Ngut-krak           Rocha da tartaruga

Minyã-yirúgn      Água branca


 O que estou tentando exemplificar é a forma como os povos do Brasil se autodenominam, para que assim eu possa demonstrar o significado que eu e Nhenety desvendamos do Terejê. Ao que parece, os Terejê se identificavam com um conceito de reincarnação do espírito através de um processo que ocorre após a morte do indivíduo, tal indivíduo era posto em uma igacaba, um vasilhame de barro, em posição fetal, imitando a posição de um bebê no ventre para que seu renascimento seja alcançado, cremos que o barro tinha grande importância para esses povos, visto que seu nome talvez signifique TERE-JÊ 'aumentar/procriar/criar barro', como TERE sendo cognato de:


Xavante: tébré 'aumentar, procriar, criar'


Aproveito para fazer uma descrição sobre os povos Terejê, no momento, sem auxílio da arqueologia não temos como inferir muito sobre migrações e possíveis interações com outros povos, todos os dados aqui usados são derivados de um processo de comparação linguística. Começo dizendo que podemos inferir que estes grupos se dividiam em: clãs e nações menores partes de uma nação maior, normalmente isso era baseado no sistema Jê binário de avós e filhos, mas pelos visto também se estendia para irmãos como é visto com os Wakonã, portanto temos três grandes nações Terejê:


Xocó

Os Xocós, também tendo seu nome registrado históricamente como Shocó, Xokó, Chocó, Chocoz, Ciocó, Ceocose, são o agrupamento dos 'filhos' ou 'descendentes', sua língua é a com mais registros dos aspectos diários e comuns dos povos Terejê, auxiliando-nos no desenvolvimento das composições e reconstruções dos morfemas das outras línguas constituíntes.


Natú

O Natú é o agrupamento Terejê dos 'avós' ou 'ancestrais' em relação aos outros não possui de forma independente grande registro de seu vocabulário, mas em compensação, podemos confirmar através do catecismo de Mamiani que foram eles quem interagiram e se fundiram com os Kipeá, assim confirmando que boa parte do vocábulo emprestado (da quinta declinação) talvez tenha origem direta do Natú, dobrando ou até mesmo triplicando o número de palavras registradas do Natú e confirmando sua evolução fonética, que também ocorreu no Wakonã, chamada de alçamento vocálico, além de outros desenvolvimentos próprio da como vozeamento intervocálico e a tradução do nome de seu clã mais forte (Peagaxinã) para o nome dos Kariri de Mamiani (Kipeá).


Wakonã


Os Wakonã são o agrupamento dos 'sogros' (ou possivelmente uma divisão diferente dos 'filhos'), também tendo seu nome registrado como Iaconã, Aconã, Acunã, Wakoná e Inakaná. Graças aos registros de Antunes (1973), fomos capaz de reconstruir todo o paradigma de prefixos pronominais do Terejê, e com isso, descobrir a relação do Terejê com os povos Cerratenses do Tronco Macro-Jê.


Paradigma Wakonã:


ba- 'eu, meu, minha'

ka- 'tu, teu, tua'

in- 'ele, ela, dele, dela'



BIBLIOGRAFIA: 



HISTÓRICO GENTÍLICO DE PORTO REALDOCOLÉGIO-AL, ..."as diferentes tribos de índios, Tupinambás, Carapotas, Aconãs e Cariris, habitavam a região, vivendo da caça, da pesca e da lavoura",...( PERFIL MUNICIPAL, 2018: pág. 8 ).


ETNIAS MENORES KARIRI-XOCÓ, A Tribo Kariri-Xocó é composta de outras etnias , menores, mas que integram essa tribo. São os Natu, Pankararu, Fulni-ô, Tingui-Botó e Karapotó. ( NASCIMENTO & RAMOS 2002:24 ) .


NASCIMENTO, Marco Tromboni de Souza e RAMOS , Luciana Maria de . Diário Oficial do Estado de Alagoas : Resumo do Relatório Circunstanciado de Reestudo e Delimitação da Terra Indígena Kariri-Xocó . Maceió 05 de fevereiro de 2002.


PERFIL MUNICIPAL. Ano 4, nº 4 (2013),

Maceió: Secretaria de Estado do Planejamento, Gestão e Patrimônio, 2018.


ANTUNES, Clóvis. 1973. Wakona-Kariri-Xukuru: Aspectos Sócio-Antropológicos dos Remanescentes Indígenas de Alagoas. Maceió, Imprensa Universitária – UFAL.


RODRIGUES, A. D. O artigo e os numerais na língua kiriri, vocabulário português-kiriri e kiriri-português. Separata dos Arquivos do Museu Paranaense, Curitiba, v. II, art. X


LOUKOTKA, Čestmír. Documents et vocabulaires inédits de langues et de dialectes Sud-Américains. Journal de la Société des Américanistes, Nanterre, Tome 52, p.7-60, 1963.




Autor: Suã Ari Llusan 





SEGREDO DAS FLECHAS MORTAIS

 

Uma das palavras que não encontrei ligação com nenhuma outra língua é Veneno (Taa / Tá).


Aw-taa - Antiveneno.

Em suma, antídoto.


Era muito importante para nós sabermos os aw-taawa dos taawa das flechas inimigas. Como não há mais ataques indígenas entre si nem dos irmãos contra os invasores com uma certa frequência, muitos povos indígenas não envenenam mais suas flechas e a medicina não conhece mais os antídotos contra esses venenos. Ou seja, um povo raiz e que ainda tem o conhecimento do envenenamento das flechas, torna-se um grande perigo pra sociedade, em especial quando tem suas terras invadidas, pois há veneno que um simples arranhão é o suficiente para que o indivíduo faça a cerimônia de despedida familiar. A medicina nada pode fazer contra alguns venenos, pois os médicos não conhecem os antídotos e não conseguem parar a paralisação progressiva do sistema nervoso, o que certamente irá parar de forma irreversível o coração.



Autor da matéria: Klenn Kascher do Povo 

Kan'xi





ETIMOLOGIA DE DI 'SER DADO, DAR'

 

A palavra parece ser cognata do:


Xavante: dzari 'dar de graça, oferecer ajuda com comida'


 Isso indica que o som de *j herdado do Proto-Cerratense varia alofonicamente entre ñ ~ y ~ dz/z ~ ts/s ~ d, bem semelhante ao que é visto no Xerente. Como o verbo já existe nas línguas Kariri, reconstruo para o Terejê como:


Xocó: dza, da

Natú: zì, dì

Wakonã: djá, dá




Autor: Suã Ari Llusan 





ETIMOLOGIA DE PANADÔ 'CÍLIOS' DA LÍNGUA KATEMBRI

 

A palavra para cílios do Katembri é interessante, pois ela possui uma estrutura muito semelhante a outra encontrada no Kariri, especificamente na palavra WANADZI/WARANDZI 'remédio', eu suspeito que PANA e WANA sejam a mesma palavra, mas o mais interessante aqui é que PANA parece ser uma versão anterior ao WANA.


 Eu discuti isso na publicação ETIMOLOGIA DE DZIKLOKU 'ESTAR CHEIROSO', wana significado 'folha, erva' e é cognata do *pana 'folha' do Proto-Aruaque, boa parte dos W iniciais do Kariri derivam de antigos P, portanto é possível notar que PANA virou WANA, a palavra provavelmente deriva do Terejê, visto que uma das palavras DÔ que a compõe provavelmente deriva do Proto-Cerratense *ndôm 'olho', portanto:


PANA-DÔ 'folha do olho' > 'cílios'


Reconstruído de volta para as outras línguas como:


Proto-Kariri pana-dô ~ wana-dô 'cílios'


Dz.: wanaddo, panaddo

Kp.: wanadò, panadò

Sp.: wanattó, panattó

Km.: wanaddò, panaddò

Kt.: panadô

KX.: wanadô, panadô

Pp.: wanadô, panadô

Dz-Tx.: wanado, panado

Kb.: wanadô, panadô




Autor: Suã Ari Llusan 





UM FELIZ ANO NOVO / KAWKÃ WIMANHEM IBATTHY KRITÃ / SA THALA WIRO KRITAN ABA


Neste atravessar do ano cristão, desejamos de coração que todos sejam agraciados de bençãos, prosperidade, alegria e paz, que a árvore de seu esforço dê frutos.


 Esse ano foi um ano de grande progresso nos estudos das línguas Kariri, com a adição de um grupo linguístico importante na história destes, que são os Terejê, tenho esperanças de que o ano de 2024 será um de resultados que virão em dobro em comparação a este, aproveito para afirmar minha intenção de iniciar a composição de gramáticas e dicionários das línguas Terejê e Kariri, além de outras publicações que planejo produzir, enfim, apenas gostaria de passar essa mensagem curta, espero que tenham todos uma ótima celebração de fim de ano, aproveito e trago a sugestão de tradução que eu e Nhenety fizemos para o Ano Novo Cristão e como dizer Feliz Ano Novo do calendário gregoriano:



Ano Novo Gregoriano (lit.: 'o atravessar da estrela cristã')


Dz.: wimanhem ibatthi kritam

Kp.: wimaehae ibatì critã

Sp.: mingmahá ibattí kritáng

Km.: mingmaihài ibattì kritàng

Kt.: viméhé udetikimen karai

KX.: wimanhem ibatthy kritã, wimaehae ibatthy kritã, thala wiro kritan

Pp.: siwimaehaetê ipanyé karikyá

Dz-Tx.: wimanhem ibati kritam

Kb.: hiwimêhêtê ipanyé charichá



Feliz Ano Novo


Dz.: uddhe ploh wimanhem ibatthi kritam añey

Kp.: use pròh wimaehae ibatì critã eyaì

Sp.: uséi pló mingmahá ibattí kritáng enyaí

Km.: usà prò mingmaihài ibattì kritàng anyaì

Kt.: sisi pró viméhé udetikimen karai añaí

KX.: kawkã wimanhem ibatthy kritã eyaí, sa thala wiro kritan aba

Pp.: usê siwimaehaetê ipanyé karikyá aeyaí

Dz-Tx.: uddhe wimanhem ibati kritam añei

Kb.: uhê hiwimêhêtê ipanyé charichá êyaí





Autor: Suã Ari Llusan 





ETIMOLOGIA DE TUYÓ 'ZOMBAR'


A palavra TUYÓ é um composto bissilábico de duas palavras Terejê, no caso do Kipeá, do Peagaxinã (Natú):


TU 'brincar, brincadeira', cognato do:


Xavante: to 'brincadeira, jogo, alegria'


YÓ 'falar, dizer', cognato do:


Xavante: nharĩ 'dizer, falar'


Portanto TU-YÓ 'falar de brincadeira, zombar', é cognato direto do Kipeá ITÙ 'ser agradável' e do Dzubukuá TUITHU 'alegrar-se', portanto:


Terejê


Xocó: tu, thu

Natú: tu, thu, itu

Wakonã: tú, itú



Proto-Kariri *yâ 'falar, dizer'


Dz: yo, ño

Kp: yò

Sp.: yó, nyó

Km.: yà, nyà

Kt.: yó, ñó

KX.: yó, nhó

Pp.: yó

Dz-Tx.: yo, ño

Kb.: yó




Autor: Suã Ari Llusan 





sábado, 30 de dezembro de 2023

A FUNÇÃO DA PARTÍCULA AIBŶ E SUA PRESENÇA NO DZUBUKUÁ


A partícula aibŷ é usada somente uma vez em um único exemplo da gramática de Mamiani:


dzueicò saibŷ bodzò 'necessito do machado'


Mamiani apenas deixa implícito que ele participa da segunda declinação (porquê começa com a vogal A) e que sua função é surgir depois do verbo EICÒ 'ter mister, necessitar', ele é conjugado da seguinte forma no Kipeá:


hiaibŷ = de mim

eyaibŷ = de ti

saibŷ = dele/dela

hiaibŷdé = de nós, sem incluir você

kaibŷ ou kaibŷá = de nós todos

eyaibŷá = de vós

saibŷá = deles/delas


O Dzubukuá descrito por Queiroz não explica a presença dessa partícula, mas hoje ao pesquisar diretamente por ela, encontrei evidência clara de sua presença e respeito pela regra estabelecida na gramática de Mamiani:


Katecismo Indico de Bernardo de Nantes, pág. 96


4. wangänle clubwj idce, dadzurio enna, dzweco han y bwj han y annehiej 


Português


4. Senhor, sou pobre: necessito de tudo: Soccorreime : tenho necessidade, de que ponhais em mim os vossos olhos


dzweco han y bwj, ou na ortografia nova dzueko hanybui é claramente cognato do Kipeá dzueicò saibŷ, tanto na conjugação quanto na estrutura. No Dzubukuá se conjugaria:


hiaibui = de mim

añaibui = de ti

hanybui = dele/dela

hiaibuidde = de nós, sem incluir você

kaibuia = de nós todos

añaibuia = de vós

hanybuia = deles/delas


BŶ e BWJ não parecem ter uma função prevalente dentro das línguas Kariri, sendo usando somente na presença desse verbo, é possível que tenha entrado dentro desta família através de alguma língua do ramo Terejê, visto que existe no Akuwẽ uma partícula com função dativa idêntica:


Xavante: ba 'a, para'


Reconstruo para as outras línguas como:


Proto-Kariri: *by ~ *ai-by 'para, a, em direção de'


Dz.: bui, aibui

Kp.: bŷ, aibŷ

Sp.: púi, aipúi

Km.: pùi, aipùi

Kt.: bi, aibi

KX.: by, aiby

Pp.: bý, aibý

Dz-Tx.: bwi, aibwi

Kb.: bý, aibý


Terejê

Xocó: ba, -ba

Natú: ba, by, -ba, -by

Wakonã: bá, -bá




Autor: Suã Ari Llusan 





NOVO PREFIXO DESVENDADO


 Um morfema que me intrigou nas minhas pesquisas das línguas Kariri foi o RO/LO encontrado nas palavra robae/loboe 'todos, tudo' do Kipeá e Dzubukuá respectivamente, descobri após analisar o Akuwẽ que esse morfema se trata de um prefixo que muito provavelmente foi herdado da interação dos Kariri com os Terejê, no Xavante descrito no dicionário de Lachnitt, ro-/rob-/rom- se trata de um prefixo intensificador do significado do morfema no qual ele se atrela, portanto RO-BAE/LO-BOE é como se estivesse se dizendo "todos mesmo, absolutamente todos". Reconstruo de volta para as línguas Kariri como:


Proto-Kariri *rô- 'preifxo intensificador'


Dz.: lo-

Kp.: ro-

Sp.: lo-

Km.: ro-

Kt.: ro-

KX.: rô-, lô-

Pp.: rô-

Dz-Tx.: lo-

Kb.: rô-




Autor: Suã Ari Llusan 





ENDEREÇO UNIVERSAL / WÌGRAN GRANDILIA SEHOÌDÈ

 ENDEREÇO UNIVERSAL / WÌGRAN GRANDILIA SEHOÌDÈ




     Vamos sonhar um pouco, se por ventura você fosse um astronauta e viajasse para os confins do universo, sua espaçonave tivesse problemas técnicos e não pudesse voltar para a terra. Nesse momento crítico chegasse uma nave alienígena e lhe oferecesse ajuda, o ET dizendo nós podemos levar vocês para sua casa, mas queremos saber qual seu endereço universal. 

      No entanto os terráqueos responderam assim: 

- Aldeia Kariri-Xocó;

- Município de Porto Real do Colégio;

- CEP : 57.290-000

- Estado de Alagoas;

- República Federativa do Brasil; 

- Subcontinente Sul Americano

- Planeta Terra;

- Sistema Solar;

- Galáxia Via-Láctea;

- Universo Cosmos.


     Com a localização do planeta dos terráqueos os alienígenas poderam levar os astronautas de volta ao lar. No final os astronautas agradeceram os Ets por essa grande aventura cósmica.



Natú


 Da wanànan haìré, no kide kazì wìza irodè, thawìbà maha da iremby sehoìdè, bynengi maha kawìba irodè, tha ma gra ima Atisêrê kranditókbà. No imbàwi wrì sehoìza iwìba irodè zìtók sehoì, byzibà maha wariha, wêrêwì ZS: "mynu wadinan ma kagrandilia, sàrà waneso apa kazì wìgran grandilia sehoìdè neru.


 Wêrêby maha anê zì ma atisêrê neru:

- Simido Kariri-Shókó

- Krasimido Simido

- Kiezaba: 57.290-000

- Yatisêrê Krasimidonan Rigunan;

- Azì Ñàhìdè Krashulohé

- Inkra Atisêrêkó Wasuti Kródè

- Intho Atisêrê;

- Roñan Krashulodè

- Irodzé Awì Mamakadè;

- Sehoìdè Haìkru.


 Mynu ma gra maha zìtók sehoì imadì baza intho zì atisêrê wìzanan irodè. So remby wêrê maha di wìzanan irodè "wêrêyó" da zìtók sehoì di akóma wìmani haìkrudè.





Autores: Nhenety KX texto em Português e Suã Ari Llusan tradução em Natú 





A ETIMOLOGIA DE CUROTÈ 'COLHER'


A palavra CUROTÈ é o substantivo 'colhÉr', por um tempo pensei se tratar de um empréstimo do português que sofreu metátese, mas o Kariri não possui qualquer indício de metátese em qualquer uma de suas palavras, o que impede essa teoria, vejo hoje que CURÒ se assemelha mais a:


Xerente: kuiro 'borduna, cacetete'


TÉ talvez seja cognato de TÃ 'novo' de PODI-TÃ, e portanto cognato do Xavante té 'novo, cru, não maduro', portanto temos CURO-TÈ 'a borduna nova'


Reconstruo como:


Proto-Kariri *kuro-té 'borduna nova, colher'


Dz.: kurotte

Kp.: curotè

Sp.: kurotté

Km.: kurottè

Kt.: kurote

KX.: kuróté

Pp.: kuróté

Dz-Tx.: kurote

Kb.: kuróté


Terejê

Xocó: kuróté, 'uróté

Natú: kuróté

Wakonã: kuróté




Proto-Kariri *kuro 'borduna'


Dz.: kuro

Kp.: curò

Sp.: kuró

Km.: kurò

Kt.: kuro

KX.: kuró

Pp.: kuró

Dz-Tx.: kuro

Kb.: kuró


Terejê

Xocó: kuró, 'uró

Natú: kuró

Wakonã: kuró



Proto-Kariri: tae ~ té ~ tã 'novo, cru'


Dz.: tam, te, toe

Kp.: tã, tè, tae

Sp.: táng, tái, téi

Km.: tàng, tài, tèi

Kt.: tan, té, tó

KX.: tã, té, tae, toe

Pp.: tã, té, tae

Dz-Tx.: tam, te, toe

Kb.: tã, té, tê


Terejê

Xocó: té, ta, tã

Natú: té, ta, tan

Wakonã: té, tá, tám





Autor: Suã Ari Llusan 





sexta-feira, 29 de dezembro de 2023

ETIMOLOGIA DE INGHE 'CRIANÇA'


Muitas línguas do Brasil possuem uma coisa chamada de posse inalienável, simplificando, é uma posse obrigatória de um substantivo, normalmente coisas que no mundo real são em todos os casos pertencentes à alguém, como partes do corpo humano ou parentes de uma família, nesse caso, uma criança raramente não pertence a uma família na concepção Kariri, portanto é possuído com o prefixo i-, essa posse obrigatória fez com que sua pronúncia original fosse escondida, i-nghe /ĩ'ŋə/ possivelmente no passado era i-ka, sim, o mesmo ká encontrado no nome do povo Xocó (có = antigo ká), significando 'filho, filha, criança'.





Autor: Suã Ari Llusan 





ETIMOLOGIA DE MADZÓ 'MILHO ASSADO'


A palavra é composta de MA 'milho', encontrada no Wakonã matilhe/matilha 'milho' e DZÓ 'assar, queimar, torrar', cognato das seguintes palavras:


Xavante: dzada 'queimar, sapecar, cremar'

Xerente: zata 'queimar no fogo, torrar'


Reconstruo para as línguas Kariri e Terejê como:


Proto-Kariri *ma 'milho'


Dz.: ma

Kp.: mà

Sp.: má

Km.: mà

Kt.: ma

KX.: má

Pp.: má

Dz-Tx.: ma

Kb.: má


Terejê


Xk.: ma

Nt.: ma

Wk.: ma


Proto-Kariri *dzâ 'assar, torrar'


Dz.: dzo

Kp.: dzò

Sp.: tzói

Km.: tzòi

Kt.: zó

KX.: dzó

Pp.: dzó

Dz-Tx.: dzo

Kb.: zó


Terejê


Xk.: dza

Nt.: za, zó

Wk.: dzá






Autor: Suã Ari Llusan 





O SIGNIFICADO DOS NOMES DAS ETNIAS DA NAÇÃO KARIRI


Me foi perguntado o significado autodenominativo do verbete 'Kariri', isto é, qual o significado dessa palavra para os próprios Kariri. Posso dizer logo de cara que Kariri ou Kiriri é que é chamado de "exônimo", exo- como em êxodo se refere a uma coisa de fora, -nimo é nome, portanto exô-nimo é o 'nome de fora', os Kariri até onde fui capaz de perceber se dividiam em três grupos, baseados em uma divisão similar àquela vista nos Jês Setentrionais, de Pais/Avós e Filhos/Filhas, digo isso demonstrando aqui estes nomes:


Dzubukuá: dseho (povo descendente), dseho buhe (povo vermelho)


Kipeá: nhihò (povo avô, povo velho, compara com NHI de NHI-KÉ 'avó' e a relação aproximada dos Kipeá com os Natú, que também significado 'velho' na língua Natú)


Kamurú: klöh (relacionado ao Akuwẽ kra 'filho, filha')


Sapuyá: glöh, löh (mesmo grupo que o Kamurú)


 Como é possível ver, os povos Kariri se identificavam de formas distintas, o Dzubukuá herdou sua palavra de um antigo *ka 'filho', palavra esta vista nos vocabulários de muitas línguas do Nordeste, como no Karatiú (Tarairiú) akó 'filho' e kómatyn 'príncipe', o nome do povo Tru-ká e o nome do povo Xokó (< Sê-ókó, visto também como Xoká), o Kariri palataliza suas velares surdas (o som de /k/) para kya em certos ambientes, esta palatalização levou o kya, kye, kyi, kyo, kyu a virar tsa, tse, tsi, tso, tsu com o tempo, além dos /a/ em muitos casos terem virado schwas /ə/, digo tudo isso para argumentar que a mudança de ka para dse é absolutamente regular seguindo os padrões de evolução do Dzubukuá, fazendo com que estes sejam os dse-ho 'o povo descendente, o povo dos filhos'.


 Os Kipeá faziam parte de uma divisão que havia se separado junto com o povo Terejê conhecido como Natú, que provavelmente tinham vários clãs, um deles sendo os Peagaxinã (Os da pisada do mutum), que pareciam ser os mais importantes, pois seu nome foi que inspirou a tradução do nome KI-PE-Á (Os da pisada da ave), as raízes aqui citadas podem ser encontradas no Kamurú KI-gropi 'pássaro' e no próprio Kipeá PÈ 'pisar'. Voltando para o endônimo Kipeá, isto é, o nome que eles se davam como povo coletivamente e independente da divisão das aldeias, o nome era NHIHÒ, vemos um paralelo de HÒ com o Dzubukuá dse-HO, possivelmente a palavra para 'pessoa, gente, humano', NHI só tem um cognato claro anotado, que é a palavra NHI-KÉ, que está sufixada com -KÉ que torna as palavras femininas, retirando esse sufixo nos sobra NHI 'velho, idoso', portanto temos os NHI-HÒ 'o povo velho, o povo dos ancestrais'.


Terminando esta parte com os Kamurú e Sapuyá, ambos se chamavam de uma variação de klöh, facilmente identificável como uma palavra do grupo Macro-Jê, talvez vinda através do Terejê, seu cognato mais próximo se encontra no Xerente kra 'filho, filha' e no Xavante 'ra 'filho, filha' ( < *kra). Eles também, assim como os Dzubukuá, se chamavam de 'descendentes', mas usavam uma palavra diferente destes, o que talvez indique de que se tratavam de um grupo que se considerava distinto dos demais Kariri, formando o grupo KLÂ.


Indo para os nomes das etnias dentro destes grupos citados acima, Dzubukuá se divide como Dzu buku-á 'aqueles das águas brancas', antigamente pensei que havia algo de errado com a classificação do nome, pois o classificador normal de líquidos é krô- no Dzubukuá, mas percebi que dentro do Katecismo Indico havia o exemplo de dzubuye 'mar' que claramente mostrava que essa regra não é rígida, portanto esse é o significado do nome desta etnia.


Kipeá foi explicado ali em cima como tradução do clã/subgrupo Natú chamado Peagaxinã, portanto significa 'aqueles da pisada da ave'.


Sapuyá se refere a um rato silvestre, chamado de rato-de-espinho, derivado de uma palavra Tupi, também derivou a palavra cobaia, vindo de çabuîa 'rato que se come'.


Kamurú, de acordo com Teodoro Sampaio, se refere ao robalo, um peixe abundantemente presente no Rio São Francisco.





Autor: Suã Ari Llusan 





ETIMOLOGIA DE KITCI 'AREIA'


A palavra KITCI é parte do grupo de palavras que derivam de uma reduplicação, ou seja, anteriormente a palavra era pronunciada KI-KI, o fato de não estar acentuada indica que sua pronúncia se aproximava de /kɪt͡sɪ/ (quase como se fosse quêtsê, só que tendendo um pouco para quitsi), a palavra talvez tenha relação direta como as seguintes palavras:


Xerente: tka

Xavante ti'a ( < *ti-ka)


A palavra KA surge nesse composto, onde TI também é herdado pelo Natú (atisêrê) e pelo Xocó (adsìhi), TI-KA formam 'terra' juntos, argumento que KA seja cognato direto do KI de KITCI, já que sua função de 'terra' já estava suprida pela palavra RADÀ. Reconstruo de volta para o Kariri e Terejê como:


Proto-Kariri *kî-tsî 'areia, terra'


Dz.: kidsi

Kp.: kitci

Sp.: kítzi

Km.: kìtzi

Kt.: kese

KX.: kitci

Pp.: kitsi

Dz-Tx.: kitsi

Kb.: kisi


Terejê


Xk.: kaka, kadsa

Nt.: kìkì, kìdsì

Wk.: kêkê, kêdsê





Autor: Suã Ari Llusan 





ETIMOLOGIA DE IBÁ 'CARRO'


A palavra IBÁ é um composto entre as raízes


I 'madeira, árvore', a palavra 'madeira' no Kariri pode ser vista em dois formatos: DZI e WI, DZI talvez seja a forma nativa, enquanto WI teria sido emprestada do Natú (no caso do Kipeá), isso também facilita argumentar que dzi seja na verdade dz-i, com um prefixo relacional preso a sua forma padrão.


BA 'retalhar, afinar', cognato do Xerente baihâ 'afinar, retalhar', talvez venha da mesma raiz que o Xavante ba'a 'cortar, dividir' ( < *ba-ka ).



Assim formando I-BÁ 'madeira retalhada' > 'veículo', provavelmente na época servindo de tradução para as carroças trazidas pelos europeus.





Autor: Suã Ari Llusan 






quinta-feira, 28 de dezembro de 2023

REVITALIZAR A LÍNGUA CONECTANDO SUAS RAIZES ÀS RAMIFICAÇÕES


Português


Revitalizar uma línguas é conectar suas raízes ao tronco chegando nas ramificações atuais liberando-se para um futuro com vida para o bem estar de um povo .


Dzubukuá


Pedsohokie bihe wolidze yaboe immu do bewam, dadibèwi mo bohem doihiku, dadipriho do iwidditte yoboho idsohotte do ipitte kangri bihe dseho.


Kipeá


Petçohòchè bihè waridzà yabae imù bewõ saì, baeiwiitù mò ibaeisatè dòigýcù, diprìnatè dò siwitèdi sembohò itçohotè dò sipitè canghi bihè tçõhò.


Sapuyá


Petzohocé gaibó oritzé yapái immú pewóng yaí, páiwimming mú ukí taiggikú, tipluyming tá simingttettí yapohó itzohotté tá singpitté kanglí gaibó tzohó


Kamurú


Petzohocè gaibò aritzà yabài immù bewòng saí, bàiwimming mù baifèng taiggikù, tibluyming tà simingttedì sangbohò itzohottè tà singpittè kanniggùi gaibò tzahò


Xocó


Pibatã avêl'a yaba mupa so bawã, bawì-wã má pa-nã daka'u, diwase-wã da atatamã imãde aba da ahaì'a n'i atereji


Natú


Wìbathan wariza yabàwì imunan da bewon, da bàwìwì ma bà dakahangì, da diwisewì da wêbana imadì baza da heì ba ñi aterezì.


Wakonã


Pêbatám bêlêdsiê yabé impá-nám dá bêbã, dá babêbê má ba dákahádiá, dá bassê-bá dá tabakrómanê iskiô ba-bá dá impêsá haê i-nhí tipiê aterejím



Autores: Nhenety KX texto em Português e Suã Ari Llusan texto em Kariri e Terejê 


ETIMOLOGIA DE PEHÈ 'TORNAR-SE DEPRESSA'


A palavra parece ter sido herdada de uma reduplicação, onde a pronúncia antiga fosse pé-pé, seu cognato mais próximo pode ser encontrado no Xavante pi'ra 'virar, voltar-se' (< *pi-kra). Reconstruo de volta para as línguas Kariri e Terejê como:


Proto-Kariri: *pé 'virar-se, tornar-se'


Dz.: pe

Kp.: pè

Sp.: phái

Km.: phài

Kt.: pé

KX.: pé

Pp.: pé

Dz-Tx.: pe

Kb.: pé


Terejê

Xocó: pé, fé, péfé

Natú: pé, hé, péhé

Wakonã: pé, fé, péfé




Autor da matéria: Suã Ari Llusan





O PREDICATIVO DO KARIRI HERDADO DO TEREJÊ


Ao que parece, o Kariri herdou uma partícula diretamente do adstrato Terejê, cujo foi mencionada na etimologia de TOTONGHI, e também pode ser notada nas seguintes palavras:


POPONGHI 'roca de fiar'

CANGHI 'bom, ser bom'

NETÒ, NETONGHI 'lembrar de coisa necessária, ser necessário'


Este último exemplo de variação entre NETÒ e NETONGHI mostra que seu significado é fraco o suficiente para não alterar de forma significativa a palavra NETÒ, isso indica que se trata de um sufixo com função de copula, que é um verbo fraco, normalmente os verbos 'ser' e 'estar'.


 No texto de TOTONGHI eu brevemente comparei este com o sufixo predicativo -ki do Xerente, cujo é seu cognato mais próximo, a evolução de k > ng em ambiente medial já havia me intrigado desde 2022, mas nunca soube exatamente como explicar o porque de som de NG ter sido preservado de alguma forma, visto que as línguas do Nordeste em sua maioria (exceto o Xukurú) transformaram seus NG iniciais em K, preservando-os em posição medial, ou seja:


Eu posso dizer a-ng-a, mas não posso dizer ng-a, pois o NG não tem uma vogal no começo para permitir sua existência na fonotática desta língua.


O Kariri herdou esse sufixo e o usa claramente como visto em NETÒ, portanto estou aqui para ensinar como ele funciona gramaticalmente, é bem simples, o sufixo predicativo tem função de transformar a palavra no qual ele está sufixado em um predicado, causado pelos significados fracos de 'ser, estar', portanto:


Padzù 'pai, senhor' > Padzunghi 'é pai, é senhor'

Pó 'espancar, bater' > Ponghi 'é espancado, está espancado'

Pè 'pisar' > penghi 'é pisado, está pisado'


Percebam que nos dois últimos exemplos, a afirmação causada pelo sufixo torna o significado aproximado de um particípio passado, como em penghi 'pisado' e ponghi 'espancado', cujo em muitas línguas, assim como na língua portuguesa, tem uma função extra de criar adjetivos, se algo é 'pisado', portanto tem 'qualidade de algo que sofreu a ação de ser pisado', portanto -NGHI pode ser usado para a criação de adjetivos além de sua função de criar verbos. Restituíndo este de volta para as línguas Kariri, ficaria assim:


Proto-Kariri *-ng(r)i 'sufixo predicativo'


Dz.: -ngi, -ngri

Kp.: -nghi

Sp.: -nglí

Km.: -ngùi

Kt.: -ngi

KX.: -nghi, -ngri

Pp.: -ngi

Dz-Tx.: -ngri

Kb.: -ngi




Autor da matéria: Suã Ari Llusan





ETIMOLOGIA DE WINÚ 'ATREVER-SE', NUSI/NUDDHI 'DETERMINAR, ESCOLHER' E BORONUNU 'ESCRAVO'


A principal palavra aqui é o verbo NU 'determinar, colocar', cognato distante destas palavras:


Xavante: nomri 'deixar, botar, colocar, conceber'

Xerente: nõ, nõmrĩ 'colocar em posição horizontal, colocar deitado, pôr'


Portanto o composto NU-SI/NU-DHI significa 'colocar o coração', portanto 'determinar'.

WI-NU significa 'ir determinar' ou 'ir colocar', portanto 'atrever-se'.

BORO-NU-NU talvez seja boro 'roça' (cognato do Xavante buru 'roça') + nu-nu 'colocar-colocar' > boro-nu-nu 'colocar para trabalha na roça', portanto 'servo, escravo'.



Proto-Kariri *nu 'determinar, colocar, botar, escolher'


Dz.: nu

Kp.: nù

Sp.: nú

Km.: nù

Kt.: nu

KX.:nú

Pp.: nú

Dz-Tx.: nu

Kb.: nú


Terejê


Xocó: nú

Natú: nu

Wakonã: nú




Autor da matéria: Suã Ari Llusan





ETIMOLOGIA DE WATCÈ 'SER BOTADO PREGÃO'


O significado da frase 'ser botado pregão' é nos tempos modernos o nosso 'divulgar', essa palavra é provavelmente da família Terejê, visto que um cognato pode ser demonstrado através do ramo Akuwẽ:


Xerente: wakẽ 'insultar'

Xavante: wa'ẽ 'zombar, xingar'


Portanto sendo possível reconstruir para as línguas Kariri e Terejê como:


Proto-Kariri *watsé 'divulgar, berrar'


Dz.: wadse

Kp.: watcè

Sp.: watzái

Km.: watzài

Kt.: vasé

KX.: watcé, wadsé

Pp.: watsé

Dz-Tx.: watse

Kb.: watsé


Terejê


Xocó: wakê, wadsê

Natú: wakê, wadsê

Wakonã: wakê, wadsê



Autor da matéria: Suã Ari Llusan





ETIMOLOGIA DE NHAEHI 'RESGATAR, FAZER PAZES' E HANHO 'FAZER PAZES'


Ambas as palavras parecem bem distantes uma da outra, mas é possível confirmar que elas, através do Terejê, são derivadas da mesma raiz *ja 'ficar em pé'. Os cognatos Akuwẽ mostram essa relação:


NHAEHI 'resgatar, fazer pazes', cognato de:


Xavante: tsahi 'ser bravo, ser valente'


A palavra NHAEHI talvez seja do Natú e signifique algo como ñà-hi 'estar de pé-determinar', com as raízes separadas encontradas no Akuwẽ:


NHAE, cognato de:

Xavante: tsa 'ficar de pé'

Xerente: sa, da, za 'ficar de pé'


HI, cognato de:

Xavante: hiri 'colocar, pôr, botar, deixar'

Xerente: hiri, hri 'determinar, pôr, colocar deitado'


E talvez no Xocó:


Xocó: adsìhi (HI 'terra', caso este derive do verbo HI 'colocar deitado')


Obs.: visto que nesse caso existe a divergência na consoante inicial (NH vs TS), pode-se argumentar que o Terejê, assim como o Xavante, transitiva os sons palatais entre versões nasais e não-nasais, como por exemplo na palavra Xavante: nhibdzari 'bondade' que possui a variante tsibdzari 'bondade', o mesmo pode ser visto registrado no Natú ati-sêrê comparado com a palavra wa-nherè 'fazenda', onde sêrê/nherè significam 'meter, colocar' ou nesse contexto 'plantar, cultivar'.


HANHO 'fazer pazes', cognato de:


Xavante: tsahö 'parar, cessar, interromper', com o desenvolvimento de 'parar, interromper' > 'interromper as agressões' > 'fazer pazes'


A palavra talvez se divida como HAN-HO 'estar de pé-acalmar', cognato das seguintes palavras:


HAN 'ficar de pé', cognato de:

Xavante: tsa 'ficar de pé'

Xerente: sa, da, za 'ficar de pé'


HO 'acalmar', cognato de:

Xavante: höri 'acalmar'

Xerente hâ (surge no verbo frasal pkẽ wahâ 'acalmar o coração')


Obs.: no Proto-Dzubukuá, ou seja, antes dos aspectos específicos do Dzubukuá se desenvolverem (i.e. debucalização de /s/ > /h/ e /c/ > /ð/), a palavra provavelmente já era pronunciada sahâ ou sãhâ, o que levou o Dzubukuá a transformá-lo em hanho (hãho) e não dhanho (dhãho), este cognato Xavante também confirma a intenção de Nantes de que a palavra HANHO fosse pronunciada HAN-HO e não HA-NHO, o que auxilia-nos no desvendar de sua ortografia.


Assim as duas palavras podem ser recuperadas para ambos os grupos Kariri e Terejê:



Proto-Kariri *sahi ~ ñahi 'resgatar'


Dz.: hahi, ñahi

Kp.: saehi, nhaehi

Sp.: sáhi, nyáhi

Km.: sàhi, nyàhi

Kt.: ahi, ñéhi

KX.: nhaehi, saehi

Pp.: saehi, nhaehi

Dz-Tx.: hahi, ñahi

Kb.: hêhi, nhêhi


Terejê

Xocó: nháhi, sáhi

Natú: ñàhi, sàhi

Wakonã: nhêhi, sêhi



Proto-Kariri *hi 'colocar, botar, determinar'

Dz.: hi

Kp.: hi

Sp.: hi

Km.: hi

Kt.: hi

KX.: hi

Pp.: hi

Dz-Tx.: hi

Kb.: hi


Terejê

Xocó: hi

Natú: hi

Wakonã: hi



Proto-Kariri *sahâ ~ ñahâ 'acalmar, fazer pazes'


Dz.: hanho, ñanho

Kp.: saehò, nhaehò

Sp.: sanghó, nyanghó

Km.: sanghò, nyanghò

Kt.: ahó, ñahó

KX.: hãhó, sãhó, nhãhó

Pp.: saehó, nhaehó

Dz-Tx.: hanho

Kb.: hêhó, nhêhó


Terejê

Xocó: sahá, nhahá

Natú: sàhó, ñàhó

Wakonã: sêhá, nhêhá



Proto-Kariri: *sa ~ ña 'estar de pé'


Dz.: ham, ñam

Kp.: sae, nhae

Sp.: sáng, nyáng

Km.: sàng, nyàng

Kt.: a, ña

KX.: hã, sã, nhã

Pp.: sae, nhae

Dz-Tx.: han

Kb.: hê, nhê


Terejê:

Xocó: sá, nhá

Natú: sà, ñà

Wakonã: sê, nhê



Proto-Kariri *hâ 'acalmar'


Dz.: ho

Kp.: hò

Sp.: hó

Km.: hò

Kt.: hó

KX.: hó

Pp.: hó

Dz-Tx.: ho

Kb.: hó


Terejê:

Xocó: há

Natú: ha

Wakonã: há






Autor da matéria: Suã Ari Llusan



CONTO DE SETE ESTRELA / IWARIBÓ SEMENTIA IROTIA PANYTIA


Natú


Sementia Irotia Panytia makaha sementia aterezì nédu. Niwan makaha tìsô tókénan, kadia Tìsô Pikua Irotia, niwan makaha tìsô tómenan dehen, kadia Tìsô Tó Irotia. Haìkópô makaha dè ima pha myze, pha se dehen. Niba makaha natu Panytia ma inbè kikibà. Krapàtók makaha tìsô tókénan imadì tìsô tómenan imesudu ingrandilia zìbó. Nipha za makaha myze, tìpî vê haìdse, idiè Panytia, itha za ma gra tìpîtók. Dimydia ma bana atisêrê ma Indiè Kraunan. Tha makaha Tìsô Pikua ñu sô didiè, ninebà dè beidia ma Indiè Kraunan. Tha za ma gra waribàtók tìpîza ma atu zìbó. Nipô makaha Panytia wìñeme, niñemebà itìsô tómenan itìsô tókénanbà ma wìñeme, indió za para ma kró. Niwan za niña Tìsô Tó ma kathà parabà dìka niñeme iwanbu ma diódia kraunañi, nimàgàkran myze haìakóma imanan. Waìtìpî heì ma wìñeme Panytia imadì Tìsô Pikua.


 Yanê Panytia imadì Tìsô Pikua makaha niwìmanì, niwìmanìdodo, nirenby wekuwon sonséñi. Nibì shulorobà kathà irodu inkó ma sonsé, kathà Tìsô Pikua, Tìsô Tó, Sementia Irotia Panytiabà. Besì zìbó ma kikibà wariwan "makaha pha myze inkra wakra, makaha tha ma gra tìpîtók. Wazikiô zìtìpîdia... wan nì ma atisêrê hómy todìwantók...". Nitha za wìsha niraenbà za isìbà grandilia, yanê wari:


"pôfô, wawan nì..."


 Nidówan wìsha, dimydia za ma bana atisêrê ka zìbó. Thahoì za kra ma sonsé todìza za ma wekuwon sonsé. Be za zìbó wìshabà ma kra ma sonsé. Nine ka zé ñi Sementia Irotia Panytia, niwaribà iñin iro, ma tìpîza Iro Robàvê, inbàrà iné aterezìnan. Nidì tìpî ma wari ma iwanwan Sonsé.


Português


"Sete Estrela era um menino índio inteligente. Tinha três irmãs, chamadas Três Marias e tinha três irmãos chamados Três Reis Magos. A mãe os criava com pesca e caça. O avô de Sete Estrela morava na beira da praia. As três irmãs brincavam com os três irmãos atrás da casa do velho. A mãe de Sete Estrela, um belo dia, foi pescar e jamais voltou. Encantou-se em mãe d'água. As Três Marias foram procurar a mãe e viram que ela virou-se em mãe dágua. Voltaram e não disseram nada ao velho avô . Então Sete Estrela fez uma canoa e botou os três irmãos e as três irmãs no barco, entrou mar à dentro . Aconteceu que os Três Reis Magos morreram naquele lugar do mar porque botaram as pernas fora dágua e o peixe grande os devorou. Apenas ficou no barco, salvo, Sete Estrêla com as Três Marias.

 

E Sete Estrela e as Três Marias viajaram, viajaram tanto, que foram parar no firmamento do céu. Todos os dias se vê estas sete estrêlas no céu que são as Três Marias, os Três Reis Magos e Sete Estrela . O velho na praia ficou triste dizendo "meus netos foram pescar e não voltaram mais. E eu aqui fiquei sozinho. . . Eu irei andar pelo mundo afóra sem parar ... " . Pegou o tição (o paú de fogo) e sacudiu por cima da casa e. disse:


- "Pôfô, vou andar ... "


O tição foi desaparecendo e o velho encantou-se. Apareceu o cometa que parou no firmamento do céu. E o velho e o tição do velho viraram em cometa do céu. Os índios zelam este nome de Sete Estrela e dizem que é da estrela, especialmente da Estrela D'Alva que sai o saber dos caboclos. Isto prova que existe o Criador" .



Fonte: ANTUNES, Clóvis. 1973. Wakona-Kariri-Xukuru: Aspectos Sócio-Antropológicos dos Remanescentes Indígenas de Alagoas. Maceió, Imprensa Universitária – UFAL.





Tradutor da matéria: Suã Ari Llusan



quarta-feira, 27 de dezembro de 2023

PARENTESCO DO NATÚ


 Com as sugestões providas para o Wakonã, aqui providencio as palavras de parentesco do Natú:


Ancestrais

inetók (lit.: não-visto), ñi keñe (avó antiga), natu keñe (avô antigo)


Trisavós e trisnetos

trisavó/trisavô thakiehó wa-natukó 'eles vem antes dos bisavós' (natu-kó 'avô/avó grande)

nókó diódia ma tìsô 'filho que está afastado três vezes'


Bisavós e bisnetos

bisavô = in-su wa-mèza (aqui mè-za significa cuidador, se referindo ao par de parentes mais próximos genealogicamente dos filhos, que são o pai e a mãe)

bisavó = in-dè wa-mèza

bisneto/bisneta = nókó diódia ma sô 'filho que está afastado duas vezes'


Avós e netos

avô = natu ou in-su wa-mèza

avó = natu, natuké ou in-dè wa-mèza

neto = in-kra wa-kra ou in-kó wa-kó (ambos significam 'filho do filho') ou nókó diódia ma tìpî 'filho afastado uma vez'


Irmãos e irmãs dos avós (tio-avô e tia-avó)

Tio-avô/tia-avó paterno(a) = in-tó natu wa-zu

Tio-avô/tia-avó materno(a) = in-tó natu wa-dè


Pais, mães

Pai = su, zu

Mãe = dè, diè



Tios, tias, sobrinhos e primos

Tio(a) paterno(a) = in-tó wa-zu

Tio(a) materno(a) = in-tó wa-dè


Irmãos e irmãs

Irmão = aka, tó, akató, akamen, tómen

Irmã = aka, tó, akató, akaké, tóké


Filhos e filhas

Filho/Filha = kra, seókó, kó, ókó, shókó





Autor da matéria: Suã Ari Llusan



AS PLURACIONALIDADE DOS VERBOS TEREJÊ

 Com a confirmação da publicação anterior, além de uma parcial segurança de que alguns verbos parecem ter sido herdados do Proto-Jê Central com estruturas semelhantes àquelas vistas no Akuwẽ, podemos trabalhar na reconstrução deste sistema das línguas Terejê, usarei o Natú como língua base dos exemplos:


rowan wa-dì ou wa-rowan "eu derrubei (singular)"

robà wa-dì ou wa-robà "nós dois derrubamos (dual)"

robà wa-dì ou wa-robà "nós todos derrubamos (plural)"


Pluracionalidade é um aspecto de várias línguas do mundo, onde o número de um argumento é explícito não no pronome, mas sim no verbo, ao invés de diferenciar entre "eu como" e "nós comemos", a diferença seria mais como "eu como" e "eu comemos", sendo que o pronome "eu" tem função tanto singular quanto plural em muitas línguas do mundo, o Natú parece ter compartilhado dessa característica. Aqui vão 3 trios de verbos para exemplificar a distinção:


AMAR

wêrê wa-dì ou wa-wêrê 'eu gosto, eu amo (singular)'

sàrà wa-dì ou wa-sàrà 'nós dois queremos, nós dois amamos (dual)'

tha wa-dì ou wa-tha 'nós todos queremos, nós tomos amamos (plural)'


COMER

kran wa-dì ou wa-kran 'eu como (singular)'

dó wa-dì ou wa-dó 'nós dois comemos (dual)'

ñu wa-dì ou wa-ñu 'nós todos comemos (plural)'


PEGAR

tha wa-dì ou wa-tha 'eu pego (singular)'

my wa-dì ou wa-my 'nós dois pegamos (dual)'

my wa-dì ou wa-my 'nós todos pegamos (plural)'




Autor da matéria: Suã Ari Llusan



CRORÓROBÁE NAS OUTRAS LÍNGUAS KARIRI


Dzubukuá: krolobboè

Sapuyá: leilopéi

Kamurú: kleilobei

Katembri: krórobó

Kariri-Xocó: króroboe

Pipipan: krórobae

Dzubukuá-Tuxá: kroloboe

Kambiwá: krórôbê




Autor da matéria: Suã Ari Llusan



A ETIMOLOGIA DE CRÓROBAE 'GÊMEOS'


 Mais um aspecto sobre a família Terejê parece ter sido desvendado se levarmos em consideração a palavra mencionada no título. Crórobae foi anotada por Mamiani em seu catecismo, com o significado de 'gêmeos', logo de cara podemos notar uma palavra familiar ao grupo Macro-Jê e que também servia de nome para os povos Sapuyá e Kamurú de acordo com Martius, que é a palavra Cró, um processo comum do Kariri parece ter sido a mudança de a > ó, cujo se revertermos podemos reconstruir sua estrutura original *kra 'filho, filha'.


 Faltando apenas ROBAE, apesar de sua semelhança ao seu homófono ROBAE 'todos', eu não creio que essas duas palavras sejam a mesma. Na verdade, graças à comparação com o Xavante e Xerente, podemos perceber algo interessante:


Xerente: ropãri 'derrubar (dual)'

Xavante: ropãrĩ 'desmaiar (dual)'


Muitos talvez não entendam o que isso significa, mas muitas línguas do mundo usam verbos como 'cair', 'sair' e também 'derrubar' para denotar os conceitos de 'nascer' e 'parir', em ambos os casos, o verbo é dual, uma forma de enumeração dos participantes de um argumento onde se nomeiam dois sujeitos do verbo, de certa forma é possível expressar no português com a frase:


'nós dois fomos buscar as cadeiras'


 Apesar de que nesta não há uma distinção clara entre o plural e o dual, enquanto em várias línguas indígenas do Brasil e também mundo afora se faz tal distinção, se essa mesma distinção for aplicada aqui, faria total sentido que o composto significasse:


CRÓ-ROBAE 'nascer dois filhos'


 O que nos indicaria que gramaticalmente, as línguas Natú, Xocó e Wakonã faziam distinção de número nos seus verbos assim como o Xavante e o Xerente e as línguas Jê Setentrionais.





Autor da matéria: Suã Ari Llusan



SUGESTÃO DE NÚMEROS NATÚ


1 = tìpî (cabeça)

2 = sô (olhos)

3 = tìsô (1+2, mesma partícula usada no nome de iro tìsô 'Órion')

4 = wanati (wa-n-ati 'nossos avós')

5 = mykra (pegar-mão)

6 = dazuman (com o pai e a mãe)

7 = irodu (grupo de estrelas, referente às Plêiades')

8 = ñiman (com os bisavós)

9 = yawan (gestação)

10 = sôkra, sôk (duas mãos)

11 = sôk tìpî (10+1)

12 = sôk sô (10+2)

13 = sôk tìsô (10+3)

14 = sôk wanati (10+4)

15 = sôk mykra (10+5)

16 = sôk dazuman (10+6)

17 = sôk irodu (10+7)

18 = sôk ñiman (10+8)

19 = sôk yawan (10+9)

20 = byman (com os pés)

30 = tìsôsôk (três dez)

40 = sôby (dois vintes)

50 = kra-sôk (cinco dez)

60 = tìsôby (três vintes)

70 = irodusôk (sete dez)

80 = atiby (quatro vintes)

90 = yawansôk (nove dez)

100 = natiya (quatro gerações)

1000 = sôknatiya (10x100)

10000 = natiyadiwañu (cem multiplica por si próprio)

100000 = natiyakó, natiyak (cem grande)

1000000 = sôknatiyadiwañu (mil multiplica por si próprio)

10000000 = sôkra sôknatiyadiwañu (10x1000000)

100000000 = natiyakó sôknatiyadiwañu (100x1000000)

1000000000 = akómasô (dois grande)





Autor da matéria: Suã Ari Llusan



ETIMOLOGIA DA PALAVRA WIMA 'ABANO'


A palavra para abano do Kipeá WIMA parece derivar diretamente do Natú, existem alguns aspectos que demonstram isso, primeiro comparemos com seu cognato mais próximo:


Xerente: waipã 'abanar, assoprar do vento'


Uma palavra que eu já demonstrado antes com a evolução de p- > m- perante vogais nasais foi MARIDZÁ 'guerra, batalha', cujo significa MARI-DZÁ 'coisa/lugar de matar', sendo MARI o verbo 'matar, assassinar', cognato do Xerente pãrĩ, juntando isso com a evolução quase que garantida de que os /a/ átonos virassem /ɪ/ ou /æ/ resultando em:


/wa'pã/ > /wa'mã/ > /wa'ma/ > /wæ'ma/ > /wɪ'ma/


Sabe-se que os Natú viviam lado-a-lado com os Kipeá, aspectos desta língua são claramente preservados nela, mas a especificidade dessas evoluções ainda tem que ser debatida, isso é, até onde fui capaz de ver, o Natú (e talvez o Wakonã) foram as línguas do grupo Terejê que passaram por essa evolução, não é garantia de que todos os grupos Terejê que influenciaram os Kariri passaram por tal processo igualmente, as seguintes reconstruções foram feitas baseadas nas evidências deixadas em comparação entre os dois idiomas:


Terejê *wam(ã/a) 'abanar'


Dz.: wamma, woemma

Kp.: wimà

Sp.: wammá

Km.: wammà

Kt.: wima

KX.: wìma

Pp.: wimá

Dz-Tx.: wama, woema

Kb.: wimá




Autor da matéria: Suã Ari Llusan



segunda-feira, 25 de dezembro de 2023

FELIZ NATAL EM NATÚ E KARIRI


Junto com Nhenety, trabalhamos para criar uma forma de dizer 'feliz Natal' de uma forma autêntica, o nascimento de Jurupari, o Segredo da Boca, aproxima-se na visão cultural indígena do festejar natalino, portanto usamos seu nome como base para traduzir o conceito de Natal:


Natal = Ya Warizado 'Nascer do Segredo da Boca' (wariza 'boca' + do 'cobrir, esconder') ou apenas Warizado

Feliz Natal = Heì Ya Warizado 'Feliz Nascer do Segredo da Boca'


Essas traduções são em Natú, em Kariri essas são as sugestões:


'Natal'

Dz.: iha wolidzeddo

Kp.: sisà waridzàdò

Sp.: singsá oritzettó

Km.: singsà aritzaddò

Kt.: sisa warizado

KX.: sisá wolidzedó

Pp.: sisá waridzadó

Dz-Tx.: iha wolidzedo

Kb.: sisá warizadó


'Feliz Natal'

Dz.: kangri iha wolidzeddo

Kp.: canghì sisà waridzàdò

Sp.: kanglí singsá oritzettó

Km.: kanglì singsà aritzaddò

Kt.: kangi sisa warizado

KX.: kanghi sisá wolidzedó

Pp.: niré sisá waridzadó

Dz-Tx.: kangri iha wolidzedo

Kb.: niré sisá warizadó




Autores da matéria: Suã Ari Llusan e Nhenety KX 



domingo, 24 de dezembro de 2023

ETIMOLOGIA DE DAHI 'ESTAR NO CHÃO',


A palavra segue o padrão paroxítono comum das línguas Terejê, outro aspecto que confirma essa origem é a palavra HI 'terra', que é cognata da mesma sílaba vista em âdsìhi 'terra' na língua Xocó, portanto o composto é DA-HI 'estar-terra' ou 'estar-chão', assim trazendo de volta duas palavras das línguas Terejê:


Natú: da 'estar'

Natú: hi 'terra, chão'




Autor da matéria: Suã Ari Llusan



ETIMOLOGIA DE NUPÝTÈ "INSTRUMENTO DE APAGAR FOGO"


Mais uma evidência de alçamento vocálico, NU-PÝ-TÈ se decompõe assim e é composto de:



NÚ 'colocar, botar, deixar', cognato do Xavante nomri 'apagar, conceber, botar, deixar'



PÝ 'apagar', cognato do Xavante pari 'apagar, limpar' e do Xerente pari 'apagar uma marca'



-TÈ é o nominalizador Kariri, portanto temos NU-PÝ-TÈ 'coisa de colocar para apagar'





Autor da matéria: Suã Ari Llusan



ETIMOLOGIA DE MŶMŶKÁ 'FITA


MŶMŶ 'erguer', tem a mesma origem que as duas sílabas de SE-MŶMŶ 'guindar-se' (guindar-se = erguer-se)


KÁ talvez seja uma das palavras Natú para 'carregar', sendo cognata do Xerente kadu 'carregar'


Portanto MŶMŶ-KÁ 'erguer e carregar' > 'fita', no Natú ficando mymyka





Autor da matéria: Suã Ari Llusan



ETIMOLOGIA DE MARÃ 'INIMIGO'



MA 'atirar', cognato do Xerente mẽ 'atirar, jogar'


RÃ 'mexer, mover, balançar', cognato do Xerente resi 'mexer, mover, balança' e também é a mesma raiz que surge no Kipeá RAENBÓ 'acenar com a mão'


Portanto MA-RÃ 'aquele que atira e se mexe', no Natú ficando maran





Autor da matéria: Suã Ari Llusan



ETIMOLOGIA DE ERU 'RALADOR'


A palavra parece ser composta de dois palavras E-RU, um verbo e um adjetivo:


E 'quebrar', cognato do Xerente wẽ-kẽ 'quebrar'


RU 'áspero', cognato do Xavante ro 'áspero'


Portanto E-RÚ 'objeto áspero que 'quebra' coisas', ficando no Natú wêru





Autor da matéria: Suã Ari Llusan



ETIMOLOGIA DE TOTONGHI 'BORDÃO' E O SUFIXO EPISTÊMICO TEREJÊ


A palavra totonghi 'bordão' do Kipeá se decompõe da seguinte forma:


TOTO 'endurecer, firmar, fixar', cognato do Xerente têtê 'endurecer, firmar'


-NGHI 'predicativo' (similar ao verbo 'ser'), cognato do Xerente -ki


Na ortografia Natú tótóngì /tʰɔ'tʰɔŋɪ/



O sufixo epistêmico -ngì servirá para a criação de substantivos e adjetivos:


Natú: dzérì "cabelo" > dzérì-ngì "cabeludo"


Natú: shulo "sol" > shulo-ngì "solar, helíaco"


Natú: wave "lua" > wave-ngì "lunar"


Natú: kran "comer" > kran-ngì "comida"





Autor da matéria: Suã Ari Llusan



ETIMOLOGIA DE BEDZERI 'GADELHAS'


'gadelhas' ou 'guedelhas' significam 'cabelos compridos e emaranhados', a palavra tem pronúncia paroxítona, o que vem se demonstrando um indício de uma origem Natú dos verbetes que seguem esta regra, a palavra parece ser separável como:


BE + DZERI


DZERI tem relação direta com o Xavante dzéré 'cabelo', faltando somente a palavra BE, cujo teorizo ser derivada da mesma raiz que BA 'estender' como em BA-NHÉ 'estender ao sol/fogo', fazendo com que o composto seja BE-DZERI 'cabelo estendido, cabelo pendurado'


Na ortografia designada para o Natú seria escrito bedzerì /bə'd͡zɛɾɪ/.





Autor da matéria: Suã Ari Llusan



ORDEM DOS CONSTITUÍNTES DO WAKONÃ


Como visto na recente publicação sobre a primeira frase oficialmente registrada de uma língua Terejê, podemos perceber que os constituíntes da frase seguem um padrão familiar para os estudantes de Kariri:


[pôfô y-anê] [di Pissôrê] "que assim seja feito por Pissôrê"

[V] [S]

Preposições ao invés de posposições (ex.: di Pissôrê 'por causa de Pissôrê' ao invés de Pissôrê di 'por causa de Pissôrê')


Digo familiar para o estudantes de Kariri, pois a posição dos verbos indicam uma possível preferência para ordens VSO e VOS, ou melhor dizendo, verbo inicial. Existe a possibilidade dessa ser a causa ou uma influência que levou o Kariri a se tornar quase que completamente verbo inicial também. Como já estabeleci antes, a gramática do Katuandí está se baseando naquela que sobrou do Wakonã, que é a língua Terejê com mais registros diretos até o momentos dos aspectos dessas línguas, a segunda sendo o Natú tanto independemente quanto através do substrato deixado no Kipeá, com isso, posso reavaliar o método que venho usando e estabelecer de forma oficial a ordem dos constituíntes, o sintagma nominal que varia entre:


DNA (determinante-nome-adjetivo)

Ex. em Natú: tan grandilia wêrê 'essa casa bonita'


NAD (nome-adjetivo-determinante)

Ex em Natú: grandilia wêrê tan 'casa bonita essa'


Com a prefêrencia (se usarmos o Kariri como base) provavelmente sendo DNA e em raros casos surgindo NAD como possível resquício da gramática do ramo Cerratense.


 Como sabemos, as línguas Kariri não possuem gênero gramatical, gênero pode surgir em certos casos para desambiguar certos substantivos como bŷrae 'irmão' e bŷkè 'irmã', mas raramente se usa em outros casos, pode-se inferir que o Wakonã, Natú e Xocó possuíam sistemas semelhantes.


 Pode-se confirmar que existe a presença de classificadores, principalmente aqueles que foram diretamente emprestados paras as línguas Kariri, como kra em kra-shulo 'sol' e kra-wave 'lua', que surgem como klo- no Dzubukuá e kro- no Kipeá, com isso sabemos que o Terejê possuía o conceito de classificadores, apesar de que a quantidade e a forma destes não é conhecida por nós.


 Outro aspecto confirmado é de que o ergativo era marcado por di ao invés do Kariri nó, o que nos indica que nó é uma partícula herdada do Macro-Caribe para o Proto-Kariri ao invés de emprestada diretamente do Terejê, a segunda série conjugará o ergativo di:


i-di 'por causa de mim'

a-di 'por causa de ti, por causa de vós'

in-di 'por causa dele(s)/dela(s)'

wa-di 'por causa de nós'





Autor da matéria: Suã Ari Llusan



sábado, 23 de dezembro de 2023

NOVA PALAVRA DO NATÚ EM CONEXÃO COM O KARIRI


A palavra para 'livro' das línguas Kariri não é facilmente analisável se o estudante buscar dentro das raízes presentes nos vocabulários disponíveis, mas ao estudar mais a fundo em comparação com as línguas Terejê e Akuwẽ, é possível estabelecer o significado original da palavra:


TO ou TON que surge como a primeira sílaba de TORARÃ/TONRANRAN está diretamente conectado com a palavra registrada o Clarice Mota; atuá ou ató 'folha, erva'


RA-RÃ ou RAN-RAN são cognatos diretos do Xavante rã 'branco, tornar branco, caiar' e do Xerente rã 'branco, tornar branco'


Assim formando TO-RÃ-RÃ 'folha-branca-branca' ou 'folha branquíssima', portanto 'livro'


Sugiro a partir dessa descoberta as seguintes utilizações dessa palavra cujo a origem foi desvendada:



Natú:

tóranran 'livro'

tóranran i-ñin wêlie 'livro de palavras, dicionário'

tóranran i-ñin wêlie simu-ne 'dicionário cultural'



Dzubukuá:

tonranran 'livro'

utonranran wolidze 'livro da língua, dicionário'

utonranran wolidze wañoku 'dicionário cultural'


Kipeá:

torarã 'livro'

sutorarã waridzà 'livro da língua, dicionário'

sutorarã waridzà simukù 'dicionário cultural'


Aproveito a temática para sugerir mais algumas palavras o Natú, Dzubukuá e Kipeá


Natú: 

tó-wañu 'folha-repartir' > tówañu 'página'

tó-tìppî 'folha-cabeça' > tótìppî 'sumário'

tó-mu 'folha-raiz' > tómmu 'bibliografia'

tóranran poza 'criador(a) do livro, autor(a)'

badsa-ro-za 'compartilhar-todos-dor' > badsaroza 'editora'


Dzubukuá:

ara-wañu 'folha-repartir' > arawañu 'página'

ara-dsebu 'folha-cabeça' > aradsebu 'sumário'

ara-mu 'folha-raiz' > arammu 'bibliografia'

tonranran duñinholi 'criador(a) do livro, autor(a)'

badsa-lo-dze 'compartilhar-todos-dor' > badsalodze 'editora'


Kipeá:

aera-wanhu 'folha-repartir' > aerawanhù 'página'

aera-tçambu 'folha-cabeça' > aeratçambù 'sumário'

aera-mu 'folha-raiz' > aeramù 'bibliografia'

torarã duniorì 'criador(a) do livro, autor(a)'

batçã-ro-dzà 'compartilhar-todos-dor' > batçãrodzà 'editora'




Autores: Suã Ari Llusan, Nhenety KX, SUZART,Elizabete (pesquisadora da língua na aldeia).


sexta-feira, 22 de dezembro de 2023

PRIMEIRA FRASE COMPLETA DAS LÍNGUAS TEREJÊ


O Wakonã de Antunes (1973) preservou vários aspectos desta variante Terejê, irmã do Natú e Xocó, uma delas que consegui finalmente desvendar foi a frase que surge na página 87:


Um dia, uma índia preparou muqueca com peixe assado na folha para Pissôrê. Não preparou bem. Guardou a muqueca no flechal e a mosca veio, pousou, e pôs ovos em cima da muqueca . No outro dia, havia bicho de mosca. Quando Pissôrê chegou, a índia mais bela da tribo lhe ofereceu a comida. Ele disse: "- Não presta, Pôfô, íánê di Pissôrê", isto é, vire logo em mulher ruim.


 A frase não se traduz diretamente da forma que foi dita para Antunes, veja que a palavra Pôfô é verbo 'criar', aqui ele está sendo usado como comando, para indicar tal comando, o Wakonã parecia utilizar do advérbio verbalizado 'fazer/dizer assim' *anẽ do Proto-Cerratense, herdado aqui como anê e marcado com o prefixo da terceira pessoa i-, formando y-anê '(que ele/ela) faça/seja assim', esse verbo se referindo ao anterior pôfô 'criar, fazer', faltando somente as duas últimas partes:


di Pissorê


 Seguindo a lógica da frase, a partícula di usada, e o fato de que as línguas do grupo Cerratense são majoritariamente ergativas, podemos inferir que di seja descendente do marcador ergativo *te 'por causa de' do Proto-Cerratense, concluindo a frase como:


pôfô y-anê di Pissôrê "que assim seja feito por Pissôrê" ou "que Pissôrê faça assim".





Autor da matéria: Suã Ari Llusan



SIGNIFICADO DE UM COMPOSTO DA LÍNGUA NATÚ


Uma palavra que encontrei nos vocabulários remanescentes do Natú parece ter relação direta com as seguintes:


Xerente: kuzê 'apreciar'

Xavante: 'udze 'louvar'


Ou talvez alguma relação com:


Xavante: udzi (caso esse seja 'udzi, derivado de um antigo kudzi)


Assim surgem duas possibilidades:


Katuandí: kuzi, kudzi 'apreciar'


e/ou


Katuandí: kuzi, kudzi 'lanterna'


Juntando essa palavra com seu segundo elemento formam duas possíveis composições:


kuzi 'apreciar' + pé 'cachimbo'

ou

kuzi 'lanterna' + pé 'cachimbo'


Isso nos indica que o Natú passou por uma evolução bastante importante de fricativização das africadas (dz > z e talvez ts > s ?)






Autor da matéria: Suã Ari Llusan



ETIMOLOGIA DE AKÓMA


A palavra para grande foi registrada no Xocó como akóma, essa palavra está prefixada com a-, que normalmente nominaliza o conceito dito na composição, faltando somente estabelecer os últimos dois elementos, creio que se tratam de:


KÓ 'muito, aumentar', cognato de:


Xerente: kahâ 'muito'

Xavante: 'ahö 'muito, aumentar' (< *kahə)


MA 'junto, com' cognato de:


Xerente: mẽ 'com, junto'

Xavante: me 'com, junto'


assim formando A-KÓ-MA 'coisa de juntar muitos' > 'coisa grande' > 'grande'





Autor da matéria: Suã Ari Llusan



NOMES DOS MESTRES NAS LÍNGUAS KARIRI E TEREJÊ


1) Mestre da pesca (lit.: professor sobre peixe)


Dz.: dikeddeli mo muidze

Kp.: duboherì mò mŷdzè

Sp.: tikettelí mú mutzé

Km.: tikeddelùi mò mitzè

Kt.: dikederi mó mizé

KX.: dubohery mó mydzé, tìpiasa kranhandi-ba, tìppîzè krañandi-bì



2) Mestre da cerâmica (forma barro)


Dz.: deddebuña

Kp.: dendébunhà

Sp.: tengtepunyá

Km.: dengdebunyà

Kt.: dendebuña

KX.: dendébunhá, indedebunhasa, indendebuñazè



3) Mestre do artesanato (pessoa dos trabalhos)


Dz.: adsenatte

Kp.: etçãnatè

Sp.: atzanatté

Km.: atzanattè

Kt.: ósónaté

KX.: etçãnaté, atcenaté, wìjì, wije, wìzì, wìze 



4) Mestre da caça (traz montão)


Dz.: muittenelu

Kp.: mŷtènerù

Sp.: muittenelú

Km.: muittenerù

Kt.: miténerú

KX.: myténerú, mytasanhi, mitasañi



Mestre da oca (senhor(a) da casa)


Dz.: anrahe, erahe

Kp.: eràsè

Sp.: ang'rassé

Km.: arassè

Kt.: orase

KX.: erasé, grandilhasé, tipia i-nham grandilha, tìppî i-ñin grandlia



Mestre de canoa (lit.: professor sobre canoas)


Dz.: dikeddeli mo eyemme

Kp.: duboherì mò eyemè

Sp.: tikettelí mú eyemmé

Km.: tikeddelùi mò eyemmè

Kt.: dikederi mó eyeme

KX.: dubohery mó eyeme, tìpiasa winhêmê, tìppîzè wiñêmê



Mestre agricultor (ele/ela costuma plantar muito)


Dz.: krayeru

Kp.: kraeyorù

Sp.: krayorù

Km.: krangyorù

Kt.: krayóru

KX.: kraeyórú, krayóru



Mestre coletor (lit.: separa e pega)


Dz.: wanhiummui

Kp.: wanhumŷ

Sp.: wanyummúi

Km.: wanyummùi

Kt.: wañumi

KX.: wanhumy, wañummi



Mestre marisqueiras (ele/ela oferta frutos da água grande)


Dz.: ubuidzi uttu dzukroye

Kp.: subà sutù dzukruyẽ

Sp.: supuitzí suttú tzukroyéi 

Km.: subatzì suttù tzukruyàng

Kt.: suba sutu zukruyó

KX.: subá sutú dzukrôyê, badzi-wã tinga ta'a akóma, bizi-wan tingì kraunan akóma



Mestre da cozinha (ele/ela cozinha)


Dz.: iddhe

Kp.: sudè

Sp.: sutthé

Km.: suddè

Kt.: sude

KX.: iddhe, sudé, inkroddé 



Mestre da matemática (saber do quiecôtô)


Dz.: kiekottonedso

Kp.: chekotonetçò

Sp.: cekottonetzó

Km.: cekottonatzò

Kt.: shekotonóso

KX.: kiekotonetçó, chekotonetçó, kiedse koto bidza, kieshe kotto bizè



Mestre da História (lit.: cabeça dos contos)


Dz.: idsebu wrobui

Kp.: itçambù worobŷ

Sp.: maíp woroppúi

Km.: tzàm wrobùi

Kt.: sobu worobi

KX.: itçãbú woroby, idsebu woroby, tipia i-nham vêl'a, tìppî i-ñin wêle



Mestre da língua (lit.: boca ancestral)


Dz.: wolidze anranyedde

Kp.: waridzà tokenhè

Sp.: oritzé ang'lané

Km.: aritzà urunoyà

Kt.: variza shibó

KX.: nunú tokenhé, waridza n-atu, warizè n-atu



Mestre da geografia (cabeça da forma da terra)


Dz.: idsebu idedde radda

Kp.: itçambù idendè radà

Sp.: summaíp tengté rattá

Km.: tzàm dengdè rattà

Kt.: sobu dende rada

KX.: itçãbú dendé radá, tipia nhêrê i-nham âdsìhi, tìppî i-ñin atisêrê




Autor da matéria: Suã Ari Llusan



PALAVRAS PARA OS RITUAIS EM NATÚ


Homem = menzikìô

Mulher = pikuâ

Criança = kinidia

Jovem = poditan, politan

Adulto = sôrôdsan

Velho = atu, n-atu, w-atu, y-atu, z-atu

Mestre do Toré = thora mysue

Dança = sappakra, kra, wayu, wayukra

Dançarin(o/a) = sappakarazè, krazè, wayuzè, wayukrazè

Buzo = badda

Instrumento = bêrêmmara

Guerreir(o/a) = malizè, imalizè, marizè, imarizè

Deus = Sonsé

Tupã = Tupan

Wanagidze/Warakidzã = Wanagizè, Warizè

Politão/Poditã = Politan

Badzé = Barí, Bazé

Grande Pai/Avô = Wazìnan Ñimen (lit.: Nosso Avô)

Grande Mãe/Avó = Wazìnan Ñiké (lit.: Nossa Avó)

Terra = atisêrê

Fogo = shakisha

Água = kraunan

Ar = mènusì

Elemento = diakroñì (lit.: inserir-dentro-alma)

Clã = wañubadsan duzì (lit.: repartição do povo)



OS DONOS/AS DONAS


Sé i-ñin pydó (py 'capim' do Kipeá pŷ + dó, vozeamento de tó de tuá 'planta' do Xocó)


Sé i-ñin tize 'mestre espiritual pertinente aos animais terrestres'


Sé i-ñin shi 'mestre espiritual pertinente às aves' (shi de aga-shi 'ave que é mutum')


Sé i-ñin kañandi 'mestre espiritual pertinente aos peixes'


Sé i-ñin kra akóma 'mestre espiritual pertinente às pedras grandes (serras)'


Sé i-ñin wó da nan 'mestre espiritual pertinente aos caminhos de água (rios)'


Sé i-ñi sehoìdzéka 'mestre espiritual pertinente às chuvas'




Autor da matéria: Suã Ari Llusan



DANÇA DO BUZI E DANÇA DA LANÇA EM NATÚ


Indze Thora "warizè bêrêttha" i-n-aku thonézè atìppîka indze terezì bêrêmmara Badda "Turé" za bedda. Sappakra-bì wêlìzè Thora i-n-aku buibbu (laen terezì) thokraku-mmy kuppy za mara, kra-bì menzikìô ba sammy ba za bedda, tìppî-bè i-n-aku bêrêmmara phuphu awìka i-zi grandilia bannahoya, hìnkra wari-mmy, i-n-aku pikuâ sakradìbî-bè abba wêlizè thora sammy ta-mmy, robè aba tottowi-mmy. Sappakra Badda warizè dzékryri Wazìnan Pazu Tupan za tìppî, i-na-da Thora Warizè Bêrêttha.


 Bannahoya sappakra indsohozè sô-my-tha i-n-aku pezè malizè, tìppî-bè i-n-aku tìppî sapuwi amyka sappakra-my kupy-my ti-my-nan so warizè buibbu wêlizè mara. Sappakra Sapuwi i-malizè ti-my-nan zìnan i-na atisêrê terezì, i-na wariñe wazìnan redse, warihaì wazìnan, bahaìzè wazìnan pikuânan seókónan dahan.


O nome Toré "som sagrado" vem com a simbologia principal do nome indígena do instrumento do Buzo "Turé". Nessa dança o mestre do toré canta com o maracá o chocalho indígena marcando o rítmico, onde vem dos homens em pararelha cada qual com o instrumento de sopro feito de taboca ou embaúba, junto com uma mulher de cada lado indo em direção ao mestre do toré, rodopiando em todas as direções. A dança do buzo representa o som do trovão do Nosso Pai Tupã poriso o Toré é Som Sagrado.


      Outra dança com acontece em seguida com dois guerreiros cada qual munido com uma lança dançando batendo uma na outra ao som do maracá do mestre do canto. A Dança de Lança representa a luta entre os povos pela território indígena, pela defesa das nossas florestas, a segurança de nosso povo, o bem estar de nossas mulheres e crianças.




Autores: Tradução em Dzubukuá com Suã Ari Llusan, texto em português Nhenety KX, SUZART,Elizabete (pesquisadora da língua na aldeia).




quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

A POSSÍVEL ETIMOLOGIA DO NOME KIPEÁ


Hoje trago uma nova adição para o tema de estudo que venho fazendo neste último semestre, descobri uma coisa interessante ao juntar todas as informações umas com as outras. Um nome que vem sido difícil de se estabelecer uma etimologia concreta para os estudantes das línguas Kariri é o nome do povo do qual Mamiani registrou a língua em uma gramática e catecismo, a língua Kipeá.


 Vejo agora uma conexão maravilhosa desse povo e sua autodenominação com aquela que está relativamente escondida no pequeno artigo da Wikipédia da língua do povo Natú, nela o nome deste povo para si próprio não era Natú, e sim Peagaxinan, fiquei confuso na primeira vez que vi essa palavra, mas hoje trago argumentos sobre ela:


A palavra Peagaxinan se divide como PE-AGAXI-NAN, sendo que PE é a mesma palavra que vemos no Kipeá PÉ 'pisar', AGAXI é a palavra Natú para 'mutum-do-nordeste', uma ave nativa do Estado de Alagoas, casa dos Terejê, é possível ver seu cognato no Kamurú e Sapuyá aka 'jacú' e no Xavante a'a 'mutum' (< *aka), discuti há alguns meses atrás sobre o processo fonético do Natú similar ao Rendaku Japonês, onde consoantes oclusivas intervocálicas se vozeam, traduzindo para uma forma mais simples AKA > AGA, XI seria a palavra para pássaro, vista também no Xavante tsi 'ave' e Xerente si 'ave', por último -NAN é o sufixo plural dos povos Terejê, visto no nome dos Wako-NÃ também, assim formando PE-AGAXI-NAN 'aqueles do pisar do mutum'


 Por que relaciono esse significado ao nome Kipeá ? Bem simples, o Kamurú preserva a palavra 'ave' do Kariri, que é KI, juntando essa informação, com a menção de Mamiani de que os Kipeá e Natú eram da mesma nação, podemos inferir que os Kipeá são descendentes de uma mistura de povos Kariri com Natú, assim fazendo com que a nomenclatura do povo Natú passasse para eles, formando KI-PE-Á 'aqueles do pisar da ave'.




Autor da matéria: Suã Ari Llusan




DANÇA DO BUZO E DANÇA DA LANÇA EM DZUBUKUÁ


Ibanran idze Thora "kamara wrorè" iddeho meka idsebutte idze dseho buhe wremara Buzo "Turè". Mo wro wayukra, ika dokoho dukeddeli thora buibu dseho buhe yoboho, daditoklaku kopwidze, moande ithe anrante mo bo hany bo, bihekliboè iddeho wremara puppu dinhinholi anradzi boho, dzihekla boho, yoboho bihe tedzi bo bihekliboè ammuitte mo hammwi dikeddeli thora, daditotowi do ammuitteloboè. Idsebu wayukra Buzo ikatte tidzeklwili kadse padzu Tuppam, inaro Thora "Kamara Wrorè"


 Bannahoya wayukra didsoholi mo aboho yoboho witane dimalidzalia, bihekliboè kupwittewi iddeho bababoette, dadiwayu dadipoba dibohoa ho ikatte buibu dikeddeli kamara. Idsebu Wayukra Bababoette malidza dseho buhe dibohoa no radda dseho, no toidde mo kadse leidsea, ikottotte kadse dseho, ikangribatte kadse tedzi wiñua dehem.


O nome Toré "som sagrado" vem com a simbologia principal do nome indígena do instrumento do Buzo "Turé". Nessa dança o mestre do toré canta com o maracá o chocalho indígena marcando o rítmico, onde vem dos homens em pararelha cada qual com o instrumento de sopro feito de taboca ou embaúba, junto com uma mulher de cada lado indo em direção ao mestre do toré, rodopiando em todas as direções. A dança do buzo representa o som do trovão do Nosso Pai Tupã poriso o Toré é Som Sagrado.


      Outra dança com acontece em seguida com dois guerreiros cada qual munido com uma lança dançando batendo uma na outra ao som do maracá do mestre do canto. A Dança de Lança representa a luta entre os povos pela território indígena, pela defesa das nossas florestas, a segurança de nosso povo, o bem estar de nossas mulheres e crianças. 


A ETIMOLOGIA DE TORÉ


 Sabemos da presença de uma palavra extremamente semelhante ao rito chamado Toré dentro do Kipeá, a palavra sendo TORÁ 'cortesia com os pés', cortesia denominando aqui um gesto culturalmente educado e com propósitos fundamentais da cosmovisão do Kariri. Hoje venho discutir sobre como essa palavra foi formada, o que compõe a palavra TORÁ e de onde ela vem.


 Também lembro aqui que TORÁ tem o significado extra de 'fazer cortesia', ou seja, fazer um gesto, isso ajuda a encontrar o seu significado dentro da língua Kariri, cujo provavelmente seria composto de duas palavras:


TO 'ser mostrado, mostrar', visto em TOBÁ 'ser mostrado com a mão'

RÁ 'mexer, chocalhar, tremer'


Assim formando TO-RÁ 'mostrar e mexer' > 'fazer gesto, fazer cortesia (com os pés)'


Toré sendo não só um gesto qualquer, e sim um método de gratidão, uma maneira de expressar-se para as divindades em forma de dança, essas são as definições do Toré.


Autores: Tradução em Dzubukuá com Suã Ari Llusan, texto em português Nhenety KX, SUZART,Elizabete (pesquisadora da língua na aldeia).

DANÇA DO BUZO E DANÇA DA LANÇA


O nome Toré "som sagrado" vem com a simbologia principal do nome indígena do instrumento do Buzo "Turé". Nessa dança o mestre do toré canta com o maracá o chocalho indígena marcando o rítmico, onde vem dos homens em pararelha cada qual com o instrumento de sopro feito de taboca ou embaúba, junto com uma mulher de cada lado indo em direção ao mestre do toré, rodopiando em todas as direções. A dança do buzo representa o som do trovão do Nosso Pai Tupã poriso o Toré é Som Sagrado.

      Outra dança com acontece em seguida com dois guerreiros cada qual munido com uma lança dançando batendo uma na outra ao som do maracá do mestre do canto. A Dança de Lança representa a luta entre os povos pela território indígena, pela defesa das nossas florestas, a segurança de nosso povo, o bem estar de nossas mulheres e crianças. 

          


Autor: Nhenety Kariri-Xocó 



quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

ETIMOLOGIA DO WAIKUTÇÚ 'LAVATÓRIO'


A palavra usada por Mamiani e Nantes para se referir ao batismo é waikutçú/wanykutsu, Nantes registra ao lado deste neologismo um significado que parece ser mais aproximado de seu significado original. Novamente retorno para o Xavante, a língua mais próxima daquela que forma o substrato Macro-Jê das línguas Kariri:


Xavante: wa'u 'líquido, sumo, caldo'


 Devo lembrar que onde existe o apóstrofe no Xavante antigamente tinha um k, portanto wa'u era waku, continuando nessa lógica, vemos que o Kariri está repleto de reduplicações que evoluiram de kVkV para kVtsV, como:


kutsu 'vermelho' < *ku-ku

kotso 'preto' < *ko-ko

ketsã 'chamuscar' < *kə-kə


 Então pode-se teorizar que quando a palavra waku entrou no Kariri, ela tenha sofrido reduplicação para wa-ku-ku, o descendente de ku ainda sobreviveu no Kipeá como CÚ 'liquor (palavra antiga para qualquer tipo de líquido)', descobri também a palavra Xavante waihi 'molhar, derramar, jogar água', o que pode inferir que o composto seja *WAI-KU-KU 'molhar-líquido-líquido', assim formando o significado original pré-cristão de 'lavar, lavatório'.


Reconstrução de volta para as línguas Kariri:


Proto-Kariri *waikutsu 'lavatório, lavar'


Sp.: waykutzú

Km.: waykutzú

Kt.: waikusu

KX.: waikutçú

Pp.: waikutsú

Dz-Tx.: wanykutsu

Kb.: waikutsú


Proto-Kariri *wa(i) 'molhar'


Dz.: wany, wa

Kp.: wài, wà

Sp.: wáy, wá

Km.: wày, wà

Kt.: wai, wa

KX.: wái, wá

Pp.: wái, wá

Dz-Tx.: wany, wa

Kb.: wái, wá





Autor da matéria: Suã Ari Llusan 





AS ETIMOLOGIAS DO NOME DO DEUS DOS SONHOS


Uma coisa que notei na minha pesquisa de comparação do Kariri (Kipeá, Dzubukuá, Kamurú, Sapuyá e Katembri) é que algumas palavras que começam com w do primeiro período da língua Kariri se transformaram em g como no Sapuyá, veja por exemplo:


Proto-Macro-Jê *wi 'subir'

Proto-Kariri *ge 'subir' ->

> Sapuyá: gemuih 'acima, para cima'

> Dzubukuá: hemwj 'céu'

> Kipeá: yemŷ 'arriba, para cima'


 Isso deve ter acontecido em um passado distante, e se presumirmos essa mudança, então de onde teriam vindo os W que vemos em Warakidzã, Wanheré 'fazenda', Wanhubatsã "quinhão" ? Ao pesquisar comparando o máximo de palavras que pude com outras línguas da América do Sul, percebi que algumas delas parecem ter vindo de antigos *p:


wanadzi 'remédio', wana cognato do Proto-Aruaque *pana 'planta, erva, remédio'

wanheré 'fazenda', composto entre wa 'raiz, verdura' + nheré 'botar, colocar, meter', essas duas palavras muito provavelmente entraram dentro da língua Kipeá através do Natú ou do Xocó.


 Com isso dito temos algumas possibilidades para Wanagidze/Wanakidze/Warakidzã, a primeira é a sugerida pelo prof. Valdivino Neto, que sugere a possibilidade de ser um composto entre wan-a-ki-dze 'haver-PL-até-chamar', ou seja, uma frase que diz 'haver (necessidade) de ir até lá chamar', concordo plenamente com essa possibilidade, levando em consideração a tendência linguística de descrever espíritos por meio de frases que indicam aspectos de seus rituais ou de suas funções como entidade. Adiciono que o aspecto monossilábico do Kariri torna fácil da língua expressar mais de uma característica dentro de suas composições, argumento que Wanagidze e Warakidzã sejam compostos criados dentro do substrato da língua Kariri, é difícil dizer qual língua ou quais línguas participam deste substrato, mas línguas que creio serem irmãs destas que influenciaram o Kariri tiveram vocábulos suficientemente guardados para análise, deixando claro de que se trata de um grupo Macro-Jê do ramo Cerratense.


 Argumentei recentemente sobre um sufixo -dze/-dzá/-dzã/-dzõ que nominaliza as raízes dessa língua substrato, como em mali-dzá, bi-dza e woli-dze/wari-dza, existe a chance de que o nome Wanagidze e Warakidzã serem também palavras descendentes desse substrato, visto que o nome Poditã/Politão compartilham a raiz -tã/tão com o Proto-Macro-Jê *təm 'jovem, novo', portanto existe a possibilidade da língua substrato ter emprestado também o nome do Deus dos Sonhos, Nantes se refere a ele como o amigo, o que, após estudos de comparação dessa língua que está dentro do coração do Kariri com o ramo Akuwẽ, fui capaz de notar uma coisa interessante:


Xavante: u-pana 'substituto, alheio'


 Fazendo com que Wanakidze/Wanagidze/Warakidzã seja o *wana-ki-dza 'o substituto', ainda não encontrei o cognato da sílaba ki, mas talvez essa etimologia seja reforçada por seu segundo nome Waridzam, registrado por Serafim Leite, que possui um cognato logo abaixo da palavra Xavante acima:


Xavante: u-pari 'ajudar, defender, apoiar'


Portanto Wanagidze era o 'ajudante' e o 'substituto', assim temos as três etimologias do nome desta divindade:


1) O haver de ir até lá (referente ao seu ritual)

2) O substituto

3) O ajudante


 Além de sua função registrada de Deus dos Sonhos e seu título de Amigo dado por Nantes, cujo provavelmente era uma adaptação cristã da segunda e terceira etimologia




Autor da matéria: Suã Ari Llusan 





ETIMOLOGIA DE WANHIDÓ 'ESCONDER-SE ATRÁS DE UMA MOITA'


A palavra Wanhidó 'esconder-se atrás de uma moita' é um composto Terejê que foi emprestado para o Kariri, as raízes que o compõem são:


Wanhi 'moita, arbusto', cognato de:


Xavante: panhihöne 'tipo de arbusto' e panhitsihu 'capim para brincadeira' 


Dó 'cobrir', cognato de:


Xavante: dzadö 'cobrir, encobrir'


Assim sendo possível reconstruir para o Kariri:


Proto-Kariri wañi 'moita, arbusto'


Dz.: wanhi

Kp.: wanhì

Sp.: waní

Km.: wanì

Kt.: wañi

KX.: wanhi

Pp.: wanhí

Dz-Tx.: wañi

Kb.: wanhí


Proto-Kariri *dó 'cobrir, esconder'


Dz.: do

Kp.: dò

Sp.: tòi

Km.: dòi

Kt.: dó

KX.: dó

Pp.: dó

Dz-Tx.: do

Kb.: dó




Autor da matéria: Suã Ari Llusan 





ETIMOLOGIA DE WANHUBATÇÃ 'QUINHÃO'


A palavra Wanhubatçã do Kipeá é de origem Terejê, sendo composta por cognatos encontrados no Xavante:


WANHU 'separar', cognato de:


Xavante: aiwanhidzari 'separar, afastar, apartar' e wanhidzari 'separar'


BATÇÃ 'repartir, tirar parte, cortar, diminuir', cognato de:


ba'a ETIMOLOGIA DE WANHUBATÇÃ 'QUINHÃO'


A palavra Wanhubatçã do Kipeá é de origem Terejê, sendo composta por cognatos encontrados no Xavante:


WANHU 'separar', cognato de:


Xavante: aiwanhidzari 'separar, afastar, apartar' e wanhidzari 'separar'


BATÇÃ 'repartir, tirar parte, cortar, diminuir', cognato de:


ba'a 'repartir, tirar parte, cortar, diminuir', este que é composto de ba 'parte, corte' + possivelmente 'a 'cortar'


Assim, as seguintes palavras são trazidas de volta para as línguas Kariri:


Proto-Kariri *wañu ~ wañy 'separar, afastar'


Dz.: wanhiu, wanhui

Kp.: wanhù

Sp.: wanyú, wanyúi

Km.: wanyù, wanyùi

Kt.: wañi

KX.: wanhú, wanhy

Pp.: wanhú, wanhý

Dz-Tx.: wañu, wañui

Kb.: wanhú, wanhý


Proto-Kariri *ba 'parte, corte'


Dz.: ba

Kp.: bà

Sp.: pá

Km.: pà

Kt.: ba

KX.: bá

Pp.: bá

Dz-Tx.: ba

Kb.: bá


Proto-Kariri: *batsa 'recortar, repartir, diminuir'


Dz.: badsa

Kp.: batçã

Sp.: patzá

Km.: patzà

Kt.: basa

KX.: batçã

Pp.: batsã

Dz-Tx.: badsa

Kb.: batsã





Autor da matéria: Suã Ari Llusan 





terça-feira, 19 de dezembro de 2023

GENITIVO KATUANDÍ


O marcador de genitivo ou possessivo do Akuwẽ é -nĩ/-sĩ, os padrões de mudança sonora do Katuandí fariam com que essa preposição mudasse para -nham/-sam, um exemplo de seu uso em uma frase:


i-sam ikrâ my-ba-ka ? "para onde foi meu machado/minha faca ?"

a-nham seókómen dia-ka ? "é teu filho ?" ou a-nham seókóky dia-ka ? "é tua filha ?"

Guza grandilha sani i-nham, grandilha di i-sam "Aquela é a casa de Guza, essa é minha casa"





Autor da matéria: Suã Ari Llusan 





VOCABULÁRIO DA LÍNGUA NATÚ LETRA 'J'


LETRA 'J'


Já = ramby, lamby

Jabuti = kati

Jaburu-moleque (cabeça-seca) = tipiakra

Jaçanã (rosto-vermelho) = bidzapry

Jacarandá (noite-nascer) = màrawado

Jacaré = gusa, guza, guse, guze, gosa, goza, gose, goze

Jacaré-açu = gusa akóma

Jacaretinga = gusaku

Jacu = kakika

Jacupim = bupryki

Jandaia = kipane

Jangada = wiyémé dzé krá

Jaó = bududu

Japim = orofo

Japu = ki tipia dato

Jaraqui = kanhanda kru bane

Jararaca = presaba kru buibutók

Jatobá = tunhandu kidsine

Jeito = kete

Jejuar = wawanda

Jenipapo = kasatinga, kasatingi

Jia = saisa, saiza

Jibóia = nhangi

Joelho = tipiasi

Jogar = mê (sg.), dse (pl.)

Jovem = poditam

Judiar = wi ré X-my (lit.: fazer mal X-para, ex.: i-nha dza wi ré a-my 'eu fiz mal para ti')

Juízo = tipiama

Jumento = sa dze

Junto = mê

Júpiter = Iro Akóma

Juriti = si tine, si tin

Jurupeba = yape, nhape





Autor da matéria: Suã Ari Llusan 





PLANETAS E CONSTELAÇÕES EM KATUANDÍ


Planetas


Sol = Krashuto, Krashulo (kra 'pfx de objetos redondos + shu 'sol' + to 'olho')

Mercúrio = Iroby (iro 'estrela' + by 'irmão caçula')

Vênus = Irowesa, Inkowesa (iro/inko 'estrela' + wesa 'manhã, alvorada')

Terra = Kranhiké, Kranhikéti (kra- 'pfx. objetos redondos' + nhiké 'avó' + ti 'terra')

Marte = Iropry, Inkopry (iro/inko 'estrela' + pry 'vermelho, sangue')

Júpiter = Iro Akóma (iro 'estrela' + akóma 'grande')

Saturno = Sinu, Sawam (si 'pássaro' + nu 'dormir' e sa 'animal' + wam 'andar')

Urano = Iro Kapoer Kinefa, Iro Ka Fa (iro 'estrela' + kapoer 'luz' + kinefa 'pequeno')

Netuno = Topara, Lopara (to/lo 'olho' + para 'rio, mar')

Plutão = Iro Ramby, Iro Mani (iro 'estrela' + ramby 'acabar' ou mani 'longe, longíquo')



Constelações


Obs.: Os nomes das constelações são traduções diretas do termo em portugues do Tupi e Guarani.


Iroyó Tipia Buam "C. da Cabeça da Ema"


Iroyó Kradzó "C. da Anta


Iroyó Kopybu "C. da Arapuca"


Iroyó Meraba "C. da Grelha"


Iroyó Bashiudza "C. da Onça"


Iroyó Baty "C. das Plêiades"


Iroyó Krudza "C. do Cruzeiro"


Iroyó Mam Natu "C. Homem Velho"


Iroyó Ki "C. do Pássaro"


Iroyó kikó "C. do Urubu"


Iroyó Buka "C. do Veado"


Iroyó Si Beresa Kro "C. Maxilar


Iroyó "Constelações"


Tóru Apryne "Avô clânico"


Avê Kradzó "Caminho da Anta (Via Láctea)"


Avê Sehoi "Caminho do Céu"


Krudza Takré "Cruzeiro do Sul"


Iro ou Inko "Estrelas"




Autor da matéria: Suã Ari Llusan 





domingo, 17 de dezembro de 2023

ETIMOLOGIA DE EYEME 'BALSA, BARCO'


Uma das regras que venho discutindo sobre o Kariri é sua quase total proibição, ou nesse caso, a marginalização da sílaba /we/, havendo pouquíssimas exceções e aquelas que mudam algo aspecto da sílaba WE para que a palavra seja permitida na fonotática Kariri como ECUWÕBUYẼ 'céu superior' e WI 'madeira'. Hoje seguindo essa regra, encontrei mais uma etimologia da palavra 'balsa, barco':


EYEME é composto de duas palavras:


E 'madeira', do Terejê we/wi 'madeira, árvore'

YEMÉ 'colocar dentro, entrar', do Terejê yémé 'colocar dentro, entrar', o cognato foi encontrado no Xerente smẽ 'colocar dentro' e no Xavante nheme 'meter, colocar'.


As duas palavras são um composto formado em alguma língua do subramo Terejê, possivelmente o Natú que era mais próximo do Kipeá, assim sendo possível reconstruir para as outras línguas:


Proto-Kariri *we-yeme 'barco'


Dzubukuá: eyemme

Sapuyá: eyaimmái

Kamurú: eyaimmài

Katembri: eyémé

Kariri-Xocó: êyémé

Pipipan: êyémé

Dzubukuá-Tuxá: eyeme

Kambiwá: êyémé


Terejê

Xocó: weyeme, wiyeme

Natú: weyeme, wiyeme, weyem, wiyem

Wakonã: wêyêmê, wiyêmê


Proto-Kariri *yeme 'colocar dentro, entrar'


Dzubukuá: yemme

Sapuyá: yaimmái

Kamurú: yaimmài

Katembri: yémé

Kariri-Xocó: yémé

Pipipan: yémé

Dzubukuá-Tuxá: yeme

Kambiwá: yémé


Terejê

Xocó: yeme

Natú: yeme, yem

Wakonã: yêmê




Autor da matéria: Suã Ari Llusan 





AS CODAS DO KATUANDÍ NO KARIRI


 Como expliquei em algumas publicações anteriores, codas são consoantes que seguem o núcleo da sílaba, se tenho uma sílaba como tók, ó seria o núcleo e -k seria a coda, formando uma rima. As codas tem uma história interessante dentro das línguas do tronco Macro-Jê, como o foco dos estudos Terejê se baseiam em seu parente linguístico mais próximo, o Akuwẽ, usarei ele bastante como base de meu argumento.


 O Akuwẽ herdou seu vocabulário base de seu ancestral direto, o Proto-Akuwẽ, que em si herdou seu vocabulário do Proto-Cerratense, nessa transição é possível perceber uma mudança clara na estrutura das sílabas do PCerr:


PCerr.: *prə̃m 'fome, querer' -> PA.: *mrə̃m ~ *mrə̃ 'fome'

PCerr.: *prẽp 'falar' -> PA.: *mrẽmẽ ~ *mrẽːmẽ 'falar'

PCerr.: *mbyt 'sol' -> PA.: *bətə ~ *bəːdə 'sol, dia'

PCerr.: *mbut 'pescoço' -> PA.: *butu ~ *buːdu 'pescoço'

PCerr.: *mbec 'bom' -> PA.: *pêcê ~ *pê 'bom'


 Destes exemplos é possível perceber que o Akuwẽ herda do Cerratense suas codas de três formas distintas, ou perdendo-a completamente ou estendendo sua forma de -C > -CV, sendo que V (vogal) é uma reduplicação da vogal da sílaba anterior ou preservando-a como no primeiro exemplo. O Terejê parece seguir o primeiro padrão explicando, visto nos últimos dois cognatos preservados no Kariri:


PCerr.: *krat 'base, tronco, suporte'

PA.: *krata ~ *kraːda 'começo, base; velho; perto'

Kipeá: kra-bu 'peito' <- Terejê *kra(ʔ)


PCerr.: *mbut 'pescoço' 

PA.: *butu ~ *buːdu 'pescoço'

Kipeá: ki-bu 'osso da garganta' <- Terejê *bu(ʔ)


Ao que parecer ser, baseado nestes dois resultados, todas as codas passaram por algum processo de redução para Ø, possivelmente através de um estágio intermediário onde todas se fundiram no fonema /ʔ/ que é a oclusiva glotal ou 'travada na garganta'. No entanto existe um exemplo que me pôs dúvidas sobre essa teoria, o Natú tem uma palavra com uma coda na sua segunda sílaba:


Natú: zitók 'estrangeiro, não-indígena'


 No começo quando pensava que o Terejê participava de forma distante das outras línguas Jê, sendo descendente direto do Proto-Macro-Jê e formando um ramo por si só, achava que tók fosse uma preservação da negação *tũK 'não', no entanto agora que sei que esse grupo linguístico participa do ramo Cerrado, não faz sentido manter essa teoria, já que esse ramo não herda a coda de *tũK, a palavra para negação do Cerratense é *tõ ou *kõ.


 Foi aí que lembrei de algo, o Xukurú e o Tarairiú do Norte (Karatiú) que estudei há alguns meses atrás passaram por um processo de redução de suas sílabas, Lapenda nota isso e discute sobre brevemente em sua publicação de 1962 sobre o dialeto Xucurú, eu também havia notado seguindo a menção feita por Lapenda que algumas palavras pareciam ter se reduzido de formas dissilábicas para monossilábicas, uma delas é xekl 'casa':


Karatiú: sekri

Xukurú: sekre, sek, xekh, xekl, xáko


 Note que em um dos exemplos, xáko, a sílaba tônica cai na sílaba xá, cujo parece ser cognata de se e xe das outras variantes, sendo esse o possível motivo de vermos sekri 'casa' no Karatiú, mas nos dialetos e línguas do sul como Xukurú, a dissílaba se reduziu para uma monossílaba (sekri/sekre > sekr/sekl > sekh > sek). O que creio que aconteceu no Natú foi algo semelhante, veja que o Akuwẽ herda as duas negações do Cerrado, tõ como privativo e kõ como negação geral, o Natú assim como o resto do subramo Terejê talvez tenha herdado os dois como negações, mas em certos casos ou talvez em todos os casos, a estrutura comum para negar algo era juntar os dois, assim como em expressões coloquiais do português 'não faça isso não' que possui duas negações, veja a evolução:


ji 'pessoa indígena'

ji-tó 'não-indígena'

ji-tó-kó 'não-indígena'         com reforço da negação

ji-tóko 'não-indígena'           reforço se torna obrigatório

ji-tók 'não-indígena'             a sílaba tônica do Terejê é em sua maioria paroxítona, causando -tóko > -tók


 Também possível ver esse desenvolvimento no Wakonã e Xocó, no Wakonã temos a palavra 'mentiroso'


Wakonã: a-tôr-nê 'mentiroso'

Kipeá: prétôré 'mentiroso'


 O Kipeá, por ser mais antigo, preserva a antiga palavra 'mentiroso' do Terejê fundida com sua própria palavra upré 'mentir'.


 Eu disse que todas as codas viraram oclusivas glotais e se perderam, no entanto, há menos de um mês eu descobri que a palavra háê/hêi/hái 'bom' era descendente do Cerratense *mbec 'bom', os padrões de evolução são bem claros e seguem tudo que venho notando sobre o Terejê, /ɛ/ em certos casos parecia sofrer abaixamento vocálico para /a/, por isso mbEc vira hAi e hAê, /ᵐb/ vira /p/ no Akuwẽ e o Terejê faz o mesmo, mas este leva mais adiante e transforma seus /p/ em /ɸ/ e depois /h/, e por último a coda -c foi a única coda que quase se preservou, nesse caso ela parece ter tomado o lugar da coda -j (mesmo som que y do inglês como em hey), este -j se perdendo junto com as outras, já -c não foi perdido pois se vocalizou bem cedo (mas não antes da perda de -j) para /i/ e /ɪ/, por isso temos háê, hêi e hái.


 Dos pouquíssimos exemplos restantes, é possível inferir que em algum momento do século 19 pro 20, o Terejê talvez estivesse recriando suas codas, ou seja, as codas que veríamos caso tivessemos acesso ao vocabulário do Xocó, Natú ou Wakonã talvez viriam de processos de redução de sílabas bem recentes ou de uma única preservação que derivaria de -c.




Autor da matéria: Suã Ari Llusan 





sábado, 16 de dezembro de 2023

VOCABULÁRIO DA LÍNGUA NATÚ LETRA 'I'


Içá (Tanajura, formiga-roça) = nhambu', sambu', zambu', dsambu', dzambu'

Idioma (dizer-NMLZ) = bêlesa, bêleza, bêledsa, bêledza, wêlesa, wêleza, wêledsa, wêledza

Ignorante (ver-NEG) = bitók, imbitóksa

Ilha (terra-secar) = dsikra, tikra

Ilíaco (relativo aos glúteos, anus-cobrir-ADJ) = wekaikone

Imagem (pele-parte) = hamby

Imaginação (pensar-criar) = mampô

Imbé = dahékîkí

Imbira = dzé

Imbiruçu = dzé hâkóma

Imediatamente = tadzam

Imerso = krobê, krowê, krovê

Imitar = mybê, mywê, myvê

Incendiar = wisa, wisha, widsá

Inchaço = tu, du

Inchado = tu-tia, du-tia, tu-dia, du-dia

Inchar = witu, widu

Inclinar (a cabeça) = dato tipia

Indagar = bêlekede, wêlekede

Indígena = tereje, terejim, teje, atereje, aterejim, ateje

Indigestão = mutu bysa

Inhambu = hoipa

Inhame (mandioca pelo-COP) = grygó dsi-tia, grogó dsi-tia, guligo dsi-tia

Inharé (onça mão) = ama krasia

Iniciar = wându, bându, vându, wêndu, bêndu, vêndu

Início = wândusa, wânduza, wândudsa, wândudza...

Inimigo = maram

Injeção = poibê, poivê, poiwâm

Insistemente = wânkrandi samy 

Insistir = wânkrandi

Instar = wânkrandi

Instigar = tipia my

Instrumento musical = krasa, kraza, kradsa, kradza

Instrumento de carregar coisas = tumadisa, tumadiza, tumadidsa, tumadidza

Inteiro = lobà, lopà

Inteligente = tipia krandi, mani sô

Internar = wikro

Intestino = hé

Intocado = detóksa, detókza, detókdsa, detókdza

Intrigante = krudibê, krudiwê, krudivê

Introduzir = wisôwê, wisôbê, wisôvê

Inutilmente = manditók samy

Inveja = wonhu

Invejar = wonhu my

Invejoso = wonhu-tia, wonhu-dia

Inverno = tadzéka, tadzé'a, dzé, ta

Ipê = wi ha-dia

Ir = mom, wimom, monta, monda

Irar = mene

Irara = dosa kam

Irmã = ako pikua

Irmão = ako mem, ako mam

Isqueiro = ro, ko, roko, rok

Isso = takohó

Isto = takohó




Autor da matéria: Suã Ari Llusan