domingo, 2 de outubro de 2022

CORREÇÃO DA ORTOGRAFIA DZUBUKUÁ


 Recentemente eu sugeri uma nova ortografia para o Dzubukuá, seguindo um novo modelo de vogais que representam melhor os sons nativos dessa língua, alterei pouco referente às consoantes, porém uma alteração foi feita que me impediu de adicionar uma coisa que já existia na representação dos sons do Dzubukuá.


 Nantes, em sua anotação desta língua, era capaz de distinguir sons não-aspirados de sons aspirados, representando eles com suas consoantes + a letra h, como por exemplo *phu* ou *tho*, eu estive pensando em adicionar novamente essa representação na ortografia, porém minha última alteração feita na ortografia que mudou dh > th impediu essa adição, por isso venho por esse texto retrair essa mudança e adicionar de volta na língua a representação das consoantes aspiradas, portanto:


thu > dhu "fogo"

mâtha > mâdha "mão"

thê > dhê "mãe"

kuthu > kudhu "joelho"


 E as palavras que começam com P, T e K a partir de agora terão representações aspiradas em suas formas originais e suas derivações, como por exemplo:


to > tho "avô"

pu > phu "soprar"

ke "dizer" > khe (derivação).




Autor da matéria: Ari Loussant



A INTRODUÇÃO DO FONEMA /S/ NO DZUBUKUÁ


 Por meses venho estado hesitante sobre a ideia da adição do fonema /s/ na língua Dzubukuá, sabe-se pelo seu catecismo que esse fonema evolui de maneira diferente nessa língua, por exemplo, o S puro ou S verdadeiro do Proto-Kariri foi herdado nesse dialeto como /h/, enquanto as outras fontes comuns para o /s/ nos outros dialetos, como o fonema /c/ e possivelmente /j/ deram origem ao /ð/ (th do inglês da palavra them, dh na ortografia de Nantes) no Dzubukuá.


 No entanto um exemplo claro de /s/ nesse língua se mostra para nós no catecismo: Soponhu (Soponhiu como Nantes escreveu), uma palavra que é descrita como um canto ritualístico para quando este povo ia comer suas refeições. Esta palavra é a *ÚNICA* que conhecemos nesse dialeto que tem oficialmente o fonema /s/, Queiroz discutiu e levantou duas possibilidades, a de empréstimo de uma língua desconhecida ou de preservação de um fonema do Proto-Kariri, é possível que seja o caso de empréstimo, porém o fato é que não se sabe quando a prática de cantar durantes as refeições foi adotada pelos Dzubukuá.


 O que podemos notar é que no período entre a aprendizagem e anotação dessa língua até a conclusão do catecismo e outros documentos relacionados, a língua Dzubukuá estava começando a permitir fonemas estrangeiros ao seu inventário nativo, trazendo de volta um som que havia (provavelmente por séculos) "morrido" dentro da língua, é possível que a introdução desse fonema tenha sido não só por causa da influência de línguas indígenas vizinhas, como também a chegada dos europeus nestas terras, trazendo inúmeras palavras com o fonema /s/ nelas. Temos uma linha do tempo boa sobre a mudança no comportamento dessa língua perante sua interação com o fonema /s/, veja aqui como elaborei essa evolução:


Período Inicial = /s/ > /h/ 

PKrr.: s- "prefixo de terceira pessoa" > Dz.: h-

PKrr.: se "senhor, amo" > Dz.: he


Período Intermediário = /s/ > /d/ ou /ð/

Tupi Antigo: guyrá(ssapucaia) > Dz.: dapuca /dapu'ka/ ou /ðapu'ka/


Período Final = /s/ > /s/

Fonte desconhecida: Soponhu > Dz.: Soponhu


 Note que no período inicial só surgem morfemas nativos da família Kariri, enquanto nos outros dois períodos, surgem palavras não-nativas desta família. O período intermediário é onde palavras que tinham o fonema /s/ entraram, mas este som ainda não havia sido introduzido entre estes Kariris, portanto o som mais próximo foi ou o /d/ ou o /ð/, provavelmente representa o período inicial das interações entre eles e os europeus, já o período final representa um período posterior, onde as interações entre os indígenas e europeus já estavam bem mais estabelecidas, portanto o costume de falar o som /s/ também já estava firmado dentro dessa língua.


O objetivo deste texto é reconsiderar minha posição anterior sobre manter o fonema /s/ fora do inventário da língua Dzubukuá, estarei portanto adicionando este som à tabela de fonemas desta língua a partir de agora, creio que será de grande auxílio na criação de novas palavras no novo sistema de derivação de raízes que pretendo mostrar em breve.



Autor da matéria: Ari Loussant