quarta-feira, 28 de setembro de 2022

PALAVRAS OBRIGADO E DE NADA NO KARIRI


Palavras para agradecimento e sua resposta (obrigado e de nada) para as línguas Kariris



 Devido ao contexto em que estamos inseridos, normalmente pensaríamos em imediatamente pegar o equivalente da palavra "obrigado" das línguas Kariris e usá-lo como forma de agradecimento, eu particularmente não vejo isso como errado, porém eu gostaria que as línguas Kariris preservassem o máximo possível de sua identidade, por isso irei sugerir frases novas para aqueles que não tem alguma forma de agradecer e sinônimos para aqueles que já tem uma forma de agradecer estabelecida em sua língua.



1º) "Agradecer, agradecimento, lit.: presentear bem"

Dz.: bañe

Kp.: banhe

Sb.: panye

Km.: panye


Resposta para o 1º) "De nada, lit.: contra presentear bem" ou seja "presentear de volta o bem"

Dz.: hobañe

Kp.: sobanhe 

Sb.: sopanye

Km.: sopanye




2º) "Agradecer, agradecimento, lit.: presentear alegria"

Dz.: bathe

Kp.: base

Sb.: pase

Km.: pase


Resposta para o 2º) "De nada, lit.: alegria novamente para ti"

Dz.: thekye âñây

Kp.: seche aeyaei (seché eyaí)

Sb.: sece öyöy

Km.: sece ayay




Ambas as formas de agradecimento podem funcionar com ou sem conjugação, portanto você pode dizer algo como:


Dzubukuá:

bañe nâ âna "obrigado pelo seu trabalho, lit.: agradecimento por causa do teu trabalho"


ou 


Dzubukuá

gibañe nâ urio "agradeço por sua ajuda"


Ambas as formas estão corretas, também se pode simplesmente dizer a palavra de agradecimento sem esclarecer o motivo:


Dzubukuá

bañe "agradeço, lit.: agradecimento" / gibañe "eu agradeço"



Autor da matéria: Ari Loussant



terça-feira, 27 de setembro de 2022

A LÍNGUA SUBSTRATO DO KATEMBRI


 A língua Katembri deve ser entendida como um resultado de como o Brasil aldeava seus indígenas, cujo como o vocabulário dessa língua demonstra, não respeitava as diferenças culturais e linguísticas desses povos. O Katembri possui uma grande porção de palavras que são facilmente identificadas com seus cognatos na família Kariri, algumas podemos suspeitar que são Kariris a partir de sua estrutura (fui capaz de identificar 41 palavras que caem nessa categoria) e por último, palavras que derivam de uma família que irei discutir neste texto.


Comecemos pelas 41 palavras que eu suspeito serem de origem Kariri:


panado, kusubu/coçobu, bizaui, kosbo/köçöbu buhy/boiocozzoboingiado, kakiki, kakika, foipru/koipru/foifro, buã/bruan, hau, hoipa, kiko, buziki/buzükü/bozucu, kraiaro/granharó, bodoio/bodoiu, bodo, kobihi/kohibi, puiu/päiö, buzirũdada, buzirũ, kũñavó/croionho, tõnã / tãno / tanu, uiro, bodopruo, kroruru, zekrîrîrî, duhe


 Algumas são mais fáceis de identificar, como, kusubu, tõnã, zekrîrîrî e duhe, hau e kakika por terem cognatos anotados nas outras línguas dessa família ou línguas dentro da família Macro-Caribe (Dz.: utonna, Km.: tschoäklühüh e Sb.: tzoklühlih, Km.: tuhae(r)ia(o)ing e Sb.: tuchegtschihüh, Bakairi pəu), nos outros casos eu suspeito serem da família Kariri levando em consideração a fonotática dessa família, traduzindo, eu levo em questão como as palavras são normalmente estruturadas dentro da família Kariri e a presença de certos fonemas para chegar a conclusão de que essas são palavras genuinamente Kariri, porém, até que evidências mais claras que meras suspeitas sejam encontradas, manterei todas essas palavras (menos a que acabei de esclarecer) dentro dessa lista.


 Por último, vamos discutir sobre o vocabulário que se difere do resto da família Kariri, ele é particularmente notável pelo seu comportamento diferente do Kariri, as palavras tendem a serem menos monossilábicas, eu fiquei curioso para saber a origem desse povo diferente dos Kariris que foram aldeados em Mirandela, creio que descobri algo bastante interessante, veja comigo a comparação dessas palavras com os das línguas reconstruídas do Proto-Aruaque e o Proto-Japurá-Colômbia (descendente do Proto-Aruaque):


Português                     Katembri (Métraux)               Proto-Aruaque

cabeça                                (qui)tipati                                  *kɨwɨ

lábios                                   bukiri (buquiri)                         *kira

boca                                     bu(niki) (buniqui)                    *kanakɨ  

mão                                      kifi (quifi)                                 *-khapɨ, *kabi 

cabelo                                  (idi)ki (idiqui quetipati)          *-iti                                                                                       


Português                     Katembri (Métraux)               Proto-Japurá-Colômbia            


nádegas                               ka(iwɛ) (kaiuɛ)                         *-iʔiwa 

milho                                    paifi(kinjorɛ) (paifiquinioré)   *inari


E possivelmente


Português                     Katembri (Métraux)               Proto-Japurá-Colômbia 

beiju                                      beniti                                        *pee-ri



Como foi demonstrado, essas palavras tem uma grande afinidade com as palavras do grupo Aruaque, o que implica que a outra língua veio a partir de uma migração desse grupo da Amazônia para o nordeste do Brasil, é difícil para mim, no entanto, esclarecer de qual grupo específico poderia ter pertencido esse povo que foi aldeado com os Kariris, espero que especialistas nessas línguas possam ver e estudar esse resquício de uma possível língua aruaque nordestina e chegar a conclusões mais elaboradas sobre a interação destes povos.



Autor da matéria: Ari Loussant


sábado, 24 de setembro de 2022

HIPÓTESE NA SÍLABA (Â-/ÃE-) DA PALAVRA ÂBOGÂ / ÃEBOGAE

 

Hipótese sobre a primeira sílaba (â-/ãe-) da palavra comitativa -âbogâ / ãebogae


 Recentemente falei sobre a palavra *də "perto, próximo, chegado", nele mencionei brevemente que estava procurando o significado dessa primeira sílaba, já que as duas últimas sílabas podem ser analisadas como bogâ/bogae "outro", um composto entre bo/bo "por, de" + gâ/gae "ser diferente", o que faz com que a palavra que surge no começo seja algo que direcione para o outro.


 Cheguei a essa conclusão após ver a palavra Kipeá AMPRI "fronteiro", palavra que significa tanto "frente" quanto "oposto", se essa primeira sílaba for cognata da sílaba da palavra comitativa, podemos traduzir âbogâ / ãebogae como "de frente ou oposto ao outro", portanto por extensão "com o outro", por isso reconstruo a raiz da primeira sílaba como *ə "frente, oposto"



Adaptados para as ortografias de cada língua como:


Dzubukuá: â

Kipeá: ae

Sapuyá: ö

Kamuru: a



Autor da matéria: Ari Loussant



quarta-feira, 14 de setembro de 2022

PALAVRAS PARA CONVERSA CASUAL PARTE II


 No texto anterior eu discuti brevemente sobre a necessidade de palavras básicas antes de partir para a tradução de tal discussão para cada um dos dialetos. Diferente do que foi falado no último texto, nesse eu quero ser um pouco mais técnico e demonstrar como eu criei tais neologismos, demonstrando meu método para que outros possam replicá-lo.


 Primeiro falemos sobre o básico do método de criação de neologismos, isto é, a busca por palavras e ideias para a criação de novas palavras, boa parte dos conceitos que estou criando derivam de palavras de outras línguas ou até mesmo são criações genuinamente originais para essa língua, vou exemplificar o primeiro caso e depois o segundo:


1º) Quando eu preciso de uma palavra para um conceito que não existe dentro dos vocabulários e catecismos, eu normalmente busco em línguas que tem vocabulários mais extensos, às vezes começo pelo Tupi e Kaingang e às vezes vou para as línguas indo-europeias (normalmente Grego Antigo, Latim e Sânscrito) para criar neologismos, um deles pode ser visto no texto anterior, na palavra *pâna/paena/pöna/pana* que significa elaborar, essa palavra é uma tradução palavra por palavra do termo latim, porém essas não são minhas únicas fontes, irei explicar no segundo ponto.


2º) Normalmente eu crio sinônimos ao lado das palavras que são traduções de outras línguas, esses sinônimos servem não só para se ter mais palavras, mas também para que a identidade nativa de cada língua seja preservada e reforçada. Dando continuidade à discussão da palavra *pâna/paena/pöna/pana* "elaborar", eu fiz além dessa tradução direta do latim os seguintes sinônimos:


a) Dz.: neke / Kp.: neken / Sb.: nekke / Km.: nekki "explicar, elaborar" (composto entre ne/ne/ne/ne "claro" + ke/ken/kke/kki "dizer")


b) Dz.: ñimzo / Kp.: nidzo / Sb.: nizo / Km.: ningzo "esclarecer, elaborar" (composto entre ñim/ni/ni/ning "haver, existir, causar" + zo/dzo/zo/zo "reluzente, brilhante", por verbalização "brilhar", portanto traduzido como "causar brilhar" > "esclarecer")


c) Dz.: kepeyzo / Kp.: kenpedzo / Sb.: kkeppezo / Km.: kkippezo "esclarecer, clarificar" (ke/ken/kke/kki "dizer" + pey/pe/ppe/ppe "prefixo causativo" + zo/dzo/zo/zo "reluzente, brilhante", por verbalização "brilhar") 


d) Dz.: pâtike / Kp.: paetiken / Sb.: ppöttikke / ppattikki "explicar" (pâ/pae/ppö/ppa "sair" de pâle/paere/ppöle/ppale com extensão semântica de "sair" > "fora" + ti/ti/tti/tti "botar, colocar" + ke/ken/kke/kki "dizer", literalmente "colocar para fora a fala" > "explicar")


 Como é possível ver, o método que eu utilizo é bem básico, consiste em utilizar de conceitos básicos e estender seus significados, como no exemplo A que significa literalmente "falar claramente", "falar de maneira clara", portanto "explicar, elaborar", todos os outros exemplos seguem lógicas similares, estendem o significado de palavras comuns para passar o sentido de "explicar, clarificar", alguns são inspirados em métodos de outras línguas mundo a fora e outros são construções bem simples e fáceis de se fazer, o exemplo B foi inspirado por exemplo pelo Cambojano បំភ្លឺ bɑmplɨɨ, que é o verbo ភ្លឺ (phlɨɨ) "brilhar" junto ao prefixo causativo bVN-.


 Existem ainda inúmeras palavras que faltam para realmente podermos ter conversas básicas e complexas nessa língua, portanto dedicarei os próximos textos desse tema para a sugestão de neologismos para suprir essa necessidade.



Autor da matéria: Ari Loussant


quinta-feira, 8 de setembro de 2022

UM SINÔNIMO DE BRAÇO


 Recentemente enviei um texto que explica que a palavra BO/BO/PO/PO que significa 'braço' também significa 'mão' e que sua vogal é um schwa, portanto BÂ/BAE/PÖ/PA, mas quando fui checar na lista de palavras anotadas por Martius, notei que nos dialetos do sul havia um sinônimo para essa palavra, que pelo que notei substituía a palavra derivado do Proto-Kariri *bə 'braço, mão', elas surgem das seguintes maneiras:


Cayriri (Kamurú)

aēnă 


Sapuyá

tzaneh


 A primeira variante, isto é a do Kamurú, surge com duas vogais no início, normalmente eu consideraria isso um AE latino, portanto um indicador de é aberto, porém a variante Sapuyá indica que na verdade isso é um caso de variação vocálica bastante comum nas anotações dessas línguas, varias palavras surgem com duplas vogais indicando que ela variava entre os dois fonemas, em alguns casos Martius colocava essas vogais em parênteses (ex.: bouih, tschoäklühüh, hitschüb(o)athöh).


 Essa palavra provavelmente se limitava ao dialetos do sul, pois até o momento, não fui capaz de encontrar ela nas anotações dos dialetos nortenhos, sua origem é desconhecida por enquanto, ainda não fui capaz de encontra cognatos nas família Macro-Jê, Caribe, Boróro, Nadahup, Tupi e Guaicuru, é possível que essa palavra tenha adquirido o significado geral de 'braço' dentro da família Kariri e tivesse outro significado anterior à esse, se não, é provavelmente parte de um substrato desconhecido que influenciou as línguas Kariri do sul, reconstruo essa raíz como *ənə "braço" e como empréstimo, coloco-os dentro das línguas do norte, corrigindo sua ortografia para:


Dz.: ânâ

Kp.: aenae

Sb.: önö

Km.: ana


 De acordo com a anotação de Martius, o prefixo relacional tz- (equivalente do dz- do norte) servirá de inspiração para colocar essa palavra na terceira declinação, aqui está sua conjugação em cada dialeto:


Dz.: gizânâ

âzânâ

hânâ

gizânâde

kânâ / kânâ a

âzânâ a / lo âzânâ (pronome novo) / lâzânâ (p. n.)

hânâ a / hazânâ (p. n.)


Kp.: gidzaenae

aedzaenae

saenae

gidzaenaede

kaenae / kaenaea

aedzaenaea / ro aedzaenae (p. n.) / raedzaenae (p. n.)

saenaea / sadzaenae (p. n.)


Sb.: gi zönö

ö zönö

sönö

gizönöte

könö / könö a

ö zönö a / lo ö zönö (p. n.) / lö zönö (p. n.)

sönö a / sa zönö (p. n.)


Km.: gi zana

a zana

sana

gizanate

kana / kana a

a zana a / la a zana (p. n.) / la zana (p. n.)

sana / sa zana (p. n.)



Autor da matéria: Ari Loussant



SUGESTÃO DE PRONOMES PLURAIS ALTERNATIVOS


 Ando treinando minha fala na língua Kariri e notei que eu momentos de fala rápida em palavras que terminam com a, a partícula plural *a* praticamente desaparece e se funde à vogal anterior, isso pode levar a confusões no futuro se a pessoa não desacelerar a fala, coisa que irá impedir uma fala fluída e realmente nativa das línguas Kariri. Os pronomes que irei propor não servem para substituir os pronomes já estabelecidos, mas sim para auxiliar em momentos como esse que uma confusão pode ocorrer na fala, começando com o primeiro pronome que segue esse padrão, o pronome da segunda pessoa plural:


Sua estrutura original é


Proto-Kariri: *ə-X a, ə j-X a, ə dz-X a (ou ə-X-a, əj-X-a e ədz-X-a na ortografia do Kipeá)


O pronome alternativo que sugiro é 


Dz.: lâ- / Kp.: rae- / Sb.: lö- / Km.: la- 


Este pronome surge a partir da fusão entre lo/ro/lo/lo "todos" + Dz.: â- / Kp.: ae- / Sb.: ö- / Km.: a- "pronome de segunda pessoa", inspirado pelo inglês *you all*, por que essa palavra é uma fusão entre dois morfemas distintos, é totalmente possível usá-los separadamente, então você pode dizer:


Dz.: lâha / Kp.: raesa / Sb.: lösa / Km.: lasa "vós nasceis"

ou

Dz.: lo âha / Kp.: ro aesa / Sb.: lo ösa / lo asa "vós nasceis"


Ambos estão corretos.


 Indo para o último pronome que usa esse sistema, o pronome da terceira pessoa plural:


Proto-Kariri: *s-X a, *i-X a, si-X-a e*su X a (s-X-a, i-X-a, si-X-a e su-X-a na ortografia do Kipeá)


 O pronome alternativo para esse é uma construção bem óbvia, é uma fusão do pronome h-/s-/s-/s- "pronome de terceira pessoa" + partícula plural *a*, portanto ha-/sa-/sa-/sa-. Neste caso, este pronome alternativo poderá auxiliar na diferenciação entre a pluralização do pronome versus a pluralização do substantivo, veja o seguinte exemplo:


1) Dz.: ibate a / Kp.: sibatea / Sb.: sipatte a ~ singpatte a / Km.: sipatte a ~ singpatte a 


 Esta palavra conjugada pode ser tanto "moradia deles/delas', com a partícula *a* sendo parte do pronome como pode ser também "moradias dele/dela", com a partícula *a* se referindo ao substantivo, para evitar essa confusão, o pronome alternativo pode ser utilizado em qualquer declinação para especificamente se referir ao plural do pronome, fiz assim para não complicar seu uso que é específico para quebrar esse tipo de problema, portanto:


2) Dz.: habate / Kp.: sabate / Sb.: sapatte / Km.: sapatte


Ex.:

Dz.: habate / Kp.: sabate / Sb.: sapatte / Km.: sapatte "moradia DELES/DELAS"

Dz.: ibate a / Kp.: sibatea / Sb.: sipatte a ~ singpatte a / Km.: sipatte a ~ singpatte a "MORADIAS dele/dela e moradia DELES/DELAS"


 Com isso, a palavra *moradia* conjugada na terceira pessoa do plural pode ser distinguida do substantivo *moradia* no plural facilmente. Como mencionei antes, esses pronomes tem o propósito de coexistir com seus equivalentes originais e não substituí-los, portanto o uso dele deve ficar em variação livre, resumo agora nessa seguinte tabela todos os pronomes que já existiam ao lado de seus novos sinônimos:


PRONOMES


1ª pessoa do singular:

Dz.: gi-, giy-, giz-, gizu-, zu- 

Kp.: gi-, giy-, gidz-, dzu- 

Sb.: gi-, gi y-, gi z-, gi zu, zu 

Km.: gi-, gi y-, gi z-, gi zu, zu 


2ª pessoa do singular:

Dz.: â-, âñ-, âmz- 

Kp.: ae-, aey-, aedz-

Sb.: ö-, ö y-, ö z- 

Km.: a-, a y-, a z-


3ª pessoa do singular:

Dz.: i-, h-, hi- (hipotético) 

Kp.: i-, s-, si- 

Sb.: i-, s-, si-, sing- 

Km.: i-, s-, si-, sing-


3ª pessoa correferencial:

Dz.: d-, di-, du- 

Kp.: d-, di-, du 

Sb.: t-, ti-, tu- 

Km.: t-, ti-, tu-


1ª pessoa do plural exclusiva:

Dz.: gi- -de, gizu- -de, zu- -de 

Kp.: gi- -de, dzu- -de 

Sb.: gi-  -te, gi zu -te, zu -te

Km.: gi- -te, gi zu -te, zu -te


1ª pessoa do plural inclusiva:

Dz.: k-, ku- 

Kp.: k-, ku- 

Sb.: kk-, kku- 

Km.: kk-, kku-


2ª pessoa do plural:

Dz.: â- a, âñ- a, âmz- a, lo â-, lo âñ-, lo âmz-, lâ-, lâñ-, lâmz-

Kp.: ae- -a, aey- -a, aedz- -a, ro ae-, ro aey-, ro aedz-, rae-, raey-, raedz- 

Sb.: ö- a, ö y- a, ö z- a, lo ö-, lo ö y-, lo ö z-, lö-, lö y-, lö z-

Km.: a- a, a y- a, a z- a, lo a-, lo a y-, lo a z-, la-, la y-, la z-


3ª pessoa do plural:

Dz.: i- a, h- a, hi- a (hipotético), ha-, hañ-, haz-

Kp.: i- -a, s- -a, si- -a, sa-, sa, say-, sadz-

Sb.: i- a, s- a, si- a, sing- a, sa-, sa y, sa z- 

Km.: i- a, s- a, si- a, sing- a, sa-, sa y-, sa z-



Autor da matéria: Ari Loussant


terça-feira, 6 de setembro de 2022

A PALAVRA CARNE NƏ E SEUS DESCENDENTES


 Esta palavra surge três vezes nas línguas da família Kariri, a primeira é aquela que foi registrada por Mamiani no composto RINE "carne salgada", o que implica que RI tem o significado de "sal, salgado", as duas outras vezes foram registradas por Von Martius em seu vocabulário do Sapuyá e do Kamurú, neste caso as palavras surgem em frases:


Cayriri (Kamurú)

assa carnem - toppo gratzönah

e

Sapuyá

assa carnem - thabuneh gratzo


 Além da mudança vocálica de a ~ e indicar que a vogal é um schwa, o seu único possível cognato próximo muito provavelmente surge no verbo *ô(NÔ) "comer carne" do Proto-Caribe, indicando novamente que a vogal é central, sendo portanto possível reconstruir para o Proto-Macro-Caribe e o Proto-Kariri como *nə. 



Correção ortográfica:

Dzubukuá: reconstruido como nâ

Kipeá: ne > nae

Sapuyá: neh > nö

Kamurú: nah > na .



Autor da matéria: Ari Loussant


segunda-feira, 5 de setembro de 2022

PALAVRAS PARA CONVERSA CASUAL PARTE I


 Os catecismos nos deixaram um grande auxílio, que é o Kariri na prática com a aplicação de sua gramática e léxico nativo nos textos. Graças às frases produzidas por Nantes e Mamiani, vemos que essa língua dá suporte claro para diálogos longos, no entanto o problema atual que essa língua possui é a falta de vocábulos para conversas casuais fora do contexto cristão dos catecismos ou discussões mais elaboradas, como por exemplo este pequeno dialogo que foi traduzido para Dzubukuá/Kipeá/Sabuyá/Kamurú.


Dzubukuá


 Pli kli nâ Krihokara a kâyza uriyo bu yâ, ro dâhi wâlizâ Ñiho tite yâbogâ bo dikewo, bo digâketo dehem mâ kiheme a. Nâdâ uro a kiheme diñimgoli nâ Namti ko Mamiyani, kunânu bâ koho âlizâ dubâdili bu ne hây kedete a uro ki, ibonâ ke wamlete bâ dâ igiku le dicogoli dâ uro âlizâ, dâ ikedete kyeku pâ bo kri hâbu, ipânaklite wokete bo gâ, wo bo tote uro woro mûkepeynekli plo dâ Zubukua/Kipea/Thabuya/Kamuru.


Kipeá


Pri kri nae Krisokarãa kaeidza woriyo bu yãe, ro daehý suwaeridzae Nhiho tite sãebogae bo dikewo, bo diyaekento dehen mae chihemea. Naedae uroa chiheme diniyori nae Nanti ko Mamiyani, kunaenu bae koho aeridzae dubaediri bune kendetea worochi sai, ibonae ke warete bae dae igýku re ditsogori dae uro aeridzae, dae ikendete cheku pae bo kri saebu, sipaenakrite wokente bo gae, wo bo tote uro woro mýkenpenekri pro dae Dzubukua/Kipea/Sabuya/Kamuru


Sapuyá


Bluy kli nö Krisokara a köyza woriyo pu yö, ro töhü su ölizö Niho titte söpochö po tikkewo, po tichökketto deheng mu ciheme a. Nötö uro a ciheme tinicholi nö Nangti kko Mamiyani, kunönu pö kkoho ölizö tubötili pu ne say kketette a woro ci, iponö kke walette pö tö igükku le tizocholü tö uro ölizö, tö ikketette cekku pö po kri söbu, singpönaklitte wokkette po chö, wo po ttotte uro woro mükkepenekli pplo tö Zubukua/Kipea/Sapuya/Kamuru


Kamurú


Bli krü na Krisokarang a kayza woriyo pu yang, ro tahü su ariza Niho titte sapocha po tikkiwo, po tichakkitto deheng ma ciheme a. Nata uro a ciheme tiningcholü na Nangti kko Mamiyani, kunanu pa kkoho ariza tubatilü pu ne say kkitette a woro ci, ipona kki wang'lette pa ta igükku le tizocholü ta uro ariza, ta ikkitette cikku pa po kri sabu, sipanakrütte wokkitte po cha, wo po ttotte uro woro mükkippenekrü ppro ta Zubukua/Kipea/Sapuya/Kamuru


Neologismos


Dz.: krihokara / Kp.: krisokarã / Sb.: krisokara / Km.: krisokarang "Catecismo" (kri/kri/kri/kri derivado da primeira sílaba de palavras como cristo, cristão, cristianismo + hoka/soka/soka/soka "catequizar", tradução literal da palavra grega κατηχίζω (katēkhízō) que é um composto entre κατά (katá) "oposto, contra" + ἠχέω (ēkhéō) "soar, ressoar" + (â)ra/(ae)rã/(ö)ra/(a)rang "folha" com extensão semântica para livro baseado no mesmo método utilizado pelo povo Hup com sua palavra nativa g'æt "folha, papel, livro")


Dz.: tite / Kp.: tite / Sb.: titte / Km.: titte "aplicação" (ti/ti/ti/ti "botar, colocar, aplicar" + te "sufixo nominalizador")


Dz.: kewo / Kp.: kewo / Sb.: kkewo / Km.: kkiwo "gramática" (ke/ke/kke/kki "dizer" + wo/wo/wo/wo "caminho", com extensão semântica para "regra")


Dz.: gâketo / Kp.: yaekento / Sb.: chökketto / Km.: chakkitto "léxico, vocabulário" (gâ/yae/chö/cha "muito" + ke/ken/kke/kki "dizer" + to/to/tto/tto "ser mostrado", literalmente "amostra de muitas palavras")


Dz.: nâdâ / Kp.: naedae / Sb.: nötö / Km.: nata "graças a" (nâ/nae/nö/na "por causa" + dâ/dae/tö/ta "a, para", decalque da expressão portuguêsa "graças a")


Dz.: kiheme / Kp.: chiheme / Sb.: ciheme / Km.: ciheme "texto" (ki/chi/ci/ci "longo, comprido" + he/he/he/he "escrever" + me/me/me/me "dizer, falar", literalmente "longa fala escrita")


Dz.: dubâdili / Kp.: dubaediri / Sb.: tubötili / Km.: tubatilü "aquele que dá apoio, suporte" (d-/d-/t-/t- "prefixo de terceira pessoa correferencial" + -u- "antipassivo" + bâdi "ser auxiliado, ser apoiado", composto entre bâ/bae/bö/ba "mão" + di/di/ti/ti "ser dado" + li/ri/li/lü "sufixo do passado recente")


Dz.: wamlete / Kp.: warete / Sb.: walette / Km.: wang'lette "falta, ausência" (wam/wa/wa/wang "haver" + le/re/le/le "pouco, breve" + te/te/tte/tte "sufixo nominalizador")


Dz.: dâ igiku / Kp.: dae igýku / Sb.: tö igükku / Km.: ta igükku "atual" (dâ igi/dae igý/tö igü/ta igü "hoje" + ku/ku/kku/kku "sufixo que denota característica")


Dz.: ikedete / Kp.: ikendete / Sb.: ikketette / Km.: ikkitette "conversa" (i/i/i/i "prefixo de terceira pessoa" + kede/kende/kkete/kkite "dizer, falar" + te/te/tte/tte "sufixo nominalizador")


Dz.: kyeku / Kp.: cheku / Sb.: cekku / Km.: cikku "diário" (kye/che/ce/ci "dia" + ku/ku/kku/kku "sufixo que denota característica")


Dz.: pâ / Kp.: pae / Sb.: pö / Km.: pa "fora" (pâ/pae/pö/pa "sair" de pâle/paere/pöle/pale com extensão semântica de "sair" > "fora")


Dz.: hâbu / Kp.: saebu / Sb.: söbu / Km.: sabu "contexto" (hâ/sae/sö/sa "vento" com extensão semântica para "atmosfera, clima" + bu/bu/bu/bu "pele, casca" com extensão semântica para "significado")


Dz.: ipânaklite / Kp.: sipaenakrite / Sb.: singpönaklitte / Km.: sipanakrütte "elaborado" (i/si/sing/si "prefixo de terceira pessoa" + pâna/paena/pöna/pana "elaborar", composto entre pâ/pae/pö/pa "sair" de pâle/paere/pöle/pale com extensão semântica de "sair" > "fora" > "ex-" + na/na/na/na "trabalhar", tradução literal do latim ēlabōrō, que é um composto entre e(x)- "fora, ex-" + labōrō "laborar, trabalhar" + kli/kri/kli/krü "sufixo do pretérito" + te/te/tte/tte "sufixo nominalizador")


Dz.: wokete / Kp.: wokente/ Sb.: wokkete / Km.: wokkite "discussão" (wo/wo/wo/wo "caminho" + ke/ken/kke/kki "falar, dizer" + te/te/tte/tte "sufixo nominalizador", literalmente "falar (sobre) caminho, método, jeito", portanto "discutir, debater")


Dz.: tote / Kp.: tote / Sb.: ttotte / Km.: ttotte "exemplo, amostra" (to/to/tto/tto "ser mostrado" + te/te/tte/tte "sufixo nominalizador")


Dz.: mûkepeynekli plo / Kp.: mýkenpenekri pro / Sb.: mükkeppenekli pplo / Km.: mükkippenekrü ppro "que (foi) traduzido" (mû-/mý-/mü-/mü- "prefixo causativo passivo" + kepeyne/kenpene/kkeppene/kkippene "traduzir", composto entre ke/ken/kke/kki "dizer" + pey/pe/ppe/ppe "prefixo causativo ativo" + ne "claro", ou seja "esclarecer dizer" + kli/kri/kli/krü "sufixo do pretérito" + plo "que, prouvera, oxalá").


Autor da matéria: Ari Loussant