quarta-feira, 30 de novembro de 2022

AS PALAVRAS KENHE E TUDENHE NA ORIGEM COMUM

 

Estas duas palavras tem o mesmo sentido, de "antigamente, há muito tempo, em tempos passados", a estrutura no entanto pode confundir algumas pessoas, porém existe uma explicação bem simples para essa diferença.


 Na evolução das línguas Nhihô, muitos processos fonéticos ocorreram, um deles foi fortição, um processo que irei resumir aqui nas seguintes transformações:


Proto-Kariri *c > Descendentes /k/, /t/, e às vezes /ts/ ou /tʃ/

Proto-Kariri *ɟ > Descendentes /d/, /ð/ (Dzubukuá), /g/ (Sapuyá e Kamurú) ou preservado como /ɟ/ (Kipeá) em alguns casos de interação com a vogal /i/, ainda assim passando pelo processo de fortição e virando /d/ em todos os outros casos.


 Com isso dito, irei explicar minha hipótese sobre essa palavra, a sua primeira sílaba (KE e DE) são a mesma palavra, com o significado de "antes, anterior, antigo, velho, antigamente", ambos derivam do Proto-Kariri *ce "idem", porém note que o segundo evoluiu para DE, isso muito provavelmente ocorreu ainda no Proto-Kariri, quando em um período bem cedo desse estágio dessa família o composto TUDENHE foi criado, seguindo esta evolução:


*tu-ceɲe > *tu-ɟeɲe > (fortição) tu-deɲe


Como podem ver, a palavra ce foi vozeada para ɟe devido a sua posição intervocálica e por último passou pelo processo de fortição, separando-a superficialmente de seu cognato KE de KENHE.


Reconstruo essa palavra como *ce "antes, antigo, anterior, antigamente" assim como seu sinônimo *ɲe (nhe) "antes, antigo, anterior, antigamente", já a palavra TU de TUDENHE é um mistério para mim, ela não parece ter alterado o significado e a função de *ceɲe, portanto isso implica que isso é um sinônimo ou uma palavra próxima semanticamente, por enquanto irei reconstruir ela como *t(ʰ)u "antigo, anterior, antes", reconstruindo todos para cada dialeto como:


Proto-Kariri *ce:


Dz.: ke, kye, de, dhe

Kp.: ke, kye, de

Sb.: ké, kyé, cé, té, gé

Km.: kì, kyì, cì, tì, gì

Kt.: ke, kye, de



Proto-Kariri *ɲe:


Dz.: ñe

Kp.: nhe

Sb.: nyé

Km.: nyì

Kt.: ñe



Proto-Kariri *t(ʰ)u:


Dz.: thu

Kp.: tu

Sb.: thú

Km.: ttù

Kt.: thu



Autor da matéria: Ari Loussant


segunda-feira, 28 de novembro de 2022

AS RAÍZES *KLƗ "TROVÃO" E *BƏ "RELÂMPAGO"

 

Estas raízes surgem somente em compostos dentro das línguas Kariris, isso se deve pelo fato de serem monossilábicas, portanto os Kariris precisavam colocar palavras modificadoras para que fosse possível discerni-las de seus homófonos, seus compostos são:



TROVÃO


Km.: tschoäklühüh "trovão", desconstruído como tschoä "chuva" + klü "trovão" -hüh "sufixo epistêmico"


Sb.: tzoklühlih "trovão", descontruído como tzo "chuva" + klüh "trovão" + -lih "sufixo do passado recente"



RELÂMPAGO


Dz.: tidzeboe "relâmpago", descontruído como ti "palavra que torna chuva verbo, significado desconhecido, possivelmente cair ou colocar" + dze, variante de dzo "chuva" + boe "relâmpago, claro, luz, clarão (?)"


Kp.: tidzehehobo "relâmpago", desconstruído como ti "palavra que torna chuva verbo, significado desconhecido, possivelmente cair ou colocar" + dze, variante de dzo "chuva" + he, possível cognato do he de buhe "luz" + ho, se não for uma reduplicação de he (o que implica que a vogal é central), é possivelmente cognato do ho de iho "muito" do Dzubukuá, portanto heho seria "muita luz" ou talvez outra palavra desconhecida no momento + bo "relâmpago, claro, luz, clarão (?)"


Km.: zutzschepotlitaklüh "relâmpago", desconstruído como zu "palavra que torna chuva verbo, significado desconhecido, possivelmente cair ou colocar" + tsche, variante de tscho "chuva" + po(t) "relâmpago, claro, luz, clarão (?)" + -li "sufixo do passado recente (?) + -ta(k), é possivelmente o mesmo que o sufixo -de do Kipeá, que transforma as palavras em verbos, portanto o significado real dessa palavra seria "é relâmpago" + (k)lüh, se o k não for parte dessa palavra, então é possível que seja outro sufixo do passado recente, mas caso seja, então é possível que seja a palavra klü "trovão", no entanto não consigo explicar o por que dessa palavra estar incluída aqui.


Nota: as possíveis consoantes finais de po(t) e ta(k) são inexplicáveis no momento, teorizo três coisas, ou são erros tipográficos ou estão indicando resquícios fonéticos que os dialetos do norte (Dzubukuá, Kipeá e Katembri) não preservaram ou é possível que sejam inovações dos dialetos do sul (Kamurú e Sabuyá) que não haviam no Proto-Kariri.



Reconstruo as duas palavras para cada dialeto como:


TROVÃO: Proto Kariri *klɨ


Dz.: klui (klû)

Kp.: krŷ (krý)

Sb.: klü

Km.: klü



RELÂMPAGO: Proto-Kariri *bə


Dz.: boe

Kp.: bo 

Sb.: bo 

Km.: po



Autor da matéria: Ari Loussant



quinta-feira, 24 de novembro de 2022

A PALAVRA KIPEÁ SIMU "COSTUME"


 Essa palavra surge nas páginas 4 ou Salve Rainha:


"(...)dzusimudé" da frase "nó hiwânghebŷdé bo dzusimudé", cujo é traduzido literalmente  como "nossa (excl) perda de nosso (excl) costume", a tradução portuguesa não explicita essa palavra no texto.


Ainda na página 4 (Salve Rainha):


"nó hiperédé bó radá dzu simúkyédé", difícil de traduzir, provavelmente "quando/pois/se nosso (excl) sair da terra (desterro) nosso (excl) não costume (???)", a tradução portuguesa não explicita essa palavra no texto.


Página 109 (Dialogo II: Dos outros dous mandamentos da Igreja)


"Morodŷ; moró sidí iwanhubatçã Tupã inháá mó iwó *susimú* dó sibáté", traduzido literalmente como "(Ser assim) não; é assim (ele) é dado parte (de) Deus por causa deles em caminho do costume da moradia dele/dela", a tradução do catecismo é "Não; mas cada um há de pagar conforme o costume de sua terra aonde mora", onde *susimú dó sibáté* corresponde à "o costume de sua terra aonde mora".


Ainda na página 109 (Dialogo II: Dos outros dous mandamentos da Igreja)


"Canghi sidí, nó uró iwó mó cusimú dó cubáté", literalmente "(É) bom ele ser dado, se este/isto (é) caminho dele/dela em nosso (incl) costume de nossa (incl) moradia", a tradução do catecismo é "Havemos, se assim for o costume da terra aonde moramos".



 O que podemos retirar de todas essas informações ? Comecemos com a estrutura da palavra:


1º) Ela possui duas sílabas, SI e MU, ambas sem cognatos conhecidos nas línguas Brasílicas, o que indica que são nativas da família Nhihô


2º) Muito provavelmente são um composto de sinônimos, pois não indicam a presença de duas palavras em uma só como em MAIBA "clara (BA) de ovo (MA)" ou BEINE "tornar-se (BE) para ver (NE)", compostas pelas raízes *si "?" e mu "?"


3º) Sabemos que, ao menos, a raiz *si é da quinta declinação de Mamiani, como vimos nos exemplos acima (dzusimudé e susimú), não sabemos da declinação de *mu


 Partindo para a hipótese de significados, comecemos com *mu, esta palavra provavelmente tem o mesmo significado que *si, é possível também que esteja conectada com *BIDZAMU*. Há alguns meses atrás publiquei algumas hipóteses referentes à ambas as raízes encontradas nessa palavra, Bidza pode estar conectada ao bidzoho "alguém" do Dzubukuá e o ibicho "pessoa" do Kamurú, se esse for o caso e *mu tiver o significado de "costume", é possível traduzir *BIDZAMU* como "pessoa do(s) costume(s)", é difícil dizer se os Nhihôs tinham a interpretação figurativa de "raiz" como "tradição, costume", mas caso tivessem, essa palavra é provavelmente uma derivação dela.


 Seguindo para *si, este é o mais difícil, pois não existem outros exemplos de utilização dessa raiz (que eu conheça), mas como não há divergência ou duplicidade nos significados do composto que vimos no catecismo, é extremamente provável que essa palavra tenha o mesmo significado que a anterior, portanto reconstruo ela como *si ~ *ci "costume"


Reconstruindo para todos os dialetos como:


Dz.: himu ~ dhimu

Kp.: simú

Sb.: simu

Km.: simu

Kt.: simu




Autor da matéria: Ari Loussant





segunda-feira, 21 de novembro de 2022

NOVO MÉTODO DE CRIAÇÃO DE PALAVRAS PARA AS LÍNGUAS NHIHO

 

Apesar de eu chamar de novo, não é necessariamente algo inovador, este método vem sido utilizado de maneira consciente ou não por várias línguas no mundo todo, é uma fusão de várias mudanças fonéticas que ocorrem naturalmente nas línguas, como lenição, ablaut, fortição etc. É novo pois, até onde meus estudos chegaram, eu não notei os Kariris utilizando esse tipo de mudança fonética de propósito para criar novas palavras, portanto é algo novo que estará sendo introduzido de maneira sistematizada em cada uma das línguas dessa família.


 O que é este método do qual estou falando ? É bem simples, não sobraram muitas palavras para que hajam conversas naturais entre aqueles que desejam ser falantes dessas línguas, sabemos disso. O método mais primitivo (não no sentido ruim, e sim no sentido de primário, a primeira coisa que vem na cabeça) de criação de palavras é composição, onde você pega duas palavras e junta elas para formar uma nova, esse método não é ruim e era visto como algo extremamente produtivo para o falantes antigos, o problema é que há um limite de quanto podemos fazer isso com as palavras que temos atualmente, é um sistema que não gera palavras novas e sim reutiliza as existentes, se dependermos desse método, logo chegaremos a criar palavras gigantes que iriam quebrar a estética dissilábica da família Nhihô. Com isso dito, vou demonstrar para vocês um pouco de como esse método funciona, peguemos uma palavra como exemplo do Dzubukuá kye (quie) "amarrar, atar"


kye > ke, kem, kye, kyem, khe, khem, khye, khyem, ge, gem, gye, gyem, tse, tsem, dze, dzem, se, sem, he, hem, dhe, dhem, de, dem, te, tem, le, lem, re, rem, ghe, ghem, we, wem, be, bem, pe, pem, phe, phem


 Como vocês podem ver, temos uma lista, tal lista começa com a palavra original e logo depois passa para outra versão dela, é possível notar um padrão de palavra normal, palavra nasal, palavra normal e palavra nasal (representada pelo -m final da ortografia do Dzubukuá) nesse grupo de palavras, agora vocês podem estar se perguntando, qual é o método utilizado aqui, vou explicar agora



 Basicamente este método utiliza de todos os sons disponíveis da língua Nhihô no qual está sendo trabalhada e força a palavra a mudar foneticamente para criar uma variante dela. Kye (quie) "amarrar, atar" deriva do Proto-Kariri *ce "atar, amarrar", o som original é /c/, mas começamos com uma versão despalatalizada (isto é sem o som /j/ como em k(y)e) e desvozeada (ou seja com o k e não com g) e não aspirada (com k e não com kh), criando a variante *ke*, logo em seguida fazemos a mesma coisa só que com o som nasal, criando *kem*, depois passamos para suas versões palatalizadas: *kye* e *kyem*, aspiradas: *khe* e *khem*, vozeadas *ge* e *gem* e por aí vai.


 Para não divagar muito, não irei explicar nesse texto todas as mudanças, logo mostrarei uma versão mais detalhada sobre quais sons podem mudar para quais sons, por enquanto irei explicar outra parte desse método.


Uma pergunta que pode surgir é se só poderão criar palavras na quantidade de variantes que existem, como por exemplo, voltemos na lista e contemos quantas variantes tem nela: 40, a pergunta nesse caso seria se só poderão ser criadas 40 palavras, uma para cada variante ?


 E eu respondo que não, esse sistema permite que as palavras sejam reutilizadas (hipoteticamente) infinitas vezes, na realidade as palavras podem ser derivadas dependendo da necessidade do falante, você não necessariamente vai criar infinitas palavras, pois a quantidade depende da criatividade e necessidade do falante, aqui está um exemplo prático disso:


kye "atar" > kye "prender" > kye "prisão, cadeia" > kye "prisioneiro" > kye "escravo" > kye "espólio de guerra" > kye "tesouro" > kye "moeda" ou kye "joia" >  kye "preço" > kye "vender"

                          > kye "negociar"

                            > kye "comprar" 

                            > kye "negócio" 

                             > kye "coisa" 

                       > kye "mercado" ou "feira"

                          > kye "shopping"

                       > kye "valor (preço ou moral)"

                          > kye "moral"


 Como se pode ver, a palavra "atar" foi derivada 19 vezes, cada derivação se torna uma palavra independente, podendo ter portanto sua própria derivação, chegando a um ponto que podemos justificar a mudança do verbo "amarrar, atar" para "vender", sem essas mudanças nunca poderíamos ter chegado tão longe a ponto de criar significados tão distintos do original, afinal é extremamente difícil justificar para um linguista que o verbo "atar" deu origem ao substantivo "moral" sem uma linhagem da evolução semântica. 


  Com este método, múltiplas palavras podem ser criadas a partir de uma só raiz, como puderam ver eu só usei 1 das 40 alternativas que eu tinha naquela  lista que eu demonstrei. "Ah, mas agora temos 19 palavras idênticas, como iremos distinguir elas dentro de uma frase ?", simples, ainda existem 39 variantes não utilizadas, e isso é por que eu ainda não expliquei o outro processo dentro desse sistema de criação de palavras: o ablaut.


 O ablaut ou apofonia é um processo fonético de substituição de uma vogal raiz por outra, como no caso do inglês sing, sang, sung e song, onde a raiz sVng teve sua vogal permutada 4 vezes para denotar coisas distintas, a mesma coisa pode ser feita nas línguas Nhihô baseado nos processos fonéticos que ocorreram dentro dessas línguas:


Ex.: comecemos com o /e/, este pode facilmente se transformar em /i/ ou o é aberto /ɛ/ , já o /i/ pode se transformar no i grosso /ɨ/, o i grosso pode virar o schwa /ə/ ou /u/ (como visto no Dzubukuá e Kamurú respectivamente), o schwa pode virar tanto /e/ (Kipeá) quanto /o/ e /a/ (Dzubukuá e Kamurú) e por último o /o/ pode virar /u/ (Sapuyá) ou o ó aberto /ɔ/.


O exemplo que utilizamos foi uma palavra do Dzubukuá, esta língua permite 9 ou 8 vogais, /a/, /ə/ /e/, /ɛ/, /i/, /ɨ/ /o/, /ɔ/ <- (hipotético) e /u/


Podemos criar 40 variantes seguindo todos os processos fonéticos que logo logo explicarei melhor, presumamos que existam 9 vogais nesta língua, portanto 40 x 9 = 360, temos 360 variantes que podemos utilizar à vontade.


Com isso explicado, voltemos para a pergunta, como iremos resolver o problema de termos muitas palavras idênticas ? Trarei de volta a lista com o vogal substituída por um V, cujo o significado é "vogal não determinada":


kV, kVm, kyV, kyVm, khV, khVm, khyV, khyVm, gV, gVm, gyV, gyVm, tsV, tsVm, dzV, dzVm, sV, sVm, hV, hVm, dhV, dhVm, dV, dVm, tV, tVm, lV, lVm, rV, rVm, ghV, ghVm, wV, wVm, bV, bVm, pV, pVm, phV, phVm


 a V está ali para implicar que qualquer uma das nove (ou oito) vogais do Dzubukuá podem ser encaixadas na palavra, portanto temos 360 (ou 320) palavras cujo podemos utilizar à vontade, para este exemplo, vamos escolher algumas palavras da lista de derivações semânticas

> kye "vender"

                          > kye "negociar"

                            > kye "comprar" 

                            > kye "negócio" 

                             > kye "coisa" 

                       > kye "mercado" ou "feira"

                          > kye "shopping"

                       > kye "valor (preço ou moral)"

                          > kye "moral"


Vamos escolher o verbo "comprar", como podemos ver, ele é idêntico ao verbo "vender", ele é derivado a partir do verbo "negociar", cujo possui um sentido neutro e pode significar uma transação indo para ambos os lados, agora temos duas palavras que se faladas sozinhas podem ser confundidas, como resolver esse problema ? Peguemos uma palavra das 360/320 que temos guardadas, vamos escolher arbitrariamente a palavra phV, e para ela vamos escolher a vogal /a/, portanto *pha*, por enquanto essa palavra só significa "atar, amarrar", assim como a palavra do qual ela derivou, mas agora vamos impor o mesmo processo que kye passou para chegar até "comprar", criando a palavra *pha* "comprar", portanto agora temos um sinônimo do qual podemos utilizar para distinguir as palavras criando a palavra:


kyepha "comprar"


 É assim que o problema de homofonia será resolvido, utilizando as outras variantes para criar sinônimos com estruturas distintas, a escolha será feita pelos representantes das línguas (a liderança), cujo irá determinar quais palavras devem ser escolhidas dentro da lista para seus respectivos dialetos.



Autor da matéria: Ari Loussant


AS RAÍZES DE BANHE

 

As raízes de BANHE "ser estendido ao sol ou ao fogo"


 Levando em consideração nosso conhecimento das línguas Kariris e como elas formam suas palavras, sabemos que boa parte dos vocábulos nativos são compostos de no mínimo duas e no máximo cinco raízes monossilábicas, neste caso não é diferente.


 Estive em dúvidas sobre o que significava o que nesse composto, voltando para seu significado, podemos dividi-lo em duas partes, a ação (ser estendido) e o objeto (sol ou fogo), a ordem comum dos compostos dessa língua nos levaria a crer que BA é o verbo e NHE é o substantivo, mas eu precisava de uma confirmação para ter absoluta certeza dessa hipótese.


 Foi aí que lembrei de uma dúvida antiga que tive quando eu e Ricky lemos o catecismo e encontramos em múltiplos casos palavras que significavam fogo compostas como SUNHE, naquela época não sabíamos o que significava, mas hoje posso dizer com certeza de que essa palavra pode ser reconstruída como *ɲe "fogo, sol"


Reconstruída para todos as línguas base como:


Proto-Kariri *ba "estender, ser estendido"


Dz.: ba

Kp.: ba (bá)

Sb.: pa, ba

Km.: pa, ba

Kt.: ba



Proto-Kariri *ɲe "sol, fogo"


Dzubukuá: ñe

Kipeá: nhe

Sabuyá: nye

Kamurú: ni, nyi

Katembri: ñe, ñi.



Autor da matéria: Ari Loussant



quinta-feira, 17 de novembro de 2022

FILHOS DA MÃE TERRA

 

  A maioria dos povos nativos da América afirmam em suas histórias, que todos os seres da natureza: astros, plantas, animais, minerais, enfim tudo que existe tem uma conexão e relação de parentesco. Em algumas culturas os indígenas mencionam seus antepassados como peixes, répteis, felinos, pássaros, mamíferos, plantas e até a própria terra, todos são parentes.

      Na teoria biológica, afirma que todos os organismos na Terra descendem de um ancestral comum. O início da vida se deu no mar, que após a milhões de anos passaram os animais viver na terra. Segundo a biologia os animais tem as seguintes classes: peixes, anfíbios, répteis, aves e mamíferos. Durante o processo evolutivo, uma classe deu origem a outra até chegar até originar o ser humano.

    Com a publicação anterior A ORIGEM DA TERRA, falamos que a terra foi originada da nebulosa ou da Fumaça do Cachimbo Sagrado. Tudo estar conectado entre o céu, terra e todos os seres da natureza. Quando um indígena conta a história que seu avô é o sol, outros dizem que são os peixes seus ancestrais, confirma essa verdade , agora comprovada pela ciência em suas teorias. O corpo humano tem muitos mistérios a ser descobertos, em nossos genes, DNA, que trazemos como herança dos antepassados,, seja terrestres ou estelares.



    Nhenety Kariri-Xocó



       


A ORIGEM DA TERRA

     

        O conhecimento nativo não estar tão distante dos estudos científicos, nessa postagem gostaria de testar alguma conexão, entre a tradição oral e a ciência. Na teoria do matemático e astrônomo francês Kant-Laplace, publicada em 1796, uma nebulosa nuvem de poeira cósmica e gás, surgiu há 4,5 bilhões de anos. Segundo Laplace, essa “nuvem protoestelar” esfriou e deu origem ao sistema solar, os planetas inclusive a terra. 

       De acordo com a ciência as nebulosas surgiu nas explosões estelares no estágio final de seus ciclo de vida. Na esplosão a matéria da estrela dar origem a nebulosa, assim esse processo acontece em várias parte do universo. No entanto as nebulosas funcionam como uma berçário de estrelas, planetas, luas, ainda acontece atualmente em alguma parte do cosmo. Porque o universo é muito remoto, mas precisa se renovar a cada instante.

      O trabalho magistral de Kaká Wera, em seu livro A  Terra de Mil Povos: história indígena do Brasil contada por um índio, 1998; segundo o autor "Conforme o mito Tupy-Guarani, o Criador, cujo coração é o Sol, o tataravô desse Sol que vemos, soprou seu cachimbo sagrado e da fumaça desse cachimbo se fez a Mãe Terra...". Entretanto a fumaça do cachimbo sagrado, será que seria a nebulosa mencionada pela ciência? Considerando a teoria que dar origem a nebulosa é uma estrela ancestral preexistente que explodiu, assim nasceu nosso sol. Ambas as histórias da nebulosa e da fumaça do cachimbo sagrado, será que há conexão? Bom fica ao critério do leitor em tirar suas próprias conclusões.



Nhenety Kariri-Xocó



BIBLIOGRAFIA: 


JECUPÉ, Kaká Wera. A terra dos mil povos: história indígena do Brasil contada por um índio. São Paulo: Peirópolis, 1998 .


https://www.google.com/amp/s/canaltech.com.br/amp/espaco/o-que-e-a-teoria-da-nebulosa-solar-181927/ > acesso em 17/11/2022.


https://www.cbpf.br/~martin/CAMS/Estrelas/vidaestrelas.html#:~:text=As%20estrelas%20nascem%20nas%20nebulosas,com%20maior%20concentra%C3%A7%C3%A3o%20de%20gases > acesso em 17/11/2022.



quarta-feira, 16 de novembro de 2022

ÍNDIA SE TRANSFORMA EM PLANTA

 

Na tradição oral indígena existe muitas histórias sobre a origem dos alimentos, frutos, milho, guaraná, raízes, animais, flores, que num passado muito remoto eram pessoas que viveram na tribo. Entre tantas histórias de transformações de índios e índias em plantas, vou mencionar duas mais conhecidas são sobre a mandioca e a flor da Vitória-Régia. Em todas essas histórias tem o mesmo sentido de nomear plantas ainda desconhecidas nessas culturas anteriormente por esses povos. 

       Não gostaria de repetir a mesma histórias na íntegra, mas apenas dizer algum significado ou até mesmo tentar fazer isso. A história de Maní a índiazinha de pele clara, era diferente na tribo, por sua cor da pele, que morrera na aldeia. 

      A menina Mani fora enterrada na oca, como de costume. A planta desconhecida nasceu tempo depois na cova de Mani ou proximidade, o vegetal por ter as características de cor da menina recebeu o seu nome. Mani era a menina e oca a casa onde fora enterrada. Assim ficou o nome da planta manioca ou mandioca. 

     Seguindo a mesma linha da publicação VIROU ESTRELA OU CONSTELAÇÃO ( as estrelas são mais antigas do que o ser humano) aqui  afirmo também que as plantas são mais antigas do que as pessoas. A mandioca já existia a milhares de anos antes. Ela não originou após a morte de Maní. Mas a tribo onde a índiazinha nasceu, ainda não conhecia tal planta, esse processo de domesticação levou bastante tempo, até a denominação do nome de Mani para mandioca, porque a cultura já havia aprovada sua importância para todo o povo nativo. Nesse caso a menina transformou na planta por personificação ou reconhecimento cultural.



Nhenety Kariri-Xocó




COMO ATLAS SUSTENTA OS CÉUS

 

     Na mitologia grega houve a guerra dos titãs contra o Deus do Olimpo, para tomar o poder supremo, mas a vitória foi de Zeus, governando todo o universo. Como castigo Atlas uns dos titãs rebelados foi punido para carregar os céus sobre os ombros. Como um ser que vive na terra pode sustentar os céus tão imenso com bilhões de astros, estrelas, galáxias na vastidão do universo? Sabemos pela ciência que o cosmos tem bilhões de anos-luz de diâmetro. Como Atlas sustenta os céus nos ombros?

       Para compreender a história de Atlas seria necessário levar para o lado simbólico, uma representação de como estivesse sustentando, o teto do mundo, a abóbora celeste. Imagine você levantar as duas mãos para cima de sua cabeça e ficar nessa posição, mesmo sem segurar nada durante muito tempo, claro que você se cansaria. Olhando uma pessoa com as mãos para o alto , visto de baixo para cima, nossa visão de que estar olhando seria como a pessoa tocasse os céus com as mãos, assim com uma foto numa câmera. Realmente a pessoa com as mãos para o alto sem segurar nada , após algum tempo os braços começa a pesar, nesse caso a pessoa estar como sustentando os céus sobre os ombros. Nessa representação qualquer um de nós podemos sustentar os céus de forma simbólica. 

       Seguindo essa realidade, vamos supor que houve um reinado de Zeus no Olimpo e de fato isso aconteceu de ponto de vista terrestre, na Grécia. Pode ser por sua desobediência, Atlas ficou nessa posição de mãos para o alto, acho um castigo muito duro, alguém suportar tamanho peso, mesmo sem ter os céus sobre os ombro, porque mesmo assim seria uma força titânica para suportar para sempre. Os gregos foram os mestres da arte da representação, artisticamente na dramaturgia pessoas são deuses, heróis, cria mundos. Contar histórias é uma arte, onde podemos ser tudo que quiser.

     Dessa forma foi como Atlas sustentou os céus sobre os ombros, como pena de ter se rebelado contra Zeus o Deus do Olimpo. Essa é uma interpretação que faço, mas pode ter também outros significados e representações, porque a cultura muda, nunca é definitiva, o conhecimento pode ser atualizado todos os dias.



Nhenety Kariri-Xocó



VIROU ESTRELA OU CONSTELAÇÃO

  

Na mitologia em todo o mundo aparece muitas histórias da criação do mundo, o início da humanidade. A tradição oral contada de geração em geração, aparece histórias de pessoas se transformando em estrelas, constelações, essa linha é chamada de criacionismo, como o mundo foi criado. No evolucionismo a ciência afirma que o universo foi evoluindo através dos tempos , há cerca de 13 bilhões de anos. 

          Então como uma pessoa se transforma em estrela ou constelação, considerando que os humanos tem apenas entre 2,5 a 7 milhões de anos na sua evolução. Outra coisa tanto no criacionismo ou evolucionismo a humanidade foi criada depois dos astros do céu. A mitologia é uma linguagem simbólica que representa uma visão de mundo de povos muito antigos, pré-históricos , que devemos considerar , assim como a versão da ciência também merece nossa atenção.

       Portanto considero ambas as versões, acredito que as estrelas sempre estiveram lá no céu antes da humanidade. Numa visão de mundo dos povos nativos realmente pessoas , plantas, animais e objetos se transformam em estrelas, constelações. Acredito que o céu nos tempos míticos estava ainda sendo delimitado pelas culturas. Quando morria uma pessoa nativa muito importante para o povo , o pajé, xamã, sacerdote ou até mesmo um ancião procurava no céu estrela, astro ou constelação que ainda não tinha nome e aí homenageava aquela pessoa importante dando um nome a estrela ou constelação, que nas histórias da tradição oral chamamos foi transformação, as vezes mencionadas como personificação.

       As constelações formam figuras no céu com uma infinidades de possibilidades de denominações, ao longo dos milênios os povos nativos foram dando nomes homenageando seus heróis, vilões culturais, como uma referência a ser seguida pelas novas gerações. Concluindo as pessoas  foram transformadas em forma de nomeações culturais, homenageadas , passando a constituí o panteão celeste. 

       A exemplo nos tempos contemporâneos acontece muito isso, os cientistas importantes são homenageados pelos seus feitos recebendo nomes de plantas, animais, de astros , nomes de leis da física, matemáticas, na biologia. O cientista não criou a nova espécie, ou a lei da gravidade, ele apenas descobriu que existe esses seres e fenômenos na natureza.


Nhenety Kariri-Xocó