O Nome do caranguejo na língua Katuandí foi decidido como "aquele que anda para os lados":
Wé = andar (variante Natú de bá)
Pássí = braço, lado
-ma = para
Wé-pássí-ma = caranguejo
Autor da matéria: Suã Ari Llusan
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O Nome do caranguejo na língua Katuandí foi decidido como "aquele que anda para os lados":
Wé = andar (variante Natú de bá)
Pássí = braço, lado
-ma = para
Wé-pássí-ma = caranguejo
Autor da matéria: Suã Ari Llusan
A palavra capivara foi traduzida com inspiração em seu nome Tupi para o Katuandí, que é 'comedora de capim', portanto temos:
tuáki = capim (tuá 'planta, folha' + ki 'pequeno')
dó = comer
tuáki-dó = capivara
Autor da matéria: Suã Ari Llusan
Junto com Nhenety, desenvolvemos a palavra que definirá no Katuandí o conceito de reunião de anciões, isto é, a reunião tribal, a reunião da nação:
zá-pá ou zá-pássì = 'botar-lado'
zápá-natú = 'juntar-ancião' = 'reunião tribal'
Zápánatú
Autor da matéria: Suã Ari Llusan
Atuá wàdó mà Bià Yàr Tákraé-pá, Hó-pá, Abí-pá-braè / Plantas nativas da América do Sul, Centro e Norte
1) CHUCHU ( Sechium edule ) / KRÚNHÀBÒ IRÓTÍSSÒ TÍ-PÁ (abóbora nabla)
Origem é atribuída à América Central, ramifica cerca de 6,0 metros, peso 450 gramas e o fruto diâmetro 20 cm.
/ 'Apárà Bià Yàr Hó-pá 'abázì mà, dè 6 (bánàtúsúmé/nàt-sú) dú' pré, 450 (nàt nàtpó krá sòk) dià mádì, tábraè tíngà túrússòdú' 20 (sò sòk) nàtpó'dú' (nd).
Obs.: Nabla se refere ao formado de um triângulo com sua ponta virada para baixo, irótíssò tí-pá significa 'três (lados) para baixo (lit.: na direção da terra)', cf.: https://pt.wikipedia.org/wiki/Nabla#:~:text=O%20símbolo%20nabla%20—%20também%20chamado,operação%2C%20usava%20esse%20triângulo%20invertido.
2 ) - ABOBRINHA ( Cucurbita pepo ) / KÚNHÀBÒ KÍNÀDIÀ (abóbora pequena)
Nativa da América do Sul, diâmetro 25 cm, com o peso ideal de 300 gramas , seu tamanho as ramagens de 5 metros. / wàdó mà Bià Yàr Tákraé, túrússòdú' 25 (sò sòk krá) nd, kú-tábrè mádì hài-dé 300 (ró nátpó) dià, abré pó' fá 5 (krásìá) dú'.
3) - FEIJÃO-COMUM ( phaseolus vulgaris ) / MÀ TÁ-BÀ-DÈ (feijão normal)
Originário das Américas Central e do Sul, a planta tem altura de 40 cm , diâmetro no caule de 2,5 cm. / Wàdó mà Bià Yàr Hó Tákraé-pá-braè, 'atuá pré 40 (nàt sòk) nd, túrússòdú' fá pó' 2,5 (sò bà krá) nd.
4) PIMENTÃO ( Capsicum annum ) / DZÁ' DÙ (arder inchar)
Nativas do México, América Central e do norte da América do Sul, altura de 75 cm e o fruto 14 cm d, peso 220 gramas. / Wàdó mà Mèshìkó-bà, Bià Yàr Hó kú'abì Bià Yàr Tákraé-braè, 'ábré 75 (kó sòk krá) nd, tíngà 14 (sòk nàt) nd, mádì 220 (sò nàtpó sò sòk) dià.
5) PIMENTA DEDO-DE-MOÇA ( Capsicum baccatum ) / DZÁT DAÉ KRÁDÁZÍ (arder jovem dedo)
originária do Peru, com a altura de 90 cm, fruto 10 cm o comprimento. / wàdó mà Pírù-bà, pré 90 nd, tíngà 10 nd pré.
6) PIMENTA-MALAGUETA ( Capsicum frutescens ) / TÍNGÀ DZÁT ZÁWÉ (fruta arder boca)
nativo de regiões tropicais da América, altura da planta 1,20 metro, fruto 35 mm de comprimento. / wàdó mà dsí pó' bè kánàm Bià Yàr, 'ábré átuá 1,20 dú', ngà 35 kídú' (kd).
7 ) - BATATA-INGLESA ou BATATINHA ( Solanum tuberosum ) / ÌNGLÁ TÍNGÀÙRÚ TÍ (inglês fruta inchar terra)
Origem no Cordilheira dos Andes, atinge 100 cm de altura e com um diâmetro de 3 cm. / Wàdó mà dzó' dà Àndí, 100 nd, kú-tábraè túrússòdú' 3 nd.
8 ) - BATATA-DOCE ( Ipomoea batatas ) / TÍNGÀÙRÚ TÍ KÁM (fruta inchar terra doce)
Originária da Cordilheira dos Andes, com rama com 6,0 metros de comprimento e sua altura de 30 cm. / Wàdó mà dzó' dà Àndí, kú-tábraè pó' fá 6,0 (nàt-sú) dú', kú-tábraè 'ábré 30 (ró sòk) nd.
9 ) - ABÓBORA-PAULISTA ( Cucúrbita moschata paulista ) / KRÚNHÀBÒ TÀMÚI (abóbora tamoia)
Nativa da América do Sul, cresce 20 metros em suas ramas, com o fruto pesando 15 Kg. / Wàdó mà Bià Yàr Tákraé-pá, 20 (sò sòk) dú' pó' fá-bà kómà bèi, kú-tábraè tíngà 15 (sòk krá) 'ámá (ám).
10 ) - MACAXEIRA ( Manihot esculenta Crantz ) / GRÍGÒ, GÙRÍGÒ, GÙRÍ, GRÒGÓ, GÙRÓ, GÙLÍ, GÒ, GÙ, RÍ, LÍ
Originária do Brasil, podendo ter 3 metros de altura, diâmetro de ,10 cm no solo. / Wàdó mà Súbrà-bì, 3 (irótíssò) dú' 'ábré krám, túrússòdú' 10 (sók) kd 'ádsíhì-bà.
Autor da matéria: Suã Ari Llusan
A palavra estrela parecer ter uma etimologia simples, devo dizer que, antes de ver essa etimologia, eu pensava que esta palavra fosse uma retenção do Proto-Macro-Jê *rôj 'astro', o que é bem convincente levando em consideração as mudanças sonoras comum do Katuandí, mas não explicaria a sílaba i- na frente, normalmente astros não são conceitos que nós humanos consideramos inalienáveis, isto é, não são coisas com possessão obrigatória, ninguém diz normalmente iñ-rôj 'minha estrela' ou i-rôj 'estrela dele/dela', então pensei logo que esta etimologia não batia.
Com a relação estabelecida, fui direto para o vocabulário Xerente e encontrei o seguinte:
roko, rok, rko 'acender'
A palavra varia em sua estrutura, mas é a mesma base *roko que é usada para formar esse verbo, não só ele bate semanticamente com estrela, já que estrelas 'acendem' no céu à noite, além de explicar o i- inicial, sendo um verbo conjugado na terceira pessoa: i-ro e in-ko 'ele/ela acende' ou 'acendedora'. A base roko nos indica que as duas sílabas são separáveis como verbos independentes, portanto é possível a partir disso resgastar os verbos ró 'acender' e kó 'acender'
Autor da matéria: Suã Ari Llusan
1 = típià < 'cabeça'
2 = túrússò < 'olhos'
3 = irótíssò < 'Órion'
4 = bánàtú < 'nossos avós'
5 = krásìá < 'mão'
6 = bánàtúsúmé < 'nossos avós e pais'
7 = inkómà < 'Plêiades'
8 = súkrádà/súkrát < 'bisavô'
9 = sádià < 'gestação'
10 = sòkrá < 'duas mãos'
20 = bàmé < 'com os pés' ou sò sòkrá '2x10
100 = nàtpó' < '4 gerações'
1000 = sòkrápó' < '10x100'
10000 = pó'nàpó' < 'cem se multiplica cem vezes'
100000 = nátpó kó < 'cem grande'
1000000 = sòkzòkpó < '1000x1000'
1000000000 = sòkpódè < '1000000x1000000'
Autor da matéria: Suã Ari Llusan
No século 19, um pesquisador chamado Carl Friedrich Philipp von Martius viajou pelo Brasil coletando informações etnológicas dos povos de nossa terra, três foram os povos cujos os vocábulos foram anotados e comparados e que vamos discutir nesta publicação: Xavante, Xerente e Xakriabá.
Essas três línguas formam parte de um grupo de línguas próximas classificadas como Jês Centrais devido à sua posição geográfia bem no centro do país, esse vocabulários são importantes, pois não só eles, como também o de várias outras nações e subdivisões destas tiveram seus léxicos descritos em quantidades variadas neste documento, o nome do documento em questão é "Beiträge zur Ethnographie und Sprachenkunde Amerikas zumal Brasiliens. I. Zur Ethnographie. II. Glossaria linguarum Brasiliensium", podendo ser encontrado no site Etnolinguística, deixarei o link no final da publicação.
O importante para esta publicação é somente uma coisa que notei ao rechecar este documento em busca de palavras cognatas ao Katuandí, notei que uma das palavras que venho usado para associar o Katuandí ao Jê do Cerrado, que é a palavra para 'mulher' pikuá *SOMENTE* surge no ramo central, nenhuma outra língua herdou uma palavra semelhante a essa dentro do grupo Cerrado ou fora dele:
Katuandí: pikuá (Xokó)
Xavante Antigo: picon (atualmente pi'õ)
Xerente Antigo: picon
Xakriabá Antigo: picon
Novamente argumento aqui a proximidade lexical deste grupo e agora afirmo que o Katuandí é um membro do ramo Central que migrou (possivelmente de Goiás ou de Tocantins) para o Nordeste, ainda havendo a possibilidade de ter sido uma migração conjunta com o povo Kariri. A divergência na pronúncia talvez demonstre sua distância do epicentro desta cultura, tornando o Katuandí em um membro com características únicas dentro da família, ainda é possível notar algumas outras semelhanças:
SOL
Katuandí: krà-shùtó (Xokó), kra-shulo (Natú), krá-ssútó (Wakonã)
Xavante Antigo: sidacro, stukro
Xerente Antigo: beudeu
Xakriabá Antigo: estagro, stacró
sida/stu/esta/sta cognato de shuto ?
LUA
Katuandí: kri-ũavi (Xokó), kra-wáve (Natú), krá-bàbì (Wakonã) < (ũa/wá/bà = lua)
Xavante Antigo: ouá, hevá
Xerente Antigo: oua
Xakriabá Antigo: oà, ua
MÃO
Katuandí: krasia (Xokó)
Xavante Antigo: dai-iperai
Xerente Antigo: danicra
Xakriabá Antigo: daschipigrá, dajipcra
cra do Xerente e grá/cra do Xakriabá cognatos do kra de kra-si-a
CHUVA
Katuandí: tá (Xokó)
Xavante Antigo: tá
Xerente Antigo: tan
Xakriabá Antigo: ?
Akroá: thaite
ÁGUA
Katuandí: ká (Xokó)
Xavante Antigo: keu
Xerente Antigo: cou
Xakriabá Antigo: kú, ku, kü
TABACO
Katuandí: bari (Natú)
Xerente: warĩ
Akroá: uari
MANDIOCA
Katuandí: grygo (Xokó), grogó (Natú), guli-jó 'bebida de mandioca' (Wakonã)
Xavante: 'upa
Xerente: kupa
Akroá: cuipá
Proto-Jê Central: *ku-pa
gry/gro = gVry/gVro (gory/goro ~ gury/goro)
Katuandí go/gu cognato do Proto-Jê Central *ku
TERRA
Katuandí: adsihi (Xokó), atissêrê (Natú)
Xavante: ti'a
Xerente: tka
Xakriabá: tika
hi do Xokó = hi 'colocar, pôr' do Xerente
sêrê do Natú = sẽrẽ 'colocar dentro, sepultar' do Xerente
Link da publicação de Martius: http://www.etnolinguistica.org/biblio:martius-1867-beitrage
Autor da matéria: Suã Ari Llusan
No dia do nascimento de Ramá, Turumarã ouviu o proclamar da floresta, nos ventos que sopravam na aldeia principal, tudo floresceu como se fosse primavera, nenhuma nuvem obscureceu a luz de Krassutô o Sol, eram indicadores de que seu nascimento traria bonança. Turumarã foi para a oca dos caciques Ticunê e Piúna para trazer as boas notícias que a natureza provia, disse então: "uma semente foi plantada no mudno, ela cresce e cresce no solo fecundo, o fogo do sol e a água do rio que nos cerca são seu alento, para que um dia grão de nossas almas seja sustento", Turumarã olha para o bebê e complementa: "do seu primeiro passo ao último, o renovar que esta criança trará será legítimo", o pai Ticunê celebrou e foi cantar o quiracá (lit.: canto verde), a mãe foi fazer outros preparativos.
Piúna nunca contou a ninguém sobre aquele dia, mantendo sempre este segredo e pedindo para que Turumarã nunca contasse para ninguém, na noite de uma lua crescente, Piúna cortou seu cabelo em um estilo tradicional do povo Pranhú, pediu por último para que o mensô pintasse três símbolos que ela desenhou com um graveto na terra, eram representações do desejo e da abnegação nas laterais e no centro de sua testa, a harmonia.
Ramá cresceu brincando como toda criança, aos 2 anos no entanto demonstrou uma capacidade absurda de aprendizado, sendo já naquela idade de manter uma conversa com adultos sem muitos problemas, mas logo aos 3 anos de idade demonstrou falta de interesse nos brinquedos e brincadeiras, a cada dia mais se isolando de seus companheiros, seus pais perceberam essa atitude e logo questionaram: "filho, o que te causa tanta hesitação em brincar ?", Ramá respondeu "de que valor há tudo que logo não será ?", Ticunê não conseguia de forma alguma fechar sua boca, pois acabara de ouvir um infante de 3 anos dizer palavras tão complexas, mas tão tristes, já Piúna já tinha uma resposta para essa indagação: "O que Sonsé nos proveu foi a graça do mundano, efêmera, mas bela, é da imperfeição desta pedra que se constrói um muro resistente", Ramá olha para sua mãe, Essaeté olha para seu filho e continua "o Desejo do Objetivo é a percepção de uma única trilha prédestinada para a humanidade, isso é uma ilusão, a trilha que percorremos se constrói quando tudo ao redor compartilha um pouco de si para contribuir na formação de quem somos e do que faremos, por isso o humano não possui uma única trilha, cada um cresce com sua própria trilha traçadas por eles e pela Harmonia Total, e para ser ter harmonia precisa de... ?", "querida, você tem certeza de que ele vai entender tudo isso ?" diz Ticunê, cujo Piúna apenas responde com um sorriso largo, olhando de volta para Ramá, vê que ele está pensativo, o infante apenas falou "Apreciação..." e saiu com o rosto de quem descobriu algo muito importante.
Nas semanas seguintes, o casal líder de Pranhuretã notou que seu filho estava mais alegre que nunca, aproveitando cada momento e fazendo novas amizades a toda oportunidade que encontrava, eles apreciavam da porta de sua oca, Piúna segurava sua barriga, outra semente foi plantada no solo fecundo deste mundo.
Autor da matéria: Suã Ari Llusan
Letra 'H'
Há muito tempo (antes-verdadeiro) = bá-dê, bá-pô
Há pouco tempo (agora pequeno) = tá-má diá
Hábil (poder-oso) = kran-nê
Habitante (viver, estar) = -sá (ex.: têrá-ssá 'cearense' de Têrá 'Ceará')
Hábito, costume (tempo todo e empréstimos Kariri) = súk lô, símu, shímu, zímu, jímu, sím, shím, zím, jím, wanhô
Haver = usa-se série dativa, ex.: i-má gám 'para mim, casa' = 'eu tenho casa'
Necessitar (bom agora) = háê tá-má
Hoje, agora, presente (este-DAT) = tá-má
Hoje (antes pouco) = bá diá
Homem (humano em geral) = mám
Homem (masculino, macho) = man-hú, man-húk, hú, húk
Honra (grande-NF) = mák
Hora (tempo ou NMLZ-tempo) = súk, shúk, zúk, júk, assúk, ashúk, azúk, ajúk
Horta (NMLZ-plantar) = akré, agré
Autor da matéria: Suã Ari Llusan
Norte = abí-pá < 'subida-DIR' = abí-pá
Nordeste = abí-pára-pá 'subida-mar-DIR', abipára-pá
Leste = jubôk-pá 'direita-DIR' ou pára-pá 'mar-DIR' = jubôk-pá, pára-pá
Sudeste = takré-pára-pá 'cair-mar-DIR' = takrépara-pá
Sul = takré-pá 'descer-DIR' = takré-pá
Sudoeste = takré-ké-pá 'descer-esquerda-DIR' trakéké-pá
Oeste = ké-pá 'esquerda-DIR' = ké-pá
Noroeste = abí-ké-pá 'subida-esquerda-DIR' = abiké-pá
Obs.: Katuá Apá não se traduz diretamente para Rosa dos Ventos e sim como "Flor das Direções"
Autor da matéria: Suã Ari Llusan
A publicação anterior nos trás para esta, com a estrutura da palavra dêrráivêpá analisada, podemos usá-la como base para criar mais frases introdutórias, aqui estão as sugestões:
Bom dia = dê hái vê-pá lit.: "vá bem neste dia"
Boa tarde = dê hái pára-pá lit.: "vá bem nesta tarde"
Boa noite = dê hái krám-pá lit.: "vá bem nesta noite"
Autor da matéria: Suã Ari Llusan
Enquanto seu uso atual foi assinalado para a função de marcar perguntas ao lado do sufixo interrogativo 1 -gá/-ká e marcar formalidade nos substantivos e verbos, o sufixo -pá surge somente uma vez dentro dos vocabulários Katuandí, que dentro da língua Wakonã, na palavra:
dêrráívê-pá (anotada por Cícero Cavalcante)
A palavra foi separada através de análises da seguinte forma:
dêhái vê-pá ~ dê hái vê-pá
Os dois significados dados são "como vai" e "bom dia", de acordo com Cavalcante, isso facilita no deciframento de seu significado original, um dos significados do sufixo -pá é sua marcação dativa/direcional, isto é ele significa "para, a, na direção de", dentro da linguística estudamos esses sufixos que marcam casos, dativos e direcionais são bem próximos um do outro já que direcionam um objeto a outro, mas eles também são próximos de outra categoria, o locativo, que como o nome implica, é do local, portanto o nosso "em, no, na", assim afirmo que o significado original de dêrráivêpá era:
dê hái vê-pá "vá/vai bem neste dia", que quando se usa a entoação de pergunta vira dê hái vê-pá ? "vai bem neste dia ?", ou seja "como vai ?"
Argumento que a sílaba dê seja descendente do Proto-Cerrado *tẽ 'ir SG.', o vozeamento de t > d pode ser visto similarmente na palavra dô 'teto, aldeia' de simidô 'aldeia, cidade, Porto Real do Colégio' que vem de um antigo *tˀəp 'teto' (discutido em uma publicação anterior)
vê 'dia (?)' indicaria que existe uma distinção lexical entre 'dia' e 'sol', semelhante ao Tupi ar-a 'dia' vs gûarassy 'sol', talvez essa palavra seja cognata da palavra *weju 'sol' do Proto-Caribe, mas não posso afirmar com toda certeza essa teoria, apenas posso confirmar que sua posição na frase indica que seu significado tenha relação ao tempo do 'dia'.
Autor da matéria: Suã Ari Llusan
Letra 'G'
Gadelhas (cabelo-macaúba) = jiruá
Galinha = dsáki'
Gancho (espinho-braço) = nhípa
Garganta = hô
Garganta, osso da (osso-garganta) = síhô
Garfo (três-dente) = assássô
Gastar (CAUS pequena) = pê diá
Gato (onça amigo) = ló shí
Gemer (gritar dor) = ká há pú
Genipapo = kassatínga
Genro (filho lateral) = krá pám
Gente (povo, nação) = jê, jí, jêm, jím
Girau (hoje escrito jirau, queimar lugar) = dsê bá
Gordo (gordura-cheio) = kámó
Gordura = ká
Gostoso = dú
Grato (pensar grande, grande consideração) = dsê kó
Graça, de (gratuíto, preço não) = kiá tók
Grande = akóma, akó, má, kóma
Grosso = tú
Grupo (agrupado) = yók, dzók, yóm, dzóm
Guarda (pessoa-ir) = mánkra
Coisa guardada (coisa guardada) = sí sôk
Guardar (proteger, defender, olho-firme ou carne-firme) = sôdi, nhándi
Guerra = máhôk
Guerrear = máhôk
Guindar (erguer, CAUS estar de pé) = pê sá
Guirajaó (ave jaó) = budúdu
Autor da matéria: Suã Ari Llusan
As introduções básicas do Katuandí, isto é, "oi" e "tchau" são as seguintes:
Môm-pá "oi, olá"
Etim.: derivado do verbo môm "ir" junto com o segundo sufixo de perguntas e também sufixo de educação -pá, similar ao português "como vai ?"
Sêm-pá "tchau"
Etim.: Segue a mesma lógica que o primeiro, vem da raíz sêm, do verbo composto sêm pá "sair, abandonar", sêm é empréstimo do Tupi Antigo sem-a "sair", portanto algo semelhante a "estou de saída"
Autor da matéria: Suã Ari Llusan
Katuandí
Parakrám prê tibudsá prá, ku-té abá-má sô, gandilhá mansô-bá kussô, mansô pajêm bê: "sayá akóma-dê hahá, kuté dzá imá nhê-dsêkô amá sutô mônpá", Parakrám arimbê: "imá pra-dsêkô shê, súk assú pá, ité dsê kumá atuá-lhá pê, dsê tabré hahá-dsêkô dihôk kô", mansô Turumarám mômbrá "ká dzá assá sutô jikô, sayá prê hahá pajêm tók, ajabá-má tá môndzó tá gám sôlissê", Parakrám prê kujubô krá-bá-gá ku-nhô ha pú sô, prê tassú krôdí pajê ikrá krém há sô, lô piê kuá krassutipiá kumá, Pranhú-má prê suté, katô, katôdó pidí. Sutôrêk-dê-bá, Turumarám dzá sô pê passô badzó Sôhaê-má túdú.
Súk nhê Parakrám dzá bôê, mankrôdí kutabré Paramá hôhôk sôm-bá, kutá prê simidô arêk Akranám-má pá-bám, jêtipiá dzá prêssúk ku-nhô pêhái kôdá arêtók dí. Arêk sutô-bá, môn-haê Hêibá-dzêkô, mám man-hôk Paramá prê Opára-lhê bayó-bá balhê, prê tabré pragám pêjárê, nôbrá jênhô prê kimbá krám-bá bóndó, mankrôdí jôrôfô-bré prê diê pá, nôbrá prê pragám dê pahôk-dsê-prá manrê-bí nhandí pê jirê.
Arêk adassú prê môm, Dzakupêm sêókó-bré dzá krín jadsihí nhandí, tá sunhô-bá Dôkrá-bá (simidô tipiá Pranhú), Parakrám prê hahá, ahabú jubrô pá dzá bê, nôbrá môm ja-bám pudsá, pajêm kinadiá kumá pê krám, sabuê tú pê dsá-bám, lô dzéhá súk mutú dzá kápôêr krám kaká-bán tú, grandilhá mansô prê iró-bá kaká, kapôêr prêbá pragám dê-dê dzá sôk, tá sú-bá, turussôhák Haksô tuá-bí pê tubê.
Súk pajê-bá, Parakrám dzá Bimenússi-má (menússi abi-pá) diabák kiná kuá assá missékrám-bré, kutá Pranhú-nám krám diáê má, lô bák dzá pê atsá, dzá tabré atsá-bá ká diám pê bári-má menúsi há-bré mêkrá, kutabré dzé têtipiají, tá dzá kradzé missé bimenússi-má pré, prêssúk dzé têsá pê há missé-bám.
Súk arêk-bá, Parakrám dzá piê dôbê dsê Ayatuá-má (Kaá Sy) pê sô kó, tá-má dzá pê-bám, rêjê Sôháê-té, akóma-dê kí sahá shí Aragôyá-bi-pá pê jík, tá dôbê-té prê tá súk-bá môm Ayatuá jím Pranhú-má dê-pô-dê sô.
Súk assá-bá, Parakrám dzá pêabú Turumarám há sukdiá, dzá súk piê pê, prê ata-bá Marassê-má pê pê, prê kidiá súk sansé krananám Opará-dê-lhê krám, marassê prê ká, prê tabré piê piêm kadá pragám-dê-tók-má hôk, misséajê jím Aragôyá Tantammam-yó prê tará-bá, tá dzá kadá ku-nhô tipiá-bá katuassúk há. ôrôfô Pranhú-té ôrôfô Aragôyá-má há sô sukrá pá tók, ata-bá, tá prê suk-bá diê-pô pê há.
Lô prê simidô gandilhá-má-bré gám môm, nôbrá Tikunê mankrôdí-bré prê gám mansô-má Parakrám-té bayó, tá kutabré Turumarã bêlêdsê-bám, dzá lô pák-té há môprinkrá, Tikunê dzá kupá bayó, dzá tabré pahá, suknôdá-bá dzá há môprinkrá, ku-té Tikunê tabré há pahá. Mám sutô prê rê, súk amikrê kó prê assaháê diê-pô jím Opará-má tí hái, súk-bá prê shênshên adiê-pô-bá bêlêdsê, nám-bá jú-má súk amikrê kó, Dzakupêm dzá akô diê mahôk shí-pá nissé kô, dzá tabré diê-pô-té dsêm bêlê hái. Tikunê dzá jú assahaê-prê passabá pê há, tá súk-bá, ijí Sôháê-bré prê bahaê, aká sahaê lô simidô dá mará, lô prê tuitú-bá krám rê.
Súk bayóm rê, bá súk shí dzá dsôm abá súk katuá-má kô, súk amissé Tikunê prê bôê, Parakrám-bré, arêk prê Pranhú jadsí missé, piê dí-bré, nô hák-bré, súk katuá abá súk sutô-má kô, tá-bá piêm ókó jarêk katô, ku-má ahá akóma, atá-té Hamá ku-má pê jê.
Português
Piúna acorda confusa, olha para os lado e vê que está na casa do pajé, o mensô apenas diz: "sua mãe ficou extremamente preocupada, ela me visitou todos os dias em busca de notícias", Piúna responde: "estou alegre de estar viva, assim que a oportunidade surgir, farei chá de capim-santo para ela e pedirei perdão pela preocupação", o mensô Turumarã continua: "você dormiu por três dias, sua mãe não foi a única preocupada, veja ao seu lado que muitos vieram para esta casa", Piúna olha para seu lado direito onde está a ferida e percebe 7 lanças e um machado cerimoniais, cada um com penas de galo-da-serra, que simbolizavam entre os Pranhús a aurora, o nascer e o renascer, naquela mesma tarde, Turumarã praticou os sôpê (atos de cura) para o recuperar rápido de Essaeté.
Quando a notícia chegou de que Piúna, os lanceiros estavam em conflito direto com os Paraguaçus, que estavam atacando duas aldeias pertencentes aos Putundás, o príncipe prometeu não perder até que pudesse retribuir sua salvadora. Em dois dias, graças ao estrategista Hêibá, alguns guerreiros Paraguaçus foram forçados a cruzar o rio Opára às pressas e abandonar seus acampamentos, outros no entanto se esconderam na mata densa, os lanceiros e seus ôrôfôs pararam as buscas, mas mantiveram acampamentos próximos com o propósito de defender de futuros ataques daqueles que restaram.
Duas semanas se passaram, Dzacupêm e seus filhos ferozmente protegem suas terras, enquanto isso em Dôcrá (a aldeia principal dos Pranhús), Piúna estava ansiosa, a ferida de seu braço direito já havia cicatrizado, mas o movimento dele ainda está ruim, podendo forçá-lo apenas um pouco, tornando difícil usar seu arco, todo seu medo sumiu quando sua barriga começou a brilhar com uma luz forte, a cabana do pajé brilhava como uma estrela, luz esta vista desde os acampamentos mais próximos, naquele momento, a sabedoria de Raquiçô lhe fez agir por instinto.
Na primeira hora, Piúna lançou para o Bimanucí (vento norte) uma mistura de endro com três penas de micécrã (literalmente chefe da noite, no português é a ave que se chama choca-lisa) que representa entre os Pranhús a noite profunda, queimou todos os conteúdos e jogou aos poucos água nas chamas para que fumaça se formasse e fosse levada pelo vento, com um fio de seu cabelo, amarrou este ao pulso do senhor do vento norte, domando-o até o fio romper-se.
Na segunda hora, Piúna revelou um segredo do futuro que interessou Aiatuá (mãe das folhas), fazendo com que esta, por vontade de Essaeté, derrubasse as maiores árvores logo acima das armadilhas dos aliados dos Aragôiá, foi por este segredo que a partir daí, Aiatuá observou a nação Pranhú ainda mais de perto.
Na terceira hora, Piúna pegou emprestado o xixiá (maracá) de Turumarã, ela o moveu uma vez, assim então fez Tupã trabalhar, em pouco tempo os céus em todas as redondezas do rio Opará escureceram, trovões soavam e único raio atingiu uma cabana ao longe, nela estava o cacique do povo Aragôiá, Tãtãmãió, este recebeu o raio na sua cabeça de imediato. Não demorou muito para os soldados Pranhú notarem o recuo dos ôrôfôs Aragôiá e seus aliados, assim, estes declararam vitória naquele momento.
Todos retornaram para suas aldeias e casas, Ticunê e os lanceiros no entanto correram para oca do pajé em busca de Piúna, esta estava conversando com Turumarã e foi surpreendida ao ver todos presentes, Ticunê correu e a abraçou, novamente pega de surpresa, ela abraça-o de volta. Alguns dias se passaram, um banquete foi organizado para celebrar a vitória das nações do Opará, nesta ocasião estes conversaram alegremente sobre suas conquistas, na metade pro final do banquete, Dzacupêm se encarregou de distribuir os espólios para os aliados e gratificá-los verbalmente por suas vitórias. Ticunê esperou até o final da festa para anunciar, que naquele dia, ele e Essaeté se casariam, gritos de júbilo ressoaram por toda a aldeia, todos viraram a noite em celebração.
O tempo passou depressa, naturalmente como o inverno dá lugar à primavera, o tempo de reinar de Ticunê havia chegado, e junto a Piúna, ambos reinaram Pranhuretã, um com firmeza e a outra com sabedoria, a primavera dá lugar ao verão, assim nasceu o primeiro filho do casal, ele tinha orelhas grandes, portanto o casal nomeou-o de Ramá (literalmente ouvir grande).
Autor da matéria: Suã Ari Llusan
Letra 'F'
Faca = krá, ikrá
Falar = bêlêdsê, bê, lê, dsê
Fanhoso (nariz-cheio) = nhêdí
Farinha de milho (milho-pó) = madô
Fartar-se (CAUS cheio) = pê dí
Farto (cheio) = dí
Fazenda (bens) = háê
Fazer = pê
Fedor (cheirar-ruim) = badzá
Feijão = má
Fel (azedo-amarelo) = tapá
Fêmea, feminino = pikuám, pikuán
Ferro (pedra-noite) = kradiá
Ferrugento = nambêkrám
Ficar (estar-parar) = sapá
Fígado (fígado-carne) = hanhám
Filho(a) (POSS.INAL.-filho) = têkó
Fino (seco) = krá
Fio = dzé
Fita (fio-decorar) = dzédakrô
Flecha = buê, báka
Flor = katuá
Fogaça (tipo de pão italiano, palavra geral para pão, fogo-ADJVZ ou fogo-PRTCP) = sám, sák, sansák
Fogagem (quentura por conta de emoções fortes, cabeça-fogo) = tissá
Fogo = sá, assá, sakissá, shá, tsá, ashá, atsá, shakishá, tsakitsá
Fogo, instrumento de tirar (extintor, parar fogo) = pá sá
Foice (faca-torto) = kratú
Folgar (casa deitar) = gám ají
Folha (folha-folha) = arám, sô, aransô
Fonte (origem, primeiro-andar) = piêmbá
Forno (CAUS fogo) = pê sá
Frequente (muito) = yó, dzó
Frio (frio-chuva-chuva) = shí, shimanú
Fruta = tínga
Fumegar = puê, puá
Fumo = bádzé, bári
Furtar (mal-ADJVZ pegar) = púm há
Fuso (agulha roupa) = pôê dzé
Autor da matéria: Suã Ari Llusan
Letra 'E'
E, também (conjunção, como em 'eu e você', forma sufixada) = -bré
E, também (forma independente, DEM-também) = tabré
Eia (vamos lá!, empréstimo do Kipeá) = diá-diá
Eis (olhar) = sô
Eis aqui = tabassô
Ele, ela, eles, elas (forma prefixada, agentiva) = i-, j-, in-, im-
Ele, ela, eles, elas (forma independente, agentiva, DEM pessoa ou pessoa DEM) = tá jê, jê tá
Ele, ela, eles, elas (forma prefixada, acusativa) = ku-
Ele, ela, eles, elas (forma independente, acusativa e dativa) = kumá
Si próprio(a)(s) (forma prefixada, reflexivo) = tê-
Si próprio(a)(s) (forma independente, reflexivo) = tê
Em, no, na (locativo) = -bá
Em cima (cabeça-LOC) = tipiá-bá
Emagrecer (secar-barriga) = kratú
Embarrar (impedir, CAUS acabar) = pê pá
Envira (corda) = nhômbrê
Embrulhar o estômago (aborrecer, tomar raiva) = há krí
Encarnado (vermelho, luz sangue) = ká kabrô
Encobrir (CAUS teto) = pê dô
Encontrar = diê
Encurvar-se (CAUS redondo) = pê nissé
Endoidecer (requer série dativa, cabeça-teto quebrar) = tipiadô sá
Enfadar-se (entendiar-se, triste-ruim) = diapú
Enganar-se (errar, lit.: CAUS ruim) = pê dsá
Engatinhar (andar quatro-PER) = bá tatô-lhê < PER é o sufixo perlativo, que significa 'através de, por meio de'
Engenho de moer (madeira rodar) = ki pê
Enojo, ter (perceber ruim) = pí pú
Enquanto (DEM tempo-outro-LOC) = tá sunhô-bá
Ensinar (CAUS dizer) = pê dsê
Então = prê
Entrepor (meio colocar) = nám tí
Entristecer, estar triste (requer série dativa) = diá
Enxada (pedra-limpar) = krabuê
Enxurrar (água-muito) = kayó
Errado do caminho, andar (perder-se, andar-ruim) = bapú
Escaço (pequeno-pequeno) = pidiá
Escada (NMLZ-subir) = abawí
Escapar (fugir, fugir-correr) = nhêbá
Esconder (empréstimo do Kariri) = bóndó
Escorregar = kurá
Escravo (mão-amarrar) = krabré
Escuro = krám
Espancar = pá, hôk, pahôk
Espelho (água-duro) = nandaê
Esperar (estar-estar-estar) = passabá
Espeto (espinho-grande) = nhikó
Espia, espião (falar-espinho) = bênhí
Espiga (fruto-espiga) = sôbú
Espingarda (também é nome genérico para toda arma de fogo, estourar-madeira) = katuakí
Espora (espinho-amarrar) = nhibré
Esposa (mulher de família) = pikuá gám
Esposo (homem de família) = man-hí gám
Esquerdo = ké-pá
Esse(s) (2ACC-DEM, na direção do ouvinte) = atá
Este(s) (1ACC-DEM, na direção do falante) = itá
Estalar = katuá
Estar = pá, nhí, panhí, sá, passá
Estar diante (frente estar) = sô pá
Estar no chão (chão estar) = dsí pá
Estrepar (CAUS espinho) pê nhí
Eu (forma prefixada, agentiva) = ba-
Eu (forma independente, agentiva) = bá
Eu (forma prefixada, acusativa) = i-
Eu (forma independente, acusativa e dativa) = i-má
Explicar (CAUS ouvido) = pê há
Estender, extensão (ir-estender) = mômpá, mômbá
Autor da matéria: Suã Ari Llusan
Eu mencionei algumas vezes, mas o catecismo de Mamiani sobre a língua Kipeá menciona que os Natú eram parentes diretos dos Kariri, basicamente da mesma nação, isso implica fortemente casamentos e relações internacionais que datam de muitos séculos, eu creio fortemente que quando o povo Kariri se separou dos povos Macro-Caribe, eles foram muito fortemente influenciados pelos povos Jês do Cerrado, estou usando essas inferências históricas para buscar cognatos diretos entre os dois, foi assim que encontrei que TÚ 'praticar' é Jê, pois ele pode ser encontrado no Krenák:
tupý 'trabalhar' cujo tem a variante pý 'trabalhar', mostrando que tu e pý são separáveis e sinônimos, já que o sentido é o mesmo com ou sem junção.
Não significa que veio diretamente do Krenák, mas sim que um cognato que foi preservado no norte passou para o povo Kariri.
Também por conta dessa relação percebi que o Kariri parece ter herdado muita coisa dessa interação, como sua marcação de posse que usa o verbo dsoho 'existir' e a preposição mui 'em direção à/ao', mesmo que a língua já possua o verbo 'haver' que é wá:
idsoho anra hiammui 'eu tenho casa', literalmente 'existe casa na minha direção'
Esta mesma estrutura pode ser vista em línguas Jês Setentrionais, na classe de verbos chamados de verba sentiendi:
https://en.wikipedia.org/wiki/Northern_Jê_languages#Verba_sentiendi_and_dative_subjects
Autor da matéria: Suã Ari Llusan
A preposição de culpa tem duas funções dentro da língua Katuandí, a de indicar culpa no sentido negativo e no sentido positivo, sendo que no sentido positivo, a preposição ganha a conotação de 'graças à/ao':
Karêjê-dzêkô dzá jagôitám tipatí "o gado morreu por causa/por culpa/por conta da sede"
Tá-dzêkô dsê ba-pêhái "seremos salvos graças à chuva"
Autor da matéria: Suã Ari Llusan
Letra 'D'
Dacolá (aquele-ABL) = tará-bí
Dádiva (presente, dar-ADJVZ) = kôm
Daí (este-ABL) = tá-bí
Dantes = bá
Daquém (perto-DIR) = dê-pá
Daqui (aqui-ABL) = tabá-bí
Daqui há pouco (tempo pouco-LOC) = suk diá-bá
Daqui em diante (tempo-este-ABL além-DAT) = suktá-bí prá-má
Dar = kô
De (possessivo) = (não marcado ou usa-se prefixos pronominais)
De (vindo de, originado de, nascido de) = (usa-se o ablativo -bí)
Debaixo (pé-DIR ou pé-DAT) = bassíra-pá, bassíra-má
Deitar = jí
Deitado, estar = ají
Deixar (acabar-pegar) = pahá
Demasiadamente (muito) = yó, dzó
Dente = turussô
Dentro = kró
Depressa (correr) = bayó, badzó
Derrepente (súbito, nada-ABL) = ná-bí
Desagradar (causar raiva) = pê krayá
Descansar = ají
Descer (ir-buraco) = takré
Desejar (fome-coração) = prahôk
Desejar fumo (desejar fumo) = prá barí
Desonesto (palavra ruim) = dsê pú
Deslocar (mover) = mô, môm
Desmentir-se = tópró
Desposar-se = abahaê
Desta maneira (assim, 3-este-em ou 3-este-em-claro) = kutá-bá, kutá-bá-ká
Desviar (ir-passar-contra) = tarêdsók
Detrás (costas-LOC) = bára-bá
Deus = Sônsé
Devagar (ir-pouco) = môndiá
Dez = kunhê
Dia = sutô, krassutô
Diligente (andar-claro) = baká
Dinheiro = méré, mérékiá
Direito = jubô, jubôk
Direitamente (com razão, bem-firme-COM) = haêkrám-bré
Distante = manhí
Dizem que, contam que (sufixo reportativo) = -lê
Dizer, falar = bêlêdsê, bê, lê, dsê
Doente (bem não) = haê tók
Doer = (pegar mal) = há pú
Dois = arêk, rêk, arê, rê
Donde ? (base-INTERR-ABL) = krá-gá-bí ?
Dono = suá, missé
Dormir (INTR-deitar-dormir) = ajikô
Autor da matéria: Suã Ari Llusan
Katuandí
Sô dzá dsêbrá pabú, mankrá bá prê Aragôyá-té hôhôk dzadzá jari-pô, akár jê bík Mankrêkanám Têrá, ku-té prê pramá tabré kra-bá arêk jê hôksá ku-kô Pranhú têshí, Paramá Paranadiá-bré, prê krêkó dô Pranhú jadsí shí amá pê tipatí. Dzakupêm dsê ku-té bêlêdsê arêk sutôdsê Mahôkkré sapê, mansô prê man-hôk dí kréhôk-lhá-bí krandí, kuta-má, Pranhú shí-bré, Kipênám, Pamanám, Kôbanám, Sitóknám, Akranám-bré krám-dê-pá.
Matêmbê adzê, Tikunê dzá amá man-hôk krám ká, Diká Kipênám tudiá-bré Dissá, man-hôk sôn massú ku-nhô krôdí ikrá-té Akrán, krampô krá paná Prakió jên Kôkiá Êtafé, krá mansô akóma pê bá-bré Hêibá, mandsê adzê pên Abikiá, mankrôdí sêssê-bré, sêssê Parakrám-bí, mambrô bê Tibêlêmá, kutabá kár prê Sôhaê abré, tabré prê Tamassôk dzá aridêbô, Parakrám sôká-bá lhúk pá haê dzá kramá hôk-bá.
Dsênhê kudzár-bí hahám, i-té mankrôdi-má jêtipiá-bré assí bêlêdsê tók, môbrá dzá pidá-má hahár, dzá pajê kradák kô kubára múk kín-má jêtók pár sôbí-bám, prê pajê sôk ku-má, mankarô tím jí prêm ku-kô itám kakám pajê, nhô katér Itampôkrá pê hár, prê adzê pikrí imbê:
"dzá inhô súk pá, dzá kunhô súk krá"
ku-kô adzê kutá, prê ku-nhô itám tipiá-bí jí, prê tabré kankrá bassíra-má prán, dzá Parakrám krassá, kukar-té dzá dô pitá-bí prá, kuté abám sô tók, mankarô pajên assôbidzá tabré kapôêr Sôhaê-bá dzá. Sutô nhô-bá, dô simidô krá prê hán pití-té kadzê, súk mansô dzá Sôhaê sôk-bá hák-bré kadzê, Sôhaê dzá arimbê, mansô-té hák, prê bêlê: "Haksô-pá, karô hák-dê", dô prê puhá, mansô prê arimbê: "Parakrám-bí, dsê hák jê-bá mômpá".
Krám nhôbrá dzá rê, sutô hôk-lá prê, mankrá-té prê Paranadiá simidô-má dê-bám sô, Dzakupêm-té prê inhô man-hôk habrô, prê tabré sêókó-má nhô dibába sôkrám, kukó bêlissê kutá, Tikunê krôtí-bré kratí-má mankrá-té akrám tipiá Aragôyá sôk.
Krám dzá krassô, jimbajêdók-té Aragôyá sôk, yók kutá prê Kipênám Pamanám-bré pragam, prê dsê bêlêdsê, turukré, jikô-bré, prê man-hák ôrôfô harú mansúk-má pê sô. Krám má prê krassô, Bá-lhá dzá massô-bá diá, dzá tabré kimbá yó bêkrí pê diá tók, Parakrám súk-bá kutabré yók mankrôdí sôksôk.
Dissá dzá prá pudsá kimbá-bá prák, tabré Kôkiá-má kutá dêm pê há, arêk prê adsihí diá súk sô, pajêm bá tók, yó bá-dê, prê tám akóma jaransô kipuró. Mérégá-bá, kré-bí yóman-hák hôksá kutabré krôdí sabuê-bré, hókmá dím, prê Aragôyá, prê tabré sahá, Dissá suknám kutá bayó prê nhô pê há-má krabá.
"Sahá! Sahá!"
Bêkrí akóma-bá, jêló prê suknám prá, Aragôyá prê pragam-bá krassôk, prê tabré pê tí, man-hôk jikôm dzá súktók pê prá-bré, yó akrá-bá tí. Kutabré mahôkdsá kra-bám, jêtipiá Tikunê prê tassá mankrôdí pragám-má nhandí bêlissê, Hêibá dzá man-hôkfá man-hôkmá-bré haêdií, Akrán dzá abrá sôbá man-hôk-má kiatê, Dissá dzá ká manjidá-má pragam dê-dê-bá bêmôk, dzá tabré sahá dsênhê, súknhô-bá Abikiá Kôkiá-bré prê Hêibá jabêmô Aragôyá môrêk kiatêpá, jú-bá Tibêrêmá Parakrám-bré prê abêtirá haê-dê mansabuê jêtók mansabuê-má, mankrôdiá, mankrômá-bré pá.
Jupá-bá, Tamassôk, kutabré Pamanám Kipênám-bré dibabá nhandí haipá, Aragôyá kutá mansahá bêi há hôkbá, diádiám kimbá-má báramô-bám, Tikunê dzá haipá ká, prê nhôbrá pajê mankrômá-té hák, prê tabré báramô sadakrá, i-krá sadakrá-má, Parakrám Tikunê jassôbá bayó, adiám, Parakrám-té lô krám krô harú, kutá abrêk itibá jubô dêpuró. Parakrám prê prabí, mahôk pra-bám...
Português
Eis então que a mensagem é transmitida, os guardas do caminho confirmaram que eram os Aragôiá que iniciavam este conflito, uma divisão da nação nortenha dos Jaguaribaras cearenses, que haviam migrado e subsequentemente se aliado com mais duas nações que estavam em atrito com os Pranhús, os Paraguaçus e Paramirins, todos prontos para destruir as aldeias aliadas à Pranhuretã. Dzacupêm diz que nos próximos 2 dias eles farão o Marãmônhangandaruçú (Grande Dança da Guerra), o mensô (pajé) firmou a tenacidade dos guerreiros através dos rituais sagrados de guerra, assim, os Pranhús e seus aliados, os Rônateá (Tecelãos), os Ôrôbuiê (Os Araraguaçús), os Cuibá (Os Caracarás), os Êicóquiê (Os que não descansam) e os Putundá (os noturnos) estavam resolutos.
Após o Conselho Geral (Matêmbê), Ticunê chamou todos os seus leais guerreiros, Sissauí dos Ronateá e seu irmão mais novo Sissú, a guerreira conhecida por sempre trocar sua lança por seu machado Acranê, o forte filho de pais Paratiós chamado de Côquiá Êtafé, o filho do pajé e grande formador de táticas Hêibá, o poeta de palavras tocantes Abiquiá e a lança mais jovem do grupo, mais novo até que Piúna, o contador de histórias Tibêrêmá, nesse chamado também incluiu Essaeté e oficiliazou sua participação nos Aramanassunã, Piúna esbranqueceu ao perceber que havia saído de sua vida tranquila para entrar em um mundo de guerra.
Desesperada com a notícia de sua participação, não falou nada entre as lanças e o príncipe, mas voltou para rede em pavor, perdendo 1 noite de sono que ela tinha garantida antes de ir para a floresta caçar os inimigos, foi aí que ela teve uma visão, era uma figura alta de cabelos longos e brancos e com um chifre luminoso e outro partido que seu declarou Nhicô Sôssicrã (Chifre de Cristal) e disse uma frase sucinta:
"pám assú, ká tissú" (acaba meu tempo, começa o tempo dele)
Com essas palavras, seu chifre cai de seu crânio e com o topo pontiagudo apontado para baixo, perfura a barriga de Piúna, ela grita e acorda todos da rede, que mal veêm o que ocorreu, apenas um vulto que sumiu e um brilho que entrou em Essaeté. No dia seguinte, todos da aldeia central perguntaram ansiosos pelo significado disso, quando ele perguntou para Essaeté o que ela viu e sentiu, ela respondeu, o mensô ouviu e então disse: "era Raquiçô, o carô (imagem) da sabedoria", todos ali ficaram pasmos, o mensô complementa: "de tu Piúna, sairá a sabedoria encarnada".
Mais uma noite se passou, era o dia da batalha, os guardas viram os Paramirins se aproximando da aldeia antes dos outros, Dzacupêm guia seus guerreiros e pede para que seus filhos defendam as outras posições, com essa ordem, Ticunê e seus lanceiros se movem para a direção que os guardas suspeitam terem visto a força principal dos Aragôiá.
A noite chegou, mas nenhum deles encontravam os Aragôiá, este grupo então acampa junto aos Rônateá e os Ôrôbuiê, eles conversam, comem e vão dormir, deixando alguns soldados selecionados para guardar e fazer turnos depois de algumas horas. Chega a noite alta, a Balhá (Lua) se ergue no horizonte e a floresta não manifesta muito som, Piúna estava de guarda neste horário junto com todo o grupo de lanceiros.
Sissú notou uma movimentação estranha na mata e alertou Côquiá que estava mais próximo, ambos foram checar e viram a terra se levantando, não só em um lugar, mas eu múltiplos locais, era difícil de enxergar, mas parecia com uma tampa gigante de folhas,. Seja lá o que fosse, dela surgem inúmeros guerreiros com lanças e arcos, preparados para a batalha, eram os Aragôiá e isso era uma armadilha, imediatamente Sissú que era mais rápido corre para alertar os outros.
"Emboscada! Emboscada!"
Sob esse alarde enorme, todos despertaram de imediato, os Aragôiá chegaram no acampamento e começaram a matança, os guerreiros ainda sonolentos mal tiveram tempo de reagir ou até mesmo acordar, muito sendo mortos neste ataque. Com todo esse caos acontecendo, o príncipe Ticunê ordenou que os oito lanceiros lutassem para defender o acampamento, Hêibá organizou os manôquifás (jovens guerreiros) e os manôquimás (veteranos), Acranê cortou o caminho para que os guerreiros avançassem, Sissú foi ordenado para buscar reforços no acampamento mais próximo e avisar sobre as armadilhas, enquanto Abiquiá e Côquiá recebiam ordens de Hêibá para impedir o avanço dos Aragôiá, por último Tibêrêmá e Piúna comandavam catanhãs (esquadras) de seus melhores atiradores para matar os arqueiros, usuários de zarabatana e lançadores de dardos inimigos.
No fim, os Aramanassunã, junto com os Ôrôbuiê e os Rônateá conseguiram defender sua posição, os Aragôiá que os emboscaram notaram a súbita reviravolta da batalha, aos poucos recuando para a mata escura, Ticunê grita vitória, mas um dos lançadores de dardos ouve e volta para atirar, no que ele se prepara pra lançar, Piúna corre para frente de Ticunê subitamente, de lado, ela toma toda a força do dardo que é quase do mesmo tamanho que seu braço no seu antebraço direito. Piúna desmaia, a guerra
Autor da matéria: Suã Ari Llusan
As palavras para animais são bastante presentes nas três línguas registradas, elas demonstram variação em suas construções dentro de cada uma:
a) Padrão Xokó / Môntêrêjê bá
O padrão Xokó parece usar um sufixo -tí para formar os nomes de animais, não são todos que recebem este sufixo:
shiãtí 'porco'
rõpatí 'tatu'
Talvez esse sufixo seja cognato do sufixo aumentativo -tí do Jê Setentrional, o que daria continuidade ao tema da palavra *ja-kwa 'animal de grande porte'
b) Padrão Wakonã / Wakonám bá
O padrão Wakonã só pode ser percebido em duas palavras:
jagôitám 'boi'
sakuagôbê 'cachorro'
Em ambos os casos é possível perceber o uso da palavra *ja-kwa (jagô e sakuá, possivelmente resultados dialetais do Wakonã) com um modificador ao lado, itám possivelmente sendo *i-tã 'madeira-forte', portanto 'chifre', formando jagô-itã 'animal de grande porte com chifre, gado, boi, vaca'. Sakuagôbê sendo a junção de sakuá 'animal de grande porte' com kôbê 'estrangeiro', portanto isso demonstra que o padrão de criação de palavras do Wakonã utilizava da forma longa da palavra 'animal' com o modificador logo em seguida.
c) Padrão Natú / Peagashinám bá
O padrão Natú é semelhante ao do Wakonã, a diferença sendo que este utiliza de sua forma curta da palavra animal:
sêprún 'ovelha'
gôzê 'jacaré'
O Natú, assim como o Wakonã, tinha vozeamento intervocálico quando as sílabas finais e iniciais de duas palavras distintas interagiam uma com a outra, nesse caso o Ô de gô, S de sê e o Ê também de sê fizeram com que o S se transforma-se em Z, assim gôsê > gôzê. Gô significa 'lagarto', enquanto zê indica que esse lagarto é um animal de grande porte, ou seja, maior que um lagarto comum, assim formando gô-zê 'lagarto de grande porte, jacaré'. Sêprún possui o inverso de 'jacaré', prún é possivelmente é cognato distante da palavra pruko 'veado' do Katembri (família Kariri), assim formando sê-prún 'animal de grande porte que é um veado/cervo'.
Com estes três modelos, o Katuandí, que serve de língua geral para esta família, utilizará de todos os métodos aqui disponibilizados para a formação de novas palavras, também sugiro aqui para formações futuras as seguintes raízes:
INSETOS
kí, -kí 'inseto (genérico)' < Proto-Katuandí *ky 'pele, casca' < Proto-Cerrado *kyj 'pele, casca'
AQUÁTICOS
najê 'peixe (genérico)' < ná 'água' + j-ê 'carne'
VOADORES
pabí 'animal voador' < pá 'braço' + bí 'subir'
Autor da matéria: Suã Ari Llusan
ba- 'eu'
ka- 'tu, vós'
i-/j-/in-/im- 'ele(s)/ela(s)'
ki- 'nós'
Pronomes dativo / Têjê kubám
i-má 'para mim, me'
a-má 'para ti, te, para vós, vos'
ku-má 'para ele(s)/ela(s)'
ba-má 'para nós, nos'
Pronomes acusativos / Têjê dsêkôbám
i- 'para mim, me'
a- 'para ti, te, para vós, vos'
ku- 'para ele(s)/ela(s)'
ba- 'para nós, nos'
O Katuandí, baseado nas correspondências das outras línguas da família Cerratense e nos pronomes resgatados dos vocabulários disponíveis, possui três paradigmas, isto é, modelos de pronomes que se diferenciam para indicar o sujeito (nominativo), o dativo e o objeto (acusativo), quem causa a ação, o direcionamento de uma ação e quem sofre a ação de um verbo, aqui vai um exemplo para facilitar a compreensão:
badsê apê "eu trabalharei para ti"
Nessa curta frase é possível inserir todas essas informações com os dois paradigmas supracitados, a ação pode ser descrita da seguinte forma 'eu sou dono da ação futura (ba-dsê) de trabalhar para você (a-pê)', ba- nesse caso está sendo usado para indicar que 'eu' sou o agente da ação, isto é, aquele que a comete, -dsê é uma posposição que indica o futuro, juntada com o pronome indica que a ação será feita por mim no futuro, que ação será feita ? A ação de a-pê, pê é o verbo 'trabalhar', junto com o a- 'para ti', indica que 'tu' é o objeto, ou seja, aquele que sofre a ação do agente, formando assim a frase:
ba-dsê a-pê 'eu trabalharei para ti'
Autor da matéria: Suã Ari Llusan
Com a falta de uma anotação clara e abundante das entonação das palavras Katuandí, voltamos nossa atenção para o Xokó de Meader, que registra os últimos exemplos das sílabas tônicas da família, usaremos como base de estudo para futuramente corrigir a ortografia que estamos utilizando, para facilitar a compreensão e pronúncia das palavras.
Veja que nas palavras que tem anotadas as suas pronúncias a sílaba tônica é sempre paroxítona ou préparoxítona:
sèhóιdz'ὲʔà 'chuva'
b'ázè 'fumo'
mə̀nús'i 'vento'
t'ónà 'farinha'
cá'kìʔ 'galinha'
O acento agudo indica o tom alto, enquanto o acento grave indica o tom baixo, note que o tom alto quase sempre surge na primeira sílaba, garantidamente se a palavra for dissilábica (i.e. ter duas sílabas), no caso de chuva, a sílaba hôi é quem recebe o tom alto, estudaremos estes tons para aplicá-los de forma coerente para discernir as raízes monossilábicas da língua.
Autor da matéria: Suã Ari Llusan
Sugiro a partir deste texto a inclusão de marcadores de tempo que funcionam como preposições conjugáveis, neste caso, a primeira preposição *dzá*, derivado da junção de uma variante do prefixo relacional *j- e o verbo a 'pegar' de kra-si-a 'mão-osso-pegar', servirá como marcador do realis, que para aqueles que não conhecem este termo, marca tanto o presente quanto o pretérito perfeito, ou seja, ações que estão em progresso e ações já completadas:
i-dzá gulígó krêr-tók "eu não como mandioca / eu não comi a mandioca"
a-dzá tatôk bê-gá ? "você está pintando este quadro ? / você pintou este quadro ?"
ki-dzá tôrá takrá "nós vamos para o Toré / nós fomos para o Toré"
O segundo marcador é o de irrealis, que serve para ações futuras, condicionais e hipotéticas, isto é, ação irreais, não realizadas. A partícula em questão é *dsê*, deriva do verbo 'dizer', usado da seguinte forma:
i-dsê kôbêká sapô "lavarei as roupas / se eu lavar as roupas"
a-dsê ku-dú bêlêdsê-tók "você não falará com ele / se você não falar com ele"
ku-dsê sê-dá sahêi-má prá "ele dançará alegremente na festa / se ele dançar alegremente na festa"
Autor da matéria: Suã Ari Llusan
Muitas línguas do família Cerrantese possuem marcadores que designam a posse humana inalienável de um substantivo, no Kayapó do Sul, ancestral do Panará, é pa-, no Akuwẽ (Xavante, Xerente, Xakriabá e Akroá), é da-, decidi portanto sugerir a reconstrução de um prefixo para marcar esta posse:
hakré 'orelha' > têhakré 'orelha (humana)' (há 'ouvir' < *mba + kré 'buraco' < *kre)
bêlê 'boca' > têbêlê 'boca (humana)' (bê < wẽ 'falar' + lê < *re '?')
krá 'filho, filha' > têkrá, têgrá
Autor da matéria: Suã Ari Llusan
A ordem dos constituíntes do Katuandí é vista somente em uma única frase interrogativa:
ôrôní átêrêgín járígá ? 'quem é este/esta indígena ?'
O verbo aqui sendo j-ari-gá '3-ser-INTERR' ou 'ele/ela é quem', colocado na posição final da frase, indicando no mínimo que havia uma tendência de se pôr o verbo no final, a ordem canônica de muitas das línguas Jês Setentrionais e Centrais é SOV, portanto a possibilidade do Katuandí ter herdado tal ordem do Proto-Cerrado torna-se uma percepção viável.
Autor da matéria: Suã Ari Llusan
Algumas informações sobre os pronomes dativos, estes são usandos em verbos classificados como verba sentiendi, isto é, verbos cujo tomam apenas um argumento, aquele que sofre a experiência da ação, são verbos que denotam que o experienciador toma, como 'ter fome', 'ter sono' ou 'achar que alguém é divertido'. Veja os seguintes exemplos para facilitar a compreensão:
i-má krí 'tenho raiva', literalmente '(existe) raiva para mim'
i-má a-haê 'eu gosto de você', literalmente 'para mim tu é bom'
i-má menúsi krandí 'na minha opinião, o vento está forte', literalmente 'para mim, vento forte'
O experieciador, ou seja, quem sofre a experiência do verbo, não está limitado no Katuandí apenas à primeira pessoa, veja que também pode se extender para a segunda, principalmente em situações interrogativas:
a-má kuhaê-gá janí ? 'gostou disso ?', lit.: 'para ti, bom isso ?'
a-má kradará-já kadabá-gá ? 'na tua opinião, terá uma tempestade aí ?', lit.: 'para ti, tempestade aí ?'
Autor da matéria: Suã Ari Llusan
Os pronomes interrogativos da língua Katuandí são formados pela composição com a raiz interrogativa primária -gá 'que, quem', encontrada na frase "ôrôní atêrêgín járígá" que significa "quem é este indígena", onde j-ari-gá é o verbo na forma de pergunta, com isso dito, aqui estão os pronomes:
ôrôgá = quem, qual
sagá = que
dsêkôgá = por que
bagá = onde
sugá = quando
mérégá = quanto
Os pronomes interrogativos não funcionam nesta língua como relativos de agente ou paciente, isto é, quando tenho uma frase como:
"ele/ela é quem comeu todo o milho"
Nunca se usa 'ôrôgá' nessa situação, se usa o sufixo de substantivo de agente ou o pronome de terceira pessoa agentiva (ou os dois juntos):
"ijí inkrê rá matílha" ou "ijí krêssá rá matílha" ou "ijí inkrêssá rá matílha"
Autor da matéria: Suã Ari Llusan
Letra 'C'
Cá, para (lit.: 3-este-DAT) = itamá
Cabaço (lit.: NMLZ-carregar.água-lugar) = arúba, arúmba, rúba, rúmba
Cabeça = tipiá
Cabeça, cobertura da (lit.: cabeça-pele) = tipiakê
Cabelo (lit.: cabeça-cabelo) = tipiají
Cabo (lit.: firme) = dí
Caça (lit.: animal-animal) = satí
Cachaporra (cacetete, lit.: bater) = hôk
Cachimbo = kujipé, katôka
Cachorro (doméstico) = arêbassá
Cachorro (selvagem) = hassá
Cacimba = krêtê
Caco (pedaço, lit.: quebrar) = dsí
Cadeiras (quadril, lit.: NMLZ-base) = akrá
Cágado = katí
Cair = jí, jijí
Cair a árvore (lit.: madeira-cair) = kijí
Caixa (lit.: NMLZ-carregar-carregar) = arurú
Calcanhar (lit.: base-andar) = krabá
Camarada (lit.: segundo) = arêbá
Caminhar (lit.: andar) = bá
Caminho (lit.: NMLZ-andar) = abá
Campo (lit.: terra-comprida) = sêprê
Canafrecha (lit.: fruta) = tínga
Canela da perna (lit.: flauta) = marapó
Cantiga (canção) = mará, ká
Capoeira (lit.: roça-velho) = marabanatú
Cara (rosto) = turú, tulú
Carga = pití, pitê
Carga aos ombros (3-carga ombro) = ipitê sipôê
Carimã (produto da mandioca, lit.: mandioca-nascer) = gulipôê
Carne (de boi, lit.: 3-carne boi) = inê kradzó
Carne salgada (lit.: carne-sal) = nêssuá
Caroço (lit.: NMLZ-semente) = azí
Carro (lit.: levar-NF) = tôr
Carta (lit.: NMLZ-arranhar) = abê
Cãs (lit.: cabelo-branco) = jipôêr
Casa = gandilhá, grandilhá, gandirá, grandirá
Casamento (lit.: estar-bem) = bahaê
Casar (lit.: estar-bem) = bahaê
Casca = kê, kí
Cavaco (madeira-pedaço) = kidzír
Cavalo (lit.: veado-grande) = prunkó
Cerca de paus (madeira-levantar) = kissá
Certamente (assim-verdade) = pôtassá
Cesto = aharú
Céu superior (lit.: céu grande) = sansé akóma
Chaga (ferida, lit.: arranhar-doer) = bêdzá
Chamar (lit.: gritar) = ká
Chamado (lit.: gritar) = ká
Chamuscar (lit.: queimar) = krá
Chamuscado (queimadura, lit.: NMLZ-queimar) = akrá
Chão = atissêrê
Chegar com a mão (alcançar, estender a mão, lit.: andar-frente) = krassô
Chegar com o corpo (chegar em um local, arribar, lit.: andar-frente) = krassô
Cheirado, ser (lit.: PASSIV-cheirar) = haga
Cheirar = ga
Cheiro, lançar (exalar, lit.: cheirar-gritar) = gaká
Chorar (lit.: chorar-olho) = hussô
Chover (lit.: cair-chuva) = jitá, jijitá
Choviscar (borrifar, lit.: derramar-pouco) = ludiá, lusshí
Chuva = tá
Cidade = dô
Cinco = takrá
Cinza (lit.: lenha-PASS ou ex-lenha) = sayá
Ciúmes (lit.: dor-desejar) = dzazalá, diazalá
Clara do ovo (lit.: acabar-ovo) = pakré
Claramente (lit.: falar-luz) = dsêká
Claro = ká
Coalhar-se (lit.: amarrar-correr) = prédá
Cobertura (lit.: cabeça-teto) = tipiadô
Cobra (lit.: comprido-morder-cobra) = prêssabá
Cofo (cesto de pescador, lit.: cesto-peixe) = aharunhanká
Colar (lit.: classificador.objeto.redondo-pescoço) = krahú
Colher (lit.: graveto-comer) = pikrê
Com (lit.: amarrar) = -pré
Com pesar, com cuidado (lit.: pesado) = pidí, pidê
Coma (cabelo longo, lit.: cabelo-comprido) = jibrê
Cambalear (lit.: andar-ruim) = badzí
Comer = krê, kú, krêkú, krêgú
Comer carne, ter desejo (lit.: carne-desejar) = bêzalá
Comer que se guarda (estoque, comida para depois, lit.: comer-caminho) = krêbá
Comida (NMLZ-comer) = akrê, akú
Comigo = ba-bré
Compaixão (amar-REL-grande) = jabênakóma
Comprido = prê
Ser concebido (lit.: pegar-nascer) = hají
Confessar (lit.: falar-verdade) = dsêdê
Conosco = ki-bré
Consertar (lit.: novo-trabalhar) = tabê
Considerar (lit.: pensar) = piabê
Consigo = im-bré
Consigo próprio, com si mesmo = ti-bré, tê-bré
Consolar (lit.: tocar-cabeça) = pêdipiá
Contar (narrar, lit.: ouvido-falar) = hadzê
Contas (colar, miçanga, lit.: colar redondo) = krahú tódó
Contigo = ka-bré
Continuadamente (sempre, lit.: GERUND-verdade) = -ban-dê
Contra (lit.: rosto, frente) = tú
Contudo (lit.: 3-INSTR-outro) = indanô
Coração (lit.: bater) = hô, hôk
Corcovado (lit.: NMLZ-redondo) = adó
Corda (lit.: envira-comprido) = nhômbrê
Cordão (lit.: fino-envira) = hinhô
Corpo (lit.: carne) = bênhám
Corpo, juntas do (lit.: amarrar) = pré
Correr (lit.: andar-grande) = bakó
Cortar = kapá
Cortesia com o pé = tôrá
Cortesia (decoração, lit.: NMLZ-decorar) = andakrú
Costas = bára
Cotovelo (lit.: braço-olho) = pazô
Coisa cozida (lit.: NMLZ-cozinhar) = aprú
Criação (animais, lit.: animal-PL) = sanám
Criança = sêmêntiá
Crista de galo = prudzakí
Crueira de mandioca (lit.: NMLZ-abandonar) = arê
Cuia = arurú
Cuidar (tomar conta, lit.: com-trabalhar-bem) = prébêhêi
Cuidar (cogitar, pensar, lit.: cabeça-trabalhar) = piabê
Cuieté (lit.: cuia-verdade) = arurudê
Culpa (lit.: NMLZ-culpar) = adzêkô
Culpar (lit.: falar-pressionar) = dsêkô
Cunhada (lit.: pessoa-cunhada) = jibré
Cunhado (lit.: pessoa-cunhado) = jibré
Curto (lit.: pequeno) = diá
Cuspe (lit.: água-boca) = kambêlê
Cuspir = kambêlê
Autor da matéria: Suã Ari Llusan
Letra 'B'
Baixa, em parte (embaixo, sob, lit.: pé-LOC) = bassirêkê
Baixo, para (para baixo, direcionado pra baixo, cabisbaixo, lit.: pé-DAT) = bassirêmá
Balaio = aharujatô
Balça (barco, lit.: madeira-nadar) = kirê
Baldadamente (inutilmente, futilmente) = naá
Banana (lit.: amarelo-banana) = kuapatí, kuapatír
Banco = (lit.: NMLZ-assentar) = anô
Banquete = (lit.: comer-grande) = kôrá
Barriga (lit.: barriga-fome) = tuprá
Barro = akí
Basta! (chega! parou! lit.: acabar-IMP) = palissê!
Bater = hôk
Bêbado (lit.: cachaça-comer-grande) = jirókurá
Beira (limite, fronteira, lit.: acabar-NF) = pár
Bem = haê, hái, hêi
Boca = assá
Boca da noite (lit.: noite-nascer) = atikató
Bocejar (rosto-mostrar) = sômbê
Boi = kradzó, kôkrí
Bolo de mandioca assada (mandioca-assar-redondo) = guliyató
Bolor (lit.: frouxo, mole) = pê, pêk
Bom (adj) = haê, hái, hêi
Bom (subst) = haê, hái, hêi
Bondade = ahaê, ahái, ahêi
Bordão (lit.: apoiar) = kápa
Botar = krá
Braço = pá, há
Braço do rio (afluente, tributário, lit.: rio-braço) = parapá, parahá
Branco (cor, lit.: acender, brilhar) = pôêr
Branco (etnia, lit.: indígena-não ou estrangeiro-barco-grande) = jindók, kôbêkirêmá
Brigar (lit.: grande-bater) = rahôk
Brincar (lit.: ouvir-não) = hadók
Autor da matéria: Suã Ari Llusan
NOITE
1) Proto-Cerrado: *tyk 'preto' >
2) Proto-Katuandí: *a-tyK 'NMLZ-preto' > 'coisa/lugar/instrumento preto, escuridão, noite' >
a) Xokó: aty 'noite', aty-krã 'escuro, escuridão' (lit.: 'noite-escuro'), aty-sa-kia 'coruja' (lit.: noite-animal-ave)
b) Natú: edi, edik 'noite', edi-gu, edik-u 'sono, dormir' (lit.: noite-dormir'), edi-baka, edi-paka 'estrela cadente' (lit.: noite-flecha')
c) Wakonã: atí, atík 'noite', ati-kô 'sono, dormir' (lit.: noite-dormir'), ati-kra-bá 'lua' (lit.: 'noite-CL-lua'), ati-má 'noturno' (lit.: noite-ADJVZ), atí-rê 'amanhescer, manhã' (lit.: 'noite-abandonar'), ati-ssê 'crepúsculo, pôr-do-sol' (lit.: 'noite-nascer')
MANHÃ
1) Proto-Cerrado: *cuñ + *wôc 'chegar' = *cuñ-wôc >
2) Proto-Katuandí *cu 'sol' + *woj 'chegar' = *cu-woj 'sol-chegar' ou 'chegar do sol' >
a) Xokó: shuvoi
b) Natú: shuwoi
c) Wakonã: subôê
Autor da matéria: Suã Ari Llusan
A primeira palavra (KA) se assemelha a muitas raízes dentro das línguas indígenas da América do Sul com o tema de 'luz, dia, claro, sol, brilho', argumento este que já foi publicado no blog, portanto prosseguirei para o seguinte.
A palavra pôêr eu sugeri há alguns meses atrás ter relação com palavras para madeira e luz, no entanto vejo por outro lado agora, é mais fácil e consistente argumentar que essa palavra derive do Proto-Cerrado *pôr ~ pôk 'queimar, acender', seguindo estas mudanças:
Proto-Cerrado ->
*pôr
Pré-Katuandí ->
*pô(j)r
Proto-Katuandí ->
*pôjr
Xokó ->
poɪ̯r (pôêr)
Vale ressaltar que no Alfabeto Internacional Fonético (AFI), o /j/ representa o mesmo som que y do inglês em yes e you, portanto em algum momento antes do Xokó a palavra pôêr adquiriu uma semivogal entre a vogal e a coda, sendo hipoteticamente *pôjr, não descarto que esta vogal tenha desencadeado um processo de ditongação, como temos poucos exemplares do Katuandí, só podemos inferir sobre todos os seus resultados.
Até agora, o Katuandí vem demonstrando uma proximidade forte com as línguas Jês do Cerrado, vistos nas palavras para 'mulher', 'fogo' e 'estrangeiro' (pikuá, shakishá/atsá e kôbê), as duas primeiras das quais considero aqui difíceis de serem substituídas por empréstimos. A palavra aqui descrita confirma para nós que as codas terminadas em -r são preservadas sem qualquer alteração, novamente uma grande ajuda para recuperar o léxico perdido.
Autor da matéria: Suã Ari Llusan
A palavra descoberta no vocabulário de Antunes que indica o substantivo 'bom' e possivelmente o verbo 'ser bom' é representada por três variantes: hêi hái e haê. A estrutura dessa palavra esconde sua evolução, o ramo Katuandí, ou pelo menos o Wakonã, herdou essa palavra com evidências dos antigos sons que a ela pertenciam, proponho que essa palavra seja descendente direta do Proto-Macro-Jê *mbec 'bom', a evolução fonética sendo aproximadamente:
Proto-Macro-Jê ->
*mbec
Proto-Cerrado ->
*mbec
Pré-Katuandí ->
*pec ~ *pəc
Proto-Katuandí ->
*ɸej ~ *ɸəj
Wakonã ->
hej ~ haj ~ haɪ̯
Aqui como é possível ver no Pré-Katuandí, uma mudança sonora ocorre que se assemelha ao Proto-Akuwẽ, o ancestral das línguas Jês Centrais mencionadas antes, esta era pronunciada nesta proto-língua como *pêcê ~ *pê, assim demonstrando a mudança do som de *mb > p tanto no Katuandí quanto no Akuwẽ, no entanto o Katuandí deu um passo adiante, que se assemelha diretamente ao Kariri, isto é, as línguas dessa família transformaram seus */p/ em /h/ por meio de um /ɸ/ intermediário, eu discuti brevemente sobre isso ano passado em algumas de minhas publicações no blog, a evolução deste som coincide com aquela vista nas palavras tanto nativas quanto emprestadas do Kariri, cujo talvez sugira que estes dois povos interagiram e relacionaram-se intensivamente no passado.
Voltando para a evolução da palavra, também é possível notar que a coda -c foi parcialmente preservada e nesse caso tornando-se uma semivogal -j ~ -ɪ̯ no final da palavra, mais um auxílio para facilitar a reconstrução das palavras dessas línguas.
Artigo da Wikipédia com o som /ɸ/ e um exemplo em áudio:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Fricativa_bilabial_surda
Exemplo de publicação que discuti sobre a mudança sonora:
(ex.: http://kxnhenety.blogspot.com/2022/07/teoria-o-p-e-seus-alofones.html)
Autor da matéria: Suã Ari Llusan
Wakonã
1 = pajê < (Proto-Cerrado *pᵊji 'um')
2 = arêk, arê < (Proto-Cerrado #rêK 'dois')
3 = assá < (assa 'inserir' do a- 'prefixo nominalizador' + Proto-Cerrado *jə 'inserir-inserir')
4 = tatô < (ta- 'prefixo de numeral' de ta 'ir, prosseguir' + to 'pular, saltar, prosseguir')
5 = takrá (ta- 'prefixo de numeral' + krá 'mão')
6 = tatí (ta- 'prefixo de numeral' + ti 'cabeça', no lugar de paze)
7 = tassú (ta- 'prefixo de numeral' + sú 'olho', no lugar de lyík)
8 = tashá (ta- 'prefixo de numeral' + sa 'inserir')
9 = tará (ta- 'prefixo de numeral' + lhá 'grande' do Proto-Cerrado *rat 'grande')
10 = kunhê (Proto-Cerrado *kunĩ 'todos')
11 = kunhêpa
12 = kunhêrêk
13 = kunhêssá
14 = kunhêtô
15 = kunhêkrá
16 = kunhêtatí
17 = kunhêtassú
18 = kunhêtassá
19 = kunhêtará
20 = arêkunhê
30 = assakunhê
40 = tôkunhê
50 = krakunhê
60 = tikunhê
70 = sukunhê
80 = sakunhê
90 = rakunhê
100 = bêtirá (bê- 'prefixo de numerais grandes' do verbo bê 'dizer, contar' + ti 'cabeça' + ra 'grande')
200 = bêrêk
300 = bêssá
400 = bêtô
500 = bêkrá
600 = bêtí
700 = bêssú
800 = bêssá
900 = bêrá
1000 = bêmá
10000 = bêkunhê
100000 = bêssimikú (bê- 'prefixo de numerais grandes' + simi 'aldeia' + ku 'grande')
Autor da matéria: Suã Ari Llusan
Xokó
1 = paji < (Proto-Cerrado *pᵊji 'um')
2 = lyik, lyi < (Proto-Cerrado #rêK 'dois')
3 = ha < (ha 'inserir' do Proto-Cerrado *jə 'inserir')
4 = motu < (mo 'ir, andar' + tu 'pular' = motu 'prosseguir')
5 = akra (a 'nominalizador' + kra 'mão')
6 = a-pa-ti (a 'nominalizador' + pa 'botar' + ti 'cabeça', no lugar de paji)
7 = a-pa-sô (a 'nominalizador' + pa 'botar' + sô 'olho', no lugar de lyík)
8 = a-pa-ha (a 'nominalizador + pa 'botar' + ha 'inserir')
9 = a-pa-lya (a 'nominalizador' + pa 'botar' + lya 'grande')
10 = kunyi (do Proto-Cerrado *kunĩ 'todos')
11 = kunyipa
12 = kunyilyik
13 = kunyiha
14 = kunyimotu
15 = kunyikra
16 = kunyipati
17 = kunyipasô
18 = kunyipaha
19 = kunyipalya
20 = lyikkunyi
30 = hakunyi
40 = motukunyi
50 = akrakunyi
60 = apatikunyi
70 = apasôkunyi
80 = apahakunyi
90 = apalyakunyi
100 = vêpaji (vê- 'prefixo de numerais grande' derivado de
200 = vêlyik
300 = vêha
400 = vêmotu
500 = vêkra
600 = vêpati
700 = vêpasô
800 = vêpaha
900 = vêpalya
1000 = vêkóma
10000 = vêkunyi
100000 = vêsimikó
Autor da matéria: Suã Ari Llusan
Natú
1 = paze < (Proto-Cerrado *pᵊji 'um')
2 = rik, ri < (Proto-Cerrado #rêK 'dois')
3 = sassare < (sassa 'inserir' do Proto-Cerrado *jə-jə 'inserir-inserir' + re 'grande, mais' = sa-sa-re 'adicionar, aumentar')
4 = mondo < (mon- 'prefixo de numeral' de mon 'ir, prosseguir' + to 'pular, saltar, prosseguir')
5 = mongra (mon 'prefixo de numeral' + krá 'mão')
6 = mondi (mon 'prefixo de numeral' + ti 'cabeça', no lugar de paze)
7 = monsu (mon 'prefixo de numeral' + sú 'olho', no lugar de lyík)
8 = monsa (mon 'prefixo de numeral' + sa 'inserir')
9 = more (mon 'prefixo de numeral' + re 'grande' do Proto-Cerrado *rat 'grande')
10 = koñe (Proto-Cerrado *kunĩ 'todos')
11 = koñebba
12 = koñerik
13 = koñessa
14 = koñemondo
15 = koñemongra
16 = koñemondi
17 = koñemonsu
18 = koñemonsa
19 = koñemore
20 = rikma
30 = saremma
40 = tomma
50 = kramma
60 = timma
70 = summa
80 = samma
90 = remma
100 = wedire (we- 'prefixo de numerais grandes' do verbo we 'dizer, contar' + ti 'cabeça' + re 'grande')
200 = werik
300 = wesare
400 = weddo
500 = weggra
600 = weddi
700 = wezu
800 = weza
900 = were
1000 = wemma
10000 = wegoñe
100000 = wezimiggu (we- 'prefixo de numerais grandes' + simi 'aldeia' + ku 'grande')
Autor da matéria: Suã Ari Llusan
Em Setembro de 2023, iniciei o processo de revitalização das línguas Xokó e Natú sob o nome de Xokó-Natú, após alguns dias, eu e Nhenety sugerimos o nome Katuandí, cujo na época utilizava da reinterpretação das raízes então disponíveis dos vocabulários de ambas línguas citadas anteriormente.
Com o passar do tempo e o acúmulo dos estudos, foi possível associar as línguas Katuandí ao Macro-Jê através do método comparativo, assim facilitando na reconstrução de vocábulos para este ramo linguístico. Com as novas interpretações e novas palavras, uma correção dos vocábulos vistos nos primeiros textos tornou-se necessária e será aplicada agora no nome deste ramo.
Para justificar as novas mudanças, o nome Katuandí continuará o mesmo, mas agora será etimologicamente katuã 'flor' + -dí 'sufixo epistêmico', onde katuã é composto de ká 'luz' de kapôêr 'luz' + tuã 'folha, planta', nasalização de tuá 'folha, planta', formando katuã 'planta/folha colorida', portanto 'flor'. O sufixo predicativo é um reaproveitamento do antigo sufixo nominalizador -ndí usado nos primeiros textos, etimologicamente derivado de grandilhá 'casa', com a função atual de afirmar o estado da palavra no qual se atrela, portanto katuã-dí 'é flor, é florido', fazendo referência ao renascer das línguas Xokó, Natú e Wakonã
Autor da matéria: Suã Ari Llusan
Uma palavra que passou despercebida por mim foi Autussê, uma planta mágica cujo não fui capaz de extrair a função ou espécie dentro da publicação de Clarice Mota, por conta de que o livro está em modo de prévisualização, tornando impossível ver algumas páginas, cujo presumo ser onde se encontra essa palavra, que no momento só pode ser vista no Glossário.
Com isso dito, farei uma análise nos próximos dias para providenciar uma etimologia para essa palavra. Digo no momento que suspeito da sílaba -ssê, cujo seguindo os padrões de evolução do Katuandí, pode ter vindo ou de *je ou de um *ce. Se veio de um *je, talvez seja cognato distante do Kariri dzi 'madeira, árvore'.
Autor da matéria: Suã Ari Llusan
Novamente seguindo o processo de distinção lexical, sugiro que as negações sejam separadas em tipos, os seguintes descritos servirão para descrever certos tipos de negação:
PRIMEIRA NEGAÇÃO
O Natú registra uma negação, e após algumas análises, suspeito que talvez o Katuandí tivesse parcialmente preservado suas codas, nesse caso a negação é -tôk de zi-tôk 'não-indígena, estrangeiro', cujo se assemelha bastante à sua forma ancestral *tũ₁k ‘negação'. Com isso sugiro que essa seja a negação primária das línguas dessa família, batizado de piêbá tôk (primeira negação):
Xk.: -tôk
Wk.: -tôk
Nt.: -tôk
Exemplo em Wk.: amê impêrêtôk, intaprô-warí "o céu não é vermelho, é azul"
SEGUNDA NEGAÇÃO
Em casos de necessidade de rima dentro de poemas ou apenas o uso de um sinônimo, sugiro que a negação registrada no Wakonã -bí em inkrandibiçá 'preguiçoso' (lit.: sem força) seja o marcador de negação secundário, aqui batizado de lhêkbá tôk (segunda negação):
Xk.: -bí
Wk.: -bí
Nt.: -bí
Exemplo em Nt.: kêlizê liêmí akradibí "deixe de preguiça"
NEGAÇÃO IMPERATIVA
Esta negação serve para indicar o imperativo negativo de um verbo, isto é, quando se dá uma ordem para que alguma ação deixe de ser feita "não faça isso!", "não coma aquela comida!", "não escreva essa mensagem!" são exemplos deste uso, aqui será usada a palavra do Proto-Katuandí *re 'deixar, abandonar', batizado de amibêlê tôk (negação de ordem):
Xk.: liê
Wk.: lhê
Nt.: liê
Exemplo em Xk.: dsatialiê takê, dsajitiálikê inkê abá "não grite aqui, respeite este lugar"
Autor da matéria: Suã Ari Llusan
Baseando-se na proximidade histórica dos Kipeá com os Natú, aqui sugiro algumas distinções da preposição 'por' que foram inspiradas nas distinções feitas tanto no Kipeá quanto no Maxakalí:
MEDO, RESPEITO
Xk.: -kó/Wk.: -kú/Nt.: -kó 'por receio de, por medo de, por respeito de', ex. em Nt.: zi-pê-lí zi-kó zi-pêhêi-tôk "ele largou seu trabalho por medo de errar"
CARGA, PESO
Xk.: -pají/Wk.: -panjê/Nt.: -pêzí 'por peso, por cuidado, por cautela, por responsabilidade, por lealdade', ex. em Wk.: na-bêlêdsê-ká tanhí ji-panjê ka-têtêdsá-krí "nós falamos assim para que tu não se assuste"
EXPECTATIVA
Xk.: -taká /Wk.: -taká/Nt.: -têk 'por espera, por esperança, por expectativa', ex. em Xk.: "na-tabají-wã na-taká ka-tadahai-nhã "estamos esperando por tua vitória"
Autor da matéria: Suã Ari Llusan
Baseado no modelo da publicação anterior de tradução dos nomes dos Estados do Nordeste, que demonstro aqui novamente por motivo de comparação:
Nordeste = Assatíva (Do Tupi assa-tyb-a 'abundância de travessias')
Alagoas = Lhumanám (lhuma-nám 'lagoa-água')
Bahia = Kuanlhatô (kuam-lhatô 'baía-baía')
Ceará = Sêtiú (sêti-ú 'ave-água', do Tarairiú, etimologia abaixo)
Maranhão = Kramassám (krama-ssam 'mar-super, marzão')
Paraíba = Paradsá (pará-dsá 'rio-ruim')
Pernambuco = Tukramá (tu-kramá 'buraco-mar')
Piauí = Paràkitamá (para-akitama 'rio-piaba')
Rio Grande do Norte = Terapissimá (Do Tarairiú, etimologia abaixo)
Sergipe = Maparakanamá (da frase má pará kanamá 'no rio dos siris', tradução do Tupi siri-y-pe)
Trago aqui a versão traduzida para a língua irmã do Wakonã, o Natú, baseado na sua visão de mundo. O Natú é levemente divergente em seu vocabulário, possuindo a estratégia de nomeação que segue um padrão B-A-B, onde se cria uma junção de dois elementos e repete-se o elemento secundário no começo da palavra (sha-ki-sha, ka-tu-ka), isso pode ser visto de forma menos óbvia no Xocó (tshat'ôkâ, cognato de katuká), os únicos exemplos de divergência demonstram uma preferência no Natú de palavras trissilábicas, mas também existem exemplos dissilábicos que seguem um padrão de descrição sem uso de afixos derivacionais e com modificadores vindo após o modificado (mên-sô 'homem-curar', não havendo um -ador atrelado a palavra para criar 'homem-cura-dor' ou gôzê 'jacaré' que é gô-zê 'lagarto-animal.grande'), seguindo todos esses padrões trago aqui uma aproximação dos significados originais dos nomes dos Estados com inspiração direta dos métodos supracitados:
Nordeste: Talinê 'Abundância de Travessias' (talí 'caminho, travessia' + -nê 'cheio, abundante, -oso')
Alagoas = Sônansô (sô 'poço, lago, lagoa' + nan 'água')
Bahia = Kitazibá (kitá 'barco' + zí 'deitar' + -bá 'local, lugar')
Ceará = Nansêdô (nán 'água' + sêdô 'ave' (sê 'animal' + tô 'voar'))
Maranhão = Unêpô (u 'água' + -nê 'cheio, abundante, -oso' + -pô 'verdadeiro, legítimo')
Paraíba = Nampú (nán 'água' + pú 'ruim, mal')
Pernambuco = Sôunê (sô 'buraco' + unê 'mar')
Piauí = Irókinán (iró 'mancha' + kí 'pele' + nán 'água')
Rio Grande do Norte = Terapíssima (do Tarairiú)
Sergipe = Maunêzênán (da frase má unêzê nán 'no rio dos siris' tradução do Tupi siri-y-pe)
Autor da matéria: Suã Ari Llusan