quinta-feira, 28 de março de 2024

ETIMOLOGIA DE BIZAUI 'QUATI' E 'TAMANDUÁ' E O PORQUÊ DOS DOIS ANIMAIS TEREM A MESMA PALAVRA


 A palavra biza é uma que discuti antes, ela surge bastante pelo Kariri em várias formas (bidzamu, bidzoncrà, bidzancrò, bidzorá, etc), ela significa 'corpo' e é cognata do prefixo *pija- do Jê Setentrional. Com isso, podemos trabalhar na composição que forma o nome do quati e do tamanduá.


 A palavra -ui que surge ao lado de biza é descendente do Terejê *wi 'riscar, arranhar', que em si é descedente do Proto-Cerratense *wê 'arranhar, riscar' e cognato do Proto-Akuwẽ *wa-wi, portanto temos biza-ui como descendente de um Proto-Terejê *bidza-wi 'corpo riscado', cujo é uma característica compartilhada por ambos animais.


 Sugiro que para diferenciar os dois, chamemos o tamanduá de Kp.: bidzawí waridzá buchí / Dz.: bidzewi wolidze buki 'bizaui da boca comprida', enquanto Kp.: bidzawí kayade / Dz.: bidzewi kayadde 'bizaui meia-noite' se refira ao quati. Para o Peagaxinã sugiro bizawi worzé wó 'bizaui de boca comprida' e sugiro que bizawi mrama 'bizaui meia-noite' se refira genericamente ao quati.  


1) Peagaxinã: bizawi worzé wó 'tamanduá' (biza-wi 'corpo riscado' + wor-zé 'instrumento de pedir, boca' + wó 'comprido')


2) Peagaxinã: bizawi mrama 'quati' (biza-wi 'corpo riscado' + mra-ma 'alta-noite, meia-noite, guaxinim')




Autor da matéria: Suã Ari Llusan 



HIPÓTESE SOBRE TÇETÀ 'MIOLOS' DO KIPEÁ


 Encontrei a palavra *kajwañ 'miolos' no Proto-Cerratense reconstruído de Andrey Nikulin de 2020, suspeito que tenha  relação direta com o TÇETÀ 'miolos' do Kipeá, argumento isso pois vejo que a evolução de *ky ou *c > t parece ser um tema recorrente entre as línguas Kariri, veja por exemplo o número dois do Dzubukuá wi-TA-ne em comparação ao Kipeá wa-CHA-ni e o Kamurú lia-wi-thi-KA-ni


 Digo *ky pois suspeito que, antes de se tornar TÇETÀ, a palavra teria surgido em alguma língua Terejê como *ka-kya, o processo de evolução até chegar no Kariri parece ter sido assim:


1) A palavra surge da forma como reconstruo antes de ser importada para o léxico Kariri


*ka-kya


2) A palavra começa a passar por mudanças em cadeia, sugiro que primeiro tenha evoluido o encontro consonantal *ky para *c:


*ka-kya > *ka-ca


3) Depois, compensando a falta do grupo *ky de sílabas, *k foi palatalizado para *ky


*ka-kya > *ka-ca > *kya-ca


4) A mudança sonora que resultou em diferenças como TIDZÌ 'mulher' no Kipeá vs KÜTZIH 'mulher' no Sapuyá ocorreu, sendo a evolução de *c > t em certos ambientes.


*ka-kya > *ka-ca > *kya-ca > *kya-ta


5) Logo após, a palatalização de **k para *ky foi mais adiante e tornou a consoante em uma africada alveolar surda /ts/:


*ka-kya > *ka-ca > *kya-ca > *kya-ta > *tsa-ta


6) A sílaba tônica na última sílaba faz com que a vogal da primeira sílaba se reduza e se torne um schwa /ə/:


*ka-kya > *ka-ca > *kya-ca > *kya-ta > *tsa-ta > *tsə-tá


Assim resultando no TÇETÀ do Kipeá. Eu não tenho certeza se todos os processos ditos aqui seriam nativos do Terejê, eles claramente acontecem em algumas línguas (Dzubukuá e Kipeá com *c > t), outras não (Sapuyá com *c > k) e em outras ocorre algo diferente (Kamurú com *c > ts, cf.: tzützüh 'mulher' em comparação ao Sapuyá kützih), incluindo isso, o léxico restante do Terejê não é suficiente para confirmar essa transformação, no entanto posso confirmar que kya da parte final de ka-kya teria existido, isso é confirmado pela palavra menzikiô 'homem' e a palavra waskiô 'comigo, conosco', que utilizam do sufixo agentivo -kiô/-kêô, descendente do sufixo agentivo do Proto-Cerratense *jwañ, cujo surge no Proto-Akuwẽ como *-kwa, a partir daí podemos ver que o Terejê e o Akuwẽ compartilham da evolução de *j para *k nesse ambiente, mas ambos divergem na evolução vocálica, com o Terejê tendo -iô ou -êô, enquanto o Akuwẽ possui -wa, mas é possível ver como a palavra evoluiu


*jwañ > *-kjwa(ñ) > *-kjwa > *-kjô > *-kjô ou *-kêô


 A partir daí, podemos inferir que *ka-kya realmente teria sido a forma em que o Terejê teria "congelado", enquanto o Kariri passava por suas mudanças fonéticas específicas, com isso, e com o fato de -kîô surge intacto duas vezes, tanto no Xocó quanto no Wakonã, eu creio que seria mais adequado reconstruir essa palavra nesse estágio anterior a evolução que o Kariri passou:


Terejê *ka-kia 'miolos'


Xocó: kakêô

Natú: kakîô, sakîô

Wakonã: kekíô, tcekíô




Autor da matéria: Suã Ari Llusan 



POLIDEZ DO PEAGAXINÃ


 De acordo com Queiroz, o Dzubukuá possuía níveis de polidez em sua fala, que surgiam em cláusulas onde o propósito do falante era soar eloquente, estes eram -ba e -de. Como o propósito do Peagaxinã é reviver o Natú de Porto Real do Colégio, teremos que levar em consideração também a forma de como falar de forma adequada.


 A polidez talvez indique um sistema social padronizado por parte da civilização Kariri, cujo eu não duvido que teria sido compartilhado pelos Terejê, portanto aqui irei sugerir formas de como podemos falar o Natú levando em consideração a educação da fala.


 Na línguística, chamamos formas de diferenciar a fala causadas por motivos hierárquicos de registro, que é uma escala social  que altera o léxico do falante para se adequar à necessidade de respeito, é a diferença que nós falantes de português vemos entre o casual "e aí, beleza ?" e o "olá, tudo bem ?", que representam a mesma coisa com níveis de formalidade diferentes. O que temos aqui é algo semelhante, mas não idêntico, visto que o vocabulário base do Kariri não parece ter sido alterado (até onde sabemos), então temos uma sufixação que sozinha indica a educação e eloquência do falante.


 Para o Peagaxinã, sugiro que seja marcado a polidez com o objetivo de respeitar uma hierarquia simples, baseada na nomenclatura dos três povos Terejê: Xocó (filho), Wakonã (filho, criança), Natú (velho, velha, avô, avó):


Seokó min-zé "regra Xocó":


 A regra Xocó é a base do método de respeito, sendo a forma casual de fala que não utiliza de qualquer sufixo, portanto eu posso dizer:


hêwe bai, robé hê ? "Olá, tudo bom ?"



Wakonã min-zé (regra Wakonã)


A regra Wakonã é o nível de respeito médio, que eu sugiro que seja usado entre pessoas que não se conhecem, o Wakonã parece usar da partícula -pá como marcador de respeito, portanto o mesmo será sugerido aqui:


Hêwe-pa, sèwît o-sôn! 'Olá, prazer em conhecer-te'


Natu min-zé (Regra Natú)


 A regra Natú é o último nível de respeito e o mais alto entre os três, é usado para quando o falante fala com pessoas mais velhas que ele(a) e pessoas com cargo mais alto ou com mais experiência em algum assunto que ela, utiliza da partícula lô


Akódu, nu mra kon a-miwrê kô lô ? "Akódu, poderias me ensinar isso, por gentileza ?"




Autor da matéria: Suã Ari Llusan 



ETIMOLOGIA FINAL DE KA-LI-CÊ 'TU' DO WAKONÃ E A FORMA FINAL DA CONJUGAÇÃO DE TEMPO-ASPECTO-MODO


 Acabo de notar o que a construção kalicê significa, ela surge no seguinte contexto:


Kalicê bêlêtsiê baskíô 'fale comigo'


 Notei que isso não é uma frase de palavras soltas, existe uma conjugação verbal aqui, nesse caso, ka-li-cê é o irrealis na forma imperativa do pronome KA 'tu'. Deixe-me explicar, de forma básica, ka- é um prefixo que indica a segunda pessoa, tanto do singular quanto do plural 'tu, vós', -li- é uma partícula descendente do Proto-Jê Cerratense *ri 'partícula locativa', aqui servindo de sufixo para indicar o imperativo, ou seja, uma ordem.


 Por último, temos -cê, cujo bate diretamente com o marcador de irrealis visto no Xavante dza, no Xerente za, no Jê Setentrional *ĵa, a evolução esperada do Wakonã dita que tal sílaba é a forma esperada:


*ĵ > *c > *ts > *s

*a > *æ > *e

*ĵa > *ca > *tsa > *tsæ > *se 'marcador de irrealis'


 Agora se tornou muito mais fácil compreender como marcar o irrealis da língua Peagaxinã, como este é o marcador original da língua, eu sugiro que esse substitua o uso de mra que sugeri recentemente, mas que mara/mra 'noite' seja o substantivo 'futuro', adjetivo 'futuro' e o nome para o 'marcador de irrealis', e para que haja ênfase ou desambiguação, ainda recomendo uma composição dos dois elementos para formar o marcador de irrealis mra-se


 Com isso, ainda tomo cuidado na reconstrução do marcador de realis, visto que tal não surge de forma consistente em nenhuma língua Cerratense, no Panará ele é definido pela não-finitude do verbo, marcado pelo sufixo comum do Proto-Cerratense -r, que surge como -ri no Panará, semelhante ao que ocorre no Maxakalí, que marca seu irrealis, o Akuwẽ marca o irrealis com a partícula tô, cujo baseado na evolução fonética, só poderia ser resultado de uma antiga raiz *ndu 'realmente, também' do Proto-Cerratense, não encontrei nenhuma evidência ou reconstrução dessa palavra, mas Andrey Nikulin disponibilizou o método de reconstrução do Akuwẽ em sua publicação de 2020, portanto fui capaz de providenciar a estrutra original da palavra com esse método como base.


 Como o Akuwẽ é um ramo aparentado do Terejê, me sinto um pouco confortável em presumir que o Terejê teria herdado *ndu de alguma forma, resultando em algo como *tô no Proto-Terejê. Decidi então que seguirei o mesmo método do irrealis, havendo a forma to no Peagaxinã, e com ela, a forma we marcando o realis, com as duas podendo se acoplar e forma to-we.


 Voltando para ka-li-cê, temos aqui finalmente uma conjugação de modo, nesse caso, o imperativo. Sabemos agora que o Terejê dava preferência a uma composição através de sufixos que indicam tempo-aspecto-modo. Assim sugiro as seguintes formas que surgirão na gramática do Peagaxinã:



REALIS / WEZÉ (instrumento do passado)



Presente / Su


wa su to / wa su we / wa su to-we 'eu sou, eu estou'

kó su to / kó su we / kó su to-we 'tu és, tu estais' 

tó su to / tó su we / tó su to-we 'ele(a) é, ele(a) está'



Ex.: wa su to wrêsie Peagashinan, kó su we mrâ-pa ? "Eu falo Peagaxinã, o que você fala ?"



Pretérito / We


wa to / wa ve / wa to-we 'eu fui, eu estive'

kó to / ko we / ko to-we 'tu fostes, tu estivestes'

tó to / tó we / tó to-we 'ele(a) foi, ele(a) esteve'



Ex.: tó we tô, mó ñunu-zé t-ai 'ela esteve ali, no quarto dela'



Presente ativo (gerúndio) / Su mintì


wa min 'eu estou ...ndo'

kó min 'tu estais ...ndo' 

tó min 'ele(a) está ...ndo'



Ex.: tó min ku manigri ha 'eles estão comendo arroz'



Pretérito + Gerúndio / We + Su mintì


wa min to / wa min we / wa min to-we 'eu estive ...ndo'

kó min to / kó min we / kó min to-we 'tu estivestes ...ndo'

tó min to / tó min we / tó min to-we 'ele(a) esteve ...ndo'



Ex.: wa min to ñar mó simñari dó bap-tì dì Prederiku "estivemos trabalhando no projeto que Frederico mandou"



IRREALIS / MRAZÉ (instrumento do futuro)



Futuro / Mra


wa se / wa mra / wa mra-se 'eu serei, eu estarei'

kó se / kó mra / kó mra-se 'tu serás, tu estarás'

tó se / tó mra / tó mra-se 'ele(a) será, ele(a) estará'



Ex.: kó mrase wrêma mrâsó neinan 'você será o líder do nosso grupo'



Imperativo / Wrêmazé (instrumento de comandar)



kó li se / kó li mra / kó li mra-se 'que tu ...'



Ex.: kó li se wrêsie waskîô 'fale comigo'



Obligativo / Mat-zé


wa mat se / wa mat mra / wa mat mra-se 'eu preciso, eu tenho que'

kó mat se / kó mat mra / kó mat mra-se 'tu precisas, tu tens que'

tó mat se / tó mat mra / tó mat mra-se 'ele(a) precisa, ele(a) tem que'


tó mat se kñar psozé, se minlató inkó kô nók 'ele(a) precisa fazer a prova, se não ele(a) não passará de ano'



Condicional / Nózé



wa nó se / wa nó mra / wa nó mra-se 'se eu, caso eu'

kó nó se / kó nó mra / kó nó mra-se 'se tu, caso tu'

tó nó se / tó nó mra / tó nó mra-se 'se ele(a), caso ele(a)'


Ex.: tó nó se kó merékia mó bak tai, wa mra sô mnó kma bné 'se ele pagar a parte dele, eu acharei justo'



Optativo / Prózé



wa pró se / wa pró mra / wa pró mra-se 'oxalá eu, Deus queira que eu'

kó pró se / kó pró mra / kó pró mra-se 'oxalá tu, Deus queira que tu'

tó pró se / tó pró mra / tó pró mra-se 'oxalá ele(a), Deus queira que ela'



Ex.: Kó pró se bàwi simimñari tô "Deus queira que tu consiga aquele emprego"



Pretérito imperfeito / Mra tó



wa se tó / wa mra tó 'eu era, eu estava'

kó se tó / kó mra tó 'tu eras, tu estavas'

tó se tó / tó mra tó 'ele(a) era, ele(a) estava'



wa mra tó mó kumrâzé, mrâ-pa to wansó ? 'eu estava no mercado, o que houve ?'



Habitual / Simuzé



wa sim se / wa sim mra / wa sim mra-se 'eu costumo ser, eu tenho o hábito de'

kó sim se / kó sim mra / kó sim mra-se 'tu costumas ser, tu tens o hábito de'

tó sim se / tó sim mra / tó sim mra-se 'ele(a) costuma ser, ele(a) tem o hábito de'



Ex.: Tó sim mrase kran mó ñunuzé tai "ele(a) tem o hábito de comer no quarto dele(a)"



 Com isso concluo o estudo da ordem canônica do Tempo-Aspecto-Modo, finalmente tendo a forma original da língua de expressar este conjunto gramatical, as próximas atualizações serão sugestões de adição de outros tipos de TAM caso seja necessário para expressar na língua. Quem se interessar, pode checar no seguinte site para ver os possíveis modos que pretendo estudar para ver como tais serão expressos no Natú:


https://pt.wikipedia.org/wiki/Modo_irrealis



Autor da matéria: Suã Ari Llusan 





Autor da matéria: Suã Ari Llusan 



quarta-feira, 27 de março de 2024

ETIMOLOGIA DE BÊLÊTSIÊ 'FALAR' DO WAKONÃ


 Sabemos agora que bêlê é um descendente de wẽr 'falar, mostrar' em sua forma estendida ou não-finita na língua Wakonã, mas o que é um tsiê ao final da palavra ? Creio que tenha descoberto:


Proto-Jê Setentrional


*ku-kî ~ *ku-kjêr 'perguntar'


*a-kî ~ *jə-kjêr 'gritar, chamar'


 A palavra kjê na forma que surge no Jê Setentrional só pode ser descendente de uma palavra do Proto-Cerratense que teria sido pronunciada como *kja ~ *kjar 'chamar, gritar, falar, indagar', isso nos indica que o Wakonã herdou essa palavra com duas mudanças:


1) Palatalização do *k, cujo pode ter sido facilitada por sua junção com a consoante palatal *j: *kja > *tsja


2) Alçamento vocálico de a > æ > e: *tsja > *tsjæ > *tsje


 Assim resultando no que vemos no Wakonã de Antunes, isso confirma finalmente o processo de palatalização do fonema /k/ nas línguas Terejê para /c/ ou /ts/, como sendo um processo que ocorreu também nelas, assim como ocorreu no Kariri (cujo pode ter sido causado exatamente por influência Terejê na pronúncia das palavras), reconstruo para o Xocó e o Natú como:


Proto-Terejê *kja ~ *kjar


Xocó: tsia (finito), tsiar (não-finito)

Natú: sie (finito), sier (não-finito)

Wakonã: tsiê (finito), tsiêr (não-finito).




Autor da matéria: Suã Ari Llusan 



terça-feira, 26 de março de 2024

SUGESTÃO DE NEGAÇÕES DO PEAGAXINÃ


 Decidi organizar as negações reconstruídas do Natú, com isso, sugiro que as seguintes partículas sirvam de formas de negação na língua Peagaxinã:


1) -tó 'negação 1', usada comumente, ex.:


wa su m-do-tó 'eu não vejo'


2) -kó 'negação 2, negação de respostas', usada somente em respostas de uma palavra só, ex.: 


P: kó we kran miapé-bé kô ? R: kran-kó. 

P: 'Você comeu todos os biscoitos ?' R: 'Não comi'


3) -tók ou -tó-kó 'negação enfática', põem ênfase, as vezes pode carregar o sentido de 'nunca' do português, ex.:


zi-tók, zi-tó-kó 'não-Jê, indígena estrangeiro, pessoa estrangeira'


we anê-tók 'nunca foi assim', ao contrário de we anê-tó 'não foi assim'


4) mâ-bi, mâ-vi, mâ-wi, mâ-p, mâ', mâ-u 'negação continuitiva', negação que significa 'nunca acaba de', ex.:


mâ-bi-sa, mâ-vi-sa, mâ-wi-sa, mâ-p-sa, mâ'-sa, mâ-u-sa 'nunca de pé', ou seja, 'inclinado, angulado, ângulo'


5) we-kó, we-k 'negação do passado', literalmente 'que não foi'


wek kña 'que não foi feito'


5) mra-kó, mra-k 'negação do futuro', literalmente 'que não será'


mrak kña 'que não será feito'


6) mra-we-kó, mra-we-k 'negação do futuro-passado', literalmente 'que ia ser, mas não será mais'


wa mrawek mimkó 'eu ia enviar, mas não irei mais'


7) mra-tó-kó, mra-tó-k 'negação do passado-futuro', literalmente 'que havia sido, que deixou de ser'


tó mratók tipia zema 'ele(a) havia sido presidente(a)'




Autor da matéria: Suã Ari Llusan 



ETIMOLOGIA DE AVÊLIA E GANDIL'Á DO XOCÓ CORRIGIDA


 Agora que tenho conhecimento o suficiente para argumentar sobre a etimologia das palavras Terejê, posso afirmar com certeza de que a-vê-lia é um descendente do Proto-Cerratense *wẽr 'falar, mostrar'


a-vê é um substantivo por si só, usando do prefixo a- da terceira pessoa genérica humana com o verbo vê, formando a-vê 'coisa de falar humana', sobrando apenas -lia, cujo talvez seja descendente do -ré 'diminutivo' do Proto-Cerratense, portanto o sentido original da palavra era


a-vê-lia 'coisa humana pequena de falar'


Aproveito para corrigir o diminutivo, pois venho usando a forma reconstruída -re, mas ao que parece, o Terejê teria herdado esse sufixo da seguinte forma:


Xocó: -lia

Natú: -lia

Wakonã: -lha, -lhe




Autor da matéria: Suã Ari Llusan 



PARTÍCULAS QUANTITATIVAS DO PEAGAXINÃ


 Assim como no Akuwẽ, as línguas do ramo Terejê tinham formas de marcar o número de um objeto ou sujeito dentro de uma frase, quando isso surge nos verbos, se chama de pluracionalidade, sendo a diferença que já mencionei antes de:


wa mra kran 'eu comerei'

wa mra kur 'nós comeremos'


 Então vê-se que os pronomes pouco trabalham para modificar a quantidade dos participantes de uma frase, quem trabalha mesmo são os verbos. Mas note que o Xerente, primo do Natú, não marca somente a partir do verbo, e sim também com partículas quantitativas que indicam ao ouvinte um número aproximado de coisas que são sendo discutidas:


Xerente


wa wat kubâ kmẽ wῖ 'eu matei porco ('pequena quantidade' de porco, marcada por kmẽ)


tahã mãt nha romsiwamnãri kmãdâk 'ele viu alguns bichos' ('alguns', marcado do nha)


Valdir mãt ka wazâ 'Valdir roçou o pasto' ('grande quantidade' de terra, marcado por ka)


Apesar de haver na língua o marcador de plural visto no nome do povo (Peagashi-NAN e Wako-NAN), eu decide não sobrecarregar esse sufixo e adotei o método visto no Akuwẽ de marcar a quantidade de algo na frase através de partículas separadas:


 Para o equivalente de kmẽ 'pouca quantidade, seletivo', eu sugiro a palavra pa / fa / ha 'pequeno, pouco', cognata do Xocó kine-fá 'pequeno' e do Panará paan 'pequeno'


Zi-hó mra pso min-pa ha 'Zi-hó escolherá os poucos que vão' ou 'Zi-hó escolherá seletivamente os que vão'



Para o equivalente de nha 'algum, alguns', sugiro mara-hô / mra-hô 'algum, alguns' em Peagaxinã:


Suan su mdo magu-shi mra-hô 'Suan vê alguns patos'



 No Kipeá temos tçohó 'muitos', cognato do Xerente kahâ 'muito(a)(s)', indicando que ouve palatalização do k > ts e alçamento de a > o, como vemos no Peagaxinã do século 20 de Loukotka e Pompeu Sobrinho, a africada /dz/ tornou-se /z/ (kradzó do Kipeá > krazó do Natú), podemos presumir portanto que a africada /ts/ tenha sofrido destino semelhante e se tornado /s/, portanto teríamos no Natú algo como só, só-hó 'muito(a)(s)', sugiro este para ter a mesma função que ka do Xerente: 


Ti-ma mi-we myta kró-ma só 'Ti-ma comprou muitos ovos'


 Por último, sugiro para a maior quantidade só-ma / s-ma / kó-ma / k-ma 'grande', cognato do Xocó a-kó-má 'grande':


Mani-gri mi-we klé i-ro k-ma 'Mani-gri pintou um número enorme/absurdo/gigantesco de estrelas'


 Portanto temos:


pequena quantidade / seletivo = pa, ha, fa

alguns = mara-hô, mra-hô

muitos = só, só-hó

muitos mesmo / demais / quantidade absurda / quantidade imensa / infinito = só-ma, s-ma, kó-ma, k-ma




Autor da matéria: Suã Ari Llusan 



ETIMOLOGIA DE PAEWÌ 'GUATAMBU, CACHIMBO'


A palavra até o presente momento me apresentou dificuldades, mas creio que finalmente encontrei as raízes cognatas que formam este composto do Jê Central:


Proto-Cerratense: *pa 'braço, galho'


Proto-Jê Setentrional: *a-bê, *jə-bêr 'ventar'


Portanto a composição no Proto-Jê Central teria sido *pa-wê 'galho de ventar, galho de soprar'


Reconstruo como:


Terejê


Xocó: pa-wí

Natú: pé-wi (baseado na forma herdada do Natú que surge no nome zi-pé 'cachimbo cerimonial', literalmente 'luz-galho' ou 'galho de luz')

Wakonã: pê-bí, pa-bí




Autor da matéria: Suã Ari Llusan 



segunda-feira, 25 de março de 2024

ETIMOLOGIA DAS PALAVRAS DO TORÉ MYSSUÊ


1) Myssuê é possivelmente relacionado ao termo micéagê 'cacique', talvez sendo um substantivo derivado da composição do prefixo causativo my- + suê, um substantivo descendente do Proto-Cerratense *-cwañ 'nominalizador agentivo', derivado de um antigo *cwañ 'chefe, líder, mestre, cacique', cujo surge no Mẽbêngôkre djwỳj 'mestre'. Portanto mi-suê 'chefiar, mestrar, comandar', no Natú mi-sue, mi-sé-a-ze, mi-bi-su e mor-vi-sha'.


2) Notúkcy de uma composição entre no + túk + c-y, cujo forma 'voz grande', sabe-se que tú(k) 'som' deriva do Tupi e c-y(e) deriva do Kariri Ye 'grande', no Natú no-túk-si, bizon-ka-ma, bzon-ka-ma.


3) Sihhêce 'filhos' deriva de Monteregê, no Natú: sihêse, se-okó, se, mi-ñe-kia, mi-ñe, m-ñe, kia, a-kia.


4) Ey-chi 'verdadeiros' deriva do Tupi (ywy mara ey = lugar verdadeiro), possui várias traduções no Natú: a-kó-ma, k-ma, kó-ma, -ma, -se, ei, -ei.


5) thálley deriva do Fulni-ô para 'oceano, mar', a tradução Natú sendo kra-ma 'rio-imenso' ou até mesmo o próprio ta-lei.


6) Ytô 'Avô Espiritual' é Fulni-ô, a tradução Natú sendo W-a-tu-se 'Avô Verdadeiro' ou A-tu-ma 'Avô Grande'




Autor da matéria: Suã Ari Llusan 



ETIMOLOGIA DE WOIKRAE 'ASCENDER'


 Essa palavra surge no Kipeá em dois contextos:


WOICRAE 'cavalgar pau'

WOICRAE-BAHÀ 'aboiar'


 Nos dois casos, vemos que a palavra toma um sentido de movimento arriba, isto é, direcionado para cima, tanto que, eu concordo diretamente com a teoria de Martius em sua publicação, que traduziu este verbo como adscendere, latim para 'ascender, subir, erguer'. A sua estrutura e pronuncia são suspeitas de serem Terejê, mas o Akuwẽ não herdou nenhuma raiz parecida com essa em lugar algum. Foi aí que decidi buscar no Jê Setentrional, com isso, encontrei a seguinte palavra:


Proto-Jê Setentrional


*kakrə̃(j) 'axixá'


Axixá, para quem não sabe, é uma espécie de árvore bastante alta de frutos avermelhados, indicando para nós a origem dessa palavra e confirmando a teoria de Martius, kakrə̃(j) e woicrae se tratam do verbo 'ascender, subir, erguer(-se)', cujo sugiro a reconstrução como:


Dzubukuá: wanykrè

Kipeá: woikrae

Sapuyá: woykrái

Kamurú: woykrài

Katembri: woikré

Kariri-Xocó: woikrae


Terejê


Xocó: waikra

Natú: woikrà

Wakonã: woikrê




Autor da matéria: Suã Ari Llusan 



domingo, 24 de março de 2024

PEQUENO VOCABULÁRIO TUPI – NATÚ – PORTUGUÊS PARTE III


ai-mo-un-a – mi-krô, m-krô – tingir de preto


ã’-ingá – ya-ba, ya-baka, ya-bak – quebrar os dentes de, fazer dentes em (ferramenta)


ã’-in’-guy-rỹî-a – ya-ko-kri, ya-k-kri – ranger os dentes


aîo – ayó, azó, du-bé, d-bé, i-du, ti-du, t-du, du-zé, me-ré, m-ré – bolsa, bolso, saco


ãi-ok-a – mi-kó-tók, m-kó-tók – descaroçar


aipi – gri, gro, gri-gó, gro-gó, mani-gri, mani-gro, mani-gó – aipim, planta da família das euforbiáces, gênero Manihot


aipi – tà-gri, tàp-gri, tàpà-gri, tpà-gri – enchova, peixe da família dos pomatonídeos, gênero Pomatonus


aipi-makaxerá - gri, gro, gri-gó, gro-gó, mani-gri, mani-gro, mani-gó – aipim, planta da família das euforbiáces, gênero Manihot


aipi-mixira – tà-gri-zó – bodião, peixe da família dos escarídos, gênero Scarus


aí-pixuna – kru-wak-mra – preguiça escura


aipi-y – ñu-gri, ñu-gro – vinho de aipim


aîpó – kô-sô-manì, kô-sô-man, tô-sô-manì, tô-sô-man – (coisa que não está se vendo) esse(a)(s) (kô-sô-manì, kô-sô-man), isso, aquele(a)(s) (tô-sô-manì, tô-sô-man) 


aîpó-ban-a – krudì. kludì, krut, klut – fiar, tecer


aîpó-çuí – dì-tô – dali, de lá

aîpó-pe – ko-mó tô, k-mó tô – ali, lá


air-a – mi-’i, mi-’ir, mi-kré, mi-klé, m-kré, m-klé – fazer inscrições em, riscar


a-i-rĩ - kine-pa, kine-ha, kine-fa, kin-pa, kin-ha, kin-fa, kne-pa, kne-ha, kne-fa, kine, kin, kne, pa, fa, ha – miúdo, pequeno


aîruatu-bira – ruat-bi – variedade de planta


airu-katinga – wai-shi-kting – variedade de papagaio


airur-ú – mi-kré wor-zé, m-kré wor-zé – riscar a boca


airy – i-ri, i-ry – variedade de palmeira


airy-ka-ndyba – i-ri-ndy’, i-ri-zé – sítio de palmeiras airi


airy-kanga – i-ri kra, i-ri kró, i-ry kra, i-ry kró – coco do airi


airy-koré – i-ri kra-su, i-ri kró-su, i-ry kra-su, i-ry kró-su – cacho de frutos, composto, multiplicado


airy-roba – i-ri-ró’ – palmito amargo


a-îu – sa, za – fibra, nervo, nervura


a-îuã – sim, sym, hé, hé-sim, hé-sym – liso


a-îuba – si-su-ña, si-s-ña – cabelo loiro, ruivo, queixo, maduro (fruto amarelo)


a-îubena – ñim-pi-pa – esposo


aîu-byk-a – sa-ñêm, sa-ñmê, za-ñêm, za-ñmê – enforcar, sufocar


aí-uçu - za, kñà-za, kñà-du-re – papada, papo


aí-ûera – kru-wak-né – preguiça-ladina


a-îuka – a-ñô, a-ñôrô, a-ñôr – veia


a-îuká – k-pe, pe – amassar, sovar


a-îuká-rá – ya-ña-dó-zé – colar de dentes (tirado do que foi morto)


a-îuká-ukár-a – mi-ña mâ, m-ña mâ – mandar matar


a-îura – bu, kñà-bu – pescoço


a-îur’-ar-a – mi-bu, m-bu – laçar (pelo pescoço), laçar (em geral), inclinar a cabeça de fraqueza, vergar (com o peso)


a-îur-ĩ - bu kne, kñà-bu-re – colo, pescocinho

a-îur-i-bo – kñà-bu nó – pelo pescoço


aîuru – wai-shi – papagaio


aîuru-apara – wai-shi m-tó – variedade de papagaio


aîuru-eté – wai-shi-ma – papagaio grego


aîuru-gûaçu – k-ma wai-shi – papagaio-moleiro


aîuru-îuba – zi-tók su-ña – papagaio dourado, francês, inglês


aîuru-îuba-kanga – wai-shi ti-pia su-ña, wai-shi t-pia su-ña – variedade de papagaio


aîuru-katinga – wai-shi gi-wong – variedade de papagaio-moleiro


aîuru-kurau – wai-shi tu-ñó, wai-shi t-ñó – variedade de papagaio-moleiro


aîuru-kuruka – wai-shi m-kra-ra – variedade de papagaio-moleiro


aîuru-py – wai-wê-zé – cachaço, cerviz


aîxé – ko-ba-ña, k-ba-ña – tia 


aixó – dia pi-tì – sogra


aîyba – man to-ru, man t-ru – queixo, queixada (animal)


a-îyka – sik, zik, ti-re, t-re, ti-bi, t-bi – duro, rijo (mas maleável, flexível)


a-îyka - sik, zik, ti-re, t-re, ti-bi, t-bi – nervo, veia


aîyra – kró pikuâ, se-o-kó pikuâ – filha, filhote


ak – kô-sô, k-sô – (coisa que se vê) este, isto, eis aqui, eis que já


aka – ya-wi – chifre, esporão, ponta, espremido, sumo, amargo


aka – mi-ya-wi, m-ya-wi – amargar


akã – wi-bó – galho, ramo


akab-a – zû su – brigar com, gritar com, censurar


akaçanga – kasang, ksang – duvidoso, indeciso


akaẽ – kui-ken – espécie de gavião


ak-aé - tô-sô, t-sô – (coisa que se vê) aquele(a)(s) mesmo(a)(s)


akaî! - ràmi – ó! Ai!


akaiá – sa-zé – útero, madre


akaîá – kró-kaza – cajá, fruto da cajazeira, árvore da famílai das anacardiáceas, gênero Spondia


akãi-a – wa-pe, wa-he – tocar (sem agarrar)


akaiá-katinga – sa-zé gi-wong – variedade de cedro


akaî-ara – ya-wi-pa – chifrudo


akaîu – kra-ka-tì-su-ña, kazu – caju, fruta do cajueiro, da família das anacardiáceas, gênero Anacardium, ano, cauim ou vinho de cajueiro


akaîu-akaîá – sa-zé kra-ka-tì-su-ña – castanha do caju


akaîu-katinga – kra-ka-ti-su-ña gi-wong – variedade de cedro brasileiro


akaîu-tĩ - kra-ka-ti-su-ña-gó – castanha do caju


akaîu-tebirõ – kra-ka-ti-su-ña le – caju estragado


akaîu-tyba – kra-ka-ti-su-ña-zé – cajueiral


akaîu-y – kra-ka-ti-su-ña-ka – vinho de caju


akaîu-yba – wi-kazu – cajueiro


akakab-a – zû su – censurar, repreender


akã-mbu-açaba – mi-bu-zé, m-bu-zé – fita, tira


aka-mbu-ar-a – mi-bu su, m-bu su – enastrar, enlaçar, entrelaçar 


aka-mby – ya-bi – vão entre as pernas, forquilha


aka-mbyra – wi-bó – galho, ramo


aka-momby-çyk-a – mi-bu su, m-bu su – enastrar, enlaçar, entrelaçar


aka-mundu-bora – ti-pia-mâ, t-pia-mâ – febril


aka-munduka – ti-pia-mâ, t-pia-mâ – febril


a-kanga – ti-pia, t-pia – cabeça


a-kan’-gá – mi-ti-pia, m-ti-pia -  quebrar a cabeça


a-kanga-çoiaba – ti-pia-du, t-pia-du – carapuça de penas, chapéu


a-kanga-çy – ti-pia-nu, t-pia-nu – dor de cabeça


a-kanga-gûá – ti-pia-pa, t-pia-pa – cabeçudo, saliente

a-kanga-gûá – son-ku-pi, son-kpi – cacete, clava, maça, porrete


a-kang-aiba – t-pia-si-krà – cabelo crespo


a-kang’-aóba – ti-pia-kuñà, t-pia-kñà – carapuça, touca


a-kanga-t-ara – ti-pia-zé, t-pia-zé – cocar


a-kang’-ayba – ti-pia-le, t-pia-le – cabeça má, doido


a-kan-é-kyî-a – ti-pia-si rì – arrancar os cabelos, puxar os cabelos


a-kang’-i-apé – ki-ti-pia, ki-t-pia – crânio

 

a-kang’-nhé – ti-pia pri, t-pia pri – perder-se


a-kang’-ok-a – ti-pia-si ba, t-pia-si ba – cortar os cabelos de


a-kang-uçu – ti-pia-ma, t-pia-ma – cabeça grande, cabeçudo


a-kang-ûera – we ti-pia, we t-pia – caveira, ex-cabeça


a-kang-u-paba – ti-pia-ñêm-zé – almofada, travesseiro


a-kang’-u-yra – ti-pia-ze-ya, t-pia-ze-ya – descoroçoado, imobilizado de desânimo, inerte


a-kan’-nhinana -  ze-ti-pia-le, ze-t-pia-le, zi-ti-pia-le, zi-t-pia-le – pessoa adoidada, agitada, delirante


aká-nundu’ – ti-pia-mâ, t-pia-mâ – ter febre (com delírio)


akapé – bak kapé, bak kpé – pedaço, chapa, posta, barriga, parede abdominal, ventre


aka-pora – ya-wi-ba – sabugo de milho


akã-pyra – kñà-son – ponta


akará – tàp kra – cará, peixe da família dos ciclídeos, gêneros Geophajus


akará-ãia – tàp kra ya – peixe-cão, da família do caracídeos, vários gêneros


a-karãi-a – krañ – cortar o cabelo de, tosquear, roer osso


akará-muku – tàp kra gi-pa – peixe-porco, da família dos monacantídeos, gênero Monacanthus


akará-paraguá – táp kra wa – acaré-papagaio, variedade de cará


akará-peba – tàp kra pe – variedade de cará


akará-pinima – tàp kra kré – variedade de salema


akará-pitinga – tàp kra kñà-gó – variedade de cará

akará-pixuna – tàp kra mra – variedade de cará


akará-puku – tàp kra wó – acará comprido


akará-tinga – tàp kra gó – variedade de cará


akará-xixá – tàp kra né-tók – áspero grosso, rugoso


akará-una – tàp kra krô – variedade de acará


akará-y – ka tàp kra – rio dos acarás


akará-y-embó – ka-re tàp kra – arroio dos acarás


akar’-i – tàp kra-re – acará pequeno, da família dos ciclídeos, gênero Loricaria


akar’-i-çoba – tàp kra-re su-tó – erva-capitão, da família das umbelíferas, gênero Hydrocatyle


a-katu – pe-ré pê, p-ré pê, pe-lé pê, p-lé pê, pe-ré hê, p-ré hê, pe-lé hê, p-lé hê – sair bem


a-kã’-tyrá – pre-a’ ksu shi – capelo de ave, topete


akayã – kôn – macuco, ave da família dos falquinídeos, gênero Herpetoteres


aka-i – ka zû – rio da briga, rio da rixa


akãy-á – kra-kó-ma, kró-kó-ma – fruto de caroço cheio ou graúdo, cajá fruto da cajazeira, árvore da família da anacardiáceas


aké-kẽ – zó-mra-ñe ké-ken – variedade de formiga


akirá – m-ta-du – cata-piolho, nome vulgar do dedo polegar


akó – kró-zé – virilhas


akó-aba – si kró-zé – pêlo do púbis


akó-ti – sôm-pa, ñôm-pa – cutia


akó-ti-pura – sôm-pa da-klu, ñôm-pa da-klu – esquilo, caxinguelê, roedor da família dos ciurídeos, gênero Sciurus


akó-ti-r-anha – ya sôm-pa, ya ñôm-pa – dente de cutia


akuá – son – a ponta, a esquina


akuãîa – men, man, men-zi, man-zi – pênis


akuãi’-bae – men-zi-kîô, man-zi-kîô – macho, homem


akûara – ti-mâ, t-mâ – febre


aku’-aíba – ti-mâ-re, t-mâ-re – morno, tíbio


aku’-bora – ti-mâ-tì, t-mâ-tì – animoso, caloroso, esquentado, quente


akuí – kra, kla – seco, enxuto


a-kûia – si-bu, z-bu, s-pu – calvo


akura-ã – kra-’an – baía, enseada, poço de rio, remanso


akuré-ĩ - kré-’in, mra du-tì – que tem protuberâncias, agitado, sacudido


akuré-ĩ - kré’in, ràn-ma – agitar, sacudir


akuru-y – ka bak kia – rio dos seixos


aky – aga – ó, ai (vocativo de dó, dor, medo ou zombaria, falado pelas mulheres)


aky-ky – zi-ku, z-gu – variedade de bugio


aky-ma – zi-ku-ma, z-gu-ma – variedade de bugio, molhado


aky-pûem-bo-ura – ñim-pe, sim-pe – rastro, vestígio, seguir rastro, investigar, rastrear


akyra – kra-tan, kró-tan – novo, cru, verde (coisa redonda


akyr’-ara – mi-p-ré, m-p-ré, mi-p-lé, m-p-lé – aborto, abortivo


akyr’-ar-a - mi-p-ré, m-p-ré, mi-p-lé, m-p-lé – abortar


aky-tã – mra-mu – grão (de sal, pimenta, etc…)


aky-tã-bûera – we mra-mu – miudeza, resto


am-a – sa, za, da sama, zama, dama, sam, zam, dam – estar de pé parado, ficar com, erguer-se


amã-beraba – ta-ka-por, ta-ka-wor – raio, relâmpago


amã-çununga – ta-mra-mê – trovão


amana – ta, se-hoi-zé ka – chuva, água da chuva, nuvem d’água


aman-a – pre-sa, ple-sa, m-tó, k-du – amarrar, cercar, enrolar, envolver


amana-çy – ña-tka – ave amazônica, mensageira da chuva, mãe da chuva


amana-îara – sa-ta, s-ta – manda-chuva, o senhor da chuva


amana-îé – mra-su – reunião, convocar para guerra, convidar para viagem, avisar, mandar recado para a guerra, mandar para a reunião, convidar para reunião, convidar para encontro


amana-r-y – t-ka – água da chuva

amana-y-ó – ta-wê-pa – que vem das chuvas


amand’-aba – kra-to, kró-to, to, tó, to-ngì, to-ng, tó-ngì, tó-ng – círculo, roda, rodeio, arredondado, circular, redondo


amand’-u-îu – diu to-ng – novelo de algodão


amand’-y-bá – ta-kia – chuva de pedra, granizo, saraiva


amand’y-kyra – ta-sim, ta-sym, ta-sim-hé, ta-sym-hé – goteira de chuva


aman’-îu – endiu, diu – algodão, da família das gossipiácveas, gênero gossipium


aman’-pituna – ta-mara, ta-mra – nuvem carregada, tempo escuro


amarana – sahó – quieto


amaran-a – sahó – estar quieto


amatiá – sahé – vulva, vagina


ambaba – sa-zé, za-zé, da-zé, sama-zé, zama-zé, dama-zé, sam-zé, zam-zé, dam-zé – lugar


ambaba - sa-zé, za-zé, da-zé, sama-zé, zama-zé, dama-zé, sam-zé, zam-zé, dam-zé – lugar, tempo modo de ficar de pé


ambaré – zó-mbaré, zó-mbré – lagartixa, réptil da família dos geconídeos



Autor da matéria: Suã Ari Llusan 



sábado, 23 de março de 2024

PEQUENO VOCABULÁRIO TUPI – NATÚ – PORTUGUÊS PARTE II


aé – siro-ba, siro-baka, siro-bak, sro-ba, sro-baka, sro-bak – parte mortal, parte vital


aé – bana-hô, bna-hô – outro, outrem, diferente, mas, se não


aé – só, só-ma, s-ma – e (conjuntivo), aquele(a)(s), mesmo, aquilo, ele próprio


a-é – wa su yó, wa su mê, wa su wê, wa su wêrê, wa su wrê – eu digo


aé-aé – tó – ele(a)(s), mesmo, aquele(a)(s)


aé-bae – nó hóm – justamente


aé-çerã ipó – tó wê mnó – e parece que


aé-î-bé – mra tó mñe – logo então


aé-ipó – só nó-pa – e no caso que


aé-ipó-mã – só nó-pa-tók – se não fosse


aembé – mbé, bé – áspero


aé-mbé – t-bé, kesan, ksan – torrar (milho, etc)


aembé-é – mbé-tók, né – afiado, amolado

aembé-é – mbé-tók, mi-né, m-né – afiar, amolar, aguçar


aemo ? - só mra-bé kô ? - e com tudo isso ?


Aé mo (?) – mnó nó (condicional afirmativo) , só t-anê-pa ? (condicional interrogativo) – e assim ?, como se


aé-n’ipó – bna-tók-pa – e parece que


aé-pe – kmó b-ai (aí), mra tó (então), kmó t-ai (lá, nele, naquilo), kmó t-ai-ma (lá mesmo) – aí, então, lá, lá mesmo, nele, naquilo


aé-pûer’-abé – mra-tó-bó – desde então


aé-r-é – kô-war, kô-par – depois disso


aé-reme – mra tó – então


aé-reme-bé – mra-tó-siñan, mra-tó-sñan – enquanto isso, entretanto 


aé-reme-é – mra-tó-pa – então é que


á-eté – pê-ma, hê-ma – aprimorado, fino, ótimo


aé-te-pe ? – só-ma-pa ? s-ma-pa ? - e ?, acaso ?


agar’-yba – wi-ka-le, wi-k-le – árvore do veneno


agoá-çem-a – dié, wa-sem – achar, encontrar


a-gûá – pru-wa, plu-wa – inchaço com corrimento


agûá-’çá – wa-sa, wa-za, poñé, pñé – amante, bastardo, concubina


agûá-’çá-y – pñé-ka – nome de um espírito


agûá-í -  pru-re, plu-re, pru kne, plu kne – cascavel, guizo


agûãî-a – wañ-wor-zé – morder com as gengivas


agûá-i-xyma – pru-re-he – malvaisco (planta medicinal)


ag-û-á-miranga – mra-ñim-su, wa-mrang – bracelete de penas 


a-gû-’ana – mra-ñim-su, wa-mrang – bracelete de penas 


a-gû-á-pé – wa-pé, pru kmó ka – golfão, nenúfar


a-gû-á-pé-a-çoka – wa-pé-sok, suk pru kmó ka – jaçanã


a-gûará – zago-pa, zgo-pa, ba-shi-u – cachorro-do-mato


a-gûará-ç-aba – zgo-pa-zé – espécie de formiga


a-gûará-’ça-uçá – sip kñà-ti zgo-pa – variedade de caranguejo


a-gûarãi-a – su, zu – brotar, germinar


a-gûará-kaba – zgo-pa sa – tipo de formiga


a-gûará-kyynha – zgo-pa kró-ma – erva-moura


a-gûé – kne-ma – médio, meio, um pouco, menos do que metade, pela metade, cintura


a-gûé-á – kne-ma – eixo, molar (dente)


a-gûé-á pó-py – tru-so wong – dente do siso


a-gûera – si-ma, zi-ma – cabeleira (separada do corpo)


a-gûé-y – ñim-su-ma – olá!


A-gûy – si-m-né-tók  - ó (vocativo, perda ou esquecimento)


A-gûy-a-gûy – pró wong – cambalear, vibrar


ahẽ – de-si’, a-si’ – fulano (cujo nome esqueço)


ahẽ! - wê né! - ó! upa! veja isso!


aí – wonge, wong – mal


aí – kru-wak, kru-bak – bicho-preguiça


aí! – yâ! – ó minha mãe! Senhora! Mano!


aîa – za, kñà-za, kñà-du-re – papada, papo


aîa – wa-tì – ácido, azedo


ãîa – tru-so, ya – dente


aîa-çy – wa-tì, za-sy – ácido, acre, azedo, de cheiro forte


aîa-ká – kró-za-sy-bak – jaca (fruta)


aîa-pé – kuñà, kñà, kurà, krà – casca, casco, superfície, tez


ãîa-poã – ya-so, ya-zo – dente canino, presa


a-î-ar-a – sa, kñà-ba-sa – cair, embarcar, nascer


aí-aryîa – n-atu pikuâ, t-atu pikuâ – avó


aiba – kñà-wong – estragado, impraticável, mau, ruim


aíba – mara-ma-zé, mra-ma-zé – brenhas, matagal, aflito, velho


aib-ara – mra-ma-zé ka – parte de cima da brenha


ãi-bara – ya dié-tók – dentes desencontrados


ãi-ba’-ũ – ya-tók, tru-so-tók – sem dentes, banguela


aib-é – vé – nome de uma concha bivalve


aib-é – ai-vé, wonge-tì, wong-tì – coitado, desprezível, vil


aib’-ĩ - ai-vin, wonge-tì, wong-tì – coitado, desprezível, vil


ãi-bi’-ry-ryîa – ya-krì-ti-ma – risonho


ãi-bi’-tir-a – ya-krì – arreganhar os dentes


aîb-ó – vó, kto-né, kto-sô, kto-zô – agourar, prognosticar


ãi-bora – sim-so, ñim-so – dentada (marca)


ãib-uçu – ñêmê-wong. ñmê-wong, ñêm-wong – cercado grosseiro, mal feito, tosco


aí-çaba – ñim-me – marca, risco, traço


aiçó – pê-ña – bem feito


ai-çy-yra – a-ña kmó dia – tia materna


aîé – ba, baka, bak – atalho, corte, pressa, às pressas, assim é, certamente, é verdade, sim


aîé-é – bak-ñó, bak-wê – dizer que sim, dizer simultaneamente


aîé-é-nhé – bak-ñó, bak-wê – consentir


aîé-é-nhé-eyma – bak-ñó-tók, bak-wê-tók – negar


aîé-i – su-da, s-da, s-ta – através de, de revés


aîé-r-e-ba – sé-re-wa, zé-re-wa, s-re-wa, z-re-wa – variedade de arraia


aîé-r-e-ba -  sé-re-wa, zé-re-wa, s-re-wa, z-re-wa – desimpedido, liso, raso, redondo e igual


aîré-r-e-bĩ - sé-re-wa, zé-re-wa, s-re-wa, z-re-wa – liso, raso


aí-gûera – i-wer – rebotalho


aí-gûyra – wi-kró-’ai, wi-kló-’ai – parte de baixo da brenha


aîîá -  ai-za, be-pa – colhereiro


ai-i-poan – pró, kto mi – adiantar-se


aîk-a – pe, pe-’ik – amassar


aiká – tàp ika – boto


aí-kûara – kru-wak-zé – refúgio das preguiças


aí-mirĩ - kru-wak-re – preguiça pequena


ai-mo-anhan-a – mi-dé, m-dé – afugentar


ai-mo-kong-a – ti kró, ti kló – engolir, papar


ãi-mytera – ya-mte – dente incisivo, diantero.




Autor da matéria: Suã Ari Llusan 



PEQUENO VOCABULÁRIO TUPI – NATÚ – PORTUGUÊS PARTE I


 O seguinte vocabulário é uma lista de palavras adotadas e adaptadas do Tupi para o Peagaxinã, além de incluir também as traduções que utilizam dos morfemas nativos do Natú que foram resgatados.


Tupi – Natú – Português


á – kró-’a, kra-’a, mi-kró, mi-kra, m-kró, m-kra – frutificar, dar frutos


ã – kóhô, kô – este(a)(s), isto, eis aqui, eis que já


aan – mara-'ân, mra-’ân, ze-’ân, zi-’ân, bzon-’ân – nada (mra-’ân), nenhum (bzon-’ân), ninguém (ze-’ân, zi-’ân)


aang’-aba – mara-'âng, mra-’âng – imagem, figura, medida, sinal, planta (desenho)


aanga miçá – mra-’âng mi-tu, mra-’âng m-tu – celebrar missa


aang’-ara – mra-’âng-pa – tentação, tentador, demônio


aan-i – ân-tók-ma – absolutamente não


aba – si, zi, kua, pre-awa, pre-a’, pre-wa – cabelo, pelo, pena, pluma


ab-a – sat-’a’, sa-a’, sat, sa, pot, po, pot-a’ po-a’ – cortar, abrir


aba ? – ze-pa, zi-pa – quem


abá – ze, zi, têrêze, têrêzi, atêrêze, atêrêzi, atêze, atêzi – indígena, pessoa, povo


abá-abá – ze-ma, zi-ma – multidão


abá-abá ? – ze-ma-pa ? zi-ma-pa ? – quais as pessoas ?


abá-abá-mbaé ? - mra-ze-ma-pa ? mra-zi-ma-pa ? -  de quem ?


abá-amó – bizon-hô, bzon-hô – alguém, certa(s) pessoa(s), algum


abá-bae – ze-pa, zi-pa – quem


abá-eçá-bi-bae – ze-do-tók, zi-do-tók – pessoa cega


abá-eté – kma ze, kma zi – pessoa civil, honrada, de valor


abá-gûyr’-apara – ze-sabue, zi-sabue – arco indígena


ab’-aiba – mara-i’, mra-i’ – confuso, difícil


abá-ité – ze-wonge, zi-wonge, ze-wong, zi-wong – pessoa disforme, medonha, terrível


abá-kanhema – ze-kñem, zi-kñem – fugitivo(a)


abá-karu – ze-karu, zi-karu, ze-kru, zi-kru – guloso(a)


abá-memuã – ze-tuyó, zi-tuyó – pessoa trapaceira


abá-mokõia – ze-wakañì, zi-wakañì – segunda pessoa


abá-mondá – ze-mibó, zi-mibó, ze-mbó, zi-mbó – ladrão, ladrona


ab’-ang’-aba – ze-vang, zi-vang, ze-wang, zi-wang – pessoa acovardada, desanimada


ab’-ang’-aíba – ze-wong-ma, zi-wong-ma – pessoa desprezível


ab’-an’-gatu – ze-pê, zi-pê, ze-hê, zi-hê – pessoa gentil, cortez, distinta


abá-nhand’-aba – ze-mra-bi, zi-mra-bi – corrida de gente, evento de corrida


abá-nhé – ze-ñé, zi-ñé – pessoal civil, leiga


abá-nheeng’-a – ze-wor-zé, zi-wor-zé – língua do povo Natú


abá panema – kran-pa ze – antropófago


abá-pûera – ze-we, ze-ve, zi-we, ze-ve – que foi gente, ex-pessoa, monstro, demônio


abá-pyá – ze-mra-ñan-kró – entranhas de gente


abá-pyra – ze-pa, zi-pa, -pa (sufixo) – quem


aba-r-á – si-kré, si-klé – pelo manchado, variegado


abá-rambûera – mra tó ze – pessoa que havia de ter sido


abarana – mara-monó, mra-monó, mra-mnó, mara-mnó – coisa que parece (mas não é)


abá-r-é – ze-dé, zi-dé, z-dé – amigo da gente, pessoa sobrenatural


abá-r-é-gûaçu – ze-dé-ma, zi-dé-ma, z-dé-ma – bispo, prelado


abá-r-é manduara – z-dé sim-né – memória ou recordação do padre


abá-ré-bebé – z-dé hó-pa – padre que voa


abá-r-ok-a – ze-krì, zi-krì – casa indígena, oca


abá-r-îyra – ze-té, zi-té, s-té – sobrinho do indígena


aba-ti – zi mani-gri – cabelos brancos ou aloirados


aba-ti-ĩ – ‘a-mani-gri-re – arroz (gênero Oryza)


aba-tin-i – kró-ma, kra-ma – milho


ab’atirá – si ksu, zi ksu -  cabelos erguidos em topete


aba-ti-tyba – kró-ma-zé-bà, kra-ma-zé-bà – milharal


aba-ti-y – ma-ñu – vinho do milho


abá-tutyra – ze-a-ña, zi-a-ña – tia materna


aba-u-çang-a – si kie-tók, zi kie-tók – cabelos soltos


aba-un-a – si kabó, zi kabó, si kbó, zi kbó – cabelos pretos


abá-un-a – kobê-shino, kbê-shinô – pessoa negra, afrodescendente


abá-yby-ú – kran-pa ti – comedor de terra


abé – anê – apenas, assim, desde quem, juntamente, logo depois de, logo que, simultaneamente


ab’-ebó – si-krà – cabelo eriçado, apressado


abé-no – anê-pa – assim que, logo que


ab’-i – si-re, s-re – agulha, cabelinho


abi-r-u – ksu-ma – cheio, farto, repleto


ab’îu – tipia-ta, tpia-ta – catar a cabeça de


ab’-oó – si-’ô – lanugem, penugem, aspereza, áspero


aboy – zó-kine-ti, zó-kne-ti – minhoca (vermiforme)


abura – wra – respiração solta, resfôlego


abŷ-ara – kopa-pa, kpa-pa, kowa-pa, kwa-pa – aquele que erra


aby-î – kopa, kpa, kowa, kwa – errar, não acerta em, transgredir


abyaka – bzon-gi – bodum, cheiro de suor ou de roupa suja


aby-a-r-a – banahôya, bana-hô, bna-hô – diferente de


aby-a-r-eym-a – bana-tók, bna-tók – semelhante a, parecido com


aby-byra – kñe krà – arrepiar-se de frio


abyky – bakiribu, bkiribu, baki, bki – escovar, pentear, tocar, apalpar, manusear 


abyky-aba – bki-zé – carda de fiação


abyr-a-eym-a – bana-tók, bna-tók – semelhante


abyr-a-r-u – ñikro-tì – bolorento, mofado, úmido


açaba – sim-sa’-mi, sim-asa’-mi -  recepção, tomada


açaba – sa’-mi-zé – lugar, tempo, modo, meio de tomar


açab-a – kmi – atravessar, passar, riscar o corpo de tintar, transpassar


açab-a-pe – kmi sô – passar para


açaîé – su, kra-su, kró-su – ao meio dia


a-çang-a – mu, mu-ñe-te, mu-ñe, m-ñe = curto, rechonchudo


a-çang’-uçu – m-ñe-ma – rechonchudo, fofo, bonitinho


açapab’-a – kmi-zé – lugar, tempo, modo, meio de passar


a-çara – mi-ta-pa, mta-pa – recebedor, recipiente


açatunga – mi-ka-né, m-ka-né – nome de uma planta


açé – ze-ma n-ai, zi-ma n-ai – da gente, de todos nós


açẽ-açẽ – bzon-ka sem - vociferar 


açẽ-açema – ñim-bzon-ka – gritaria, barulheira, algazarra


açé-anga – ze-ma-’âng n-ai, zi-ma-’âng n-ai – sombra da gente, nossa sombra


açé-be – ze-ma kmó n-ai – a todos nós, para nós todos


açéia – bzon-wó – costas do corpo


açema – bzon-ka – grito


açem-a – bzon-ka – gritar


a-çem-a – sem, pré, plé – sair


açé-oka – bizon-bu, bzon-bu – garganta, goela


açé-oka-ãia – wor-zé ka – céu da boca, palato, úvula


açé-ó-kytã – bu-kse – nó da garganta, pomo de Adão


açiab-a – ba, baka, bak – partir, dividir, diminuir, repartir, quebrar


a-çó-cé – ksu – abundância


a-çoçé – sonsé, sansé, ka – em cima de, por sobrenatural


açoí – krì-kó, mi-du, m-du – abrigar, cobrir, tampar, tapar


açoîaba – mi-du-zé, m-du-zé – carapuça de penas, abrigo, cobertura, manto


açoîab’-ok-a – m-du-ña – descobrir, destampar, tirar a tampa


açu – w-asu, n-asu, y-asu, t-asu – esquerda, lado esquerdo, mão esquerda


açu – a-kó-ma, kó-ma, k-ma – grande, grosso


açub-a – zawi, zawi-ka – amor, amar


a-çu-çura – denan-tì – coalhado


a-çura – sra du – altibaixo, corcova, lobinho, lombada


açu-rema – kma-po gi-kó – veado catinguento


açy – ti-nu, t-nu – dor, dolorido, penoso


açy – ti-nu, t-nu – doer, doer a, ser difícil, ser trabalhoso, pesar


a-çyma – sim, sym – liso, escorregadio



Autor da matéria: Suã Ari Llusan 



quarta-feira, 20 de março de 2024

SRAN-BU / ROÇA DOS DESEJOS


Português


 Um povo havia chegado em um humilde pedaço de terra do Opará, decidiram que lá seria seu lar. Uma família do clã Bu se responsabilizou pela plantação de vegetais e frutos da aldeia. algumas semanas se passaram e os poucos produtos que eles haviam plantado haviam se multiplicado aos montes, muito mais do que havia sido plantado. Os membros do clã Bu pensaram que haviam errado os cálculos, mas não reclamaram da abundância e colheram o fruto de seu trabalho.


 Outra vez chega a época do plantio e eles decidem começar a plantar, mas dessa vez, quando as semanas necesárias para o crescimento se passaram, uma abundâncias de frutos e vegetais que não haviam sido plantados por eles nasceram. Hi Bu, chefe do clã, percebeu que aquela terra era abençoada e começou a experimentar para descobrir como funcionava, depois de algum tempo, percebeu que a terra atendia aos desejos daqueles que ofereciam sementes de determinadas plantas e outros produtos da terra, chamou aquele local, que batizou posteriormente a aldeia, de Sran-Bu 'Roça dos Desejos'.


 O clã Bu inicialmente usufruiu muito dessa benção, oferencendo em um altar (jirau), com folhas da palmeira licuri servindo de cobertura, seus melhores produtos resultados da benção, porém, o uso exagerado da terra a enfraqueceu junto com sua benção e os produtos começaram a perder tanto a qualidade quanto a quantidade, Hi Bu estabeleceu normas na aldeia que chamou de sô kto "observar adiante", que visavam o controle adequado dos recurso naturais presentados pela Avó Natureza, Hi Bu inventou um método cíclico que visava restaurar a força da terra, dando tempo para que uma parte pudesse se recuperar, enquanto a outra estava em uso.


 O chefe do clã então restaurou a força da terra e a conexão com Avó, com isso, ela decidiu dar um presente ao povo, em uma noite, Gó-ña, uma moça que estava para parir, recebeu de nossa Avó uma criança abençoada, cujo Gó-ña batizou de Gri, esta era criança que viria a ser a mãe das mandiocas, Mani-Gri.



Natú


 Bihó têze mra tó wêsi mó kne bak atisêrê Opara, mra tó nusì tóhô krì t-ai. Bihó zemu rosimñê Bu we mta kto nó mnabu duhê-nan kôt kró-nan krì. Mrawase simîro mra tó kmi kôt kne simña dó kràdì mra tó kmó só-'ai, sô mrama dó kràdì. Kuñàze rosimñê Bu mra tó mè dó sétók mrasôtì-nan, só mra tó wrêtók wonge ñimiksu kôt mra tó be kró ña t-ai.


 Kralô hô we su wêsi kralô simkrà kôt tó su nusì tu krà, só kralô kóhô, nó simîro-nan wañidì dó ñimmrama mra tó kmi, ksu kró-nan kôt duhê-nan mra tó kràdìtók dì t-ai mra tó sa-nan. Hi Bu, dó mña rosimñê, we t-ubi dó tóhô srê haiwêdì, kôt we tu dó dié mnó mra tó ña, war mrawase kralô, we t-ubi dó srê mra tó mta kmó sô sran-nan dó kó-nan mrasa-nan nusìdì atua-nan, kôt hô simña srê, we ka tóhô ru, dó kósé krì, Sran-Bu.


 Rosimñê Bu nó tu we mta wê kóhô haiwê, we mi kó mó bamê, su wisementia su we mi du, simña hê t-ai dì haiwê, kmó hô, simtu sahótók srê we mta kródì haiwê su, kôt simña we mi tu ñadó simhê kôt simdu t-ai, Hi Bu we srê próhê-nan mó krì dó we ka sô kto, dó mra tó sô simsahó wê mra-nan sadì bzidì dì Natu Pikuâ Simsa, Hi Bu we msô wó datodì dó mra tó sô ña tan kródì atisêrê, we mi kó kralô dó bihó bak mra tó siso nu, kmó sô kó hô mó simtu.


 Dó mña rosimñê mra tó we ña tan kródì atisêrê, kôt simsu Natu Pikuâ su, kóhô su, tó we nusì kó bihó bzi kmó sô têrêze-nan, bihó mra, Gó-ña, pikuâ dó mra we msa, we mta Natu Pikuâ s-ai bihó seokó haiwêdì, dó Gó-ña we kózé Gri, kóhô seokó mra tó mra ña grigó-nan, Mani-Gri.




Autor da matéria: Suã Ari Llusan 



SÍLABA TÔNICA, APÓCOPE E SÍNCOPE


 As sílabas de uma palavra do Peagaxinã sofrem influencia direta da sílaba tônica, quando uma parte da palavra é mais forte que a outra, as outras sílabas devem respeitar tal pronuncia, isso causa reduções na estrutura do lexema, fazendo com que a palavra se torne, em muitos casos, monossilábica.


 O primeiro processo é a apócope, causado primariamente por sílabas tônicas paroxítonas, que por si só, são normalmente causadas por vogais longas:


1) *mãrῖ > mâri > mâr 'matar.PL'


2) Yurôpa > Yurôp 'Europa'


3) sôka > sôk 'lágrima', literalmente sô-ka 'ver-água'


 O segundo processo ocorre de forma comum na língua, visto que sua sílaba tônica majoritária é a oxítona, isto é, a última sílaba da palavra, isso causa redução das sílabas anteriores, principalmente em palavras dissilábicas, criando variantes monossilábicas destas:


1) ko-TO 'rumo-olho' > koto, kto 'adiante, frente'


2) si-ÑA, si-ÑAN 'continuar, suceder' > siña, siñan, sña, sñan 'continuar, suceder'


3) ta-ka 'chuva-água' > ta'a, tka 'água, rio'




Autor da matéria: Suã Ari Llusan 



MARCAÇÃO DO POSSESSIVO NO PEAGAXINÃ E O USO DA POSPOSIÇÃO AI


 Existem duas formas de marcar o possessivo no Peagaxinã, o primeiro é usando a preposição -tì:


a-tì 'meu, minha'

o-tì 'teu, tua'

i-tì 'dele(a)'

wa-tì 'nosso(a)'

o-tì 'vosso(a)

i-tì 'deles(as)'


 A segunda forma usa da posposição -ai, cujo é conjugada com os seguintes prefixos:


s-ai 'meu, minha' (s- < si- 'reflexivo', aqui extendido em seu uso para representar a primeira pessoa do singular)

b-ai 'teu, tua' (b- < ba- 'prefixo de segunda pessoa do passado')

t-ai 'dele(a)' (t- < ti- 'prefixo de terceira pessoa correferencial')

s-ai-nan 'nosso(a)'

b-ai-nan 'vosso(a)'

t-ai-nan 'deles(as)'


Portanto teríamos os seguintes exemplos:


1) krì kô t-ai-pa ? "essa casa é dele(a) ?"

kóhô, t-aidì "sim, é dele(a)"



2) krì tàp s-ai we su kepé. "meu aquário está limpo"



3) wrêza b-ai-nan su wê! "vossas histórias são belas!"




Autor da matéria: Suã Ari Llusan 



CONTO DO PIRAPOTI / SIMIWÊ TAP-BUÑADU


 Nas águas do São Francisco antes do represamento das grandes barragens, tinha peixes de todo o tamanho, histórias com as peripércias dos pescadores do rio não faltava nas aldeias, em cidades e povoados. Faz muito tempo que ocorreu uma notícia de um grande peixe assombrava os ribeirinhos do Baixo São Francisco, atacava qualquer pessoa que fosse ao rio . Numa manhã uma índia foi de nossa tribo foi encher seu poti no rio, um peixe enorme engoliu o vasilhame, a mulher deu um grito que chamou ateção de toda a tribo. Os indígenas desceram o barranco do rio, ela contou o ocorrido, o grande peixe engoliu o poti achando que era eu, estou aqui tremendo de medo escapei por pouco. A notícia correu na aldeia, ninguém queria mais ir ao rio, com medo daquele monstro descomunal . Passou vários dias os pescadores de uma cidade distante, acharam um grande peixe morto, boiando no rio, levaram até as margens, suas escamas era do tamanho de um prato, sua barriga era enorma. Quando abriram o peixe, encontraram um poti de barro, assim como falaram, os pescadores dizeram que o peixe morreu  de fome. Pelo que contaram o poti que o peixe engoliu, ficou com a boca para a frente, a comida que ele comia ficava no vasilhame de barro. O tempo foi passando o peixe enfraquecendo sem alimentar-se, toda comida ficava retida no poti, o peixe terminou morrendo. Pirá na linguagen nativa é peixe, poti nós chamamos o vaso ceramico feito pelas mulheres Kariri-xocó. Assim ficou a história do Pirapoti o peixe vaso que engoliu o poti, nunca mais apareceu outro peixe desse não, o rio estar secando, o homem fez barragens em todo São Francisco.



Natú


Mó tka-nan Opara, ta simiktotók simsahó akóma, mra tó tàp-nan robà prédu t-ai, wrêza-nan su patók tàpmakîô krananan mra tó wañitók mó krì-nan, kdo krì-nan dó kia, kdo simze-nan. Kralô sóhôdì dó we mi eiñe akóma tàpà mra tó dó kñiza bekîô-nan kró Opara, mra tó kra robà aze dó kmi sô tka. Mó bihó we, bihó atêrêze pikuâ watì têrêze-nan we tê mtó poti mó tka, bihó tàp akóma we kran buñadu, pikuâ we ka dó miubi robà têrêze-nan. Têze-nan mra tó kradió sdabe tka, tó ve wê sóhódì, táp akóma we kran poti mra tó mi mè dó wa, we mi popo dì banaré, we ede nó kne. Eiñe we tê mó krì, zetók mra tó sran tê sô tka, su banaré dì tóhô añiwonge mramazan. We kmi sóhô shulô, tapmakîô-nan bó krì dó kia manì mra tó dié tàpà akóma ñadó, we mi woikràbaha mó tka, mra tó mita krabe du, kuràkródì-nan mra tó prédu bihó ariba, itì mdu mra tó mrama. Nó mra tó pmi tàp, mra tó dié bihó poti buña, t-anê mnó mra tó mê, tapmakîô-nan mra tó mê dó tàp we ñadó dì ami. Nó mra tó mê, poti dó krandì dì tàpà we tódì kto-mi, ami krandì idì mra tó mó buñadu. Kralô we mi kmi, tàp we mi mikródìtók nó krantók, robà ami mra tó mó poti, tàp we mi ñadó rembi. Pira mó wariza têrêze tàp, poti waroni we su ka bñadu ñadì dì pikuâ Montêrêze. We t-anê wrêza Tàp Bñadu dó we kran poti, bihótók têpré tàp hô mnó kô, tka we mi kra, menzikîô we ña simsahó nó Opara robà.



Autores da matéria: Texto em Natú de Suã Ari Llusan e Texto em Português de Nhenety Kariri-Xocó. 




terça-feira, 19 de março de 2024

CONTO DA FORMIGA ONCINHA / SIMIWÊ ZÓSE AMÓRÉ


O Vale do São Francisco ainda hoje guarda tradições dos povos indígenas, quando em tempos das grandes florestas que cobria toda esta região, com muita fartura de caça e pesca, doada pela nossa Avó Natureza e nossa Mão Terra. Diz a Tradição Kariri-Xocó quando os homens sai para caçar, muitas vezes não trazia nada, se valia da "Formiga Oncinha " , dizendo Oncinha...Oncinha, der a todos nós uma carninha. Daí a Formiga Oncinha com seu poderoso ferrão matava um veado, os indios após o pedido saim atraz do pequeno bichinho e lá estava o presente, a carne para saciar nossa fome, a carne era repartida entre o grupo que levava para a aldeia. Quando as florestas estava sendo devastadas pelos senhores de engenho e criadores de gado, os animais desapareceram ou foram extintos. A terra foi ocupada por fazendeiros, o rio passou a chamar Rio dos Currais, os indígenas passaram muita necesidade. Novamente os indíos recorriam a Formiga Oncinha... Oncinha ...Oncinha , der a todos nós uma carninha. A Ormiga não encontrando as matas, nem as caças, passou a ferroar o gado dos fazendeiros, que no principio foi morrendo, o dono do boi chamava os indígenas para aproveitar a carne. A Formiga Oncinha passou a caçar  boi, carneiro, cabra e porco, já que agora estas eram as caças que estava em abundancia nos campos de pastagens, as coisas foram melhorando, deixaram de destruir as florestas os animais ficaram em paz, repovoando o ambiente. As coisas mudará quando o homem respeitar o espaço dos animais das florestas, os bichos que lá viviam também deixará o homem viver em paz. Nhenety Kariri-Xocó



Natú


Numra Opara we któ sñan simu-nan têrêze-nan, nó kmó akóma rese dó budu bak robà, su sóhô ksu zóma kdo tàma, kódì dì watì Natu Pikuâ Simsa kdo watì Nadia Atisêrê. We su mê simu Montêrêze nó menzikîô-nan su kmi mar, sóhô kralô mra tó mi mratók, tó tpia dì "Zóse Amóré", we mi wrê: "Amóré, Amóré, mra mña kó bihó kranré!". Tó t-anê Zóse Amóré su kródì kruya mra tó wan bihó mrapu, têrêze, war simwari, we su môn kto su zóré, mra tó tóhô t-ai bzi, beñan dó misiwê wamî, beñan mra tó bak sda mrakó mikîô dó krì. Nó rese mra tó wêk dì sè widatomi kdo krazókîô, zó-nan mra tó sôtóktì, ñadòdì bóhô. Atisêrê we mitadì dì mnakîô-nan, tka we tó kadì Rio dos Currais, atêrêze-nan mra tó mi sóhô simwañi. Kralô hô atêrêze mra tó ka Zóse Amóré: "Amóré... Amóré... Amóré... mra mña kó s-ai bé bihó kranré!". Zóse we mi diétók mra-nan, zóma-nan, we tu mikruya krazó mnakîô-nan, dó we mi ñadó, kîô krazó menzikîô mra tó ka atêrêze dó ku beñan. Zóse Amóré we tu zómari krazó, seprun, goprun, kuré, dì kóhô zóma-nan dó mra tó simsóhô mó mra kran du, robà we mi beiwê, we mi ma wêk mara, zó-nan mra tó mi sahó, we mi mize tóhô ru. Mara mra nen nó menzikîô wêzené mrazóru, zó-nan dó ba tóhô mra wêzené menzikîô, we mi ré mó sahó. 



Autores da matéria: Texto em Natú de Suã Ari Llusan e Texto em Português de Nhenety Kariri-Xocó. 




RECONSTRUÇÃO DO PREFIXO KO- DA LÍNGUA PEAGAXINÃ


Prefixo KO- da língua Peagashinan


 Este prefixo surge preservado no adjetivo *kôbê* 'estrangeiro', nas línguas Jê Cerratenses, este prefixo indica movimento em direção a algo ou alguém, tal função pode ser vista no Akuwẽ que preserva essa palavra como a posposição *ku* 'a, ao, para, em direção a'.


 No Terejê, reconstruo tanto sua forma adposicional quando sua forma afixada e sugiro a criação de algumas palavras:


1) ko-to 'rumo-olho' > koto, kto 'frente, fronte, adiante'


2) ko-su 'rumo-com' > kosu, ksu 'ajuntar, amontoar, acumular'


3) ko-mó 'rumo-para' > komó, kmó 'para, em direção a'


4) ko-bó 'rumo-costa' > kobó, kbó 'retrair, recuar'


5) ko-mi 'rumo-andar' > komi, kmi 'atravessar, marchar, ir, andar'



Reconstruo como:


Xocó: ko-

Natú: ko-, k-

Wakonã: kô-




Autor da matéria: Suã Ari Llusan 




MUDANÇA NA MARCAÇÃO DO REALIS E DO IRREALIS DO PEAGAXINÃ


 Após algumas semanas de deliberação e muita revisão, eu decidi refazer o sistema que reconstrui para a marcação do realis e irrealis do Peagaxinã, a razão para isso é que não estou satisfeito com o que percebo como uma cópia do sistema utilizado pelo Akuwẽ sem uma justificativa forte para tal.


 Com isso, decidi sugerir para Nhenety um novo modelo, com uma interpretação nativa da própria língua para que ele expresse seu tempo de forma única, preservando e adicionado à sua identidade. Sugeri que as três seguintes palavras marcassem o tempo:


WE ou VE 'manhã', para marcar o realis e, de forma padrão, o tempo do pretérito perfeito.


Pretérito perfeito

wa bihó présu wa-ve kran

eu um laranja 1-RLS comer.SG

"Eu comi uma laranja"


SU 'queimar', para marcar o meio-dia e também o tempo do presente.


Presente

wa bihó présu wa-ve su kran

eu um laranja 1-RLS PRES comer.SG

"eu como uma laranja"


MRA 'noite', para marcar o irrealis, e sozinho para marcar o futuro da língua


Futuro

wa bihó présu wa-mra kran

eu um laranja 1-IRR comer.SG

"eu comerei uma laranja"



Os outros tempos, aspectos e modos seguem da seguinte forma: 



Presente ativo/Gerúndio

wa bihó présu wa-ve mi kran

eu um laranja 1-RLS andar comer.SG

"eu estou comendo uma laranja"



Futuro imediato

wa bihó présu wa-mra we kran

eu um laranja 1-IRR RLS comer.SG

"eu logo comerei uma laranja"



Optativo

tó bihó présu de-mra pró kran

ele um laranja NPST-IRR oxalá comer.SG

"Deus queira que ele coma uma laranja"



Imperativo

kó bihó présu de-mra miña kran

tu um laranja NPST-IRR mandar comer.SG

"coma uma laranja!"



Condicional

wa bihó présu wa-mra nó kran

eu um laranja 1-IRR se comer.SG

"se eu comer uma laranja"



Pretérito Imperfeito

wa bihó présu wa-mra tó kran

eu um laranja 1-IRR então comer.SG

"eu estava comendo uma laranja"



Habitual

wa bihó présu wa-mra sim kran

eu um laranja 1-IRR costume comer

"eu costumo comer uma laranja"




Autor da matéria: Suã Ari Llusan 




segunda-feira, 18 de março de 2024

LENDA NAMBÚ DE CAIPORA EM NATÚ


O arco e flecha é um instrumento de defesa, trabalho,  que o índio buscava sua sobrevivencia, nas caçadas, pesca e luta contra o inimigo. Com a chegada dos colonizadores o arco e flecha foi perdendo sua utilidade, substituída pela arma de fogo, com poder mais avassalador. Mesmo depois da invasão o índio caçada, guerreava uma vez ou outra com o arco e flecha, mas a espingarda foi logo um instrumento almejado pelos nativos. A diminuição das matas original, cedendo lugar para a cana de açucar, pecuária, a caça cada vez mais rara, levou o índio utilizar a espingarda nas suas caçadas. Mas a Caipora protetora das caças não gostou porque o índio estava utilizando a espingarda,  arma do branco para abater os seres da floresta. Certa vez o índio Kirino portando uma espingarda foi  fazer uma caçada na mata, chegando ao pequeno poço dágua, entrou na tocaia esperando aves silvestres. Não demorou muito chegou uma Nambú para beber água no poço, Kirino mirou com a espingarda, atirando na ave que nada sofreu . Novamente Kirino carregou a espingarda atirou mais outra vez, mas a Nambú nada sofrinha , somente balançva as asas, como estivesse sombando do caçador. Outra vez a espingarda foi carregada, feito outro disparo a aves saiu ilesa, o índio ficou com medo, nunca uma coisa dessa tinha acontecido. Kirino foi embora para a aldeia, este dia não caçou nada, contou esse história  na comunidade Kariri-Xocó, o Cacique Otávio Nidé explicou que a Caipora transformou-se  nesta ave para mostrar um exemplo ao caçador Kirino. Não devemos ussar as armas do branco para abater os animais da floresta, a espingarda faz muito barulho, incomoda a harmonia da natureza. Vai levar muito tempo até a Caipora aceitar os índios caçar com espingarda, temos que dizer a Caipora queestamos passando necessidade, precissamos caçar para sobreviver. Nhenety Kariri-Xocó.



Natú


Sabuì kôdo buìku iñaritó simikoto, simiña, mó dó atêrêze zó tó têrêmi itì kuñàba ka, mó zóma, mó tepema, mó tegudiokie sô maran. Sô simiwêsi zitók, sabuì kôdo buìku dó ti-rê isimitu, waridì nó kishamariza, su kródi akóma izan. Sabige-pa war ñimmizahi, atêrêze zó tó zóma, zó tó mari nó tu su sabuì kôdo buìku, tóñê sada sahótók iñaritó sérédì dì têrêze. Su simikinefa rese bàru, dó ti-kó ru dó butózi, simmè krazó, zóma pró hó sôtók, mido du têrêze sô tu bó sada mó izómanan. Tótì Reseba, sô zóma, mido katók têrêze dó ti-tu sada, kishamariza kañikó, dó mari iba mó rese. Tanê nó hô, atêrêze Kirino dó ti-du bihó sada mido tê mari mó rese, dó ti-wê sô ito krananan kinefa, mido sé mó abu dó ti-babañi shinan resedì. Sahótók mido wê hoipa dó kakran mó ito, Kirino mido tì sô su sada, dó ti-mikisha dó hoipa, dó mi maratók. Hô hô Kirino do midu sada, do mikisha hô hô, tótì hoipa do mi maratók, shi zó tó raran ibà, mónó dó ti-tuyó marikîô. Hô hô sada dudì, do mikisha sô hoipa, dó mi maratók, têrêze do banaré, nó bihótók mara anê do tê. Kirino do peré zu krì, kóhô shulô do zóma mratók, do mê kóhô simiwêrê mó zehó Kariri-Xocó, miséaze Otávio Nidé do mê dó Reseba tê nen mó tóhô shi dó tó simitóza sô marikîô Kirino. Watì madìtók tu kishamariza kañikó dó mari zó mó rese, sada mikra izan, tó rowasu itìhê rese. Zó mi sóhô du Reseba mihê têrêze zómari su sada, watì madì wrê sô Reseba dó wawañi, wawañi zómari dó kuñàba ka.




Autores da matéria: Suã Ari Llusan texto e Natú e Nhenety KX texto em Português 




quarta-feira, 13 de março de 2024

ETIMOLOGIA DE SADA 'ESPINGARDA, SECAR, ESTOURAR' DO KIPEÁ


 A palavra é cognata distante do Xavante tsada 'queimar, sapecar', referindo-se ao estalo das folhas ou lenha quando queimadas, esse sentido estendeu-se e e tornou-se o principal, substituindo o sentido original de 'queimar' e ganhando o sentido extra colonial de 'espingarda', que, apesar do nome, se referia ao mosquete e não às espingardas modernas, é possível que não tenhamos conhecimento de seu uso total, e na verdade essa era a palavra genérica para 'arma de fogo'.


Reconstruo como:


Dzubukuá: hadda

Kipeá: sadà

Sapuyá: sattá

Kamurú: saddà

Katembri: ada, sada

Kariri-Xocó: hadá, sadá


Terejê *txada 'estalar, estourar'


Xocó: tsadá

Natú: sada

Wakonã: çadá



Autor da matéria: Suã Ari Llusan 




terça-feira, 12 de março de 2024

ETIMOLOGIA DE ENEWI 'VIVER SOLTEIRO' DO KIPEÁ

 

A palavra ENE possivelmente se trata de uma palavra nativa do Kariri, cognata distante do Proto-Caribe *tôwinô 'um', assim sendo um numeral antigo, que foi substituído por BIHÈ após o contato com os povos Terejê. ENE-WI portanto se trata da composição de ENE 'um, só' com WI 'ir, fazer-se', portanto ENE-WI 'ir solteiro, fazer-se solteiro', assim 'viver solteiro'. Reconstruível como:


Dzubukuá: enne

Kipeá: ene

Sapuyá: enné

Kamurú: ennè

Katembri: ene

Kariri-Xocó: ené



Autor da matéria: Suã Ari Llusan 




ETIMOLOGIA DE BAERÙ 'CALCANHAR' DO KIPEÁ


A palavra segue a mesma regra vista no Xocó *tul'usô* 'olho' e *tul'uso* 'dente', -l'u e -ru significam 'coisa, lugar', indicando na fala o objeto considerado a base de um objeto menor, por exemplo, tu 'olho' + l'u 'lugar' indica 'lugar do olho', sendo o olho um elemento menor de um elemento maior, o 'rosto, face' do ser humano.


 A mesma coisa acontece em BAERÙ, onde BAE é a palavra Terejê para pé, e -RU 'lugar', portanto BAE-RU 'lugar do pé', assim indicando que o calcanhar é a base do pé, tanto que, tal sentido de 'base' é reforçado em seu uso no resto da língua Kipeá:


NE-BARÙ 'ombro', literalmente 'calcanhar do pescoço' ou 'base do pescoço'


HE-BARÙ 'tronco de pau', literalmente 'calcanhar/base da madeira'


OI-BERÙ 'progenitor, origem', 'calcanhar/base humana'


 Isso explicaria também o uso de KRA em KRABÙ 'peito' para se referir a parte do corpo, a palavra talvez tivesse sido substituída por BAE-RU em seu significado de 'base'. Com isso, sugiro as seguintes reconstruções:


Dzubukuá: boèru

Kipeá: baerù, barù, berù

Sapuyá: parú, perú

Kamurú: barù, berù

Katembri: béru

Kariri-Xocó: boerú, baerú, barú, berú


Terejê *ba-ru 'pé-lugar'


Xocó: balhú

Natú: baru, bàru

Wakonã: bélhú, bérú



Autor da matéria: Suã Ari Llusan 




segunda-feira, 11 de março de 2024

A PALAVRA KARIRI-XOCÓ PARA PORTO E A SINTETIZAÇÃO DO NOME


 Após vasculhar nos vocabulários das línguas Jê Cerratenses em busca de cognatos, seguindo a lógica de que os termos vistos são traduções próximas do que vemos no português "Porto Real do Colégio", me deparei com a seguinte palavra do Panará:


Panará: pôk 'canoa'


 O Panará, como já disse antes, é um ramo irmão dos outros dois ramos Cerratenses, o ramo Setentrional e o ramo Central, que é onde se encontra o Terejê, sabemos também que o ramo Central é caracterizado por sua tendência de estender as codas Cerratenses, portanto é previsível que pôk vire pôkô no Terejê. No entanto vemos a palavra Pôçô em Opara Tatushim Pôçô Mido, certo ? Isso confirma outra coisa que venho procurando saber se aconteceu ou não no Terejê, o Kariri possui várias palavras, cujo mencionei no passado, que passaram pelo processo de palatalização de /k/ > /ts/, como tçatè, potçò, tçambù e etc. Vemos também que o Xocó estava mediante a tal processo em comparação ao Natú como vemos em:


Natú: katuká

Xocó: txat'okè


 Agora, com esse registro, e o registro do Xocó, podemos confirmar que o processo de transformação de k > ts também é nativo do subramo Terejê, assim temos: *pôk > *pôkô > *pôcô > *pôtçô > pôçô. A palavra Mido continua com seu significado anterior de 'observar, ver', só que nesse caso, parece que o sentido não era de 'supervisar' a educação' e sim 'vigiar' as canoas, portanto:


Pôçô-midô 'vigiar as canoas', portanto 'porto'.


 Concluíndo então que Opara T-atu-shim Pôçômidô significa "Nobre Porto do Opara", cujo na forma sintetizada por Nhenety, sugere-se aqui nessa publicação que o nome em sua forma curta seja *Opashimdô*.


Autor da matéria: Suã Ari Llusan 




domingo, 10 de março de 2024

O NOME INDÍGENA DE PORTO REAL DO COLÉGIO


 Até agora mencionei sobre o nome da cidade de Porto Real do Colégio nas línguas Terejê, especificamente, aquele que derivou da língua Xocó


Xocó: Simido


 Nhenety me informou hoje que o cacique Seregê José Tenório, que conversava bastante com o Pajé Francisquinho foi informado sobre outro nome de Porto Real do Colégio, Opara Tatuchim Pôçô Midô. Analisei junto a Nhenety e chegamos a conclusão de que este nome se trata de uma tradução literal do nome em português da cidade, além de, vermos alguns aspectos das línguas Terejê em sua gramática:


(Escrito com a ortografia designada para o Natú)

Opara T-atu-shin Po-so Mido


Até agora as três primeiras palavras foram analisadas e decifradas, sendo elas respectivamente:


Opara = Rio São Francisco

T-atu-shin = 'ele(a) é velho(a), ele(a) é real, ele(a) é nobre'

Po-so = por-ao, preposição que significa 'de, do, da'


Faltando somente Mido, cujo se, essa palavra representar uma tradução do conceito de 'colégio', talvez seja uma palavra cognata do Xavante 'madö'ö 'olhar, ver, observar', se referindo ao 'colégio' como local de supervisão da educação do povo, assim sendo possivel analisar mi- 'prefixo causativo' + do 'olhar, observar, supervisar'.


Dai teríamos


Opara Tatushin Poso Mido '(Porto do) Rio Opará Real do Colégio'



Autores da matéria: Suã Ari Llusan e Nhenety KX. 




TRADUÇÃO E ATUALIZAÇÃO DE ALGUMAS PALAVRAS KARIRI

 

Pensar = me


Escolha = ti


Aconteceu = i-dsoho-kli


Depois = aboho


Dúvida = i-me-té (i- "ele" + me "pensar" + "-té "crer que não")


Obrigação = moro-yó (moro "assim" + yó "muito")


Costas = woró


Ideia = i-mená (i- "ele, ela" + me "pensar" + ná "trabalhar")



Tratar = nuddhí, nusí


Criar = nhinhó, nió


Origem = banran, barae


Conseguimos = ku-widde-kli


Pois = nó


For = verbo ir no futuro do subjuntivo = nó wi-di (nó "se, quando" + wi-dí "for")


Mantido = di-koto-li (di- "ele(a) mesmo(a)" + koto "guardar" + -li "sufixo relativizador"


Enterrado = di-kla-ti-li (di- "ele(a) mesmo(a) + kla "cavar" + ti "botar, escolher" + -li "sufixo relativizador")


Procure = dó a-widdê (dó "que" + a-widdê "tu busque")


Acostado = di-dabba-li (di- 'ele(a) mesmo(a)" + dabba "repousar" + -li "sufixo relativizador")


Assustado = di-bannanré-li (di- 'ele(a) mesmo(a)" + bannanre "assustar-se" + -li "sufixo relativizador")


Pensativo = i-me-ku (i- 'ele(a)' + me 'pensar' + -ku 'sufixo adjetivizador')


Apagar = kabbô


Creio = hi-mme (hi- "eu" + me "pensar")


Experiência = uddawitte (udda "através" + wi 'ir" + -te "sufixo nominalizador")


Parecido = benne


Porém = ibono


Apareciam = i-tepeleby-a do koho (i-tepeleby-a "eles aparecem" + do koho "então", que marca o pretérito imperfeito)


Mostrado = di-tto-li (di- "ele(a) mesmo(a)" + to "ser mostrado" + -li "sufixo relativizador")


Clareira = widdi (wi "árvore" + -di "não")


Meio = uddá, sudá


Certo = honé


Pardo = karaí iddehó tçõhó ("branco com indígena")


Outros = bannahoya-á


Abaixo = wonhehé


Fofo = kiebuppi


Lançamos = ku-tse-kli-á (pretérito), ku-tse-á (presente)


Balançando = dadinem (dadi- 'formador de gerúndio' + nem 'mover')


Alertado = di-benhe-li (di- "ele(a) mesmo(a)" + benhe "ouvido, ouvir, sinal, sinalizar" + -li "sufixo relativizador")


Comercialização = myditte (mydi "trocar" + -te "nominalizador")


Prejudicar = pewangan (pe- "prefixo causativo" + wangan "torto, ruim, mal, mau")


Entendo = hi-tá me (hi- "eu" + tá "pegar" + me "pensar")


Academia = tubae (tu "praticar" + -bae "sufixo que indica lugar")


Exemplo = itotte (i- "ele(a)" + to "ser mostrado" + -te "sufixo nominalizador")


Passaredo = kikroppiihó (kikroppi "pássaro" + -ihó "muito")


Comércio = mydi (my-di "receber-dar" > "trocar")


Vender = di nó meré (lit.: "ser dado por causa do dinheiro")


Cobrado = dikrikieihóli (di- "ele(a) mesmo(a)" + krikie-ihó "pedir-muito, cobrar" + -li "sufixo relativizador")


Forma = deddette (dedde "formar" + -te "nominalizador")


Precisa = w-eko (w- "ele(a)" + eko "precisar")


Acesso = iddhotte (i- "ele(a)" + dho "participar" + -te "nominalizador")


Parece = i-benne


Descobrimos = ku-widdhe (presente) + ku-widdhe-kli (pretérito)


Qual = odde


Missão = u-baby-tte (u- "ele(a)" + baby "enviar" + -te "nominalizador")


Futuro = dimoroddili (di- "ele(a) mesmo(a)" + moro-ddi "será assim" + -li "sufixo relativizdor")


Principal = dsebu


Degrau = pe


Eventos = idsohotte (i- "ele(a)" + dsoho "acontecer" + -te "nominalizador")


Guiando = dadimmy (dadi- "gerúndio" + my "levar")


Diversidade = idsohotte (i- "ele(a)" + dsoho "muito" + -te "nominalizador")


Celebrada = itu-kli ("alegrar-se" + -kli "sufixo do pretérito")


Ecoam = i-te-roné (i- "ele(a)" + te "vir" + -roné "frequentemete")



Autor da matéria: Suã Ari Llusan 




sexta-feira, 8 de março de 2024

ETIMOLOGIA DA PALAVRA BIDZA E BIDZO

 

Estive lendo o documento de Oliveira sobre a língua Apinajé, nele existe uma descrição do prefixo pia-, cujo surge em verbos que tem relação com ações em partes do corpo:


pia-o 'amamentar' (pia- 'corpo' + 'o 'chupar, beber')


pia-gri 'parir' (pia 'corpo' + gri 'ser pequeno')


pia-əm 'envergonhar-se' (pia 'corpo' + əm 'se levantar.NF')


 A partir disso, fui buscar no documento de Nikulin de 2020, e notei que a reconstrução dessa palavra é *pija, cujo é uma estrutura silábica muito semelhante e capaz de evoluir para o que irei falar em seguinte.


 O Dzubukuá possui a palavra bidzoho 'alguém, ninguém, todos', enquanto o Kipeá possui bidzancrò 'cara', bidzoncrà 'bocejar', bidzoncradà 'ter nojo', bidzorà e bidzoratò 'olhar pasmado', ao que parece todas as ações que ditas são derivações de movimentos do corpo, bidzo-rà seria 'corpo-tremer', mas para que o significado de olho ficasse óbvio, os Terejê teriam colocado to 'olho', portanto bidzo-ra-to 'corpo-tremer-olho', com bidzo- não funcionando como indicador de movimento geral do corpo mas se de uma temática atrelada ao anatômico, podendo funcionalmente se referir a qualquer movimento do corpo que a derivação necessitar, que nesse caso, foi de olhar pasmado, ou seja um 'movimento do corpo de espanto'.


 Bidzo-ho do Dzubukuá talvez seja bidzo-ho 'corpo-outro', portanto 'alguém' e em casos negativos 'ninguém' e de forma generalizada do primeiro significado 'todos'. Bidzan-crò é 'corpo-cabeça' e bidzon-crà é 'corpo-fazer.barulho'. Foi nessa análise que percebi que, assim como Proto-Cerratense, essa palavra se trata de um prefixo classificador da língua, marcando não só ações, mas também derivando substantivos, tal qual não é visto no Akuwẽ.


Terejê *bidza- 'corpo humano'


Xocó: bidza-

Natú: bizó-

Wakonã: bidzó-



Algumas sugestões de neologimos para o Natú:


1) bizó-ba 'corpo-estender' > 'espreguiçar'


2) bizó-wato 'corpo-sair' > 'parir'


3) bizó-wasu 'corpo-chupar' > 'amamentar'


4) bizó-ro 'corpo-queimar' > 'febre'




Autor da matéria: Suã Ari Llusan 




PREFIXO WA- DO RAMO CENTRAL

 

Alguns prefixos formativos foram analisados por Christiane Cunha de Oliveira em sua publicação "The language of the Apinajé people of Central Brazil" de 2005 da língua Apinajé, uma língua do ramo Setentrional do ramo Cerratense, um ramo irmão do ramo Central onde o Akuwẽ e o Terejê estão.


 Nesta publicação, ela argumenta sobre o prefixo ka-, um prefixo formativo que tinha função derivativa de raízes verbais, normalmente com a carga semântica de contato ou manipulação física do objeto, ou também de um índice do estado ou mudança de estado do objeto de uma forma geral.


preprek 'rápido' > kapreprek 'palmada' (contato físico rápido)

kje 'arrastar, puxar' > kakje 'coçar' (manipulação física de arrastar)

gró 'assar' > kagró 'estar quente' (índice de estado de assar)

'i 'ser magro' > ka'i 'estar afinando (de cabelo)' (mudança de estado de ser magro)


 Com isso em mente, podemos analisar este prefixo no ancestral direto do Jê Setentrional, o Jê Cerratense, cujo também é o avô do Jê Central e do Panará, nele vemos algumas variações: ka-, kap- e kam-, mas todos com o mesmo sentido herdado pelo Apinajé. Veja que o Akuwẽ também herdou esse prefixo, é na verdade um que discuti brevemente no passado quando estav argumentando sobre a relação do Akuwẽ com o Terejê.


 Neste caso, é sobre a sílaba ka- inicial átona, que no Jê Central se torna wa- (ex.: kakũm 'nuvem' > wahum 'estação seca'), e que no Natú vira ba- (*karên 'fumo' >Proto-Jê Central *wari > Proto-Terejê *wari > Natú barí 'fumo'). Ao pesquisar diretamente sobre a sílaba encontrei as seguintes correspondências:


1) Xerente: hu 'neblina' > wahu 'ano, estação seca, verão' (mudança de estado).


2) Proto-Cerratense: *karên 'fumo' > Xavante e Xerente: warĩ (rên deriva da mesma raiz que derivou o Cerratense *jarê(n) 'raiz', portanto *ka-rên 'raiz que muda de estado' ou 'raiz que é manipulada', a palavra Natú barí comprova que esse prefixo ainda existia no Terejê).


3) Proto-Cerratense *kôk e *ka-kôk 'vento' > Proto-Jê Central *wakuku/*waku 'vento, ventar' (ka- indicando que kôk 'vento' tem relação com mudança de estado, portanto ka-kôk 'sopro que muda de estado').


4) Proto-Cerratense *kanĵê 'estrela' > Proto-Jê Central *waci > Terejê *bati 'estrela' (derivado de nĵêk 'pregar, derrubar', assim sendo ka-nĵê 'enganchar, segurar', indicando manipulação física).


 Com isso, é possível ver como o prefixo foi herdado e como ele pode ser usado para derivar novas palavras:


1) Natú: mó 'a, para' > wa-mó, ba-mó 'mudança de estado para' > 'adaptar, traduzir'


2) Natú: kro 'quente' > wa-kro, ba-kro 'estar quente, ficar quente, esquentar'


3) Natú: su 'com, junto' > wa-su, ba-su 'mudança de estado com, junto' > 'ser juntando, ser misturado'


4) Natú: wi 'raspar' > wa-wi, ba-wi 'manipulação física de raspar' > 'raspar, arranhar, riscar, desenhar'



É possível reconstruir tal prefixo como:


Terejê *wa-


Xocó: wa-, ba-

Natú: wa-, ba-

Wakonã: ba-




Autor da matéria: Suã Ari Llusan 




quarta-feira, 6 de março de 2024

ETIMOLOGIA DE BROCÀ/BRUCA 'VENHA' DO KARIRI


 Esse é um verbo defectivo, isto é, um verbo cujo a conjugação diverge do padrão comum da língua e não é marcado com todos os pronomes ou é apenas usado em certos contextos em não funciona muito como um verbo. BROCÀ/BRUCA é cognato do Xerente bârkã 'olhe aqui, veja aqui', parece ser um descendente de um cognato do Apinayé *py-r 'pegar, segurar', acoplado com o demonstrativo kã/ka 'esse, isto' visto em kãhã/kóhô, portanto:


*pyr-ka 'pegar-isso', cujo a construção se assemelha ao inglês 'get this' que se traduz como 'escuta só, olha só' no português.


Kariri: br(u/o)-ka 


Dzubukuá: bruka

Kipeá: brokà

Sapuyá: prukká

Kamurú: brokkà

Katembri: broka

Kariri-Xocó: broká


Terejê: *bâr-ka 'pegar-isso'


Xocó: borka, broka

Natú: borka, broka

Wakonã: bôrká, brôká




Autor da matéria: Suã Ari Llusan 




POR QUE AS ADPOSIÇÕES DORÒ E DÒ COHÒ SURGEM EM POSIÇÕES DIFERENTES DENTRO DE UMA FRASE ?


 No Kariri, existem duas adposições que carregam o significado de 'então' e marcam gramaticalmente o tempo do pretérito imperfeito, mas existe uma coisa que os diferem, DORÒ se trata de uma composição entre duas partículas, DÓ 'a, para' e RÒ 'este, isto' e surge sempre antes do verbo, parece ser uma construção específica do Kipeá, visto que o Dzubukuá não demonstra essa mesma preposição em lugar algum, optando sempre por DO COHO.


Exemplo do Catecismo de Mamiani, p. 48


...doró siwíá dó Nhewó.


"...& então ficáraõ diabos."


 Enquanto isso, DO COHO é funcionalmente uma posposição, sempre vindo após o predicado


Exemplo do Katecismo Indico, p. 29


Widde ibewj do coho?


"Que cousas acontecèraõ entaõ?"


 A razão pela qual DO COHO se comporta dessa forma é que tal se trata de uma adoção do Terejê, note que as línguas do Tronco Macro-Jê tem forte tendência a usarem de posposições, havendo algumas exceções dependendo do ramo linguístico. As duas palavras que formam essa posposição são adoções diretas do Terejê, e cognatos podem ser vistos diretamente no Xavante *da* 'para' e *'ãhã* 'este, isto' (*kãhã), ao que parece, DO COHO é a forma que o tempo do pretérito imperfeito tomava nas línguas Terejê, enquanto DORÒ é um híbrido nascido especificamente no Kipeá, seguindo as regras vigentes do Kariri, que é o uso de preposições ao invés de posposições.



Terejê *da kahã 'para este, então'


Xocó: dá kóhô

Natú: dó kóhô

Wakonã: dó kôhô




Autor da matéria: Suã Ari Llusan 




terça-feira, 5 de março de 2024

ETIMOLOGIA DE MAIRÙ 'FARINHA DE MILHO FRESCO'


 A palavra tem a mesma raiz que MADZÓ, MA significa 'milho', enquanto RÙ provavelmente é o mesmo que é visto em ERÙ 'ralo de ralar', portanto MAI-RU 'milho-ralar'.


 Reconstruo como:


Dzubukuá: mairu

Kipeá: mairù

Sapuyá: mayrú

Kamurú: mayrù

Katembri: mairu

Kariri-Xocó: mairú


Terejê *mai-ru 'milho-ralar'


Xocó: mairú

Natú: mairu

Wakonã: mairú




Autor da matéria: Suã Ari Llusan 




ETIMOLOGIA DE ECRIDZÃ 'VIRILHA' DO KIPEÁ


 A palavra é possivelmente o equivalente Natú do Xavante 'radzé 'útero' e o Xerente 'útero', o significado literal da palavra é 'lugar/instrumento de filho', portanto é fácil ver o por que da divergência nos significados, o Akuwẽ usou esse composto para se referir ao orgão diretamente, enquanto o Terejê usou-o para se referir à região.


Existe a chance de que CRIDZÃ ainda se refira ao útero no entanto, e o E na frente seria o modificador, caso ele tenha alguma relação com EI de EIBARU 'desejar comer carne', talvez a palavra seja na verdade E-CRIDZÃ 'carne do útero', se referindo a carne, pele e músculo ao redor daquela região.


Reconstruo como:


Kariri *e-kridzé


Dzubukuá: eklidze

Kipeá: ekridzã

Sapuyá: eklittzé

Kamurú: ekritzàng

Katembri: ekrizan

Kariri-Xocó: eklidzé, ekridzã


Terejê: *krã-dzé 'útero'


Xokó: kradzé

Natú: krizan

Wakonã: krêcê


Terejê: *e-krã-dzé 'virilha'


Xokó: ekradzé

Natú: ekrizan

Wakonã: êkrêcê




Autor da matéria: Suã Ari Llusan 




ETIMOLOGIA DE DZUWI 'IR-SE EMBORA'


 A palavra possui o verbo WI 'ir' atrelada no final, a primeira sílaba talvez se trate de um cognato Terejê da palavra Xavante dzuri 'brotar, germinar', cujo surge em sua forma nominal como dzuridzé 'lugar de sair', assim não é um salto grande de 'brotar' para 'sair', formando então DZU-WI 'sair-ir' > 'ir-se embora'


1) Kariri: dzu-wi 'ir-se embora'


Dzubukuá: dzwi

Kipeá: dzuwi

Sapuyá: tzúwi

Kamurú: tzùwi

Katembri: zuwi

Kariri-Xocó: dzuwi


 Terejê: *dzu-wi 'sair-ir'


Xokó: dzuví

Natú: zuwi

Wakonã: zubí


2) Kariri: dzu 'sair'


Dzubukuá: dzu

Kipeá: dzù

Sapuyá: tzú

Kamurú: tzù

Katembri: zu

Kariri-Xocó: dzú


Terejê *dzu 'sair'


Xocó: dzú

Natú: zu

Wakonã: zú




Autor da matéria: Suã Ari Llusan 




ETIMOLOGIA DE DZENÈ 'POR RESPEITO, POR MEDO, POR VERGONHA'


 DZENÈ se trata de uma preposição, mas como a maioria das preposições do Kariri, ela deriva de outras palavras, normalmente verbos e substantivos, aqui não é diferente.


 A palavra deriva do substantivo DZÉ 'respeito, respeitar', derivado do Natú e cognato do Xavante wadzé 'respeito, vergonha' e nhitsé 'pudor, respeito, vergonha', ao lado do verbo Kipeá NE 'obedecer', cujo surge no Catecismo de Mamiani na página 90:


Sucá Tupã dó cuméwonhé só cupadzúá: nó sumŷkendété cudóhóá dó *cunéá* saí


"Quer Deos que fallemos com todo o respeito aos nossos pays: quando mandaõ algũa cousa havemos de *obedecer*"


Portanto DZÉ-NÉ 'respeito-obedecer', cujo antes de ser uma preposição, talvez fosse um verbo 'obedecer, respeitar', reconstruo como:


Kariri dzé-né 'respeitar, obedecer, por medo, por respeito, por vergonha'


Dzubukuá: dzenne

Kipeá: dzenè

Sapuya: tzenné

Kamurú: tzennè

Katembri: zené

Kariri-Xocó: dzené


Terejê *dzé 'respeito, vergonha'


Xocó: dzé

Natú: sé, zé

Wakonã: cê




Autor da matéria: Suã Ari Llusan 




segunda-feira, 4 de março de 2024

ETIMOLOGIA DE DAMŶ 'CARREGAR NO OMBRO' E DAPRÒ 'DESLOCAR-SE' DO KIPEÁ


 Ambas carregam a palavra DA, cujo parece ser cognata do Xavante tari 'colher, pegar, tirar'. A palavra DAMŶ carrega o composto DA-MŶ 'pegar-levar', o verbo MŶ 'levar, ser levado' surge de forma independente no Kipeá, assim formando DAMŶ 'pegar e levar' > 'carregar no ombro'


 O verbo DAPRÒ é DA-PRÒ 'tirar-avançar', cujo o cognato é o Xavante pra ~ praba 'correr, avançar', assim formando DAPRÒ 'tirar e avançar' > 'deslocar-se'.


Reconstruo como:


1) Kariri: damy 'carregar no ombro'


Dzubukuá: dammui

Kipeá: damŷ

Sapuyá: tammúi

Kamurú: dammì

Katembri: dami

Kariri-Xocó: damy


Terejê: *ta-m(r)y 'pegar-levar'


Xocó: tamy, damy

Natú: damy

Wakonã: damí



2) Kariri: dapró 'deslocar-se'


Dzubukuá: dappro

Kipeá: daprò

Sapuyá: tappró

Kamurú: dapprò

Katembri: dapró

Kariri-Xocó: dapró


Terejê: *ta-pra 'pegar-avançar'


Xocó: taprá, daprá

Natú: dapró

Wakonã: dapró




Autor da matéria: Suã Ari Llusan