sexta-feira, 1 de julho de 2022

ÇAMARABÓYA TRADUÇÃO KARIRI DZUBUKUÁ

 

Conto do Çamarabóya



 A nossa floresta original ultrapassava a linha do horizonte, onde a terra se encontra com o céu, o Rio Opara pelos índios e chamado pelos brancos que chegaram de Rio São Francisco. No interior dessa mata  no passado distante, existia uma cobra perigosa conhecida pelos índios como "Çamarabóya" quer dizer "Olhos Mal da Cobra". 


 Os caçadores que não respeita a lei da floresta, matava além do permitido pela natureza, sempre era atraído pelos olhos da cobra, que tinha uma espécie de ima na visão fazendo sua vítima ir até ela, que dava um bote certeiro devorando o infrator. Os caçadores que pegava somente o necessário para alimentar sua família, trazia tatú, veado, mel, frutas sem ser incomodado, voltava ileso sem sofrer nenhum mal.

 

 Mas com a destruição da grande floresta que cobria a região, as caças sumiram e Çamarabóya também, as histórias quase esquecidas pelo tempo, somente com muito trabalho podemos relembrar em conversa com um caçador indígena que alguma vez vai a mata bastante reduzida, somente comenta que Çamarabóya aqui não vive mais. Quando se derruba uma floresta toda sua riqueza biológica pode ser perdida, a cultura fica comprometida, o esquecimento chega lentamente ai vem o pior. 

 

 Tudo que tem numa floresta, mantemos uma relação com seus habitantes, animais, plantas, seres mitológicos e lendários, faz parte desse universo fantástico, nossa beleza estar no todo, contar a relação do índio com a natureza, tem suas regras de convivência, desobedecendo essas leis perdemos o usufruto da vida. 

 

Nhenety  Kariri-Xocó.




Dzubukuá


 Doro imoemgoem goeli kuleitse iho daboe, mode idhe-ho-a rada ko aranke, idze Opara Mui noe ñiho, idze Dham Prandhidhuiko Mui noe karai. Keñe mo klo anro leitse, iwamkli le ñeni idze "Dhamaraboya" noe ñiho, idze "ilepo ñeni" mo woli Ñiho. 


 Doro ipepa-a goeli inuwite leitse didhetali dianaklekieli iwo leitse, imuikli-a boe ngi noe ipo ñeni, iwam mui mo dipo do pewi hami hãy, do dhoe didhetali. Doro Ita-a didhetali-a wãybigoe iwañite do di ami do dibugo, Doro imuite-a pebutsoe, bukoe, kati, utu, itoe-a ledi kaydza. 

 

Ko ibuidhate leitse, muinekye didhetali-a ko Dhamaraboya, noetodi woro noe ngi, wãybigoe inoetsonu kunoe do woro ñiho diwiklili leitse bupi yoebogo, ibakye-de Dhamaraboya mo igi. pedzingi leitse, muinekye yeboe itsogote, pelidzoe towo, itoeba mubuiku nabetsete. 

 

 Ditsogoboeli mo leitse, gikoede ho dibali, aindhe, pui, itsogonoete-a yoebogo, itsaba yoenoeku batiba, ipi kuke mo boe, me mo iho modhi ñiho ko leitse, itsogo wo do ba didogo-a, kyewidi uro wo, muikye tu itsogote.


Ñeneti Kariri-Dhoko



 Segundo Ari Loussant num estudo do Conto Çamarabóya certas palavras se diferem das suas versões do catecismo de Nantes devido à reanálise de sua pronúncia e representação ortográfica, assim estão para serem faladas de maneira fiel à pronúncia original do Dzubukuá, além de também haver algumas que são neologismos, pois o catecismo não providencia vocábulos suficientes. Aqui está a lista de palavras novas que foram criados para traduzir certos termos do texto original e como eles são traduzidos literalmente:


1º) goeli = muito além, ultra- (goe 'muito' + li 'lá, ali, para lá, além')


2º) daboe = horizonte (da 'chão' + boe 'beira')


3º) mode = onde (mo 'em' + de 'que')


4º) dhe = encontrar (reconstruído como *ɟe graças ao Kipeá idie 'encontrar e adaptado para a fonologia Dzubukuá)


5º) Mui = Água, Rio (reconstruído a partir das palavras mýba "passar o rio" do Kipeá e muidze/mýdze "peixe" de ambos os dialetos)


6º) Dham Prandhidhuiko = São Francisco na fonologia Dzubukuá


7º) pepa = matar (pe 'prefixo causativo' + pa 'ser morto')


8º) inuwite = permissão (i- 'pfx de terceira pessoa' + nu 'poder' + wi 'fazer-se' + -te 'sufixo nominalizador', literalmente 'coisa de poder fazer-se, permissão')


9º) didhetali = caçador (di- 'pfx de terceira pessoal correferencial' + dhe 'carne, caça' + ta 'pegar' + -li 'sufixo do passado recente', literalmente 'aquele que pega carne/caça')


10º) iwañite = necessidade (i- 'pfx de terceira pessoa' + wañi 'necessitar, precisar' + -te 'sufixo nominalizador', literalmente 'coisa de necessitar, necessidade')


11º) mui = atração, influência (do verbo mui 'ser levado', com extensão semântica para 'ser influenciado')


12º) wãybigoe = somente, só


13º) pebutsoe = tatu (pe 'bola' derivado do verbo pe 'pisar' + bu 'pele, casca' + tsoe 'duro, rijo')


14º) ibuidhate = destruição (i- 'pfx de terceira pessoa' + buidha 'quebrar, destruir' + -te 'sufixo nominalizador' = 'coisa de destruir, destruição'


15º) ngi = tempo (extensão semântica de 'quando' para 'tempo')


16º) woro = conversa, história


17º) pedzi = derrubar (pe- 'pfx causativo' + dzi 'cair')


18º) pelidzoe = adoecer (pe- 'pfx causativo' + lidzoe 'doença')


19º) towo = cultura (to 'avô' + wo 'caminho')


20º) mubuiku = lentamente (mu 'curto' + bui 'pé, correr' + -ku 'sfx que denota característica', o significado literal de mubui é 'passo curto')


21º) koe = guardar


22º) itsogonoete = ser mitológico, lendário (i- 'pfx de terceira pessoa' + tsogo 'ter, existir' + noe 'sonhar' -te 'sufixo nominalizador' = 'coisa que existe no sonho')


23º) tsa = parte (derivado do verbo cortar)


24º) yoenoeku = fantástico (yoe 'grande' + noe 'sonhar' + -ku 'sfx que denota característica')


25º) batiba = universo, espaço (bati 'estrela' + -ba 'lugar')


26º) ho = relação (derivado da palavra 'fio, linha')


27º) modhi = entre, meio, no meio (mo 'em, no, na' + dhi 'coração')


28º) kyewi = seguir, andar junto (kye 'atar' + wi 'ir')


29º) tu = usufruto (derivado de tu 'praticar', com extensão semântica para 'usar, uso')



Estudo e Tradução do Português Kariri para o Dzubukuá: Ari Loussant



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