quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

CONTO DE KRIWAVI


 Descobri recentemente que a palavra kra-wave do Natú e kri-wavi do Xokó possuem uma raiz que significa 'arranhar, raspar', sendo ela a última sílaba de ambos (ve/vi), a teoria que levantei para o uso desse verbo é de que os povos Terejê via as fases da lua como um arranhado no céu que mudava periódicamente e que possivelmente existia um conto que falasse sobre como ela se comportava, baseado nisso me inspirei e fiz um pequeno conto da deusa lunar Kriwavi:


*Conto de Kriwavi*


 Isto foi em um tempo muito passado, Kapoìrsa-Inkó (Estrela D'Alva) ainda não havia nascido, portanto seu clã, os Hatu (Olho do Topo), não haviam ainda subido para os céus, para formar as estrelas dos dias de hoje, assim o céu era um abismo escuro assim como a terra era quando Kra-shulô (Sol) terminava a Ñimkapoìr dó Bihó (Primeira Iluminação, o período de 12 horas que o sol fica no céu). A jovem humanidade não podia tomar qualquer proveito desse horário sombrio e temia pelo que podia acontecer, não tendo segurança de atravessar a noite.


 Wanatu Añìdì (Nosso Avô Espiritual, o céu) percebeu que seus filhos tinham metade do tempo do dia cortado, decidiu que resolveria esse problema ao fazer uma segunda luz, mas antes precisava de alguém para esse trabalho, Wanatu Añìdì percebeu a ambiciosa dó kran pikuâ (a mulher que planta) Kriwavi, cujo procurava a árvore mais alta para ascender ao Céu Superior. Um dia encontrou uma semente de uma árvore do norte, chamada Wimahó (angelim) que crescia a alturas exorbitantes, "essa semente é especial" pensava Kriwavi, plantou-a de imediato e dormiu naquela noite.


 Quando sonhou, viu um bola branca e brilhante, rolando e subindo os galhos do angelim que estavam sequenciados como degraus, seu brilho girava por essa bola e transitava com um lado escuro, o topo da árvore arranhava o céu e quase perfurava ao Sonsé Ha (Céu Superior), mas Wanatu Añìdì surge e diz "sipoho yane pa siprodì!" (que se faça torto!), e assim, o Wimahó e seus galhos curvaram-se pelos céus, indo do centro ao oeste e retornando no leste, conectando-se após girar o planeta, a bola branca que Kriwavi sonhava não era um mero sonho, era o que ela havia se tornado, e enfim ela havia alcançado a abóbada celeste, e agora ela girava o céu guiada pelos galhos que dão a volta no mundo, mas incontente por não ser o céu que ela buscava encontrar, ela propositalmente se joga para cima para arranhar o céu, em busca de chegar mais além, todas as noites ela arranha seu brilho, fazendo o sumir de um lado, enquanto ele se recuperar do outro, com o propósito de abrir um buraco e ir para o Sonsé Ha, assim o ciclo continua e forma a Ñimkapoìr dó Wakañì (Segunda Iluminação, as 12 horas que a divindade Kriwavi percorre o céu).



 

Autor da matéria: Suã Ari Llusan 




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