Uma Visão do Sagrado, do Mito, do Xamanismo, da Filosofia e da Ciência
Resumo
Este artigo analisa a contribuição do historiador das religiões Mircea Eliade (1907–1986) para a compreensão do sagrado, do mito, do xamanismo e da experiência religiosa humana. A partir de suas obras fundamentais, como O Sagrado e o Profano, O Mito do Eterno Retorno e O Xamanismo e as Técnicas Arcaicas do Êxtase, discute-se a centralidade do sagrado na vida tradicional, a função arquetípica do mito, o papel do xamã como mediador espiritual e a legitimidade filosófica da experiência religiosa. A abordagem fenomenológica e hermenêutica de Eliade evidencia o valor simbólico das religiões arcaicas e propõe um diálogo entre ciência, história e espiritualidade.
Palavras-chave: Mircea Eliade. Sagrado. Mito. Xamanismo. Religião. Filosofia.
1. Introdução
Mircea Eliade (1907–1986) foi um historiador das religiões, filósofo, romancista e professor romeno, considerado um dos maiores intérpretes do pensamento mítico-religioso da humanidade. Sua vasta obra explora o sagrado como eixo da experiência humana, revelando o papel central dos mitos, dos ritos e das práticas religiosas tradicionais. Entre os temas fundamentais que investigou, o xamanismo ocupa lugar especial, sendo por ele reconhecido como uma das formas mais arcaicas e universais de religiosidade e mediação com o sagrado.
2. O Sagrado como Fundamento da Realidade
Em sua obra O Sagrado e o Profano (1957), Eliade descreve o sagrado como uma manifestação profunda, capaz de romper a homogeneidade do mundo profano. O homem tradicional percebia o mundo a partir de hierofanias — manifestações do sagrado no espaço e no tempo. Locais sagrados, rituais, objetos e gestos tornam-se meios pelos quais o transcendente se revela e ordena o caos da existência. Nesse contexto, o sagrado estrutura o espaço (por meio dos “centros do mundo”) e o tempo (através do “tempo mítico”), sendo a base da cosmovisão de povos indígenas, camponeses e civilizações antigas.
3. O Mito como Linguagem da Verdade Arquetípica
Eliade ressignifica o mito como narrativa verdadeira, que relata acontecimentos exemplares ocorridos no tempo primordial. Em obras como Mito e Realidade e O Mito do Eterno Retorno, ele demonstra que as sociedades tradicionais reatualizam o tempo mítico por meio de rituais. Os mitos não são lendas decorativas, mas guias ontológicos e modelos eternos de conduta, possibilitando a renovação cíclica do mundo e da existência.
4. O Xamanismo como Religião Arcaica e Universal
O xamanismo, tratado em profundidade em sua obra O Xamanismo e as Técnicas Arcaicas do Êxtase (1951), é considerado por Eliade uma das mais antigas formas de experiência religiosa da humanidade. Ele não o restringe a uma religião específica, mas o vê como um modelo de religiosidade extático-terapêutica universal, presente desde os povos siberianos e uralo-altaicos até os indígenas da América e da Ásia Central.
O xamã, figura central desse sistema, é aquele que domina as técnicas do êxtase — ele desce ao mundo dos mortos ou sobe ao mundo celestial, guiado por seus espíritos auxiliares. Essa jornada simbólica tem por objetivo curar, proteger, revelar e restaurar a harmonia cósmica. Eliade vê no xamanismo não um simples conjunto de superstições, mas uma forma sofisticada de mediação entre os planos da realidade — uma cosmologia simbólica onde corpo, espírito, natureza e sobrenatural estão profundamente entrelaçados.
Além disso, o xamanismo exemplifica o que Eliade chamaria de “ontologia arcaica”, em que a experiência do sagrado é vivida intensamente através do símbolo, do rito e da transformação interior.
5. Filosofia e Existência Religiosa
Eliade propõe uma reflexão filosófica a partir da figura do homo religiosus — o ser humano que experimenta o mundo como manifestação do sagrado. Essa abordagem, influenciada pela fenomenologia e pela hermenêutica, propõe que a espiritualidade não é uma etapa primitiva da consciência, mas um modo legítimo e profundo de existir. A experiência religiosa é apresentada como dimensão fundamental da condição humana, um elo com o mistério do ser.
6. Diálogo com a Ciência e a História
Eliade defende um diálogo entre a ciência das religiões e as ciências humanas, propondo uma leitura simbólica dos fenômenos religiosos que vá além do reducionismo. Em sua monumental História das Crenças e das Ideias Religiosas, ele mapeia a diversidade religiosa da humanidade em ordem cronológica e geográfica, sempre buscando revelar a lógica interna dos símbolos, dos ritos e das cosmovisões de cada cultura.
Ao estudar o xamanismo com seriedade acadêmica, Eliade também resgatou a dignidade de saberes ancestrais e orais, valorizando a sabedoria espiritual dos povos indígenas como legítima e profunda.
7. Legado para os Estudiosos e para os Povos Estudados
O legado de Eliade é múltiplo: ele ofereceu aos estudiosos uma nova forma de pensar a religião — não como superstição ou fantasia, mas como expressão fundamental da existência. Sua abordagem respeitosa e simbólica abriu espaço para que as culturas tradicionais fossem valorizadas em sua linguagem própria, especialmente os sistemas religiosos indígenas, xamânicos, animistas e orientais.
Para os povos estudados, Eliade representou um reconhecimento acadêmico e humano: ele deu voz e valor ao mito, ao rito e à experiência extática como formas legítimas de sabedoria ancestral, que podem dialogar com o mundo contemporâneo. O xamanismo, por exemplo, deixou de ser visto como superstição exótica e passou a ser estudado como uma estrutura simbólica complexa, terapêutica e espiritual.
8. Considerações Finais
O mundo segundo Mircea Eliade é um universo onde o sagrado se revela em todas as coisas, onde o mito é uma linguagem da verdade, onde o xamã é mediador entre mundos, e onde a filosofia encontra no símbolo e no rito uma forma de sabedoria. Seu pensamento continua a iluminar estudos sobre religiões, espiritualidades ancestrais e a própria condição humana diante do mistério da existência. O seu legado desafia o mundo moderno a olhar para o passado com olhos mais abertos e a ouvir com reverência as vozes dos povos da Terra.
REFERÊNCIAS
ELIADE, M. O sagrado e o profano: a essência das religiões. São Paulo: Martins Fontes, 1992.
ELIADE, M. Mito e realidade. São Paulo: Perspectiva, 1972.
ELIADE, M. O mito do eterno retorno: arquétipos e repetição. São Paulo: Edições 70, 2010.
ELIADE, M. O xamanismo e as técnicas arcaicas do êxtase. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
ELIADE, M. História das crenças e das ideias religiosas. 3 vols. São Paulo: Zahar, 1983.
SEVERINO, A. J. Filosofia. São Paulo: Cortez, 2001.
Autor: Nhenety KX
Consultado por meio da ferramenta ChatGPT (OpenAI), inteligência artificial como apoio para elaboração do trabalho, em 13 de abril de 2025 e a capa do artigo dia 8 de maio de 2025.
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