terça-feira, 1 de abril de 2025

RELAÇÃO DO IMPÉRIO ROMANO COM A PENÍNSULA IBÉRICA 70 d.C. - 476 d.C.


A relação do Império Romano com a Península Ibérica entre 70 d.C. e 476 d.C. envolve a presença de romanos, cristãos e judeus sob diferentes políticas imperiais, incluindo éditos e concílios que moldaram a convivência e os conflitos entre esses grupos.

1. O Império Romano e a Península Ibérica (70-476 d.C.)

A Península Ibérica estava sob domínio romano desde as Guerras Púnicas (218-201 a.C.), e no período de 70 d.C. a 476 d.C., ela permaneceu uma parte essencial do império. Durante esse tempo, a população era formada por romanos, povos locais romanizados (celtiberos, lusitanos) e minorias religiosas, como judeus e, posteriormente, cristãos.

1.1. Judeus na Península Ibérica

Já havia comunidades judaicas na Península desde o período republicano de Roma.

Após a destruição do Segundo Templo em Jerusalém (70 d.C.), um número maior de judeus chegou à Península como prisioneiros ou refugiados.

A princípio, os judeus tinham relativa liberdade religiosa, mas isso mudou com o crescimento do cristianismo e a legislação imperial.

1.2. Cristãos na Península Ibérica

O cristianismo começou a se expandir na Península ainda no século I e II d.C., mas sofreu perseguições esporádicas, como durante o reinado de Décio (249-251) e Diocleciano (303-311).

Com a conversão de Constantino e o Édito de Milão (313), o cristianismo foi legalizado, e a Igreja começou a se organizar mais formalmente na Península.

2. Leis e Políticas Imperiais Importantes

2.1. Antes de Constantino (70-312 d.C.)

Durante esse período, o cristianismo era uma religião minoritária e ilegal, enquanto os judeus tinham certa autonomia, mas eram vistos com desconfiança.

Édito de César Augusto (20 a.C.) – Permitira que judeus praticassem sua fé, sem serem forçados a adorar deuses romanos.

Perseguições aos cristãos:

Sob Nero (64 d.C.), Domiciano (81-96), Trajano (98-117), Décio (249-251) e Diocleciano (303-311).

Judeus também sofreram restrições após as revoltas judaicas (66-73 e 132-135).

Édito de Caracala (212 d.C.) – Concedeu cidadania romana a todos os habitantes livres do Império, incluindo judeus e cristãos.

2.2. Após a Conversão de Constantino (312-476 d.C.)

Com a ascensão do cristianismo ao poder imperial, a relação com os judeus e outras religiões começou a mudar.

Édito de Milão (313) – Legalizou o cristianismo e garantiu liberdade religiosa no império.

Concílio de Nicéia (325) – Organizou a doutrina cristã e condenou heresias.

Édito de Tessalônica (380) – O imperador Teodósio I declarou o cristianismo niceno a religião oficial do Império.

Concílio de Toledo (400, 447, 589, etc.) – Na Península Ibérica, os concílios começaram a impor restrições aos judeus e fortaleceram a relação entre Igreja e Estado.

2.3. Restrição aos Judeus

Leis Teodosianas (393-438) – Restringiram direitos judaicos, proibindo conversões ao judaísmo e impedindo casamentos entre judeus e cristãos.

Concílios de Toledo – Impuseram mais restrições aos judeus, culminando em conversões forçadas no século VII.

3. A Queda do Império Romano e a Península Ibérica

Em 476 d.C., o Império Romano do Ocidente caiu, mas a Península Ibérica já estava sob crescente influência dos visigodos, que adotaram inicialmente o arianismo e depois se converteram ao cristianismo niceno.

Impacto da Queda

A Igreja tornou-se a instituição dominante, com influência sobre leis e sociedade.

Os visigodos impuseram mais restrições aos judeus, culminando na conversão forçada sob o rei Sisebuto (612-621).


Conclusão


A relação do Império Romano com a Península Ibérica entre 70 e 476 d.C. foi marcada pela integração cultural e religiosa, pela romanização dos povos locais, pela perseguição inicial ao cristianismo e depois sua ascensão ao poder. As leis e concílios refletem essa transformação, impactando diretamente cristãos e judeus, com consequências que se estenderiam à Idade Média.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: 


Livros e artigos acadêmicos


1. BOWDER, Diana. Civilização Romana. Lisboa: Edições 70, 1993.

Aborda a organização social, política e religiosa do Império Romano.

2. GOODMAN, Martin. Rome and Jerusalem: The Clash of Ancient Civilizations. London: Penguin Books, 2008.

Explora a relação entre Roma e os judeus, incluindo as diásporas e perseguições.

3. HEATHER, Peter. The Fall of the Roman Empire: A New History of Rome and the Barbarians. Oxford: Oxford University Press, 2005.

Explica a queda do Império Romano e seus efeitos na Península Ibérica.

4. MARQUES, A. H. de Oliveira. História de Portugal, Vol. 1 – Das Origens ao Renascimento. Lisboa: Presença, 1997.

Traz informações sobre a romanização e o impacto do cristianismo na Península Ibérica.

5. MITCHELL, Stephen. A History of the Later Roman Empire: AD 284–641. Oxford: Blackwell, 2007.

Detalha o período de Constantino e as leis religiosas.

6. RODRÍGUEZ NEILA, Juan Francisco. Cristianos y judíos en la Hispania romana y visigoda. Granada: Universidad de Granada, 1995.

Analisa a convivência e os conflitos entre cristãos e judeus na Península Ibérica.

7. SCHAFF, Philip. History of the Christian Church, Volume III: Nicene and Post-Nicene Christianity. New York: Charles Scribner's Sons, 1910.

Traz informações sobre os concílios e as leis cristãs no Império Romano.

8. WILLIAMS, Stephen. Diocletian and the Roman Recovery. London: Routledge, 1997.

Foca nas reformas de Diocleciano, incluindo perseguições aos cristãos.


Fontes primárias (Éditos e Leis)


1. Código Teodosiano (438 d.C.)

Disponível em: https://droitromain.univ-grenoble-alpes.fr/ (em latim e francês) . Acesso em: 30 mar. 2025.

2. Édito de Milão (313 d.C.)

Disponível em traduções acadêmicas, como na obra de Schaff (History of the Christian Church).

3. Concílio de Nicéia (325 d.C.) – Cânones

Disponível em: https://www.ccel.org/ccel/schaff/npnf214.txt  . Acesso em: 30 mar. 2025.

4. Concílios de Toledo (400-589 d.C.)

Traduções acadêmicas podem ser encontradas em coleções sobre os visigodos e a Igreja Ibérica.




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