Resumo
O presente trabalho aborda a simbologia presente na literatura de cordel, destacando sua trajetória histórica e cultural desde suas origens na tradição oral da Península Ibérica até sua consolidação no Nordeste brasileiro. A análise considera os ciclos do imaginário — maravilhoso e histórico — que permeiam os folhetos de cordel, relacionando elementos míticos, lendários e heróicos que atravessam os séculos e se manifestam na cultura popular nordestina. O estudo busca evidenciar o valor simbólico e a função social do cordel enquanto veículo de memória, identidade e resistência cultural.
Introdução
A literatura de cordel constitui um dos mais significativos patrimônios culturais do Nordeste brasileiro, mantendo viva uma tradição que remonta à Europa medieval. Trazida por imigrantes portugueses, essa manifestação popular adaptou-se ao sertão nordestino, conservando estruturas narrativas e simbólicas ancestrais. Este trabalho propõe uma reflexão sobre a simbologia presente na história do cordel, inserida em ciclos imaginários que percorrem desde o mundo mítico e fantástico até os relatos de heróis históricos. A pesquisa pretende destacar como o cordel, além de entretenimento, funciona como um arquivo simbólico das representações sociais e culturais de diferentes épocas.
Linha do Tempo Simbólica do Corel Popular
1. Ciclo Maravilhoso ( Imaginário Mítico )
2348 a.C. (Data simbólica do Dilúvio segundo Ussher)
Surgimento de histórias de gigantes, monstros, deuses e seres encantados.
Fadas, reinos mágicos e criaturas fantásticas povoam os primeiros contos orais.
Cordéis Simbólicos: A Princesa Encantada na Montanha do Fim do Mundo, A Serpente dos Sete Olhos.
2. Ciclo Histórico ( Heróis da Antiguidade )
c. 1100 a.C. – Sansão, herói bíblico de força sobre-humana.
c. 1300 a.C. – Moisés, libertador do povo hebreu.
c. 1250 a.C. – Hércules, herói greco-romano (cronologia mitológica).
356–323 a.C. – Alexandre, o Grande
100–44 a.C. – Júlio César
Cordéis Históricos: Sansão, o Fortíssimo de Deus, As Doze Provas de Hércules, Alexandre e os Magos do Oriente.
3. Ciclo Religioso ( Fé, Santos e Milagres )
c. 2000 a.C. – Abraão, patriarca do povo hebreu.
Ano 1 d.C. – Nascimento de Cristo
1182–1226 – São Francisco de Assis
Século III d.C. – Santa Luzia
1844–1934 – Padre Cícero Romão Batista
Cordéis Religiosos: Vida, Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo, Milagres de Padim Ciço, São Francisco e o Lobo de Gúbio.
4. Ciclo Político ( Reinos e Heróis Libertadores )
Século V–VI – Rei Artur, lenda celta.
1554–1578 – Dom Sebastião, rei desaparecido mitificado no imaginário ibérico.
1655–1695 – Zumbi dos Palmares, líder do Quilombo.
1746–1792 – Tiradentes, mártir da Inconfidência Mineira.
Cordéis Políticos: O Desaparecimento de Dom Sebastião, Zumbi: Herói do Quilombo, A Vida e Morte de Tiradentes.
5. Ciclo Regional (Nordeste, Cangaço e Coronéis)
Início do Cangaço: c. 1870
Virgulino Ferreira – Lampião: 1897–1938
Apogeu do Cangaço: 1920–1938
Coronelismo: c. 1870–1950
Cordéis Regionais: Lampião e Maria Bonita no Inferno, A Peleja de Zé Sereno com o Coronel Libório, Os Cabras Valentes do Sertão.
6. Ciclo Cultural e dos Costumes ( Romances, Moral e Vida Popular )
Década de 1930 – Popularização dos folhetos de romance
Século XX – Consolidação do cordel como identidade cultural nordestina
Século XXI – Cordel digital e urbano
Cordéis de Costumes: Romance do Vaqueiro Benedito, O Namoro da Moça com o Rapaz da Cidade, A Internet no Sertão.
Considerações Finais
A literatura de cordel revela-se, ao longo de sua trajetória, não apenas como expressão artística popular, mas como guardiã de símbolos, memórias e valores culturais. Sua permanência e adaptação às realidades do Nordeste brasileiro demonstram a vitalidade do imaginário coletivo presente nos folhetos. O estudo da simbologia no cordel evidencia a importância dessa tradição na construção da identidade cultural nordestina, bem como seu potencial educativo e formador de consciência histórica. Preservar e valorizar o cordel é, portanto, um gesto de resistência cultural e de celebração da diversidade simbólica do Brasil.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
ALMEIDA, Israel da Silva. A literatura de cordel e o imaginário popular: uma leitura simbólica dos ciclos míticos e históricos. João Pessoa: Editora Universitária/UFPB, 2014.
CASCUDO, Luís da Câmara. Literatura oral no Brasil. 6. ed. São Paulo: Global Editora, 2010.
COSTA, Waldenir. Cordel: do folheto ao livro didático. São Paulo: Scipione, 2004.
GONDIM, Edmar. A cultura popular e a literatura de cordel. Fortaleza: Edições UFC, 2001.
JAHN, Lívia Petry. A literatura de cordel no século XXI: novas e velhas linguagens na obra de Klévisson Viana. 2011. Dissertação (Mestrado em Letras) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2011.
LIMA, Nelly Novaes Coelho. Dicionário crítico de literatura infantil e juvenil brasileira. São Paulo: EDUSP, 2006.
SILVA, Marco Haurélio. A lenda de Dom Sebastião e outros personagens do imaginário popular. São Paulo: Paulus, 2007.
SILVA, Marco Haurélio. Breve história da literatura de cordel. São Paulo: Claridade, 2010.
SILVA, Maria Alice Amorim da. Cordel: do sertão à sala de aula. Recife: EDUPE, 2013.
Autor: Nhenety KX
Utilizando a ferramenta Gemini ( Google ), inteligência artificial para análise da temática e Consultado por meio da ferramenta ChatGPT (OpenAI), inteligência artificial como apoio para elaboração do trabalho, em 8 de abril de 2025.
Nenhum comentário:
Postar um comentário