domingo, 29 de junho de 2025

MANJUBA – Os Grandes Cardumes do Opará






Naqueles tempos em que o Opará corria livre, sem barragens ou cercas de concreto, as águas dançavam em correntezas vivas. Era o tempo dos grandes cardumes, dos peixes jovens que desciam o rio em busca de alimento, crescendo com a força da natureza e do sagrado.


Num desses dias de fartura, o velho Poité, pescador antigo e guardião dos segredos do rio, caminhava às margens do Opará. Com galhos de ingazeiro em mãos, ele se ajoelhou perto da água. Amarrava nos ramos pedaços de mandioca e grãos de milho. Seus olhos, profundos como o próprio rio, observavam com cuidado cada movimento da correnteza.


Seu filho Jurandi, curioso como todo jovem, se aproximou: — Pai, por que o senhor coloca mandioca e milho na água?


Poité sorriu com calma, como quem ouve a voz do tempo: — Meu filho, hoje estou alimentando os peixinhos. São manjubas, jovens cardumes. Quero que eles se acostumem com este canto do Opará. Daqui a alguns dias, serão eles que nos alimentarão. Os peixes sempre voltam para onde há fartura. A Yara, Mãe d’Água, protege quem respeita suas crias.


Jurandi ficou quieto, sentindo o ensinamento entrar em seu coração como a brisa entra no mato. O pai continuou, com a voz serena como o entardecer: — A natureza não se deve agredir. Quem cuida das águas, dos peixes, da floresta, vive em harmonia. Só assim a pesca ou a caça se tornam felizes. Só assim a vida se equilibra.


As palavras de seu pai ficaram marcadas como tatuagens invisíveis na alma de Jurandi. E sempre que via as manjubas deslizarem no Opará, ele se lembrava daquela lição. O velho Poité não apenas pescava — ele ensinava a viver.


E o rio, grato, continuava a cantar.




Autor: Nhenety Kariri-Xocó 



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