Fábula da Andorinha e as Palancas
Em tempos antigos, quando as aves ainda se reuniam para contar histórias aos ventos, uma andorinha de cauda repartida, chamada Ieende-crú-uná, cruzava os céus do mundo. Era uma ieende itohikiete, ave viajante, conhecida por muitos como a andorinha-do-mar-ártica.
Depois de sobrevoar geleiras, mares e ilhas distantes, Ieende-crú-uná chegou ao litoral africano, onde o sol beija a savana e o vento sussurra em língua ancestral. Ali, entre as árvores douradas e o capim dançante, encontrou duas criaturas imponentes: a Palanca-negra-gigante, chamada Palala, e sua companheira, a Palanca-vermelha, conhecida como Palanca-roana.
— Olá, nobres herbívoras! — saudou a pequena ave com elegância — Qual é a origem do nome que vocês carregam com tanta nobreza?
A Palanca-negra-gigante, erguendo seus chifres em forma de lua crescente, respondeu com sabedoria:
— Nosso nome vem da antiga língua bantu. “Mpalanca” é como chamam o antílope — é o sopro da raiz que habita nosso sangue.
A Palanca-vermelha, de pelagem avermelhada como a terra ao entardecer, curvou-se gentilmente e perguntou:
— E tu, pequena ave das águas e dos ventos, de onde vens?
Ieende-crú-uná respondeu, pousando com leveza sobre uma pedra quente:
— Venho das ilhas geladas e das marés do norte. Sigo os caminhos do céu, cruzando oceanos para contar histórias às aves e aprender com os seres da Terra. E aqui, neste continente tão vasto, vi animais keríá maravilhosos: zebras que dançam em listras, girafas que conversam com as estrelas, gnus velozes como o trovão, e elefantes que guardam a memória dos tempos. Aqui vive o Rei dos Animais, o leão.
— Sim, é verdade — confirmou a Palanca-negra-gigante — Nosso continente é morada de muitos espíritos da natureza.
— E agora, para onde voará, andorinha-dos-mares? — perguntou a Palanca-roana.
— Vou seguir meu destino — respondeu Ieende-crú-uná — atravessarei o oceano para visitar o Brasil, a terra das florestas verdejantes e dos povos sábios como os Kariri-Xocó.
Com um bater de asas, a pequena viajante alçou voo, deixando para trás o calor da savana e levando no coração a memória das palancas e das terras africanas.
Desde então, contam os antigos que os animais do mundo aprenderam com aquele encontro que mesmo sendo diferentes, podem compartilhar o mesmo ambiente, respeitando seus limites, suas histórias e suas existências.
Moral da Fábula:
Os caminhos da Terra são longos e diversos, mas quem respeita o outro encontra em cada encontro uma nova morada para a alma.
Autor: Nhenety Kariri-Xocó
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