quinta-feira, 30 de outubro de 2025

A LINGUAGEM DA NATUREZA, Literatura de Cordel, Por Nhenety Kariri-Xocó






🌺 DEDICATÓRIA POÉTICA


Dedico este meu cordel,

À Mãe Terra soberana,

Que fala em vento e em folha,

Com voz divina e humana.

Aos povos que escutam o tempo,

E o canto da vida ufana,

Ofereço meu pensamento,

Em forma simples e plana.


Dedico aos Kariri-Xocó,

Raiz do meu coração,

Que ouvem o rio em silêncio,

E fazem da chuva oração.

Aos que sentem a natureza,

Como sagrada lição,

Dedico esta poesia,

De amor e contemplação.



📖 ÍNDICE POÉTICO


Abertura — A Voz da Criação


Prólogo Poético — O Silêncio que Fala


Capítulo I — O Sopro da Terra


Capítulo II — Os Sinais do Corpo Vivo


Capítulo III — Gaia em Alerta


Capítulo IV — O Saber dos Povos Antigos


Capítulo V — A Alfabetização Ecológica


Capítulo VI — A Semiose da Vida


Encerramento — O Chamado da Harmonia


Epílogo Poético — Ouvir o Coração do Mundo


Nota de Fontes (rimada)


Ficha Técnica


Sobre o Autor


Sobre a Obra


Quarta Capa Poética



🌄 ABERTURA — A VOZ DA CRIAÇÃO


O vento sopra segredo,

No sopé da montanha fria,

A folha balança e fala,

Com voz que o mundo confia.

Quem sabe ouvir sua fala,

Aprende a sabedoria,

Que mora no som da mata,

E no canto da maresia.


O fogo, a água, o relâmpago,

São letras da criação,

Escritas na carne do tempo,

Na alma da imensidão.

A natureza é poesia,

Que o homem lê de ilusão,

Mas quem se cala e escuta,

Encontra nela a razão.



🌿 PRÓLOGO POÉTICO — O SILÊNCIO QUE FALA


O silêncio da floresta

Fala mais que a multidão,

E ensina que a vida é casta,

Quando há contemplação.

A Terra conversa em gestos,

Com quem tem boa intuição,

E manda recados sutis,

No perfume e no trovão.


Desde o berço da existência,

O homem quis decifrar,

Por que o céu muda de rosto,

E o mar insiste em cantar.

Mas há segredos que pedem,

Não ciência, mas escutar,

Pois só o coração entende,

O que o vento quer falar.



🌍 CAPÍTULO I — O SOPRO DA TERRA


A Terra tem voz oculta,

Que fala por cada cor,

Nos brilhos da madrugada,

E nas pétalas de uma flor.

Quem sente o cheiro da chuva,

Pressente também o amor,

Pois tudo na natureza,

É sinal do Criador.


Os pássaros são profetas,

Que anunciam o amanhã,

Quando voam em silêncio,

Sabem por onde vem o afã.

O céu nublado é um livro,

Que o tempo escreve e desmancha,

E a brisa leve é mensagem,

Que a Mãe Natureza lança.


O trovão é uma palavra,

Que Gaia grita no espaço,

E o relâmpago é o traço,

De um verso em puro abraço.

Cada montanha respira,

Cada rio faz seu passo,

E o planeta em sintonia,

É poesia no compasso.


A terra que geme em seca,

E o gelo que vai se abrindo,

São cartas que a Mãe envia,

Com o coração ferindo.

Quem lê com olhos da alma,

Vê o planeta pedindo:

“Homem, volta ao meu abraço,

Não sigas me destruindo.”



🌊 CAPÍTULO II — OS SINAIS DO CORPO VIVO


O corpo é parte da Terra,

É natureza encarnada,

Sente frio, dor, e alegria,

Como a flor sente a geada.

Quando adoece, ele fala,

Que a vida está descompassada,

E pede ao ser mais cuidado,

Com alma mais dedicada.


A febre é fogo divino,

Que busca o mal consumir,

O cansaço é vento interno,

Que pede ao corpo: “Dormir”.

O sangue é rio corrente,

Que insiste em repartir,

A força do ser terrestre,

Que jamais quer desistir.


Desde a ciência antiga,

O sábio aprendeu a ler,

Os gestos do corpo humano,

Como sinais do viver.

Quem cura com escuta e calma,

Aprende a compreender,

Que a carne também é bosque,

Onde o espírito quer crescer.


O corpo humano é espelho,

Da Terra em seu movimento,

Se Gaia sente tristeza,

O homem sente tormento.

Se a floresta perde o canto,

O peito perde alento,

Pois somos um só organismo,

Respirando o mesmo vento.



🌎 CAPÍTULO III — GAIA EM ALERTA


Gaia chora em sua pele,

De gelo e de mares frios,

Os ventos mudam de rumo,

E transbordam os rios.

O sol se mostra cansado,

Das cinzas e desafios,

E a Terra envia mensagens,

Por trovões e desvarios.


A floresta se desfaz,

Como um livro sendo rasgado,

E o canto dos passarinhos,

Já soa desconsolado.

A fumaça cobre o dia,

Com céu de tom enferrujado,

E o planeta em agonia,

Reclama o sonho negado.


As calotas vão chorando,

Em lágrimas de cristal,

E os mares se levantando,

Com força descomunal.

É Gaia, mãe paciente,

Em resposta natural,

Avisando a humanidade:

“O equilíbrio é vital.”


O fogo que devora o chão,

É ira e súplica ao mesmo tempo,

O vento vira tempestade,

O ar se torna lamento.

O homem ouve, mas duvida,

Da dor no firmamento,

E segue o mesmo caminho,

Sem paz, sem entendimento.


James Lovelock já dizia,

Em seu estudo visionário,

Que Gaia é ser vivente,

Com coração planetário.

Ela sente e se defende,

Do impacto deletério,

E avisa, com toda força,

“Cuidar do chão é necessário.”


Mas há esperança pulsando,

Nos brotos que renascem,

No gesto de quem protege,

E nos rios que ainda passam.

Cada gota é testemunha,

Dos que amam e que abraçam,

O dever de ser guardião,

Da Mãe que os braços enlaçam.



🌿 CAPÍTULO IV — O SABER DOS POVOS ANTIGOS


Os povos da terra antiga,

Já liam o céu em segredo,

Sabiam quando a lua muda,

E quando o tempo é de medo.

O vento era mensageiro,

E o trovão, velho arredo,

Que falava aos corações,

Sem precisar de enredo.


Os Kariri-Xocó escutam,

O rio quando se encrespa,

Sabem que o peixe anuncia,

Se a seca vem ou se encerra.

O canto do pássaro avisa,

O que o sol logo desterra,

E o pajé decifra o vento,

Na dobra viva da terra.


Cada estrela tem um nome,

Cada lua um sentimento,

O tempo é visto em espelho,

De memória e firmamento.

A ciência vem confirmando,

Com estudo e pensamento,

O que o ancião já sabia,

Por pura observação e intento.


A medicina das matas,

Tem fala em folha e raiz,

Ensina que o corpo cura,

Quando o espírito é feliz.

O canto é oração viva,

Que à natureza diz:

“Sou parte da tua essência,

E em ti quero ser juiz.”


No toré da madrugada,

A palavra vira ponte,

Que liga o chão e o céu,

Do vale até o horizonte.

E o saber tradicional,

É farol sobre o monte,

Que ensina o homem moderno,

A beber da mesma fonte.


O velho reza o relâmpago,

Como quem lê um sinal,

Pois sabe que o som dos ventos,

Não fala por bem ou mal.

A Terra é mãe que educa,

De forma universal,

Quem sabe ler suas linhas,

Torna-se ser natural.



🌱 CAPÍTULO V — A ALFABETIZAÇÃO ECOLÓGICA


Aprender com a natureza,

É ler livro sem papel,

É ouvir o som das águas,

Sob o brilho do mesmo céu.

É saber que cada folha,

Guarda um código fiel,

E que o vento ensina o tempo,

Em seu curso tão singelo.


Capra disse que o planeta,

É rede viva e pulsante,

Onde tudo está ligado,

Num ritmo constante.

O homem é nó do tecido,

E precisa ser amante,

Da teia que o sustenta,

E do verde exuberante.


A escola que ensina o mundo,

Sem o mundo ali presente,

Não forma o ser consciente,

Que pensa e sente diferente.

É preciso ler a terra,

Como livro coerente,

E escutar a voz das águas,

Em silêncio reverente.


A alfabetização ecológica,

Não se escreve só com giz,

Nasce do gesto simples,

Que a alma nunca desdiz.

É plantar e proteger,

Com respeito e cicatriz,

Pois quem cura o chão ferido,

Refaz também o que diz.


O saber que o verde ensina,

É ciência e devoção,

É método e sentimento,

É mente e coração.

Pois toda a vida é escola,

Que pede observação,

E a leitura dos sinais,

É forma de oração.


Cada criança que aprende,

A linguagem natural,

É ponte viva do futuro,

Entre o humano e o vegetal.

Educar é semear,

Um amor universal,

Que une céu, terra e gente,

Num destino fraternal.



🌿 CAPÍTULO VI — A SEMIOSE DA VIDA


Há signos em cada gesto,

Em cada forma que existe,

O ser que observa o mundo,

Jamais caminha em triste.

Pois lê nos ventos e mares,

Um código que persiste,

E descobre no invisível,

O sentido que insiste.


A natureza não fala,

Mas comunica emoção,

Na cor, no cheiro, no ritmo,

Na água e na floração.

É semiose divina,

Expressa em contemplação,

Onde o ser humano aprende,

A decifrar a criação.


Cada pedra tem mensagem,

Cada rio tem pensamento,

E o trovão que corta o céu,

É verbo em movimento.

O canto da cigarra é rima,

De um ciclo em renascimento,

E o voo das borboletas,

É poema do firmamento.


Bergson já nos dizia,

Que a vida é força criadora,

Que busca em cada ser vivo,

Ser livre e transformadora.

O signo nasce do impulso,

Da energia inspiradora,

Que une espírito e forma,

Numa dança encantadora.


Morin fala em complexidade,

Como teia que se entrelaça,

Onde tudo se conecta,

E o universo se abraça.

A mente, a flor e o vento,

São da mesma massa,

E o pensar que se simplifica,

Se perde naquilo que passa.


A semiose da vida ensina,

Que não há voz isolada,

Cada ser é um símbolo vivo,

Numa escrita entrelaçada.

O homem, ao ler o silêncio,

Com alma iluminada,

Descobre em cada respiração,

A mensagem sagrada.



🌄 ENCERRAMENTO — O CHAMADO DA HARMONIA


A Terra nos chama em silêncio,

Em canto suave e profundo,

A natureza é mestre,

E também é todo o mundo.

Quem lê as folhas e o vento,

Descobre o segredo fecundo:

Que o homem e a vida inteira

Se abraçam num mesmo segundo.


A água que corre nos rios,

O canto do pássaro na mata,

O fogo que aquece a alma,

O vento que dança e desata,

Todos falam com cuidado,

Em linguagem que nos trata,

De aprender a viver juntos,

E não ferir o que nos exalta.


O homem que escuta a vida,

Recebe o dom da sabedoria,

Sente que cada ser é irmão,

E cada instante é poesia.

A ética ecológica nasce,

Do amor em harmonia,

E a linguagem da natureza,

É canto de luz e magia.



🌸 EPÍLOGO POÉTICO — OUVIR O CORAÇÃO DO MUNDO


Escute o murmúrio das folhas,

O segredo que o rio traz,

A vida se revela em gestos,

Que o coração humano faz.

Cada som, cada cheiro e cor,

É poema que não se desfaz,

E quem aprende a decifrar,

Recebe da Terra a paz.


Olhe o céu e veja estrelas,

Como pontos de comunicação,

O sol é livro que se abre,

No toque da imaginação.

O homem, em sua busca eterna,

Descobre na contemplação,

Que tudo está conectado,

Na dança da criação.



📚 NOTA DE FONTES (RIMADA)



Capra nos mostrou a teia da vida,

Sistemas vivos em trama fluida.

Lovelock trouxe Gaia em alerta,

Mostrando a Terra que nunca se acerta.


Leff ensinou o saber ambiental,

Sustentabilidade é ponte vital.

Morin nos falou da mente organizada,

Repensar o mundo, toda estrada.


Bergson revelou a força criadora,

Vida que se move e se transforma agora.

Esses mestres, com suas lições,

Guiam os versos e nossas reflexões.


Quem lê este cordel atento,

Descobre no livro e no vento,

Que ciência e sabedoria,

Se encontram na poesia.



📝 FICHA TÉCNICA


Título: A LINGUAGEM DA NATUREZA

Autor: Nhenety Kariri-Xocó

Formato: Literatura de Cordel — A5 vertical

Capítulos: Seis capítulos poéticos + Encerramento e Epílogo

Ilustrações: Estilo 3D digital, cores naturais, luz dourada e azulada

Revisão e Curadoria: Nhenety Kariri-Xocó

Publicação Digital: 

KXNHENETY.BLOGSPOT.COM 

Ano de publicação: 2025



🌿 SOBRE O AUTOR


Nhenety Kariri-Xocó é escritor, contador de histórias oral e escrita, e representante do povo indígena Kariri-Xocó de Porto Real do Colégio (AL). Sua obra poética e literária busca integrar saberes ancestrais e contemporâneos, valorizando a cultura indígena e a sabedoria da natureza. Seus cordéis são marcados por ritmo, simbolismo e reflexão ecológica, criando pontes entre o humano e o mundo natural.



📖 SOBRE A OBRA


A Linguagem da Natureza é um cordel-livro que revela a comunicação silenciosa dos fenômenos naturais, explorando a percepção humana dos sinais da Terra, do corpo e do cosmos. Entre ciência, tradição indígena e filosofia, esta obra promove a alfabetização ecológica, a valorização da vida e a escuta atenta dos sinais que guiam nossa convivência harmoniosa com o planeta.

Esta obra foi inspirada e fundamentada no artigo publicado no blog “KXNHENETY.BLOGSPOT.COM", disponível em:  

https://kxnhenety.blogspot.com/2025/05/a-linguagem-da-natureza.html?m=0 , seguindo uma estrutura acadêmica nos moldes da ABNT e respaldada em referenciais históricos e culturais que unem a tradição oral ao conhecimento erudito. 



🌅 QUARTA CAPA POÉTICA


Seja guardião desta obra,

Que fala em folhas e vento,

Escute a voz do universo,

Em cada instante e momento.

O saber antigo e moderno,

Se une em puro sentimento,

E ensina que a vida é ponte,

Entre o humano e o firmamento.


A natureza é nossa fala,

O corpo, nossa tradução,

O cordel é ponte viva,

Do espírito e do chão.

Que quem abre estas páginas,

Sinta a Terra no coração,

E leve consigo a lição,

De cuidar de cada mão.





Autor: Nhenety Kariri-Xocó 



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