domingo, 28 de novembro de 2010

EXPROPRIACAO

A Terra Indígena Dividida
Meu pai fazia parte do Conselho tribal, pessoa de confiança do pajé, nas reuniões que buscavam as soluções dos problemas da aldeia. Ele também era agricultor, trabalhava para os fazendeiros que nossas terras tomaram. Mas criou os filhos como pescador e vendedor de peixe na cidade de Colégio. Minha mãe era ceramista; trabalhava no barro: a produção era vendida na feira local.
Contava meu pai que meu avô Manoel Nunes trabalhava como agricultor nas propriedades dos posseiros, ocupantes da terra indígena, nos atuais municípios de Porto Real do Colégio e São Braz. Os posseiros eram filhos dos antigos arrendatários das terras indígenas, da época das Diretorias dos Índios, que logo após a extinção oficial das aldeias pelo governo Imperial foram loteadas e vendidas aos invasores, já pelo governo da República.
Aos índios expropriados, só restou para habitação uma rua estreita na periferia da cidade de Porto Real do Colégio, onde os fazendeiros se deslocavam para contratar mão-de-obra indígena para trabalhar nas fazendas de plantações de algodão, milho, feijão, arroz nas propriedades das terras alagadas.

Nhenety Kariri-Xoco 

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