domingo, 28 de novembro de 2010

FESTAS NA RUA

Quadrilha Junina na Aldeia em 2012
  Na época da folia do carnaval, na zoada, a cidade de Colégio não parava nem de dia e nem de noite. Homens mascarados, cada um a seu modo, outros banhados em pó de maizena, acompanhados sempre por uma batucada. Andavam de rua em rua; pela nossa também passavam os rapazes da aldeia. Nossa rua era modesta; os mais velhos só observavam; muitos nos aconselhavam, falavam que essa festa não era abençoada, que o rebuliço foi o cão que inventou. Diziam que muitos deles se fantasiavam só para dar uma lapada; não era bom que se participasse disto.
A colheita das roças coincidia com a festa junina, milho verde, feijão e abóbora: tempo de fartura. Todos os anos o rio enchia com as enxurradas; desciam rolos de pau pela força da água, meninos e meninas pegando para fazer as fogueiras troncos, galhos, árvores que desciam do sertão.
Em noite de São João, os pais compravam roupas para os filhos, traques, chuvinha e bombas. As mulheres faziam canjica, pamonha, mungunzá; na fogueira, carne e milho verde na brasa. Na escola, as carteiras eram tiradas da sala e às 8 horas começava o Toré; durava a noite toda, até amanhecer. No Toré estavam pessoas de todas as idades.
Os índios que moravam na Colônia também vinham participar. Não tinha nada de forró. A rua dos Índios estava toda iluminada, as fogueiras acesas, os mais novos soltavam fogos. Todos os índios de roupa nova. Em nossa casa, tudo já estava providenciado: arroz doce, peixe assado, roupa de meus irmãos. Papai comprava pano em Propriá: a costureira era Lizete, branca da cidade de Colégio. Nesse dia de festa, papai ia buscar a roupa na medida, colocava em cima da cama e todos nós vestíamos logo cedo para andar na rua.
A festa de Natal comemora o aniversário de Cristo e era visto na rua dos Índios com grande respeito. Os pais preparavam os filhos com a melhor roupa para a missa na Matriz de Nossa Senhora da Conceição. Antes da Missa do Galo começava o Pastoril no coreto da praça Godilho de Castro, centro da cidade, bem em frente à Igreja. As moças que faziam as cenas eram todas brancas. Papai Noel distribuía presentes às crianças na praça. Eu ganhei um carrinho de plástico azul; fiquei muito contente. A meia-noite começava o foguetório; eu ficava com medo e tinha pavor de fogos de artifício. Mamãe dizia que eu não devia chorar: a noite de Natal era para sorrir, pois foi nessa noite que Jesus nasceu. Quando mudamos para a Nova Aldeia Kariri-Xocó ficou mais fácil fazer nossas festas mais sossegado, comemoramos Santo Antonio,São João, São Pedro, Natal como todo brasileiro.

Nhenety Kariri-Xoco

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