domingo, 28 de novembro de 2010

HISTORIAS NA NOITE


   O homem que mais trabalhava em madeira era José Taré, grande artesão que fazia as maiores obras de arte, até por encomendas: tacapes, carrancas, móveis. Ele tinha a marcenaria como profissão. Otávio, maior contador de história indígena da época, chegava lá em casa à noite, como os outros velhos, para contar fatos passados e eu ficava ouvindo — deitado numa esteira de piripiri — até dormir. Alí ficavam até 11 horas da noite; quando a lua estava alta, as pessoas iam se acomodar, dormir no silêncio da noite, a não ser algum menino que chorava para mamar. Numa aldeia, as mulheres conhecem as crianças mesmo sem vela, só basta ouvir seu choro e uma diz: "aquele é fulano, filho de fulana".
Na esquina da rua morava o chefe Paulo Austragésimo da FUNAI, no próprio Posto Indígena, do qual tenho boas recordações por ser uma pessoa amiga das crianças. Introduziu na escola o esporte do vôlei, a quadrilha junina, o forró, o desfile de 7 de Setembro e a premiação dos alunos, do 1º ao 3º colocado pelas melhores notas no final do ano pela aprovação. Na lagoa do Cordeiro em época de pescaria, Laudilina, irmã do pajé Francisquinho, era a índia que mais pegava peixe de mão: cará, traíra e outros.
Resistir era preciso; Josival, irmão de meu pai, nunca perdeu uma briga na cidade com aqueles que queriam maltratar os índios, mas nunca matou ninguém; só dava uma lição nos brancos provocadores.

Nhenety Kariri-Xoco

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