domingo, 28 de novembro de 2010

A RUA UMA ALDEIA

Rua dos Índios casas de  palha
   Eis a aldeia segundo a tradição dos velhos: casas de taipa cobertas de palha, rua de terra batida, arvoredos de pés de ingazeiras em cujas sombras existiam pilões, também pontos de reuniões, conversas. Meninos nus, descalços, brincando; índias trabalhando na cerâmica utilitária, homens chegando da pescaria.
Nesse meio foram criados meus pais; num sentimento de amor cresceram juntos, com a perspectiva de fundar uma nova família. Em 1941 casaram-se Maria de Lurdes e Alírio, meus pais. Numa casinha de palha também foram morar: uma cama de vara, fogo de lenha no chão, vasilhames de barro, potes e pratos, todos feitos pelas mãos de minha mãe, completavam a arrumação, juntamente com os artifícios de pesca trabalhados por meu pai: jereré, kuvú, tarrafa e puçá.
A família é a unidade do povo, mas a riqueza da comunidade não é o poder econômico do casal. Grande número de filhos constitui a maior fortuna e respeito na posição social. Na reunião da comunidade, aquele que tem muita parentela é ouvido quando fala, considerado e admirado por todos. Meus pais tiveram dez filhos, mas por destino da vida só sete sobreviveram.

Nhenety Kariri-Xoco 

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