domingo, 28 de novembro de 2010

APRENDIZADO

 
Pé de Genipapo na Nova Casa

     Meu avô paterno havia morrido, mesmo muito antes de eu nascer; o avô materno morreu quando eu só tinha três anos. Otávio foi para mim como o avô que conheci e me ensinou, antes mesmo de freqüentar a escola indígena que ficava ao lado da minha casa. Aprendi que devemos imitar os mais velhos para a cultura continuar; ouvir as histórias para um dia contar, fazer arcos, flechas, o jereré.
Quando eu ia a sua casa ou ele ia na minha, eu perguntava sobre as coisas. O jenipapo... O fruto maduro serve para comer... Isso eu fiquei sabendo pela minha mãe, mas o Otávio me ensinou que o fruto verde do jenipapo ralado, espremido o bagaço, dava uma tinta escura preta azulada com que os antigos se pintavam. O caldo escorrido era colocado no fogo numa panela de barro só para mornar; tirava o caldo do fogo e deixava de molho uma noite: pronto para ser usado no corpo. Uma vez fiz para aprender; passaram-se muitos dias para sair a tintura do corpo. Só saiu com o passar do tempo, não continuando a renovar os traços.
Como aconteceu em Sergipe com os Xocó, as aldeias indígenas foram extintas legalmente em Alagoas no ano de 1873. A expropriação levou, ao longo dos anos, a população indígena a se fixar em Porto Real do Colégio, numa rua da periferia da cidade, perpendicular ao rio São Francisco. A aldeia dos índios situada na rua da cidade de Porto Real do Colégio foi o cenário da história da vida em comunidade de nosso povo sofrido, junto com o Ouricuri, unindo a todos na preservação de nossas crenças, costumes e cultura.

Nhenety Kariri-Xoco

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