quinta-feira, 1 de agosto de 2013

CAMINHO DE TRADIÇÃO

Caminho no Inverno









Pessoas, carros e motos no caminho
Descendo a ladeira das cajazeiras
  Antes de chegar os colonizadores no Baixo São Francisco cada povo indígena tinha sua aldeia em ambas as margens do rio, cada etnia com seu território, lugar das roças, ponto das caçadas, local dos peixes, florestas inteiras cobriam vasta região.  Na própria aldeia que moravam era também  espaço de suas tradições, para haver ritual o pajé marcava pela lua, onde todos ficavam sabendo a data certa.  Quando vieram os bandeirantes e jesuítas tudo mudou, índios massacrados, outros reduzidos em aldeamentos  jesuítico ou missões  religiosas , aqui os sobreviventes dessas grupos indígenas foram reunidos em Urubu-Mirim como fora chamada a nossa aldeia pelos padres.  Os indígenas foram obrigados a conhecer  a  religião Cristã, aprender nova língua, com cultura diferente das nossas .  Nós não aceitamos essa condição de extermínio, para darmos continuidade nossas raízes ancestrais, praticamos nossos rituais do Ouricuri às escondidas.  As vezes os padres jesuítas saiam para outras aldeias distantes rio acima ou a baixo, neste ínterim fugimos momentaneamente para as matas longe dos olhares dos colonizadores, fazemos nossas caminhadas para praticarmos nossos  rituais as pressas,   dando a entender  a eles que deixamos nossos costumes.  Terminando as proibições dos jesuítas e diretores da aldeia contra os indígenas, foi possível fazer nosso ritual mais sossegado, mas continuamos com nossas tradições longe dos brancos. Assim ficamos com duas aldeias, uma para morada perto do rio vizinho a cidade, e outra aldeia no interior da floresta conhecida como Ouricuri. Ficou a tradição de fazer a caminhada da aldeia na margem do rio para a Mata do Ouricuri que dar aproximadamente uma légua de distancia. O caminho de chão batido, no verão fica empoeirado, no inverno muita lama ficando as marcas de nossas pegadas.  Caminhando no período chuvoso junto com ao Cacique Otávio na estrada tradicional, ele dizia  “ este é o rastro de Miguel Suíra estar vendo o pezão dele, aquele outro me parece a marca do pé de Maria Tinga porque  é estrito bem fininho “. Em outra ocasião caminhando com minha mãe Maria de Lourdes ela identificou a marca do pé meu Pai Alírio que era seu esposo, dizendo seu pai vai aí na nossa frente olha o rastro dele , faz tempo que saiu terá que pegar peixe no rio, eu repliquei como a senhora sabe que essa marca no chão é do pé dele, ela respondeu meu filho já conheço seu pai o pé dele é achatado sambeto. Naquele tempo isso era possível nosso povo era em menor número, hoje fica difícil identificar o rastro de alguém no caminho. Agora estar mudando os rastros do caminho, começou com os pés, depois apareceu o cavalo, a carroça, bicicleta, moto e muitos automóveis.


Nhenety Kariri-Xocó
       

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