domingo, 7 de agosto de 2022

COMPILAÇÃO DOS DEUSES E SERES DA MITOLOGIA KARIRI


Esta lista tem como objetivo compilar os nomes dos Deuses e outros seres da mitologia Kariri, infelizmente não há uma descrição boa de seus rituais e funções na mitologia, portanto esse texto se limitará a apenas a nomenclatura.


Algumas dessas entidades não tiveram seus nomes revelados para nós e outras tem vários nomes diferentes, portanto o autor desse texto tomou a liberdade para nomear eles com nomes genéricos que descrevem suas funções, aqui está a tradução deles:



Dz.: Dzânam / Kp.: Dzaenã / Sb.: Cönang / Km.: Canang = dzâ/dzae/cö/ca "chuva, nuvem" + nam/nã/nang/nang "senhor, chefe"


Dz.: Tûñi / Kp.: Týnhi / Sb.: Tüni / Km.: Tüni = tû/tý/tü/tü "descer abaixo, abaixo, inferior" + ñi/nhi/ni/ni "alma, espírito"


Dz.: Manuñi / Kp.: Manunhi / Sb.: Manuni / Km.: Manuni = manu "encanto, magia" (ma "distante, longe" + nu "poder") + ñi/nhi/ni/ni "alma, espírito"


Dz.: Manuñidzâ / Kp.: Manunhidzãe / Sb.: Manunizö / Km.: Manunizang = manu "encanto, magia" + ñi/nhi/ni/ni "alma, espírito" + dzâ/dzãe/zö/zang "verdade, verdadeiro"


Dz.: Pañi / Kp.: Panhi / Sb.: Ppani / Km.: Ppani = pa/pa/ppa/ppa "ser morto, morto" + ñi/nhi/ni/ni 'espírito, alma'


Dz.: Hake / Kp.: Sake / Sb.: Sakü / Km.: Sazü = ha/sa/sa/sa 'nascer' + ke/ke/kü/zü 'mulher'


Dz.: Yâdhê / Kp.: Yaendé / Sb.: Yögä / Km.: Yanggä = yâ/yaen/yö/ya 'grande' + dhê/dé/gä/gä 'mãe'


Dz.: Tsadzi / Kp.: Tsãdzi / Sb.: Zazi / Km.: Zangzü = tsa/tsã/za/zang 'um, primeiro, só' + dzi/dzi/zi/zü 'mulher'


Dz.: Klañi / Kp.: Kranhi / Sb.: Klani / Km.: Krani = kla/kra/kla/kra 'plantar' extensão semântica de kla/kra 'cavar' + ñi/nhi/ni/ni 'espírito, alma'


Dz.: Mûñi / Kp.: Mýnhi / Sb.: Muni / Km.: Muni = mû/mý/mu/mu 'água, rio' + ñi/nhi/ni/ni 'espírito, alma'



                                       Deuses da mitologia Kariri

                          (Versão descrita por Martinho de Nantes)

                                                    Hierarquia

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                           Entidade Maior - Dzânam /Dzaenã / Cönang / Canang (Senhor das Nuvens)


Tupá (Touppart) "Deus do céu e possível criador do universo na mitologia Dzubukuá, seu nome implica uma influência Tupi ou cristã, muito provavelmente é o mesmo que Meneruru e Ñimgo, ele foi quem enviou o grande pai para auxiliar os Kariri"


Meneruru "Deus único que subsistia no ar, descrito assim em múltiplas fontes, muito provavelmente é a mesma entidade que Tupá, é descrito como criador do homem Semakure (Cemacure), também existem outras variações do mito que dizem que Meneruru teve dois filhos: Kenbarere e Waridzam"


Ñimgo / Niyo / Nigo / Nigo "Deus criador do Universo descrito na variante da religião Kariri, é descrito como o criador supremo da natureza com

todos os seres para compor o mundo, terra, serra, rio, mar, plantas ,

animais, chuva, sol e lua. O mito também descreve ele como o criador dos Nhiho, os indígenas Kariri. Na variante Kariri da religião, ele também teria o papel de civilizador, sua função muito provavelmente dá continuidade aos mitos de Tupá e Meneruru, todos os três provavelmente são a mesma entidade com nomes diferentes dependendo da tribo"


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                     Entidades Inferiores - Tûñi / Týnhi / Tuni / Tuni


Ngigo (Ou Ngigos já que sempre surge no plural) "Entidades descritas como inferiores ao Deus Meneruru, os cristãos usam 'santos' como analogia para suas funções, porém tais funções nunca são especificadas"


Encantados ou Dz.: Dz.: Manuñi / Kp.: Manunhi / Sb.: Manuni / Km.: Manuni "São descritos por Bandeira como seres sobrenaturais de grande influência que tem o mesmo grau de poder que santos da crença cristã, provavelmente representam uma continuação da crença dos Ngigos da variante Kipeá:"


Dz.: Dz.: Manuñidzâ / Kp.: Manunhidzãe / Sb.: Manunizö / Km.: Manunizang "Os encantados propriamente ditos, são descritos como seres invisíveis, vivos e com poderes excepcionais sobre a natureza, a vida, a morte, a doença, a prosperidade e a riqueza, são também descritos como caboclos que escolheram Mirandela como ponto de concentração, habitando serras próximas, tem como chefe honorífico o Cavaleiro Encantado, eles são capazes de tomar forma física quando quiserem, normalmente escolhem animais ou (raramente) objetos inanimados, que logo passam a ter mobilidade. Não tem interesse em pessoas não-indígenas. São donos de riquezas incalculáveis, das quais compartilham com aqueles que tem sua simpatia, aparecem para qualquer um, mas apenas aparecem sem disfarce para aqueles que escolhem, chamados de "entendidos". Castigam os que não fazem oferendas para eles. Em resumo, é possível interpretar de um ponto de vista antropológico que os encantados de Mirandela representavam aspectos similares ao destino"


Bûtsâ / Býtsãe / Puyzö / Bouyza "O Cavaleiro encantado é descrito como chefe honorífico dos encantados na versão Katembri da religião Kariri, mora na Toca dos Encantados, viaja em um cavalo veloz como o vento e quem quiser suas riquezas tem que montar na garupa de seu cavalo e ir com ele para dentro da Serra da Cangalha e lutar com ele. Seu mito é sem dúvidas bastante recente, pois o cavalo só foi introduzido durante o período da colonização, é possível que ele tenha se fundido com um antigo e hipotético "chefe honorífico" dos encantados ou tenha sido introduzido recentemente dentro dos contos e se tornado o primeiro chefe deles, se a segunda hipótese estiver correta, podemos atribuir sua origem à algum cavaleiro da mitologia cristã, provavelmente alguém como São Jorge."


Dz.: Pañi / Kp.: Panhi / Sb.: Ppani / Km.: Ppani "São os espíritos dos antepassados, não são considerados encantados. São seres invisíveis que habitam lugares indeterminados. Não comem e não bebem e só aparecem nos "trabalhos" para ajudar os vivos com seu conhecimento e poder. Aparecem aos destinados a "trabalhos" na forma corpórea

que possuíam em vida. Sabem todas as coisas e têm poder de ajudar

o homem a anular o mal causado pelos encantados vivos ou feitos.

Nos "trabalhos" aparecem juntamente com os encantados vivos o que

indica não haver oposição ou animosidade entre eles, como também

indica ausência de competição. Apesar de não comerem, beberem ou fumarem, pareciam gostar de oferendas como vinho de milho, cachaça e fumo."


Kenbarere e Waridzam "Não há descrição alguma sobre suas funções na mitologia, ambos são filhos de Meneruru em uma das versões do mito, não são descritos como gêmeos, porém os detalhes que sobraram se assemelham a várias outras histórias de irmãos gêmeos entre as nações Tupi e Jê, o nome de Waridzam surge em uma das fontes como Warikidzam, possivelmente é o mesmo deus da Trinidade abaixo"


Cemacure ou Dhemakure / Semakure / Semakure / Semakure "descrito como o homem que foi criado pelo Deus Meneruru em uma das versões do mito, obteve um filho com sua mulher pelo toque de uma varinha chamado Crumnimni, é propositalmente descrito como homem que foi criado por um Deus e seu filho é descrito como pai dos brancos, isso implica que Cemacure era provavelmente o originador dos homens e possivelmente da humanidade nessa versão do mito, sendo equivalente a Adão da mitologia abraâmica"


Hake / Sake / Sakü / Sazü "esposa de Cemacure e mãe de Crumnimni, possivelmente assim como Cemacure ela era a primeira mulher, funcionado nessa versão do mito como um equivalente da Eva da mitologia abraâmica, teve Crumnimni após ser tocada por uma varinha, é possível que ela seja equivalente da Primeira Mulher da variante Dzubukuá da mitologia Kariri"


Krumnimni / Krunninní / Krungningni / Krungningni "Filho de Cemacure, é descrito como pai dos brancos, ele era possivelmente um mito de justificativa para a separação etnolinguística dos povos do Brasil e depois após a sua chegada, para os brancos. É possível que Crumnimni fosse originalmente o pai dos não-cariris e depois foi associado aos brancos, também é plausível presumir que se havia um "pai" para uma etnia, também havia para outros, portanto é totalmente possível que Crumnimni tivesse um irmão ou mais em seu mito para justificar a origem dos Kariri e, dependendo do caso, de outras tribos vizinhas."


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                          Divindades - Yâñi / Yãenhi / Yöni / Yangni


Yâpa / Yãepa / Yöpa / Yangpa "Grande pai, ser enviado pelo deus do céu para auxiliar os Kariri, comparável ao deus civilizador Sumé da mitologia Tupí, os Kariri sempre recorriam a ele quando estavam aflitos, em seu mito ele é descrito como alguém que é respeitado e temido ao mesmo tempo, transformou os filhos dos Kariri em javalis e os levou para o céu, mesmo assim os Kariri rogaram para que ele voltasse, o que implica que ele teve gigantesca influência e importância na sociedade Kariri, provavelmente sendo ele quem trouxe os ensinamentos e rituais para este povo. Foi ele quem ao partir enviou o Deus do fumo para os Kariri"


Badzâ / Badzae / Pazö / Paza "Deus do fumo, um dos deuses mais importantes da religião Kariri, teve dois filhos, foi enviado pelo grande pai" 


Yâdhê / Yaendé / Yögä / Yanggä "Mãe de Politam e Wanagidzâ e esposa de Badzâ mencionada na versão do mito anotada por Carlos Studart Filho e no catecismo de Nantes, muito provavelmente representa uma influência cristã sobre o mito original dos Kariri"


Politam / Poditã / Poditang / Poditang  "Filho mais velho de Badzâ, deus da caça, em algumas versões do mito ele é confundido com o grande pai e Tupá é confundido com Badzâ, segundo uma versão do mito descrito por Carlos Studart Filho, ele teria descido para a terra com permissão de seu pai para buscar seu irmão mais novo, após este ter fugido depois de brigar com ele, porém Wanagidzâ e seus descendentes o ofenderam e depois o amarram à uma árvore, deixando Politam morrer lá de sede, sua mãe chorou bastante após sua morte e este apareceu mais algumas vezes antes subir para os céus, esta versão do mito se assemelha bastante com a história de Jesus e sua crucificação, provavelmente implica uma influência cristã sobre o mito original" 


Wanagidzâ / Warakidzãe / Wanakizö / Wanakiza "Filho mais novo de Badzâ, descrito em algumas fontes modernas como deus do sonho e em outras como deus da chuva, nenhuma função é dada para ele nos documentos mais antigos, é descrito na variante do mito de Carlos Studart Filho e nos catecismo como o irmão mais novo de Politam" 


Tsadzi / Tsãdzi / Zazi / Zangzü "Primeira Mulher, a primeira mulher que existiu entre os Kariri, foi morta ou por um espinho mágico ou dormiu e faleceu logo após e seu corpo foi repartido em pedaços pelo Grande Pai entre cada homem, que colocaram eles envoltos em algodão, quando voltaram da caça, essas partes deram origem às mulheres"


Klañi / Kranhi / Klani / Krani "Deus das culturas que a terra produz segundo Martinho de Nantes, muito provavelmente um Deus da agricultura para os povos Kariri"


Mûñi / Mýnhi / Muni / Muni "Deus dos rios e das pescarias segundo Martinho de Nantes, ele não menciona gênero ou qualquer outra função dessa divindade"


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Autor da matéria: Ari Loussant


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