sábado, 10 de dezembro de 2022

O SIGNIFICADO DE EIBARU "TER DESEJO DE COMER CARNE"

 

Assim como vários compostos dessa língua, este parece ser mais um cujo os elementos diretamente batem com a ordem da tradução, EI muito provavelmente é quem carrega o significado de 'ter desejo', sendo este uma extensão semântica de seu significado original 'necessitar', cujo vemos em EIKO 'ter mister, necessitar'.


 Já os últimos dois não se parecem com palavras Nhihô para comer (nhu, do, ami) e carne (*nV(?), dz-e(?)), isso pode indicar um caso similar ao que vimos em KIBU, onde as palavras surgem de empréstimos da família Macro-Jê, a raiz que mais se parece com BA é *a-mbə 'comer.INTR' do Proto-Jê-Setentrional (i.e. Jê do Norte), mais uma vez reforçando a interação histórica entre esses dois grupos linguísticos.


 RU no entanto é um pouco mais complicado de se reconstruir, Nikulin em seu artigo de 2020 não reconstruiu uma raiz similar a essa para o Proto-Cerrado, existe porém uma reconstrução na página 375:


 "PK *ro ‘morder, comer carne’, em nossa proposta, poderia ser cognato apenas da

forma Ofayé (se ambas < PMJ *rũ₂(C)), mas semanticamente corresponde melhor ao material reproduzido nesta entrada."


 Isto se encontra na parte chamada *Rejeitado*, o que vai dificultar um pouco na criação de uma hipótese. Comecemos com o fato de que para essa palavra surgir no Kipeá, ela teria que ser exclusivamente um empréstimo do Karajá, tanto pela questão fonológica quanto pela semântica, essa palavra não foi reconstruída para o Jê Setentrional, a palavra do PMJ é *pry(C) ~ *prôp ~ *prôm° ‘morder’, portanto veríamos algo como *PRO* no Kipeá se essa palavra viesse dos Jês do Norte. Outra evolução que não é comum é a de o > u, pode acontecer como no Dz.: buronunu vs Kp.: boronunu ou no próprio Dzubukuá em bororu ~ buroru, porém não existem exemplos dentro de empréstimos que demonstrem essa mudança, sabemos que houve algo parecido por causa da mudança de i > e que vemos nos empréstimos do Macro-Jê (hẽ < *pῖm 'madeira', Dz.: ñe < *-nji ~ *-ji 'frio' (se esse for um empréstimo do MJ)), portanto não descarto a possibilidade de uma mudança de o > u.


 Se essa palavra for realmente um empréstimo do Karajá, cujo entrou cedo na língua e passou por um alçamento vocálico, podemos reconstruir esse composto como:


EI "ser necessário, desejar"

BA "comer" (provavelmente sendo utilizado como reforço semântico)

RU "comer carne" (possível empréstimo do Karajá ?)



Autor da matéria: Ari Loussant


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