domingo, 1 de janeiro de 2023

AS ORIGENS KARIRI-XOCÓ 7


Fortalecimento Étnico 



         No princípio os estudos sobre os indígenas despertava os interesses da sociedade,estado e a igreja. Mas como introduzir nova fé se o nativo não compreendiam a língua civilizada, nem tão pouco os missionários entendiam o idioma dos indígenas. Portando era hora de aprender em ambas as culturas, foram produzidas gramáticas, catecismo, o índio passou a estudar no colégio da missão e foi assim no início.

          Os aldeamentos foram evoluindo criando várias cidades no interior do nordeste, vieram chegando mais portugueses e a mão-de-obra escrava, junto aos nativos criando os municípios do Baixo São Francisco. Muitos documentos foram produzidos, que estão guardados  nos Arquivos Ultramarinos, curias, bibliotecas da Europa e do Brasil.

          Os estudiosos do Brasil e do exterior produziram muitos materiais que poderemos conectar os fatos do passado para compreender o presente, também uma oportunidade de estudar preservando esta memória como um patrimônio da humanidade.



1 ) - ABACATIARA OU DZUBUCUA-CARIRÍ, Abacatiara, Abacatuara, Obacatiara ou Dzubucua-Carirí. Tapuias cariris, residiam nas ilhas de Pambu ou Gambu, Oacará, Cavalo, em 1702, e em Arapuá (Irapuá ou Iraquiá) e Inhamum ou Unhunhu, em 1746. (J. C. SILVA, 2003: 167).


2 ) - ABACATIARA EM S. PEDRO, Em 1898 estavam assentados entre Belo Monte e Pão de Açúcar, em Alagoas, na ilha de S. Pedro Dias, cujo nome é uma homenagem a um missionário jesuíta nascido na região, conforme referência anterior. (J. C. SILVA, 2003: 167).


3 ) - GRUPO KARIRI DO GERU, Tendo frei Bernardo de Nantes esclarecido que a língua dos Kariris do Rio São Francisco ( Pernambuco ), era a mesma do grupo Kariri do Geru ( Sergipe ), achou por bem não repetir as regras gramaticais já expostas na Arte de Gramática do Jesuíta Luiz Vincencio Mamiani, acima aludidas . ( SIQUEIRA, 1978 : 269 ).


4 ) - DIALETOS KARIRI, É que a língua Cariri, como muito bem diz mestre Rodolfo Garcia, oferece dialetos distintos onde se destacam o Kipéa, do Geru ( Sergipe ), o Dzubucúa das ilhas circunjacentes à Aracapá. ( SIQUEIRA, 1978 : 282 ).


5 ) - OS DZUBUKUÁ-KARIRI, Os documentos históricos sugerem uma possível descendência dos índios de Porto Real do Colégio dos Dzubukuá-Kariri, antiga tribo habitante da metade ocidental do arco formado pelo submédio São Francisco, relatada pelos missionários capuchinhos Martinho e Bernardo de Nantes (respectivamente, 1707 e 1709, apud DANTAS, 1992, 432).


6 ) - DESCENDENTES TUPINAMBÁ, Segundo informa FERRARI, 1956, equivocadamente, alguns tratadistas consignam que os moradores de Colégio eram descendentes dos Tupinambá, como indica Thomaz de Bonfim ESPINDOLA ( 1871, p. 248 ).


7 ) - FAMÍLIA LINGÜÍSTICA, Todavia, levando em conta os estudos clássicos, que remontam a Luís Vicencio Mamiani (1698), Martin de Nantes (1706) passando por Von Martius (1863), Nimuendaju, em trabalho publicado por Lowie (1946), classifica o idioma Kariri em quatro dialetos distintos: DZUBUKUA, KIPEA, PEDRA BRANCA (KAMURU) e SAPUYA; localiza dezesseis grupos pertencentes a esta família lingüística, dentre os quais os grupos do Rio São Francisco e entre estes os remanescentes de Porto Real do Colégio. (MATA, 2014: 40).


8 ) - ÍNDIOS DE COLÉGIO DZUBUKUA, 

os remanescentes de Porto Real do Colégio. Considera que este grupo pertence ao contingente de fala DZUBUKUA e que estaria misturado com outros grupos extintos do Baixo São Francisco, em decorrência do processo de aldeamento jesuítico aplicado na região. (MATA, 2014: 40).


9 ) - COMO LÍNGUA FRANCA, Queiroz afirma que “tal como o Tupi da Costa, a língua dos Kariri foi adotada como língua franca, servindo como um instrumento de comunicação entre os religiosos e uma significativa parcela dos povos nativos que habitavam, na época, as proximidades do São Francisco” ( QUEIROZ, 2008, 35).


10 ) - NOVA IDENTIDADE, Os índios ao mesclar ritos e significados tupis e católicos no seu culto e no seu modo de viver criaram uma nova identidade para aquela coletividade. Essa identidade não surgiu isoladamente, ela se afirmou diante da oposição do “outro” (o branco, colonizador, senhor de terras, católico), oposição à sua religião, ao seu projeto de sociedade, a escravidão indígena. (GEYZA SILVA, 2004: 14).


11 ) - CARIRI DENOMINAÇÕES, Cariri, Cayriris, Caririzes, Kareriz, Kaririz, Kiriri, Kiririzes, Quiriris. Embora ocupassem uma grande extensão territorial que ia do noroeste da Bahia e Sergipe ao Araripe, (...) Aparentemente Cariri e Caruru são um mesmo etnônimo com grafias diferentes e homofonia igual na língua francesa, por exemplo. Cariri, do ponto de vista lingüístico, constitui uma família reduzida. (Urban 1998).  (J. C. SILVA, 2003: 172-176).


12 ) - MISSÕES RELIGIOSAS CARIRI, 

Sua catequese teve início com o Padre João de Barros que os aldeou em 1650. Depois desse catequista, estiveram sob a direção de diferentes ordens religiosas nas missões Canabrava, Natu e Saco dos Morcegos, na Bahia, Geru (Juru, Jeru, atual Lagarto), em Sergipe e no Rio Real, dirigidos por carmelitas. (J. C. SILVA, 2003: 172-176).


13 ) - ENTRE OS COLONOS BRANCOS, 

Os Kiriri do Geru teriam sido, portanto, mais uma das tribos a compor a parentela nativa dos d’Ávila. Nas primeiras décadas do século XVIII, os indígenas dessa missão começaram a fugir e homiziar-se entre os colonos brancos (Góes Dantas 1973). Ainda em Sergipe, chamavam-se corirés e habitavam na aldeia do Rio Real da Praia e Propriá, segundo Góes Dantas (1987) . (J. C. SILVA, 2003: 172-176).


14 ) - CARIRI DA ALDEIA SÃO BRÁS, 

Hohenthal (1960), informa, por sua vez, que a Aldeia São Brás, da Missão de Nossa Senhora do Ó, perto de Penedo, em 1749, tutelada por jesuítas, era habitada por Cariri. Nessa aldeia, os nativos ainda pagãos eram chamados narves, o mesmo que alarves para o Padre Antonio Vieira. (J. C. SILVA, 2003: 172-176).


15 ) - CARIRIS DO LESTE, Os Cariri constituíram o grupo de mais alto nível tecnológico dentre os demais do leste brasileiro. Cultivavam mandioca, milho, feijão e algodão, dormiam em rede de 12 a 14 pés por 6 a 7 pés, capaz de conter quatro homens ou ao ar livre em volta de fogueiras, fabricavam cerâmica roletada, construíam cabanas de pau-a-pique cobertas de palha ou ramagem. J. C. SILVA, 2003: 172-176).


16 ) - DESIGNAM UMA ASCENDÊNCIA, 

quando um Kariri-Xocó se refere a seus ancestrais, não o faz traçando uma genealogia que lhe seja própria. “Nossos avós”, “Nossos tronco” designam uma ascendência comum ao grupo. Parece-nos que se atribui maior importância a uma ancestralidade que o legitime enquanto membro do grupo e por extensão, índio. (MATA, 2014: 118).


17 ) - PARTILHA DE IDENTIDADE, No entanto, não se pode descartar a importância da etnia como fator 

aglutinador, que lhes propicia o desenvolvimento de um sentido de pertinência a um grupo mais amplo que partilha de identidade e interesse comuns (GRILLO, 1974, P. 159). ( MATA, 2014: 119).


18 ) - COMO GRUPO ÉTNICO, Fazendo nossas palavras de Banton (1979, p. 171): “É relativamente fácil para os membros de uma minoria identificarem-se como grupo étnico, se vivem numa sociedade que reconhece a etnicidade e na qual se esperava que as pessoas tenham uma identidade étnica... Porém é mais difícil atingir este objetivo numa sociedade que define as divisões étnicas como ilegítimas ou transitórias”. (MATA, 2014: 160-161).


19 ) - DIREITO ÀS SUAS HERANÇAS, 

Apesar de viverem juntos há quase um século; os índios de Colégio ainda 

acionam, em certos contextos, como identidades que ora se opõem, ora se 

complementam, sua condição de Kariri ou Xocó, ou seu direito às suas heranças. (MATA, 2014: 141-142).


20 ) - RECEBIDOS ENTRE OS KARIRI, o Posto Indígena, ao ser criado, 

identificava o grupo sob sua proteção, como KARIRI. Entretanto, o grupo detém como parte importante de sua história a expulsão dos Xocó da ilha de São Pedro, a forma como foram recebidos entre os Kariri, bem como as tentativas de voltar em diversos momentos do passado. (MATA, 2014: 141-142).


21 ) - UNIÃO ÉTNICA NO RITUAL, 

quando existia a festa religiosa dos Xocós, que era situada em Sergipe, na ilha de São Pedro, os Kariris iam para as festividades. Quando era as festividades dos Kariri, vinha nessa irmandade perfeita. Foi quando os Xocós foram expulsos. O chefe político expulsou meus avós de lá. Então vieram e se alojaram aqui. Então eu já sou neto dos mais velhos dos Xocós. Mas está misturado, existe mistura grande. Quando o Xocó não é casado com a Kariri, o Kariri é casado com o Xocó. Hoje a família está unida”. (MATA, 2014: 142-143).


22 ) - ASCENDÊNCIA GENÉRICA, o termo “avô” também identifica esta 

ascendência genérica: “Sou filha de Porto Real do Colégio. Sou Kariri, Xocó e Pankararu. O meu pai era filho do natural de Pankararu, Pernambuco. Meus “avores” (avós) filhos natural de São Pedro, Sergipe. Então eu posso freqüentar três aldeias. Porque eu sou Kariri, Xocó e Pankararu”. (MATA, 2014: 145-146).


23 ) - A CATEGORIA ÍNDIO, Embora criada pela sociedade colonizadora, a categoria índio foi apropriada pelos diferentes grupos tribais, dando-lhe uma dimensão de unidade nacional. Esta identidade coletiva, em lugar de ser generalizadora e vazia, exerce o papel de aglutinar as populações mais diversas que se articulam politicamente em torno das mesmas reivindicações. (MATA, 2014: 147).


24 ) - INDICADORES DE INDIANIDADE, 

Criou também, pelo menos entre alguns do nordeste, um laço de 

pseudo-perentesco, através da crença de que todos os índios são irmãos de sangue. Paradoxalmente a FUNAI, em 26 de janeiro de 1981, através da Instrução Técnica Executiva nº 12, estabelece o sangue como um dos “Indicadores de Indianidade”. Se os índios usam a expressão dentro dos princípios de uma possível consangüinidade através de grupos sanguíneos. (MATA, 2014: 147).


25 ) - MEU SANGUE É LIMPO, Contudo, como outros setores da sociedade nacional, os Kariri-Xocó acreditam que sua unidade é transmitida do sangue. Em 1981, uma das mais antigas moradoras de Colégio, descendente de Inocêncio Pires, o famoso índio Xocó ao qual já nos referimos anteriormente, dizia: “sou cabloca, meu sangue é limpo, de família. É de raiz. Tire aí! O médico diz: eita cabocla limpa danada”. (MATA, 2014: 147). 


26 ) - NOÇÃO DE ÍNDIO PURO, Na realidade, ao referir ao fato de ter o sangue limpo, embora se 

autodenominando cabocla (que no contexto nos parece equivaler ao termo genérico usado por índios em situações de contacto permanente com a sociedade nacional) a entrevistada está atualizando a noção de “índio puro”, objeto das preocupações teóricas do século XIX (OLIVEIRA, 1978, p. 159). 


27 ) -  PROCESSO DE INDIANIZAÇÃO, No processo de reconstrução de uma identidade étnica, os “caboclos”, embora com os mesmos parâmetros ideológicos, percorrem o caminho inverso ao ideal do branqueamento; difundem um processo de indianização que, por não poder se respaldar em caracteres fenotípicos, evoca o mito do sangue. (MATA, 2014: 148).


28 ) - ESSÊNCIA DA INDIANIDADE, Sua forma de expressar a transmissão das qualidades morais pelo sangue se 

evidencia, pois, no fato de que todos os índios teriam o mesmo sangue, seriam irmãos de sangue. Ao mesmo tempo, o sangue contém a própria essência da indianidade. (MATA, 2014: 149).


29 ) - TRANSMISSORA DE QUALIDADES, O sangue, como se vê, é pensado como substância transmissora de qualidades físicas e morais. As últimas são, assim, naturalmente e se tornam passíveis de serem testadas empiricamente, através de um exame médico. (MATA, 2014: 149).


30 ) - HERDAM IDENTIDADES, Pelo sangue se herdam identidades diferenciadoras. Ao afirmar que todos os índios têm o mesmo sangue, essa propriedade fica evidenciada. Além disso, o indivíduo também se vê como parte de uma totalidade étnica que o envolve e define a partir de qualidades perpetuadas hereditariamente. ( MATA, 2014: 149 - 150).


31 ) - SIMBOLOGIA DO SANGUE, Cabe ressaltar, porém, que o símbolo “sangue está presente em todos os segmentos da sociedade nacional. É até mesmo cientificizado por autores diversos que o manipulam como transmissor de qualidades (ou defeitos, dependendo do contexto em que se aciona a categoria). ( MATA, 2014: 150).


32 ) - CRUZAMENTO DE SANGUE, A “ciência” reduz assim miscigenação e aculturação a uma “lógica biológica”. Os livros falam de uma herança indígena preservada na sociedade nacional através do “cruzamento de sangue”. Por conseguinte, também o campo intelectual idealiza o sangue, pelo menos, semanticamente, como transmissor do caráter dos diferentes segmentos étnicos e até mesmo do famigerado “caráter nacional”. (MATA, 2014: 150).


33 ) - AUTO-IDENTIFICAÇÃO, A comunidade de Porto Real do Colégio se auto-identifica como composta de 

ÍNDIOS. Quase sempre esta categoria tem como modelo o índios “abstrato” (OLIVEIRA, 1979, P. 19), imposto pela sociedade nacional, moldado na aldeia missionária. (MATA, 2014: 151).


34 ) - TERMOS ÍNDIO E CABOCLO, No cotidiano do grupo, os termos “índio” e “caboclo” são intercambiáveis, por 

força da imposição deste último ao longo do tempo. Todavia, atualmente há uma luta pelo emprego da terminologia “índio” em detrimento de “caboclo”, pelo conteúdo político que aquele designativo pode conter...(MATA, 2014: 153).


35 ) - ÍNDIOS DE COLÉGIO, Outros depoimentos colhidos confirmam que o termo “índios” é usado “quando a gente fala com pessoas de fora” “caboclo”, “quando a gente trata uns aos outros”. Ou ainda : “ os índios de Colégio” (coletivo) , “ lá vem que “ índio é coisa de rico”. Uma das mais idosas dentre as pessoas entrevistadas se identifica: “sou cabocla velha, dos troncos daqui”. (MATA, 2014: 154).


36 ) - CABOCLO É ÍNDIO, A distinção índio/caboclo é, até onde conseguimos apurar, algo que parece estar sendo elaborado como reforço da identidade grupal. Seria a reapropriação do conceito de índio genérico em bases mais políticas. Uma prova disto é que para uma das autoridades, tida como índio de antigamente, não existe diferença entre os dois termos: “ No meu conhecimento, caboclo, caboclo é índio”. (MATA, 2014: 154-155).


37 ) - DESCENDENTES DAS TRIBOS, 

Carlos Estevão de Oliveira, do Museu Goeldi, relata em 1935 que “ pelas 

investigações realizadas naquela cidade ( Porto Real do Colégio ) constatei que ali vivem descendentes da tribos NATU, Chocó, KARAPOTÓ e possivelmente Parikó e Nakoã, que segundo me declarou a velha cabocla Natu, Maria Tomásia “ foram também aldeadas em Colégio ” . ( ANTUNES, 1973: 33 ).


38 ) - NEGAR A EXISTÊNCIA, Opondo-se índios de raça primitiva a caboclos, confundindo-se cruzamento e assimilação, passava-se a negar a existência de populações indígenas em áreas onde as disputas de terras se acirravam. ( MATA, 2014: 65).


39 ) - DIREITO A IDENTIDADE, Usando o critério biológico de raça para ultimar a usurpação territorial, subitamente aspectos somáticos se tornam eficientes para negar a habitantes de aldeias a posse secular da terra e o direito a uma identidade diferenciadora. ( MATA, 2014: 65).


40 ) - PROCESSO DE CIVILIZAÇÃO, No que se refere à população indígena, considerada cabocla, a uns e a outros 

interessava a política do desaldeamento para estimular o processo de civilização da sociedade brasileira. ( MATA, 2014: 66).


41 ) - CARÁTER DISCRIMINADOR, O termo caboclo, que desde os tempos mais remotos até estudos antropológicos recentes revelou um caráter discriminador da sociedade colonizadora, passa a possuir uma característica evolucionista-assimilacionista. (MATA, 2014: 67).


42 ) - COLONIZAÇÃO INTERNA, 

Pudemos observar que as relações de subordinação, que remontam ao período colonial, se reproduzem sob a forma contemporânea de colonização interna, marcada pela escassez de terra e a conseqüente proletarização. Resta, então aos Kariri-Xocó a venda da força de trabalho pela inserção no sistema regional da economia nacional. (MATA, 2014: 167).


43 ) - COMUNHÃO  COM SEUS  ANTEPASSADOS, A tradição histórica e a força mágica da terra dos ancestrais e de seus rituais dão ao território a ser conquistado um significado que, provavelmente, desde então, nenhum outro pedaço de terra poderá ter. Só aquela terra conquistada resgata, para o grupo, sua história e põe em comunhão com seus antepassados. 

( MATA, 2014: 270 -

271 ).


44 ) - UMA ESTRUTURA ÉTNICA, Além disso, como demonstra as várias situações vivenciadas pelas sociedades indígenas e pelas minorias étnicas de um modo geral, sob uma estrutura de classe, identificamos uma estrutura étnica (OLIVEIRA, 1972, p. 105). 


45 ) - RELAÇÕES DE CLASSE, 

Entendemos assim, que as relações ditas inter-raciais são um dos aspectos, na sociedade brasileira, das relações de classe (STAVENHAGEN, 1978, p. 87).


46 ) - CONJUNTO DE RELAÇÕES, Nesta sociedade, o índio está situado num conjunto de relações que, ao mesmo tempo em que o colocam como trabalhador, classificam-no como mão-de-obra menos qualificada, em conseqüência de linha étnica. Este componente atua de forma a discriminá-lo dentre aqueles que seriam seus companheiros de trabalho”. (MATA, 2014: 167).


47 ) - ÍNDIO GENÉRICO OU ABSTRATO,

Os dados etnográficos registram uma situação criada e manipulada do modelo do “índio genérico” ou “índio abstrato”. Paradoxalmente, é este modelo que vai ser usado como referência para reforçar o sentido de pertinência a um grupo, gerado pelas “relações entre fronteiras exclusivas e inclusas nas situações de contacto. (BANTON, 1979, p. 166). 


48 ) - IDENTIDADE KARIRI-XOCÓ, Nos critérios de auto-identificação étnica a categoria “caboclo” vai cedendo lugar à identidade grupal Kariri-Xocó ou à identidade “índio”, esta última enquanto aglutinadora dos diferentes povos indígenas do Brasil (OLIVEIRA, 1988, p. 30). 


49 ) - CARÁTER MÍTICO INTANGÍVEL, 

No que se refere aos Kariri-Xocó, constitui fator importantíssimo para a 

manutenção da pertinência grupal, mesmo em períodos de maior repressão, a prática do ritual do Ouricuri. Neste se revivem as crenças numa ascendência comum e se reforça o caráter mítico (e assim, intangível) desta ascendência.(MATA, 2014: 169).


50 ) - MOVIMENTO INDÍGENA, No momento em que a consciência indígena se mobiliza na defesa de seus direitos e em que as condições políticas vigentes na sociedade nacional permitem o surgimento de “movimento indígena”, é também o Ouricuri que orientará os Kariri-Xocó (até esta, uma identidade imposta pela política indigenista) no seu processo de recriação de uma indianidade. Ainda, é do espaço físico do Ouricuri que saem para reconquista da terra que acreditam lhes pertencer. (MATA, 2014: 169).


51 ) - CONSTRUINDO A HISTÓRIA, Os índios Kariri-Xocó passam a se considerar uma minoria política unida nas exigências que fazem à sociedade nacional. São pessoas construindo ou tentando construir sua própria história. Acreditamos ser esta postura que dá sentido à maneira como o grupo se vê e como traduz suas estruturas políticas e sociais. Afinal, as aparentes contradições de sua organização grupal carregam o peso de um longo período de integração à sociedade nacional. (MATA, 2014: 169).


52 ) - PRINCÍPIO ORGANIZADOR, O Ouricuri, pela importância que revela ocupar entre os Kariri-Xocó, nos leva a crer que se caracteriza como princípio 

organizador do cotidiano grupal. Ordena a estrutura da vida perceptível, vez que contém a ordenação do sagrado, do misterioso, do intangível, daquele reduto da vida indígena que a sociedade nacional não conseguiu dominar. (MATA, 2014: 172).


53 ) - FORMAS DE SUBSISTIR, Todavia, somente a apreensão do significado deste complexo terra-sagrada-ritual nos permitirá compreender por que os Kariri-Xocó, expropriados, encontram formas de subsistir, sem se distanciar de seu santuário. (MATA, 2014: 172).


54 ) - REELABORAÇÃO DA IDENTIDADE, É, ainda, este complexo território sagrado-ritual secreto, que nos fornecerá elementos de compreensão do porquê se organizaram para invadir a Sementeira, ao mesmo tempo em que desencadeiam um processo de reelaboração de sua identidade, enquanto forma eficiente de luta pelos seus direitos à terra e à condição de índio. (MATA, 2014: 172).


55 ) - OURICURI DA MATA ORIGINAL,  

Cabe lembrar que, como ficou evidenciado na entrevista feita ao pajé sobre caça em terras do Ouricuri, estes cem hectares se caracterizam como o que restou da mata original dos tabuleiros nas cercanias de Colégio. (MATA, 2014: 176-177) .


56 ) - TABA DOS ANTEPASSADOS, De acordo com entrevistas de membros do próprio grupo, este não seria o local 

da “taba” de seus antepassados. A mesma estaria localizada no Alto do Bode, área hoje pertencente à Sementeira, mas sem que a mata, necessária à manutenção da 

privacidade do rito e de sua relação com a própria vegetação, tenha sido preservada. (MATA, 2014: 177).


57 ) - TABA DOS RITUAIS, A mata é relativamente cerrada e tem-se acesso à taba, isto é, ao local onde se concentra o ritual, por estreitos caminhos, normalmente percorridos a pé ou por carroças. Chega-se, então, a uma clareira a que os índios chamam, muito propriamente, de “limpo”. Aí se desenrolam as cerimônias do complexo ritual do Ouricuri. (MATA, 2014: 178).


58 ) - AFIRMAR SUA INDIANIDADE, 

Atualmente, em Porto Real do Colégio, como o toré tomou uma dimensão muito importante quando o grupo quer afirmar sua indianidade para importantes da sociedade nacional, grande atenção é dada à indumentária. (MATA, 2014: 198).


59 ) - REENCENAÇÃO DA ETNICIDADE, 

O complexo do Ouricuri é, assim, um modelo simbólico para a reencenação 

contínua da etnicidade. O ritual secreto fornece um “programa” para organização dos processo sociais e para a elaboração de símbolos culturais (étnicos), fontes extrínsecas de informação, respostas estratégicas e estilizadas para dar sentido e propósito político às situações de tensão face à sociedade nacional. (MATA, 2014: 199).


60 ) - SPI NO NORDESTE, Em 1944, depois que os Kariri-Xocó lutaram por direitos indígenas há décadas, o SPI reconheceu-os oficialmente enquanto grupo indígena. A 4ª. Divisão Regional do SPI localizada em Recife foi responsável por assistir 8 diferentes grupos indígenas no Nordeste durante a década de 1940 ( PINTO, 1956:20).


61 ) - STATUS DE INDIANIDADE, Com a criação do Posto Indígena (1944), a comunidade Kariri-Xocó readquire seu “status” de indianidade perante a sociedade nacional. Sua carência de terra passa, assim, a preocupar os diferentes agentes do Serviço de Proteção aos Índios. (MATA, 2014: 97).


62 ) - REGISTRO DOS INDÍGENAS, O posto do SPI localizado em Porto Real do Colégio registrou uma população 

estimada em 173 índios entre eles constavam “Natu, Xocó, Carapoto e „Pratio,‟ Naconã, alguns dos quais eram [índios] „Cariri‟” ( PINTO, 1956:22 ).


63 ) - IMPERA A INDIGÊNCIA, Já em 1945, no primeiro Relatório à 4ª Inspetoria Regional, o agente do Posto 

solicita informações referentes a terras devolutas sob o domínio da Fazenda Estadual de Alagoas. Registra que entre os índios “impera a indigência”, sobremodo para aqueles que não pescam, nem trabalham na cerâmica. ( MATA, 2014: 98).


64 ) - SOBRENOMES INDÍGENAS,  

Contrário àquele feito pelo Marquês de Pombal, que, ao laicizar as aldeias 

indígenas atribui nomes e sobrenomes portugueses aos índios, substitui os tradicionais sobrenomes de origem portuguesa por outros que considera indígenas. Assim, aleatoriamente, Suíra, Nindé, Piragibe, Taré (e outros) foram nomes com que registrou no posto os Queirós, os Santiago, os Pires... (MEADER, 1978, p. 20). (MATA, 2014: 132-133).


65 ) - CARGOS LEGITIMADOS, Com o passar do tempo, esses cargos foram sendo legitimados e atualmente o pajé e o cacique são escolhidos no Ouricuri, num ritual mágico-político, em que a futura autoridade “sente” que foi indicada por “entes superiores”, por seus ancestrais. (MATA, 2014: 134).


66 ) - PROCESSO DE CIVILIZAÇÃO, No que se refere à população indígena, considerada cabocla, a uns e a outros 

interessava a política do desaldeamento para estimular o processo de civilização da sociedade brasileira. ( MATA, 2014: 66).


67 ) - OS RITUAIS CONTINUAM, Os Kariri, embora tenham perdido suas roças de subsistência e dispersado no 

começo do século XX para uma rua da vila que cresceu em volta do colégio da missão jesuítica, denominada então de Porto Real do Colégio, conseguiram manter uma pequena parcela de terra de 200 hectares, onde continuavam a celebrar seus rituais, que passaram a ser conhecidos, o território e o ritual,como Ouricuri. ( CUNHA, 2008 : 21-22 ).


68 ) - A COLONIA CORTADA, Nas terras da Colônia a população consegue botar roçado... Há registro, também, de queixas de que as sementes enviadas pelo órgão tutelar nem sempre chegaram à região em período condizente com o ciclo agrícola. Acresce que, em 1950, esta área é cortada pela ferrovia que chega, então, a Porto Real do Colégio. (MATA, 2014: 99).


69 ) - TRABALHANDO NO ARROZ, O plantio de arroz de inundação, apesar de não requisitar exclusivamente a mão-de-obra indígena, é, atividade histórica no Baixo São Francisco, havendo sido praticada sob orientação dos jesuítas nas aldeias de Colégio e São Brás. (MATA, 2014: 90-91).


70 ) - TRABALHANDO ALUGADO, 

Caracterizado por basear-se no trabalho familiar, complementado pela contratação de trabalhador alugado, o ciclo agrícola era iniciado com limpa dos campos, seguido do plantio das sementeiras. (MATA, 2014: 92).


71 ) - PARA AS TERRAS ALTAS, 

Terminando o ciclo agrícola das terras inundáveis, parte da mão-de-obra se 

deslocava para as terras altas, para a colheita do algodão (herbáceo). Embora considerando em alguns momentos da agricultura de Porto Real do Colégio como segundo produto mais importante, havendo mesmo sido criado um Serviço de Algodão entre 1924 e 1941, COSTA, (1932, p. 66).


72 ) - FABRICAÇÃO FIOS DE ALGODÃO, 

considera-o como cultura de pobres e caracteriza o seu plantio como destinado, sobretudo ao alimento de animais e ao fabrico de óleo caseiro. Pierson registrou em sua passagem pelo Baixo São Francisco a fabricação doméstica de fios de algodão (PIERSON, 1972, P. 498).


73 ) - TRABALHADORES ÍNDIOS, Assim, dezembro, o início da entressafra do arroz, é o período de maior mobilização de trabalhadores índios para as terras altas. Vale lembrar, no entanto, que em nosso trabalho de campo registramos a maior parte das informações referentes ao arroz. (MATA, 2014: 95).


74 ) - RESTOLHO DAS CULTURAS, Além de colher algodão, no verão os trabalhadores eram mobilizados para trazer o gado das terras altas para comer o restolho das culturas de inundação, sobretudo a palha do arroz. Segundo Andrade, haveria, pois na prática tradicional da agropecuária do Baixo São Francisco. (MATA, 2014: 95).


75 ) - ROÇAS PLANTADAS DE CAPIM, 

Quando há uma maior concentração de terras e os criadores, por compra de sítios, ou por deixaram de alugar terras para a cultura a trabalhadores agrícolas, exigem que os menos entreguem as antigas roças plantadas de capim, temos notícia da concentração de trabalhadores índios para a tarefa de plantar o pasto para a implementação de uma pecuária mais intensiva. (MATA, 2014: 96).


76 ) - EDIFICAÇÕES DA CODEVASF, (...) em torno de 150 famílias Kariri-Xocó fizeram as áreas Sementeira-Fazenda Modelo local de habitação em 1978, muitos provenientes da Rua dos Caboclos, onde tinham vividos pelo menos desde 1940. Essas famílias Kariri-Xocó ocuparam as edificações da CODEVASF. NASCIMENTO, 2000, 39)


77 ) - CONSTRUÇÃO DE 60 CASAS, Em 1981 a embaixada Canadense financiou a construção de 60 casas (cada uma tendo uma sala, cozinha e 2 quartos) para famílias que estavam vivendo nas piores condições (Mata 1989). ( NASCIMENTO, 2000, 41).


78 ) - SUBSEQÜENTE DESINTRUSÃO, ... o GT de 1980, para fins de constituição de uma Reserva Indígena, parecia bastante viável (...) das terras e benfeitorias implementadas de boa fé pelos referidos posseiros e sua subseqüente desintrusão, e concretizar a transmissão de domínio da ex-Fazenda Modelo da CODEVASF para a União, sendo que o imóvel já estava imitido na posse da FUNAI. ( NASCIMENTO , 2000 : 34-35 ).


79 ) IDENTIFICAÇÃO KARIRI-XOCÓ, A 

portaria nº 1765/E, de 18/09/84, dois anos depois deste parecer, portanto, a Presidência da FUNAI, instituiu novo GT para proceder, desta feita, aos estudos de Identificação da Área Indígena Kariri-Xokó. ( NASCIMENTO, 2000: 36 ).


80 ) - PROCESSO DE SEGREGAÇÃO, 

Todo o começo do séc. XX foi marcado por um processo de segregação e penúria dos índios desta região. Viviam trabalhando nas grandes plantações como meeiros ou recebiam pagamentos de subsistência. Algumas mulheres faziam utensílios de cerâmica. ( MATA, 1989, 7).


81 ) CONFINADOS NA RUA, Por volta de 1940, os índios que não foram embora da região, eram discriminados pelos moradores de Porto Real do Colégio e já estavam todos confinados na Rua dos Caboclos, a 300 metros da praça central, vivendo o cotidiano de atividades urbanas, dentro de um contexto das populações mais pobres do município (MATA, 1989, 7).


82 ) - PROCESSO DE CIVILIZAÇÃO, No que se refere à população indígena, considerada cabocla, a uns e a outros 

interessava a política do desaldeamento para estimular o processo de civilização da sociedade brasileira. ( MATA, 2014: 66).


83 ) - CONTROLE DO ESTADO, As terras das aldeias, porém, passaram para o controle do Estado, que instituiu a administração leiga, assistida por um padre ou um missionário de diferentes ordens religiosas (DUARTE, 1969, p. 91). (MATA, 2014: 52).


84 ) - PROCESSO EVOLUTIVO, Se pensarmos o índio como etapa inicial do processo evolutivo, em seu estado selvagem, o caboclo seria um meio caminho entre índio que já não pode ser e o branco que não quer ou não conseguirá ser. Produto da cultura ocidental é por ela condenado ao desaparecimento por “leis naturais”, já que não está “apto” a sobreviver numa sociedade civilizada. (MATA, 2014: 67).


85 ) - PRODUÇÃO CERÂMICA,  A produção cerâmica consegue permanecer estável, apesar das diferentes formas de acesso à terra, aqui já referidas, ou quando novas estruturas fundiárias são introduzidas no Baixo São Francisco. (MATA, 2014: 101).


86 ) - ÍNDIOS DA PARÓQUIA DE COLÉGIO, As referências escritas à produção de objetos de barro pelas mulheres da “aldeia” de Porto Real do Colégio, remontam ao século XIX. Aires de Casal em sua Coreografia Brasílica, que obteve autorização para ser publicada em 1817, se refere a índios da paróquia de Colégio, cujas mulheres fabricam peças de barro. (MATA, 2014 : 102).


87 ) - AGRICULTURA E LOUÇA, Em relatório de 1852, a respeito das aldeias e “índios domesticados”, ao referir-se a Colégio, o autor registra que seus habitantes vivem da pesca, agricultura e venda de “grosseira louça de barro, manufaturada pelas mulheres”(CALVET, 1852). (MATA, 2014: 102).


88 ) - SOBREVIVER DA CERÂMICA,  

Sem terras para cultivar, os cariri-xocós se valeram para sobreviver da cerâmica 

feita pelas mulheres, vendida nas feiras de Propriá e Penedo, às vezes vendida a preços mais baixos ainda crua, aos homens, alguns indígenas, tinham fornos. ( MATA, 1989: 100-110 ).


89 ) - PESCA DE CANIÇO COM JERERÉ, “Quando era tempo de enchente, antes da criação dessas barragens, ficava aquela água barrenta, uns fazia pesca na beira do rio, aquela pesca de caniço, ou com jereré. Então os proprietários, que vivia tomando conta desta beira de rio, foram cortando aquele capim, então a gente não tinha mais onde pescar”. (MATA, 2014: 111).


90 ) - CONTROLE DAS MARGENS DO RIO, O relato acima, além de registrar a atitude dos proprietários, ampliando seu controle sobre a terra, sobre as margens do rio e, por extensão, sobre o próprio rio, deixa evidente a constante situação de conflito, já caracterizado nas formas como o barro é obtido. (MATA, 2014: 111).


91 ) - TÉCNICA DA PESCA DO CANIÇO, 

Uma fila de mulheres com água até a altura do peito, avança vagarosamente em direção à margem, levando o peixe a zona onde há canas;... O peixe, assim apanhado, é removido por meio de uma abertura na parte superior (HOHENTHAL Jr. 1960, p. 62). (MATA, 2014: 112).


92 ) - CAÇA DE TANJA DO VEADO, A tanja consiste em cerca de vinte homens que entram na mata e, fazendo barulho, vão cercando os animais em direção aos quatro ou cinco caçadores armados de espingarda. “Com aquela zoada, gritando: Ei, ei,ei... e quando a caça passa o caçador está com a espingarda ali na frente. (MATA, 2014: 115).


93 ) - CAÇA KARIRI-XOCÓ, Em relatório do Posto Indígena, ao SPI, em 1965, encontramos o seguinte: “Os índios ainda caçam em regiões longínquas do Posto: aves, preás, coelhos, veados”. (MATA, 2014: 115).


94 ) - ORGANIZAÇÃO SOCIAL, Em seu estudo clássico, Lowie se refere à família linguística Kariri, aí incorporando todos os grupos considerados representantes desta família. Mesmo assim sua menção à organização social e parentesco é muito breve, limitando-se a registrar que, aos homens Kariri eram permitidas muitas mulheres e o divórcio era fácil e freqüente. ( MATA, 2014: 116).


95 ) - SISTEMA DE PARENTESCO, Diz 

 Nantes (1709, p. 21), segundo a qual as mulheres Kariri mandariam nos homens (LOWIE, 1946, p. 558). Este comentário o leva ( e a outros autores) a inferir a existência de uma possível estrutura matriarcal (não se fala em matrilinealidade ou qualquer outra expressão que tenta dar conta de um possível sistema de parentesco ou estrutura familiar traçados pelo lado feminino). ( MATA, 2014: 116).


96 ) - GRAU DE ACULTURAÇÃO, Os antropólogos que visitaram o grupo de Porto Real do Colégio nos anos 1950 e 1960, embora citem as fontes acima referidas, preocupam-se mais com o problema da mudança e o grau de aculturação dos “remanescentes” aos padrões de comportamento da sociedade local. Arrolam também “traços da cultura tradicional” mantidos pelos mesmos. (MATA, 2014:116).


97 ) - INTERCRUZAMENTOS TRIBAIS, 

 a primitiva estrutura social dos Kariri desarticulou-se, ante o fluxo crescente das imposições da sociedade portuguesa, que, mudando os termos de parentesco, teria produzido “efeitos de desorganização”, reforçados pelos intercruzamentos tribais nas aldeias. Os grupos sobreviventes, aculturados por tantas gerações, se tomam, para estes autores, pelo menos na observação do quotidiano, indistintos das populações “neo-brasileiras” locais (FERRARI, 1956b, p. 302 ) ; HOHENTHAL Jr, 1960b, p.59). (MATA,2014: 117).


98 ) - SERVIÇO PRESTADO REPERCUTEM, (...) Na realidade a escassez de terra e a condição de trabalho assalariado ou por serviço prestado repercutem diretamente na estrutura familiar da população indígena de Porto Real do Colégio. (... ) em (MATA, 2104: 117).


99 ) - CERÂMICA EM GRUPO, Como a cerâmica é um trabalho importante para a reprodução do grupo, as mulheres costumam trabalhar juntas, partilhando do mesmo ambiente, que se configura num espaço mais livre do que aquele encontrado na atividade agrícola. É comum que grupos de irmãs e suas filha trabalhem juntas. (MATA, 2014: 118).


100 ) - FESTAS DA PADROEIRA, Os índios participam, ainda das festas da padroeira, Nossa Senhora da Conceição. Quando havia o hábito de durante o mês de maio, dedicado a Nossa Senhora, celebrar um ato solene, todos as noites na igreja local, fato que ocorria no Nordeste, de modo geral, diferentes segmentos da população eram encarregados dos preparativos de uma determinada noite. (MATA, 2014: 165).


101 ) - EDUCANDÁRIOS DE COMUNIDADE, A partir da 5ª série os meninos e meninas Kariri-Xocó passam a estudar no ginásio local, mantido pela Campanha Nacional de Educandários de Comunidade. A FUNAI financia o material escolar e o uniforme. Se o aluno for reprovado, perde o direito à ajuda para o ano de repetência, voltando a obtê-la ao passar para a série seguinte. ( MATA, 2014: 166).


102 ) - APARELHOS DE COMUNICAÇÃO, 

Indistintamente dos demais membros das camadas mais pobres de Porto Real do Colégio, os Kariri-Xocó, também prezam muito possuir rádio, gravador ou televisão. Muitas vezes moram em condições extremamente precárias, mas exibem com orgulho estes aparelhos de comunicação que os põem em constante interação com diferentes segmentos da cultura nacional. (MATA, 2014: 166).


103 ) - TOMARAM AS TERRAS, Em 1935, o antropólogo Carlos Estevão de Oliveira visita Porto Real do Colégio e encontra os remanescentes indígenas em situação econômica que descreve como “ a pior possível”, acrescentando: Sem que lhes valesse o direito de posse já muitas vezes secular, viram pouco a pouco os “civilizados” tomarem-lhes as terras em que faziam lavoura (OLIVEIRA, 1943, p. 173). (MATA, 2014: 120).


104 ) - FALTA DE ALTERNATIVAS, A expropriação levou ao que tudo indica, ao longo dos anos, a população indígena a se fixar em Colégio, numa rua de periferia. Expropriados, foram também segregados. Submeteram-se, entretanto, a esta situação, pela falta de alternativas de trabalho agrícola, senão em terras de proprietários. (MATA, 2014: 120).


105 ) - ÍNDIOS NOS CASEBRES, A expropriação, pois, altera a estrutura da família, como apontamos acima, e força a localização dos trabalhadores índios, sem terra, na área urbana de Colégio. Estes vão constituir parte da população mais pobre da cidade. O local onde os índios se congregam em seus casebres é conhecida como “rua dos índios” ou “rua dos caboclos”. (MATA, 2014: 120).


106 ) - ONDE BOTAR ROÇAS, De acordo com o relatório do primeiro agente do Posto, referente a 1944, a situação era seguinte: “Os caboclos não têm onde botar roças. O domínio territorial deles, outrora,conforme documentos nos Autos dos Processos da Questão entre Fazenda Federam com a Estadual, em 1929, é de duas léguas em quadra. (MATA, 2014: 121-122).


107 ) - LOTEAR E REPARTIR, Em 1924 o senhor Costa Rego, Governador do Estado, mandou lotear e repartir 300 hectares de terra para o Campo Experimentação Agrícola (o que hoje sob a jurisdição do Ministério da Agricultura) e os restantes dos lotes para serem vendidos. (MATA, 2014: 121-122).


108 ) - PESCARIA NO RIO, O agente do Posto acrescenta mais adiante: <<O posto, como não têm, por enquanto, meios de renda, pelo motivo de não ter terras, então poderá ir fazendo exploração de pescaria no Rio São Francisco, até que o SPI possa fazer reivindicação dos terrenos que pertenciam aos índios. (MATA, 2014: 122).


109 ) - NUMA RUA ESTREITA, Viviam na rua dos índios, 166 pessoas que, segundo o mesmo relatório ( 1945 ), tinham na cerâmica a principal ocupação. O documento registra que a população indígena habita em 67 choupanas, numa rua estreita, perpendicular ao rio. (MATA, 2014: 122).


110 ) - CASAS DE PALHA, A rua dos índios é descrita como formada por casas de taipa, com piso de terra batida e portas, janelas e cobertura feitas de palha de arroz trançada. Em 1960 havia 53 casas na referida rua. Em 1967, 85, descritas como “choupanas”, dando-se à sua precariedade. (MATA, 2014: 122).


111 ) - PAUPÉRRIMO ESTADO, Em documento de 1967 a situação não se apresenta de modo diferente: “Vivem estes índios em paupérrimo estado de vida. Há necessidade de consecução de maior área de terra para desenvolverem suas lavouras, cultivarem suas fruteiras, igualmente criações de animais, pois não podem sequer criar cabras para tirar leite para os filhos.” (BRASIL, Ministério do Interior, 1967). (MATA, 2014: 123).


112 ) - NÃO PODIAM CRIAR, O fato de não criar animais domésticos na rua dos índios é uma queixa registrada em várias ocasiões. As mulheres alegavam que não podiam ter qualquer tipo de criação de animais domésticos, pois corriam o risco de eles invadirem o quintal dos brancos, causando conflito> (MATA, 2014: 123).


113 ) - O ALTO DO BODE, Aqueles que se dizem Kariri, se julgam os verdadeiros donos das terras ocupadas. Dizem que nelas está o Alto do Bode, local em que se realizava o antigo ritual dos Kariri. Se, ao tomarem as terras da Sementeira, este argumento será usado para legitimar a invasão do grupo como um todo, como veremos, no conflito de identidades ele é acionado para separar Kariri de Xocó. (MATA, 2014: 143).


114 ) - TORÉ DE ROUPA, O “toré de roupa” é dançado em qualquer feste, inclusive pelas crianças índias na escola, como outras brincariam de roda. Do “toré de roupa” podem participar pessoas não índias, sendo comum que moradores de Colégio que têm maior aproximação com os índios...(MATA, 2014: 195).


115 ) - TORÉ DE APRESENTAÇÃO, Como veremos, ao tratar da invasão da Sementeira, há toda uma reelaboração do significado desta dança hoje transformada em “representação”, como a ela se referem os Kariri-Xocó, quando a realizam com finalidade étnico-políticas. O mesmo se dá com o arco e flecha. (MATA, 2014: 198).


116 ) - NAS PLANTAÇÕES DE CANA, Entre 1975, quando se dão as desapropriações aqui tratadas, e 1978, ano em que invadem a Sementeira, a grande maioria da população masculina jovem e até mesmo algumas mulheres, tiveram nas plantações de cana, em expansão no sul de Alagoas, sua principal fonte de trabalho, além da produção de peças de cerâmica pelas mulheres. (MATA, 2014: 229).


117 ) - FORA DE CASA, Entre os rapazes solteiros, havia muitos que, trabalhando na cana, ficavam a semana toda fora de casa, alojados em galpões da própria fazenda em que trabalhavam, só vindo para casa aos sábados, para fazer “ a feira”. (MATA, 2014: 230).


118 ) - FAZENDA DESATIVADA, Somente quando a fazenda é totalmente desativada pela CODEVASF, a partir de 1975, a população de Colégio, e em particular os índios, se vêem privados do uso dessas terras, pois a companhia proíbe a entrada de estranhos. Ao mesmo tempo, aos olhos da população, a Sementeira parece abandonada. (MATA, 2014: 247).


119 ) - TRANSFERÊNCIA DO GRUPO, O cacique Xocó escreve inicialmente, uma carta ao Coordenador do Projeto de Piscicultura do Baixo São Francisco, em Propriá, em 9 de novembro de 1977. Nesta, solicita a transferência do grupo da rua dos índios para as dependências da Sementeira, enumerando as construções lá existentes e, então, desativadas, que poderiam ser de grande utilidade para a melhoria de condições de vida de seu povo. (MATA, 2014: 247-248).


120 ) - NEGOCIAÇÕES DA SEMENTEIRA, 

Pela carta fica claro, ainda, que o Coordenador do projeto já tivera outros 

contatos com os índios, em negociações sobre a Sementeira. Segundo a mesma carta, ainda, o cacique já teria, em data não citada, enviado um documento memorial ao Ministério do Interior, solicitando as terras da Sementeira. (MATA, 2014: 247-248).


121 ) - INACIANOS, Segundo Vera L. C. Mata, os Inacianos...chegaram a Pernambuco em 1551. E, 1568 fundaram o Colégio do Recife, ao qual se deve a presença da ordem religiosa na região da atual Porto Real do Colégio. (MATA, 2014: 43-44).


122 ) - COLÉGIO DO RECIFE, no que diz Vera L. C. Mata,...Do Colégio dos jesuítas do Recife vieram os missionários que fundaram os aldeamentos correspondentes aos atuais municípios alagoanos de São Brás e Porto Real do Colégio. (MATA, 2014: 46).


123 ) - DUAS LÉGUAS, As terras das duas aldeias foram concedidas, para fins de catequese, pelo Governador de Pernambuco, Sebastião de Castro Caldas, em 1º de janeiro de 1708. (BIBLIOTECA NACIONAL, DOCUMENTOS HISTÓRICOS. V. LXIV, p. 67).


124 ) - FUNDAÇÃO DO ALDEAMENTO, os jesuítas só obtiveram a concessão de terras para a fundação de um aldeamento de índios durante o século XVII e data de sua formação é de 04 de maio de 1661 ( RIBEIRO , Adriano S., 2005:20 ).


125 ) - FAZENDA CIVILIZATÓRIA JESUÍTICA, (...) As fazendas serviam a retórica civilizatória da Companhia, (...) “ocupação das gentes”, o sustento dos colégios e da própria ordem religiosa no Brasil,... eram, sobretudo os índios para, de acordo com o espírito catequético, livrá-los da vida errante e ensinar-lhes a agricultura (...) Segundo Serafim Leite (1945, Tomo IV, p. 170 ).


126 ) - URUBUMIRIM AUTONOMIA ADMINISTRATIVA, (...) na fabricação de objetos de couro, enfermeiros e vários artífices, dentro do elenco das “artes e ofícios”,.. independência eclesiástica. Tanto assim que nesse ano o Padre Antônio Pais ali realizou profissão solene de fé (...) em (DUARTE, 1966, p.178). 


127 ) - ALDEIA CRISTÃ, (...) "A aldeia criada para o índio era uma redução espacial e funcional da antiga oca,..., as famílias indígenas foram separadas e divididas em suas “casas”,... no conceito cristão, restrito às famílias nucleares construídas..., com as novas práticas econômicas que também surgiram". ( Geyza SILVA, 2004: 96).


128 ) - ANIMAIS DOMÉSTICOS TRAZIDOS,  Da Europa foram trazidos, desde a primeira metade do século XVI, os animais domésticos – sobretudo bovinos, caprinos, suínos e eqüinos; (GUEDES, 2006: 40).


129 ) - VEGETAIS DO COLONIZADOR, (...) "da África, vieram vegetais como o sorgo, o inhame, o cará; da Ásia,fruteiras como a bananeira, a mangueira, a jaqueira e o arroz; e da Oceania, a fruta-pão e o coqueiro". (...) em (GUEDES, 2006: 40).


130 ) - JUNTA DAS MISSÕES, a criação da Junta das Missões de Pernambuco à diversidade das ordens religiosas envolvidas com os novos grupos indígenas tapuias e criar mecanismos de controle e internalizarão do 

processo decisório na burocracia imperial, em 1698. (CAVALCANTI, 2009: 75).


131 ) - O SPI , Com a criação do Serviço de Proteção aos Índios e Localização de Trabalhadores Nacionais (SPILTN) em 1910, o governo federal passou a adotar posturas específicas em relação às populações indígenas do Brasil. ( DANTAS, 2010: 131 ).


132 ) - ÍNDIOS RECONHECIDOS, No entanto, os Carnijó foram os primeiros índios do Nordeste a serem reconhecidos pelo Estado através do SPI e da implantação de um Posto Indígena em 1924, por apresentarem traços culturais que os identificariam prontamente como um grupo indígena, de acordo com os parâmetros de “indianidade”. ( DANTAS, 2010: 133 ).


133 ) - PADRE ALFREDO DÂMASO, a partir da intermediação do Padre Alfredo Pinto Dâmaso na relação entre os Carnijó e o SPI (entre 1920 e 1924), de acordo com as reivindicações dos primeiros, incluindo-se como objetivo a instalação do Posto Indígena na área. . ( DANTAS, 2010: 133 ).


134 ) - OCUPAÇÃO DA FAZENDA MODELO, No dia 31 de outubro de 1978, toda a comunidade indígena, num total de cerca de 150 famílias, ou pouco mais de 700 indivíduos, saiu da Mata do Ouricuri em que estivera concentrada nos dias anteriores e tomou posse da Fazenda Modelo. Deu inicio, assim, a um período de retomada de todo o seu território tradicional, luta essa que ainda apresentaria vários percalços, perdurando até o momento presente. (NASCIMENTO, 2000: 32-33 ).


135 ) - LIMITES DA EXTINTA ALDEIA, Em 1914, Porto Real do Colégio é visitado por engenheiro da Secretaria de Agricultura, Indústria, Comércio e Obras Públicas. A finalidade desta visita é levantar os limites da “extinta aldeia” e verificar a situação das pessoas, que se encontram na área a ser demarcada e que dizem proprietárias. (REIS, 1914, p. 139). (MATA, 2014: 81).


136 ) - O SERVIÇO DE ALGODÃO, Em 1923 fora instalado o Serviço de Algodão do Estado de Alagoas, posteriormente chamado Serviço de Plantas. (...) . O restante das terras públicas deveria ser loteado e 

vendido, variando os lotes de um a cinqüenta hectares, dando-se preferência, para compra, aos posseiros já instalados na região. O pagamento seria feito em cinco anos, com acréscimo de 10% às prestações anuais sobre o preço à vista. (MATA, 2014: 81-82)


137 ) - CRIAÇÃO DO CENTRO AGRÍCOLA, o Centro Agrícola é criado (DECRETO nº . 1079 de 22 de outubro de 1924). Considerando possuir o estado de Alagoas cerca de seis mil hectares de terras para a agricultura nos município de Porto Real do Colégio e S. Brás, antigas aldeias indígenas, o governo estadual, em comum acordo com o federal, resolve implementar a cultura do algodão nessas terras, tendo em vista a demanda da indústria têxtil. (COSTA, 1932, p. 81). ( MATA, 2014: 81).


138 ) - REGULARIZAR VENDA DE LOTES, 

Esta constatação, em nível governamental, leva o estado de Alagoas a tentar regularizar, mediante a venda de “lotes”, a invasão a terras consideradas patrimônio do estado. Na tentativa de preservar uma parte do que resta, instala-se a sede do Centro Agrícola, que deveria orientar os agricultores da região. (MATA, 2014: 87-88). 


139 ) - PAGAMENTOS DOS LOTES, Os pagamentos dos lotes são feitos de forma bastante irregular, tendo o governo de promulgar leis complementares para cobrança dos devedores e criado também a possibilidade de aluguel de terras para cultivo, mediante pagamento ao Estado (decreto nº. 1181 de 14 de agosto de 1926 e nº. 1861 de 29 de dezembro de 1933). (MATA, 2014: 82).


140 ) - A SEMENTEIRA, Esta área, denominada a partir de 1941 “Campo Experimental das Sementes”, passa a ser conhecida pela população local como Sementeira. (MATA, 2014: 87-88).


141 ) - QUOTIDIANO DOMÉSTICO, A rua dos índios se configurava, durante o dia, como um espaço, eminentemente feminino. Se as mulheres não estivessem envolvidas em quaisquer atividades ligadas à cultura do arroz, era na rua onde moravam que produziam a cerâmica, cuidavam do quotidiano doméstico, acompanhavam as atividades, algumas mulheres bordavam costuras características da região são-franciscana. (MATA, 2014: 124).


142 ) - DENTRO DE PORTO REAL, Morar na rua dos índios definia, indubitavelmente, uma posição dentro da sociedade local. Situada na parte oeste da cidade, a cerca de trezentos metros da praça principal, onde estão a Igreja, a Prefeitura, o Ginásio, as residências mais ricas apesar de geograficamente “dentro” de Porto Real do Colégio, esta rua apresentou, através dos anos, um marco de segregação a que as populações indígenas são submetidas pela sociedade local e nacional. (MATA, 2014: 125-126).


143 ) - CONDIÇÃO DE ÍNDIO, Sair da rua dos índios, conseqüentemente, foi traduzido, durante muito tempo, como sinal de progresso material e tentativa de aceitação por parte da sociedade local. Significava também, por outro lado, certo esquecimento da própria condição de índio, por parte de quem saía, e a esperança de que o mesmo esquecimento se verificasse em relação aos moradores das outras ruas de Porto Real do Colégio. (MATA, 2014: 125-126). 


144 ) - MARCO DIFERENCIADOR, A rua dos índios, assim, se evidenciou, durante longo período, como marco 

diferenciador entre índios e não índios. Ficar na rua dos índios, de certo modo, era reforçar os estereótipos de preguiçoso e cachaceiro, como os quais a população não índia e até alguns índios que moravam em outros pontos da cidade, identificavam caboclos. (MATA, 2014: 128).


145 ) - QUASE UM TERRITÓRIO, A descrição da rua dos índios nos permite evidenciar ainda que, apesar de se caracterizar como um espaço diferenciador, quase um “território” separado por uma “fronteira” (o Posto Indígena), essa rua não se constituía realmente numa aldeia, vez que não dispunha de uma área própria, nem relativo distanciamento geográfico. (MATA, 2014: 128-129).


146 ) - SOCIALMENTE DISTANCIADOS, Os índios poderiam estar socialmente distanciados do resto da população. Estavam, porém efetivamente, dentro da cidade de Colégio, embora em suas franjas. (MATA, 2014: 129).


147 ) - MANUTENÇÃO DA COESÃO GRUPAL, Na realidade, morando na rua dos índios, o grupo participava embora de forma desprestigiada, às vezes marginalizada, do quotidiano de Porto Real do Colégio. A rua era um marco diferenciador, a cerâmica, uma atividade identificadora da condição de índio, o Ouricuri , seu grande segredo e fator de manutenção da coesão grupal. (MATA, 2014: 129).


148 ) - AS DUAS IDENTIDADES, No mais, a população indígena participava das atividades econômicas, sociais e religiosas da cidade, como representante do segmento mais pobre da sociedade local. Ser índio, já foi dito, é também ser pobre. Em muitos contextos as duas identidades são acionadas juntamente. (MATA, 2014: 129).


149 ) - ESTADO DE ESPÍRITO, Os antropólogos que visitaram o grupo os consideram “deculturados”  (NIMUENDAJU em 1934), “abrasileirados” FERRARI nos anos de 1950), ou como declarou Hohenthal Jr. (1952), ser índio, em Porto Real do Colégio é um estado de espírito. (MATA, 2014: 129-130).


150 ) - CONSIDERADOS DESCENDENTES, O discurso que apresenta o Brasil como uma sociedade “racialmente democrática” na realidade mascara nossa incapacidade de aceitar as populações indígenas como realidades contemporâneas. (MATA, 2014: 160).



BIBLIOGRÁFIA:




Obs: Vide postagem posterior " AS ORIGENS KARIRI-XOCÓ 8".
















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