segunda-feira, 7 de agosto de 2023

POSSÍVEL ETIMOLOGIA DO CLASSIFICADOR KRU DO KIPEÁ


 Essa palavra parece ser uma Wanderwort (palavra vagante, que é emprestada entre várias línguas de famílias diferentes), ela surge na família Xokó-Natú como kra (kraunã e krananan) e no Dzubukuá, língua irmã do Kipeá, como o classificador crô-.


 Essa raiz ainda não surgiu em nenhuma reconstrução de nenhuma família linguística associada ao que eu denomino de Brasílico (Tupi, Macro-Jê, Macro-Caribe, Nadahup, Guaicuru e possivelmente outras famílias menores da América do Sul). No entanto, eu tenho uma evidência de onde esse termo possa surgido.


 No documento chamado "Topônimos indígenas dos séculos 16 e 17 na costa cearense" de Thomas Pompeu Sobrinho, publicado na Revista do Instituto do Ceará em 1945 discute sobre nomes de lugares nativo-americanos deste Estado específico, nele existem três classificações de língua: Tupi, Tarairiú, e o mais importante para o tópico dessa publicação, o Tremembé.


 Esse documento infelizmente está lotado de um processo histórico entre os tupinólogos, que é o do apagamento de vocábulos "tapuias", palavras que derivam de ramos linguísticos não-tupis, Sobrinho, apesar de cometer esses erros característicos dessa época, ainda é um dos melhores estudiosos nesse quesito, por no mínimo, ter posto a possibilidade de certos vocábulos que ele encontrou, serem de origens diversas.


E é por essa tendência mais aberta de Sobrinho que temos vocábulos que, de acordo com ele, são os resquícios da antiga língua Tremembé. Curubu, Curunibo, Curu, Curubon, Curubum, Curujune são hidrônimos, ou seja, nomes de corpos d'água, especificamente rios, cujo Sobrinho afirma serem palavras Tremembé por conta de sua proximidade ao antigo território deste povo.


 Infelizmente não tenho tantas informações entre meus documentos sobre os Tremembé, mas é possível inferir algumas coisas sobre seus antigos territórios e talvez sua presença extremamente antiga no Nordeste comparada aos povos de família Macro-Jê (Tuxá, Pankararú, Atikum, Xokó-Natú) e povos Macro-Caribe (família Kariri e Caribe como os Pimenteiras). Existia um povo chamado Cataguá, cujo possuíam um vasto território no atual Estado de Minas Gerais, tanto que antes desse nome, o local se chamada ou de "Campos Gerais dos Cataguases" ou "País dos Cataguás", estes teriam migrado do Nordeste e seriam descendentes dos Tremembés (TURCHETTI, 2018, p. 88), a citação do tamanho de seu país, e a distância entre o território que conhecemos dos Tremembé do Piauí e do Ceará talvez mostrem para nós que a população da cultura Tremembé fosse muito mais vasta do que a história colonial nos mostra. É claro, não vou inferir em tamanho, é necessário um estudo mais detalhado para traçar melhor a migração desse povo e sua presença em outros cantos do Nordeste, mas talvez este vocábulo que mostrei anteriormente demonstre que a influência do Tremembé se estendesse entre os povos que migraram para o Nordeste.


 Além da versão Curu, também há a versão Coro, que talvez tenha sido a mais amplamente emprestada entre os povos indígenas do Nordeste, talvez tenha vindo para o Kariri e o Xokó-Natú através de uma língua que transformou o som /o/ em /ə/, portanto resultando em *kɾə 'rio, água'.


 Com isso concluo que a língua Tremembé talvez seja a fonte desse vocábulo que surge no Xokó-Natú e no Kariri, sua etimologia ainda me é um mistério, ainda preciso pesquisar o vocabulário Tremembé para ver se é possível relacionar essa raiz a qualquer uma da família Brasílica e se o Tremembé faz parte dessa família.



Autor da matéria: Ari Loussant 


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