sábado, 21 de outubro de 2023

ETIMOLOGIA DE RÊIPÔRÁMÊPÁ 'BOM DIA, COMO VAI'


 Esta palavra está disponível no vocabulário da publicação Wakoná-Kariri-Xucurú de Clóvis Antunes na página 136. Após observá-la por um tempo comecei a trabalhar em hipóteses sobre seu significado.


 Ela possui uma estrutura similar à palavra composto dêrraivê-pá 'bom dia, como vai', além de possuir o mesmo significado desta, indicando ao menos que o sufixo -pá servia como o pronome interrogativo e talvez relativo 'que, quem, qual, como' da língua Wakonã, sua semelhança com o -bae do Kipeá e do -ba do Dzubukuá será estudada futuramente.


 Aqui teorizo que a palavra se separe da seguinte forma, "rêi pôrá, mêpá ?" ou na ortografia Katuandí "hêi pôrá, mêpá ?", argumento essa forma novamente voltando para uma tabela de pronomes que modelei a partir das listas de Jolkesky e das séries internas e agentivas do Proto-Macro-Jê de Andrey Nikulin:


Série 1

i(C)- 'eu'

a- 'tu'

i- 'ele, ela'


Série 2

a- 'eu'

my- 'tu'

c- 'ele, ela'


 Essas duas séries nem sempre se refletem dessa exata forma nas línguas, ainda estou observando os padrões com os documentos que possuo, mas talvez existissem outras séries ou talvez existissem substitutos dentro das próprias séries que participavam por razões gramaticais ou fonológicas.


 O que realmente importa é que nós já temos noção da presença de algo similar à série agentiva vista no Proto-Macro-Jê dentro do Katuandí, tema já discutido na publicação RECONCILIAÇÃO COM OS NOVOS ASPECTOS GRAMATICAIS, no entanto deve-se levar em consideração que essa série do Wakonã se difere na presença do pronome mê- em mê-pá 'tu-INTERR' ou 'como tu (estás) ?', o que nos dá mais indícios sobre a relação do Katuandí perante o Proto-Macro-Jê e como os pronomes funcionavam dentro dessa família linguística.


 Com tudo isso dito, irei propor uma revisão do sistema de conjugação de verbos e denotação de posse, vejo que o modelo atual, baseado diretamente no modelo do Kipeá de Mamiani, não segue fielmente a gramática original da língua, cá está minha proposta:


A série interna do Macro-Jê é:


iñ- 'eu'

a- 'tu'

(sem marcação de terceira pessoa)


A série agentiva do Macro-Jê é:


a- 'eu'

ca- 'tu'

(sem marcação de terceira pessoa)


Baseado nos pronomes que temos do Katuandí: 


a- 'eu'

mê- 'tu'

ba- 'eu' < *w-a 'REL-1' (?)

na 'nós' < *n-a 'REL-1' (?)

k-i-/k-u- 'nós'

(sem marcação de terceira pessoa anotada, mas o nome Wakonã já foi anotado como Yakonã, indicando a presença do prefixo relacional y-, derivado diretamente do pronome de terceira pessoa y-)

(sem distinção de plural clara, provavelmente uma língua de marcação de número opcional)


As seguintes séries podem ser criadas:


a- 'eu (agentivo)'

mê- 'tu (agentivo)'

(sem marcação de terceira pessoa)

na- 'nós (agentivo)' < *n-a 'REL-1'

mê 'vós (agentivo)'

(sem marcação de terceira pessoa)


Série passiva


ni- 'eu (passivo)' < *n-i 'REL-1'

jê- 'tu (passivo)' < *ʒ-e < **j-a 'REL-2'

(sem marcação de terceira pessoa)

k-i-/k-u- 'nós (passivo)

jê- 'vós (passivo)' < *ʒ-e < **j-a 'REL-2'

(sem marcação de terceira pessoa)


Pronome reflexivo: t-/ta-/ti-

Pronome relativo: pá


 A vantagem desse sistema é a fácil demonstração do sujeito e do objeto:


a-makê 'eu (agentivo) faço, invento', portanto '(eu) sou inventor'

ni-makê 'eu (passivo) sou feito, inventado', portanto '(eu) sou invenção'




Autor da matéria: Suã Ari Llusan 



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